Terapia hormonal reduz risco de depressão em
transgêneros, mostra estudo
Terapia hormonal para afirmação de gênero
pode ajudar pacientes tanto na saúde mental quanto física, segundo novo estudo
publicado na segunda-feira (17) na revista JAMA Network Open.
“Pacientes transgêneros, não-binários e com
diversidade de gênero que receberam prescrição de hormônios apresentaram um
risco 15% menor de sintomas depressivos moderados a graves durante 4 anos de
acompanhamento, em comparação com aqueles que não receberam hormônios”, afirma
o autor principal do estudo, Sari Reisner, professor associado de epidemiologia
da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan, por e-mail.
O estudo analisou dados de 3.592 pacientes de
dois centros de saúde comunitários federalmente qualificados em Boston e Nova
York, observando tanto a prescrição de terapia hormonal quanto suas pontuações
no Questionário de Saúde do Paciente, que indicavam seus níveis de depressão.
Os participantes que receberam terapia
hormonal apresentaram riscos significativamente menores de sintomas de
depressão moderada a grave em seus quatro anos de acompanhamento, segundo o
estudo.
“Quando pacientes com diversidade de gênero
têm acesso a medicamentos hormonais seguros e eficazes e cuidados adequados,
eles têm maior probabilidade de experimentar resultados mais saudáveis em saúde
mental ao longo do tempo”, afirma Michelle Forcier, diretora médica da FOLX
Health, uma plataforma de telessaúde mental e bem-estar para pessoas da
comunidade LGBTQIA+, e médica na TransHealth, uma clínica sem fins lucrativos
em Florence, Massachusetts.
“Fornecer hormônios não apenas proporcionou
benefícios físicos aos pacientes transgêneros e com diversidade de gênero, mas,
mais uma vez, demonstramos que eles melhoram também seus resultados de saúde
mental”, acrescenta Forcier, que também é vice-diretora de admissões na Escola
de Medicina Warren Alpert da Universidade Brown. Ela não participou da
pesquisa.
O estudo surge em meio às ordens executivas
do presidente Donald Trump que restringiriam os cuidados médicos de afirmação
de gênero para jovens transgêneros, proibiriam mulheres trans de competir na
maioria dos esportes femininos e dispensariam militares e recrutas
transgêneros.
• Taxas
de depressão são maiores na população transgênero
As taxas de depressão em pessoas
transgêneros, não-binárias ou com diversidade de gênero são uma crise de saúde
pública e precisam ser abordadas, segundo Reisner.
“Pessoas trans experimentam disparidades na
saúde mental com taxas mais altas de depressão e suicídio do que pessoas cisgênero
(não-transgênero)”, acrescentou. “Pessoas trans estão literalmente morrendo.
Existe uma necessidade urgente — agora mais do que nunca — de cuidar de nós,
nos apoiar e garantir que tenhamos o cuidado vital que merecemos e precisamos
para prosperar.”
Estima-se que 8,3% dos adultos americanos
tenham experimentado pelo menos um episódio depressivo maior, segundo o
Instituto Nacional de Saúde Mental. Mas um estudo de 2023 descobriu que cerca
de 33% das pessoas transgêneros mostraram sinais de depressão.
As taxas mais altas de resultados de saúde
mais pobres –– incluindo ansiedade, depressão e tendências suicidas –– em
pessoas transgêneros podem ser devido a muitos fatores, mas um grande
contribuinte são os efeitos do preconceito e da discriminação, de acordo com
Forcier.
“O estresse minoritário e a discriminação
também levam a maiores riscos de desvantagem econômica, dificuldades de moradia
e sem-teto, uso/abuso de substâncias e HIV. Essas desvantagens cumulativas
podem impactar significativamente muitos aspectos da saúde física e mental”,
afirma.
Problemas sistêmicos, incluindo estigma,
ataques aos direitos civis e impedimento de acesso aos cuidados de saúde
agravam os desafios de saúde mental, acrescenta Melina Wald, psicóloga clínica
em sua clínica privada Bespoke Health em Connecticut e Nova York, via e-mail.
Wald cofundou o Programa de Gênero e Sexualidade do Centro Médico da
Universidade Columbia. Wald não estava envolvida na pesquisa.
Projetos de lei visando cuidados médicos para
pessoas transgênero têm aumentado, segundo Reisner. Em 2018, “2 projetos de lei
foram introduzidos e em 2023, foram 185 projetos. Ordens Executivas recentes
proibindo a “ideologia de gênero” e restringindo os direitos das pessoas trans
têm consequências devastadoras para a saúde mental das comunidades trans”,
acrescenta por e-mail.
• Acessível
a todos
Um ponto forte do estudo foi a diversidade
nas idades, raças, etnias e status socioeconômicos da população, de acordo com
Forcier.
“Esta amostra reflete muito mais a
diversidade da população dos EUA do que estudos anteriores baseados em clínicas
especializadas”, afirma. “Os EUA são uma população cada vez mais diversa e
estudos médicos que refletem isso oferecem insights mais valiosos para o
cuidado.”
O estudo também mostra que o cuidado hormonal
efetivo pode ser viável em ambientes comunitários mais diversos, diz Forcier.
“O fato de que esses pacientes se
beneficiaram do atendimento nestas diversas clínicas de atenção primária, em
diferentes comunidades, sugere que o tratamento hormonal afirmativo de gênero
eficaz não está mais restrito a clínicas especializadas acadêmicas urbanas”,
acrescenta por e-mail.
De modo geral, a literatura científica mostra
que a terapia hormonal é segura e eficaz, afirma Forcier.
“Temos mais de 25 anos de evidências
consistentes, persistentes e insistentes de que abordagens afirmativas de
gênero para o cuidado de pessoas transgêneros oferecem uma variedade de
benefícios médicos e de saúde mental. Não há estudos que sugiram que reter
cuidados medicamente indicados, seguros e eficazes traga qualquer benefício”,
diz.
Dito isso, o cuidado com a depressão na
população transgênero não deve se limitar à terapia hormonal, segundo Wald.
“Embora a terapia hormonal afirmativa de
gênero seja crucialmente importante para melhorar a saúde mental, a importância
do acesso a intervenções psiquiátricas baseadas em evidências para o tratamento
da depressão não deve ser negligenciada”, afirma. “É uma abordagem que inclui
ambos os aspectos, em vez de um ou outro”.
Fonte: CNN Brasil

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