BNDES
iniciou estudos sobre exploração de petróleo na foz do Amazonas, diz Mercadante
O presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou
nesta sexta-feira, 2, que o banco iniciou estudos sobre a viabilidade da
exploração de petróleo na Margem Equatorial. Ele pregou calma e, embora
não tenha sido enfático na defesa sobre o avanço da atividade exploratória na
região, enfatizou o potencial econômico da província petrolífera.
Mercadante também destacou a distância do local onde
a Petrobras planeja atuar inicialmente para a costa do País, em torno
de 530 quilômetros, o que já havia sido assinalado em declarações públicas do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O tema tem dividido o governo ao
contrapor Ibama e Ministério do Meio Ambiente, de um lado, à
Petrobras e Ministério de Minas e Energia, de outro.
"Essa discussão tem de ser feita com muita
calma. Muita gente dizia que não tinha que produzir no pré-sal, mas hoje
ninguém questiona. Diziam que o óleo invadiria as praias do Rio, e agora
falamos de uma distância menor que a da Foz (do Amazonas)."
Ele disse que o BNDES vai usar o grupo de trabalho
que instituiu junto à Petrobras e também a interlocução com o Ministério do
Meio Ambiente. "Gerimos um fundo presidido pelo MMA (Fundo
Amazônia), com quem queremos aprofundar nossas relações", disse. Na
prática, Mercadante coloca o BNDES como um dos potenciais mediadores dessa
relação à frente.
·
Guiana
Um dos argumentos para o avanço da Petrobras sobre a
Margem Equatorial é o desempenho de campos contíguos na Guiana. Sobre isso,
Mercadante disse que as reservas descobertas no país vizinho são estimadas
entre 11 e 25 bilhões de barris, com uma produção atual de 360 mil barris por
dia.
"O PIB da Guiana foi de R$ 4,3 bilhões em 2015
para R$ 7,7 bilhões em 2021. Há perspectiva que a Guiana seja o segundo maior
produtor de petróleo da América Latina, chegando à produção de 1,6 milhões de
barris/dia em 2030?, afirmou.
Sobre o Brasil, ele disse que a hipótese de reservas
locais está entre 10 bilhões e 30 bilhões de barris em reservas, o que
equivaleria a um potencial econômico de US$ 2,3 trilhões. "Mas isso ainda
é uma hipótese, tem de furar e comprovar."
·
Governo do Pará
O governador Helder Barbalho também defendeu
equilíbrio na discussão, mas sugeriu que o potencial econômico da província
seja verificado.
"Defendemos que, neste momento, não se discuta
ser favorável ou contrário. Há de se discutir por meio de pesquisas se há
viabilidade econômica e ambiental. Posteriormente, o Estado brasileiro terá de
decidir se avança ou não nessa matriz", disse.
Barbalho afirmou que, se for comprovado que é
possível compatibilizar as condicionantes ambientais da exploração de uma bacia
a 540 quilômetros da foz do Amazonas, é preciso "dar destino e trazer a
alternativa econômica" para o Estado. Embora a primeira perfuração na
margem seja planejada para o Amapá, a base da operação da Petrobras está no
Pará.
Ø Brasil pode dispensar os R$ 5 trilhões do petróleo que existem na
Amazônia?
Há meio PIB brasileiro depositado na nossa Margem
Equatorial. Encontram-se ali, numa boa estimativa, 15 bilhões de barris de
petróleo. A US$ 70 o barril, temos US$ 1,05 trilhão, ou cerca de R$ 5 trilhões
— metade do valor de tudo que se produziu no Brasil no ano passado. Meio PIB.
Claro que seria um dinheiro obtido ao longo de anos
de exploração, mas também seria preciso acrescentar o valor dos investimentos a
fazer nos estados — instalação de bases terrestres e marítimas, portos e
aeroportos, aquisição de barcos e aviões. E empregos numa região, incluindo o
Norte e parte do Nordeste, bastante pobre.
É preciso ter uma sólida convicção ambientalista
para desistir dessa que era a grande riqueza do século passado, o motor das
economias todas. Mas como continua dando dinheiro e movendo boa parte do mundo,
e ainda moverá por algumas décadas, seria preciso também uma clara visão do
futuro para desistir daqueles R$ 5 trilhões.
