Em
algum lugar do futuro a fatura dos dias atuais será acertada. Não na base de
uma prestação de contas honesta, onde os que erraram assumirão suas culpas. Mas
pelo julgamento frio da história. Quando os desacertos talvez já tenham
produzido danos irreversíveis para um projeto de país.
As
narrativas da história refletem, é verdade, o balanço das lutas. Mas se também
é verdade que quem vence consegue ter mais influência na construção daquilo que
pode se consolidar como versão final, é ainda mais verdade que a vitória na
história não é dada pelo seu resultado imediato.
No
caso do julgamento do impeachment fica cada dia mais claro que o resultado do
processo tende a ser da cassação da presidente eleita Dilma Roussef. Mas isso
não significará uma vitória histórica dos algozes de hoje.
Os
senadores, deputados, empresários, jornalistas e líderes do movimento já
começam a ver refluir o que achavam que seria o lucro da conquista. Mas ainda
acham que ao final poderão contabilizar lucros. Enganam-se.
Seus
rostos já começam a ficar carimbados como de golpistas e suas biografias perdem
verniz. Talvez não a de todos, mas a de vários.
Um
caso emblemático é o do senador Cristovam Buarque, que a despeito de a cada dia
que passa estar mais à direita do que no dia anterior, ainda preservava um certo
respeito dos setores progressistas. Preservava…
Cristovam
hoje é apenas um golpista a mais. Alguém que fez firula para se posicionar e
com isso ampliou seus tentáculos no governo Temer.
Ou
seja, que fez o que qualquer político oportunista faria.
O acerto
de contas com pessoas com o perfil de Cristovam, que iniciaram sua trajetória
na esquerda e no campo popular, será duro.
Porque
o governo Temer não é apenas golpista por estar derrotando o voto de 54 milhões
de eleitores num processo parlamentar intoxicado e repleto de manipulações. Mas
também porque vai tocar uma agenda que não foi aprovada nas urnas e que se
fosse discutida pela população não seria vitoriosa. Um agenda ultra-neoliberal.
E
por isso quem está com Temer hoje fazendo cálculos de curto prazo só tem a
ganhar no futuro se o seu projeto for radicalmente neoliberal. E se o seu
eleitor também o for.
Não
há como ganhar votos no campo popular com um governo que tem por objetivo
aumentar a idade mínima na Previdência Social, fazer uma reforma trabalhista
que deve cortar direitos como férias e 13o salário e que já caminha no sentido
de vender estatais e dar de bandeja o Pré-Sal.
Um
governo desses se consolidará rapidamente como golpista no imaginário popular.
E o imaginário popular não perdoa golpistas.
Essa
história está muito mais escrita do que a vitória opaca que os que votarão no
impeachment tendem a conquistar nos próximos dias.
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