domingo, 30 de julho de 2017

Movimentos entre DEM e Alckmin podem recompor o centro-direita. Por Carlos Melo

Ainda sob o enganoso remanso do recesso de julho, a política respira como quem se prepara para uma outra jornada de embates, conflitos e horrores — bem ao gosto do mês de agosto, o mês do cachorro louco e de tantas marcas na história do Brasil. Por enquanto, há tempo para outras articulações que não só da defesa do presidente Temer. As articulações de bastidores dão o tom desse período de inverno.
Muitas especulações em relação a 2018: o ex-presidente Lula e o deputado Jair Bolsonaro são os líderes das pesquisas. Mas, o tempo ainda é de olhar para meio, não para os polos. É para lá que o Democratas aponta seus olhos: aproveitando-se da notoriedade de Rodrigo Maia, do apodrecimento PMDB e da profunda crise de identidade do PSDB, os demistas avançam sob o terreno baldio que caberia aos tucanos: o centro.
O DEM quer crescer em tamanho e importância: aproveita-se por estar no governo e também por ter-se comprometido com Michel Temer muito menos do que os principais partidos da base: apoiou, ocupou espaços importantes, mas não se envolveu na mixórdia de escândalos e denúncias — não porque se destaque eticamente nesse terreno minado que é a política, mas porque ficou tanto tempo sem poder que perdeu relevância para isto.
De todo modo, torna-se agora um mercado atrativo para parlamentares que pretendem continuar sob a aba do governo federal qualquer que seja o destino do presidente da República.
Na defesa de Temer, no apoio às reformas, o DEM não falha, não claudica, mas, ainda assim, faz menos barulho, se expõem muito menos que o PSDB. Até porque acalentava sonhos mais singelos — sobreviver —, se comprometeu menos. A posição institucional de Rodrigo Maia lhe dá certo escudo político: não é vice, não tem compromisso moral e nem obrigação de ser fiel. Está apenas na expectativa.
Política também é sorte — a Fortuna, de que nos fala o maldito florentino da renascença. O vento do destino alçou o DEM à presidência da Câmara, a inabilidade dos tucanos não o soube conter e o resto é a história que se assiste, agora, ao vivo. Com o espaço estratégico ocupado por Rodrigo Maia, o DEM fica para o credo como quem diz ''vinde a mim o Diário Oficial'', coopta desgarrados e se prepara para crescer.
Se vier a assumir a presidência, Maia ficará pelo menos seis meses no comando, com a possibilidade de ser reconduzido via eleição indireta. Sua importância tática só aumenta. Pode ser caucionado pelo mercado, pode ser bom eleitor, pode ser bom vice. Pode ser neutro. O menos provável é que seja tão negativamente radioativo quanto Michel Temer. Seus horizontes se expandiram.
Com desdém, os adversários, é claro, o tratam ''Botafogo'', o codinome com que figurou na lista da Odebrecht. Também suas ligações com Moreira Franco, padrasto de sua esposa, e com o pai, César Maia, trazem desgaste. No mais, é do Rio de Janeiro, ''purgatório da beleza e do caos'', repositório de relações perigosas. Tudo o que, nesse instante, configura fragilidades e risco. Mas, com apenas 47 anos, seu futuro é imenso.
Sabedores disto, com olhos no amanhã, demistas avistam Geraldo Alckmin em busca de acordo e alianças. Desgarrado do requinte intelectual e dos chiquês de parte da elite de seu partido — e para alguns de seus adversários internos, um intruso favorecido pela sorte —, o governador pode abrigar e ser abrigado pelo DEM muito melhor que qualquer outro. E não seria a primeira vez.
Alckmin é o que vai restando do centro do espectro político, desidratado com a calcinação do PMDB, de Aécio Neves e de José Serra. É visto como alternativa moderada, num campo de manutenção da política econômica do mercado e da preservação de um ambiente de liberdades democráticas, ao menos.
É claro que tem passivos: um cunhado arrolado pela Lava Jato — cunhado é sempre figura difícil de explicar —, a proeza de, em 2006, ter perdido votos entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial (provavelmente, um feito mundial) e o fato de seus governos em São Paulo não serem nenhuma Brastemp em obras e realizações.
Mas, ainda assim, é entendido como mais confiável que o imprevisível prefeito da Capital — menos dado a arroubos nas redes sociais e mais aberto ao diálogo. Como as raposas do passado, de uns tempos para cá, Alckmin fala pouco, se expõe menos ainda; se movimenta com cuidado, exercita a necessária ambiguidade. Até hoje não se sabe o quanto, de fato, apoia Michel Temer, mas está claro que não morre pelo presidente.

Nesse tempo de paradoxos, de frio e mormaço no recesso, uma tentativa de recomposição do centro, pela direita, se esboça na posição estratégica de Rodrigo Maia, nos movimentos do DEM e nos silêncios calculados de Geraldo Alckmin. Pode ser romance de veranico, mas também pode ser que não. Suficiente para reordenar o jogo e romper a polarização? O tempo dirá.

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