O que nos mostra essa visão? Energia verde, o
emprego digital, dependente do cérebro, não dos braços, escola pública de
qualidade, a riqueza dos softwares, inteligência artificial, o motor elétrico.
Encontram-se essa convicção ambientalista e essa visão de futuro no governo
Lula?
Considerem o programa do carro popular anunciado
pelo vice-presidente Geraldo Alckmin: redução de impostos para baratear carros
movidos a motor a combustão. A coisa inclui regras como “eficiência
energética”, condição para receber a isenção. Mas não diz do que se trata.
Etanol? Ora, praticamente não tem motor só a etanol, é tudo flex, a petróleo,
pois.
Carro elétrico está excluído. Só haverá benefício
fiscal para carros abaixo de R$ 120 mil, e por aqui não tem elétrico por menos
de R$ 200 mil. O
programa exigirá também componentes nacionais,
mas não diz em qual proporção. Tudo considerado, a ideia básica é oferecer ao
público um carro de R$ 60 mil, chamado de popular.
Como notou Zeina Latif, 70% dos brasileiros ganham
até dois salários mínimos. A manutenção de um carro, incluindo licenciamento,
IPVA, combustível, estacionamento, troca de óleo, e mais a prestação, claro,
fica em torno de R$ 1.500 por mês. Popular para quem? E notem que o benefício
fiscal também vai para ricos que compram carro de R$ 120 mil.
Sim, o setor automobilístico emprega. Mas o programa
anunciado por Alckmin não inclui compromisso com a geração de novas vagas, nem
mesmo com a manutenção das já existentes. Fica assim, portanto: uma mãozinha
para a velha indústria automobilística, campeã de subsídios e proteções. E que
está longe de produzir carros modernos.
O melhor que se tem é o motor flex, que Lula e
Alckmin querem exportar para a África. Sabe como é… Eles também são assim como
nós. Nessa visão, precisa do petróleo, não é mesmo?
Dirão: mas mesmo países já encaminhados para a
economia verde continuam produzindo petróleo. Verdade, parcial. Considerem a
Noruega. Está aumentando a produção e a exportação de petróleo. Mas todo o
incentivo local vai para o ouro lado: 80% dos carros novos vendidos no ano
passado são elétricos. Em 2025, serão todos. A política principal é de
transporte público sustentável.
OK, trata-se de um país pequeno e já rico. Mesmo
assim, proporciona lições úteis para nós. A produção de petróleo é estatal. Mas
não se gasta o dinheiro obtido diretamente com a venda do óleo. Essa renda
engorda um fundo de investimentos do governo, que aplica em negócios no mundo
todo.
A renda desse fundo é usada nos programas
locais. Muito especialmente em boas escolas e boa saúde — e em programas de
economia verde. O dinheirão do petróleo fica lá, para financiar aposentadorias
daqui a uns 20 anos.
Aqui, estados como o Rio de Janeiro já gastaram os
royalties do petróleo que receberão em dez anos. E a última coisa em que se
pensa no governo federal é na formação de alguma reserva para o futuro. Por
isso precisam do óleo da Margem Equatorial. O do pré-sal? Ora, já estão
torrando.
Ø Irritado, presidente da Petrobras avisa a conselheiros que investigará
vazamentos
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates,
confrontou os conselheiros da companhia na última reunião do colegiado, na
quarta-feira (dia 31), avisando que mandou abrir uma investigação interna para
apurar a origem de vazamentos de informações sobre o que se passa nos
bastidores da empresa. O CEO também ameaçou fazer uma representação à Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado financeiro.
Sem citar nomes, Prates afirmou que vai tomar
“medidas fortes” para descobrir quem tem passado informações à imprensa – como
por exemplo a de que ele disse a alguns conselheiros estimar que a exploração
de petróleo na margem equatorial brasileira ‘vai sair’, publicada pelo blog.
A informação foi apurada com conselheiros que
ouviram a “previsão” do presidente da Petrobras e com outros membros do governo
que tomaram conhecimento do episódio. Mas, no Twitter, Prates classificou a
reportagem como fake news.
A assessoria de imprensa da companhia também
confirmou que foi aberta investigação interna para apurar vazamentos. Não há
ainda confirmação oficial sobre representação à CVM — órgão que Prates chegou a
ironizar em fevereiro, em uma palestra em Sergipe.
