Ainda
sob o enganoso remanso do recesso de julho, a política respira como quem se
prepara para uma outra jornada de embates, conflitos e horrores — bem ao gosto
do mês de agosto, o mês do cachorro louco e de tantas marcas na história do
Brasil. Por enquanto, há tempo para outras articulações que não só da defesa do
presidente Temer. As articulações de bastidores dão o tom desse período de
inverno.
Muitas
especulações em relação a 2018: o ex-presidente Lula e o deputado Jair
Bolsonaro são os líderes das pesquisas. Mas, o tempo ainda é de olhar para
meio, não para os polos. É para lá que o Democratas aponta seus olhos:
aproveitando-se da notoriedade de Rodrigo Maia, do apodrecimento PMDB e da
profunda crise de identidade do PSDB, os demistas avançam sob o terreno baldio
que caberia aos tucanos: o centro.
O
DEM quer crescer em tamanho e importância: aproveita-se por estar no governo e
também por ter-se comprometido com Michel Temer muito menos do que os
principais partidos da base: apoiou, ocupou espaços importantes, mas não se
envolveu na mixórdia de escândalos e denúncias — não porque se destaque
eticamente nesse terreno minado que é a política, mas porque ficou tanto tempo
sem poder que perdeu relevância para isto.
De
todo modo, torna-se agora um mercado atrativo para parlamentares que pretendem
continuar sob a aba do governo federal qualquer que seja o destino do
presidente da República.
Na
defesa de Temer, no apoio às reformas, o DEM não falha, não claudica, mas,
ainda assim, faz menos barulho, se expõem muito menos que o PSDB. Até porque
acalentava sonhos mais singelos — sobreviver —, se comprometeu menos. A posição
institucional de Rodrigo Maia lhe dá certo escudo político: não é vice, não tem
compromisso moral e nem obrigação de ser fiel. Está apenas na expectativa.
Política
também é sorte — a Fortuna, de que nos fala o maldito florentino da renascença.
O vento do destino alçou o DEM à presidência da Câmara, a inabilidade dos
tucanos não o soube conter e o resto é a história que se assiste, agora, ao
vivo. Com o espaço estratégico ocupado por Rodrigo Maia, o DEM fica para o
credo como quem diz ''vinde a mim o Diário Oficial'', coopta desgarrados e se
prepara para crescer.
Se
vier a assumir a presidência, Maia ficará pelo menos seis meses no comando, com
a possibilidade de ser reconduzido via eleição indireta. Sua importância tática
só aumenta. Pode ser caucionado pelo mercado, pode ser bom eleitor, pode ser
bom vice. Pode ser neutro. O menos provável é que seja tão negativamente
radioativo quanto Michel Temer. Seus horizontes se expandiram.
Com
desdém, os adversários, é claro, o tratam ''Botafogo'', o codinome com que
figurou na lista da Odebrecht. Também suas ligações com Moreira Franco,
padrasto de sua esposa, e com o pai, César Maia, trazem desgaste. No mais, é do
Rio de Janeiro, ''purgatório da beleza e do caos'', repositório de relações
perigosas. Tudo o que, nesse instante, configura fragilidades e risco. Mas, com
apenas 47 anos, seu futuro é imenso.
Sabedores
disto, com olhos no amanhã, demistas avistam Geraldo Alckmin em busca de acordo
e alianças. Desgarrado do requinte intelectual e dos chiquês de parte da elite
de seu partido — e para alguns de seus adversários internos, um intruso
favorecido pela sorte —, o governador pode abrigar e ser abrigado pelo DEM
muito melhor que qualquer outro. E não seria a primeira vez.
Alckmin
é o que vai restando do centro do espectro político, desidratado com a
calcinação do PMDB, de Aécio Neves e de José Serra. É visto como alternativa
moderada, num campo de manutenção da política econômica do mercado e da
preservação de um ambiente de liberdades democráticas, ao menos.
É
claro que tem passivos: um cunhado arrolado pela Lava Jato — cunhado é sempre
figura difícil de explicar —, a proeza de, em 2006, ter perdido votos entre o
primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial (provavelmente, um feito
mundial) e o fato de seus governos em São Paulo não serem nenhuma Brastemp em
obras e realizações.
Mas,
ainda assim, é entendido como mais confiável que o imprevisível prefeito da
Capital — menos dado a arroubos nas redes sociais e mais aberto ao diálogo.
Como as raposas do passado, de uns tempos para cá, Alckmin fala pouco, se expõe
menos ainda; se movimenta com cuidado, exercita a necessária ambiguidade. Até
hoje não se sabe o quanto, de fato, apoia Michel Temer, mas está claro que não
morre pelo presidente.
Nesse
tempo de paradoxos, de frio e mormaço no recesso, uma tentativa de recomposição
do centro, pela direita, se esboça na posição estratégica de Rodrigo Maia, nos
movimentos do DEM e nos silêncios calculados de Geraldo Alckmin. Pode ser
romance de veranico, mas também pode ser que não. Suficiente para reordenar o
jogo e romper a polarização? O tempo dirá.
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