Temer
está cercado de corruptos – é a leitura que se faz do depoimento do
Vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho,
apenas o primeiro dos 77 prometidos pela empresa, que é apenas uma das
empreiteiras que se relaciona com o governo federal.
Ninguém
sabe como esse relato, que deveria ser sigiloso, vazou para a imprensa, mas o
fato é que vazou e sua autenticidade não pode ser contestada.
As
82 páginas, especialmente as 60 páginas iniciais, mostram que operações de
compra e venda de medidas provisórias, Projetos de Lei Complementar ou Projetos
de Resolução fazem parte do dia a dia de Brasília, cotidiano em que ele entrou
em 2005, em pleno governo Lula.
E,
pasmem, ainda durante o governo Lula todas as suas negociações foram feitas com
o PMDB e não com o PT – a não ser o acordo com Jacques Wagner, uma questão
local e não nacional.
Por
trás do nome pomposo de Relações Institucionais, o que Melo fazia era o que o
ser humano sempre fez desde sempre: comércio.
Pagava
bem para questões de interesse da Odebrecht serem incluídas ou excluídas de
pautas em discussão no Congresso. E seu principal aliado nessas manobras era
Romero Jucá, a quem chama de preposto de Renan Calheiros e de Eunício de
Oliveira e de principal arrecadador do PMDB -, seja o do Senado, seja o da
Câmara. Quando dava dinheiro a Jucá, Melo sabia que Renan também participaria
do rachuncho. E também ajudaria no que fosse preciso. Melo Filho não fala em
“quadrilha”, prefere chamar eufemisticamente de “grupo” ao afirmar que o grupo
que manda no PMDB do Senado (e em senadores de partidos menores) é Renan-Juca-
Eunício e o que dá as cartas na Câmara dos Deputados é Michel Temer-Eliseu
Padilha-Moreira Franco.
Geddel
também mandava, até cair em desgraça, contra a vontade de Temer, naquele
episódio da torre de Salvador que tentou liberar. Geddel é, aliás, o elo de
Melo Filho com a cúpula do PMDB. Foi quem o apresentou a Temer e a Romero Jucá,
em 2005.
Amigo
de Geddel, de quem era vizinho num condomínio do litoral baiano, Melo Filho
conta que ele vivia se queixando de receber menos que os outros e fazer muito
mais pela Odebrecht.
Foi
esse sujeito que Temer colocou na Secretaria de Governo!
Melo
Filho deixa muito claro, a todo momento, que todos os políticos ajudados pela
Odebrecht com verbas oficiais ou via caixa 2 tinham que dar ou já tinham dado
antes alguma contrapartida para a empresa.
Renan
pediu a ele doação à campanha de seu filho ao governo de Alagoas em reunião com
várias outras pessoas. Foi atendido para facilitar a tramitação de uma emenda
de interesse da Odebrecht.
Melo
Filho esteve no jantar do Palácio do Jaburu, quando testemunhou a cena em que o
então vice-presidente da República Michel Temer pediu 10 milhões a Marcelo
Odebrecht.
Temer
já deu a manjada desculpa de que a contribuição foi legal, ao PMDB, mas o
próprio Melo Filho afirma que toda e qualquer doação da empresa, no oficial ou
no caixa 2, em dinheiro vivo ou transferência bancária tinha contrapartida. Ele
mesmo encaminhou parte do pagamento acertado, seis milhões, com Eliseu Padilha,
a quem descreve como preposto de Temer e principal arrecadador do PMDB da
Câmara dos Deputados. Parte do dinheiro foi levado ao escritório de José Yunes,
assessor especial e amigo do peito de Temer.
A
contrapartida de Temer foi levar “uma nota” da Odebrecht dirigida às
autoridades portuguesas em sua viagem a Portugal. O lobista não revela o
conteúdo da “nota”.
O
outro homem de ouro de Temer, Moreira Franco, também participa do banquete,
ajuda como pode para a empresa não levar prejuízo em suas operações
aeroportuárias e recebe a sua justa remuneração.
Li
em algum lugar que “Temer está tranquilo”. Pode ser. Mas acho que ficará mais
tranquilo ainda se, a curto prazo, afastar Jucá da liderança do governo no
Senado, Padilha da Casa Civil, Moreira Franco da secretaria especial e José
Yunes da assessoria especial.
E,
em seguida, renunciar.
Essa
é a única forma de estancar a sangria.