Na ocasião, depois de dizer que “a Petrobras tem uma
máquina de proibir coisas”, ele reclamou da regra da autarquia que estabelece
um período de silêncio a executivos de companhias abertas sobre números e
expectativas de negócios. “Vamos falar um pouquinho disso sim, sem comprometer
demais”, afirmou na ocasião. Se chegar multa da CVM eu mando o Amaro (o
anfitrião) dividir comigo.”
A notícia sobre a previsão de Prates aos
conselheiros não foi, porém, a única publicação sobre a Petrobras a irritar o
CEO da companhia nos últimos tempos.
Uma delas foi veiculada pelo Estadão e dizia que o
ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, tinha convocado uma reunião de
conselho sem avisar a ele, Prates. O executivo negou o episódio, mas, depois da
publicação, a reunião foi cancelada.
A disputa entre Prates e Silveira por influência na
Petrobras já provocou alguns ruídos internos. O ministro indicou pessoalmente
quatro dos onze conselheiros da empresa. Prates concentrou as indicações de
diretores.
De acordo com o relato de conselheiros que me
confirmaram ter ouvido o discurso de Prates, o CEO da Petrobras adotou um “tom
policialesco” na expressão de um, “ameaçador”, na de outro, e “revoltado”, na
do terceiro, ao se dirigir aos representantes dos acionistas. “Vou descobrir
quem está vazando”, afirmou Prates.
A discussão aconteceu no mesmo encontro em que a
cúpula da petroleira discutiu as linhas gerais do plano estratégico de negócios
para o período entre 2024 e 2028, divulgado na manhã desta quinta.
Mas embora tenha havido divergências sobre os
aspectos do plano entre os representantes dos acionistas minoritários e os do
governo, não houve dificuldades em aprová-lo, porque o governo tem maioria e a
discussão foi relativamente pacífica.
Mal-estar mesmo, só em dois momentos. Além da
interpelação a respeito do vazamento de informações, Prates causou
constrangimento generalizado pela ênfase com que defendeu suas nomeações para a
área jurídica da companhia: seu assessor direto Cláudio Pinho e o recém-nomeado
gerente jurídico, Marcelo Mello.
O primeiro foi investigado por participar de um
suposto esquema de pagamento de propina para obter decisão favorável ao padre
Robson de Oliveira, ex-reitor da Basílica de Trindade denunciado por um esquema
lavagem de dinheiro e apropriação indébita que movimentou cerca de R$ 2 bilhões
em dez anos.
Ele foi flagrado em áudios revelados pelo
“Fantástico” conversando com o religioso sobre repassar R$ 1,5 milhão a
magistrados de Goiás. A investigação, porém, foi interrompida pelo próprio
Tribunal de Justiça do estado depois que um desembargador considerou que as
provas usadas foram compartilhadas de maneira ilegal de outra apuração. O STJ
arquivou o processo em definitivo no ano passado.
O segundo executivo que teve a nomeação questionada
foi o advogado Marcelo Mello, sócio do ex-diretor da área internacional Nestor
Cerveró em uma offshore usada para camuflar a compra de um duplex no Rio de
Janeiro.
A compra do imóvel para Cerveró no nome da offshore
levou à condenação do ex-diretor da Petrobras a seis anos de prisão por
corrupção e lavagem de dinheiro.
A informação, porém, não consta do relatório de duas
páginas produzido pela área de compliance da companhia, que afirma não haver
impedimento à nomeação do executivo.
De acordo com o relato feito pelos conselheiros com
quem conversei, o presidente da Petrobras passou 40 minutos defendendo os dois
executivos, que ele afirma serem inocentes e condenados pela mídia sem
investigação.
Afirmou, ainda, que conhece os dois há muito tempo e
que são pessoas competentes e probas.
Apesar das ponderações de alguns conselheiros a
respeito do prejuízo para a imagem da empresa que as nomeações podem
representar, Prates afirmou que não abriria mão deles porque não se pautaria
por “colunistas do Leblon” – referindo-se nominalmente aos colunistas do GLOBO que
acompanham a Petrobras mais de perto: além de mim, também Lauro Jardim e Miriam
Leitão.
Fonte: Agencia Estado/O Globo

Nenhum comentário:
Postar um comentário