Ressalvadas
eventuais mudanças de última hora, somente a vontade de “não perder” sustenta a
luta para voltar ao governo, travada pela presidenta Dilma Rousseff contra o
golpe, vestido de impeachment, parido na Câmara e amamentado no Senado.
A
grande maioria dos senadores votou pelo impedimento da presidenta, invocando a
necessidade de manter a estabilidade no País. Ao contrário. O que se pode
esperar neste caso, onde se misturam hipocrisia e falsidade, diz respeito à
eventual reação das ruas.
Eis
um alerta insuperável de Raymundo Faoro: “A mais grave de todas as formas de
falseamento da soberania popular é aquela que usurpa a legitimidade,
confundindo-a com o poder”.
Na
penúltima fase do processo de impeachment, a honesta Dilma foi julgada e,
possivelmente, na última etapa, será condenada, pelos políticos suspeitos de
corrupção, conforme apontam as investigações da Operação Lava Jato. Uma grande
parte deles integra a cúpula do PMDB.
Ulysses
Guimarães, mito dessa legenda partidária, os reprimiria com rigor muito forte.
E poderia mesmo jogá-los na lixeira.
A
propósito. Serão eles, expressões da corrupção na política, responsáveis pelas
homenagens na passagem do centenário de nascimento de Ulysses, a 6 de outubro
próximo? Se assim for, Ulysses não comparecerá aos eventos.
Voltando
aos fatos de agora. O núcleo duro de um suposto poder definitivo, em operação
já na interinidade, seria este: Michel Temer, presidente da República; Renan
Calheiros, presidente do Congresso; senador Romero Jucá, líder do partido;
Moreira Franco, da Secretaria-Executiva do governo; Eliseu Padilha, chefe da
Casa Civil; deputado Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo.
Atuaria
por fora, como já atua, o deputado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos
Deputados, de grande influência no Jaburu. Ele renunciou à função e,
recentemente, foi substituído pelo deputado Rodrigo Maia, do DEM, agregado de
última hora ao bando peemedebista.
Maia
é o responsável pela prorrogação do julgamento final de Cunha, na Câmara. O
jovem títere atendeu aos pedidos superiores. Mas, sob pressão, poderá “recuar”,
para usar uma expressão muito comum a Michel Temer.
Mesmo
envolvidos em escândalos, todo o bando do Jaburu voará, em breve, para o
Palácio do Planalto, onde há mais poder, e mais espaço, para dar continuidade
aos planos do bando. Planos traduzíveis mais ou menos assim: mais dinheiro aos
ricos e menos dinheiro aos pobres e entregar o País.
Este
o remédio que Henrique Meirelles e José Serra pretendem ministrar ao País,
longe de atender às suas necessidades, assim como não o é a tendência
autoritária do presidente interino ao sustentar, em ilegítima defesa, as
restrições impostas aos cartazes e às vaias audíveis nas áreas onde atletas
disputam medalhas olímpicas.
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