A Roma agora fica no Planalto Central, para onde são
convocadas as hordas do fanatismo paubrasil. Os alvos visíveis são o STF, o
Congresso, as “corporações” e a “classe política”. Há sofisticação adicional
nesse angu.
Analogias históricas são sempre arriscadas. Diferentemente
de Mussolini, em sua jornada de 28 de outubro de 1922, o brasileiro já está no
poder. A Marcha – à qual o futuro Duce não esteve presente – foi um gigantesco
blefe – ou aposta – que os partidários do Partido Nacional Fascista fizeram
sobre a monarquia e outros setores da direita. A meta era obter a nomeação
Benito Mussolini – que se elegera para o Parlamento em 1921 – como
primeiro-ministro. No final daquele 1922, o rei Vittorio Emanuele III o
indicaria como chefe do gabinete, que formaria um governo com crescentes
poderes.
O FASCISMO NÃO ERA a a força hegemônica conservadora na
Itália em 1920. Num período pós-I Guerra Mundial e de intensa agitação social,
a extrema-direita conseguiu se impor através da intimidação. Os squadristi,
grupos paramilitares fascistas também conhecidos como camisas negras, atuavam
com extrema brutalidade contra o movimento popular e socialista. Naquele
momento, ao invés de buscar hegemonia prioritariamente no terreno das ideias,
foi a violência de pequenos grupos que os levou a ganhar respeitabilidade entre
os latifundiários do sul e os industriais do norte do país.
Mussolini agiu como um forte líder antisistêmico, disposto a
refundar a Itália, governada desde a unificação, nos anos 1870, pelas mesmas
frações da oligarquia. Sua atuação o permitiu incorporar setores expressivos de
camponeses pobres, do operariado e do lumpesinato na sustentação do poder
político.
A MARCHA DE BOLSONARO ocorrerá com o líder no Palácio, mas
em intensa disputa com outros setores da direita. O capitão – que está a léguas
da capacidade intelectual do fascista italiano – tem como tática essencial
reunificar a coalizão reacionária que o elegeu. Neste momento, o inimigo
principal de Bolsonaro não é a esquerda ou o movimento popular, apesar das
gigantescas manifestações de 15 de maio.
Seu alvo é o judiciário – que está em seus calcanhares,
através da atuação do MP-RJ e de um STF que não lhe é simpático -, a grande
mídia – que pavimentou sua rota ao Executivo, mas dele se descola -, o
agronegócio e parcela do empresariado. Todos concordam com a política de
terra-arrasada de Paulo Guedes, mas colocam sérias reservas à atuação do
governo. Essa disputa intestina de interesses objetivos é materializada na
vulgata “olavistas X militares” ou “ideológicos X pragmáticos”.
COM QUEM CONTA BOLSONARO para reunificar seu campo e
“purificar” sua frente extremista? Com a maioria das igrejas pentecostais
fundamentalistas – ele já foi saudado como “enviado de Deus” -, com o
lumpesinato dos negócios, que tem à frente o “véio da Havan”, parte do estamento
castrense – o Clube Militar está convocando a marcha – e o lumpesinato de
classe média e popular, incluindo-se aí milícias de toda ordem. E com a máquina
do governo.
Seu lance no jogo é que fragmentos alucinados – MBL, parte
de sua base parlamentar – serão enquadrados pelas massas na rua.
Para isso, aumentará a voltagem de sua pregação
antissistêmica, atacando “as corporações” e a “classe política”, como já
mostrou na carta-excremento e em evento na Firjan.
IRÃO ÀS RUAS SUAS FALANGES de bate-paus, seus tarzans de
academia, a classe média ressentida e neandertais de toda ordem. Na disputa de
hegemonia, entre coação e convencimento, vale agora a coação como forma de
convencimento.
Terá apelo? Encherá as ruas? Difícil saber, num momento de
queda de sua popularidade, como pesquisas de há um mês apontam, e com
estagnação econômica. Ao mesmo tempo, o chefe das milícias – que é tosco, mas
não burro – tem elevado o tom de suas acusações ao “petê” e aos suspeitos de
sempre.
Domingo, 26, será o dia D da boçalidade.
Do lado da democracia, cabeça fria, coragem e a confiança de
que o crescimento do movimento popular é a grande novidade dos dias que correm.
Nenhum comentário:
Postar um comentário