Se removermos um pouco da espuma despejada no ambiente
político nos últimos dias, não vamos encontrar uma conspiração das elites
arrependidas e do Congresso – que agora parece se chamar Centrão – destinada a
derrubar o presidente da República. Pelo menos ainda não. Há, de fato, uma
percepção clara do establishment econômico de que pisou na jaca com os dois pés
ao apoiar a eleição de Jair Bolsonaro só para se ver livre do PT. Seus
integrantes já perceberam o tamanho desse erro – e o comportamento da Bolsa e
do dólar nos últimos dias é apenas mais um sinal disso.
Em suas conversas, esse pessoal deixa claro que gostaria de
se ver livre da insensatez de Bolsonaro. Mas sabe que não é assim tão fácil.
Não é preciso um profundo exercício de futurologia para se prever os danos à
economia e à imagem do país que um novo e demorado processo de impeachment iria
trazer a esta altura. Seria desastroso, quando menos por inviabilizar, enquanto
durasse o processo, a aprovação das reformas que o mercado e o PIB tanto
querem, a começar pela Previdência. Golpe desse tipo, então, só depois da
reforma.
A aposta numa renúncia, outra opção aventada, é mais remota
ainda. As semelhanças entre Jair Bolsonaro e Janio Quadros podem ser muitas,
sobretudo na psicologia de quem se sente perseguido por “forças ocultas”, mas
param por aí. Bolsonaro, com seus filhos, é do tipo que se entrincheiraria no
Alvorada para não ser derrubado. Quem o conhece sabe que não renuncia.
Então, o que resta às elites arrependidas? Apostar no tal
parlamentarismo branco que vem sendo acenado pelos grupos majoritários do
próprio Congresso, dirigido hoje pelo DEM e comandado pelo Centrão.
Só que isso também é uma ilusão. O Congresso pode muito.
Pode, no limite, derrubar o presidente da República. Mas não pode governar no
dia-a-dia porque não tem os instrumentos institucionais do Executivo. Não
assina medida provisória, não faz decreto, não nomeia. Por mais que se tenham
aprovado iniciativas como o orçamento impositivo, e que haja planos de, por
exemplo, limitar o poder do Planalto de baixar medidas provisórias, quem governa
é aquele que está lá no terceiro andar do Planalto – que, por sinal, foi eleito
para isso.
É por aí que, depois de removermos toda a espuma acumulada
nos últimos dias, vamos desnudar um
presidente acuado sobretudo pelas investigações que avançam sobre seu filho e a
relação com as milícias do Rio e um Congresso ávido por tomar as rédeas do país
em aliança com setores do establishment arrependido. Um pouco mais adiante,
veremos as ruas, que começam a se encher – por enquanto, com viés de esquerda.
Estamos diante de uma receita de impasse que não se
resolverá com jogadas pirotécnicas nem com golpes parlamentares. Talvez só com
algum tipo de entendimento entre as forças políticas, sociais e econômicas do
país – mas aí elas teriam, à direita e à esquerda, que ter o juízo que não
demonstraram quando abriram o caminho para a eleição do capitão reformado.
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