quinta-feira, 20 de março de 2025

Oliveiros Marques: A covardia é a marca registrada da clã

Imagine-se no front, com o calor torrando seus miolos, um banheiro químico malcheiroso e pneus que não exibem qualquer reação diante dos seus cânticos e orações. Sua expectativa é de que algo de concreto vá se realizar. “Esperem só mais 72 horas”, dizem seus líderes. Nada acontece, mas sua certeza supera qualquer calendário. Você se mantém firme. Então, recebe uma convocação: no dia 8 de janeiro, deve se incorporar à infantaria que poria fim àquela guerra na batalha das batalhas - na tomada, enfim, do poder.

Enquanto isso, após todo o plano ser traçado, seu comandante abandona o teatro de guerra e vai passear em território aliado com seus amigos do mundo de Walt Disney. Seu quartel-general está lá, devidamente decorado com os personagens ficcionais que inspiram o projeto de país idealizado por ele. Está seguro, protegido por Mickey, Minnie, Pato Donald, Dumbo, Pluto e, claro, o Pateta.

Mas essa covardia não lhe abate. Você, como os bois de piranha que são jogados ao rio para salvar parte da manada, cumpre seu papel e avança de peito aberto contra as baionetas inimigas. Pouco lhe importa se, como resultado desse ataque desesperado, apenas você morreria. Ou seria preso na Papuda. Tanto faz. Você estava ali por algo que acreditava ser maior. Mas o resultado? Você e centenas de parceiros de batalha acabam presos. Alguns, após tentarem fugir com a ajuda de coiotes, são capturados ao tentar entrar naquele país que seu líder dizia ser território aliado.

E depois de ser abandonado pelo comandante no momento mais crucial do seu delírio, agora é um dos principais generais do seu exército que pica a mula e vai morar com o Mickey. Bem-feito para você. Porque para Eduardo Bolsonaro, assim como para seu pai, farinha pouca, meu pirão primeiro. Você foi abandonado mais uma vez pela mesma família. Em vez de ficar no Brasil e enfrentar a luta ao seu lado, o Zero Três aproveita as regalias que tem como deputado e decide ir morar na terra de Trump. Não me pergunte de onde ele vai tirar dinheiro para se manter por lá.

A covardia parece estar no DNA da família. Assim como a capacidade de construir narrativas ficcionais. O discurso de Eduardo Bolsonaro ao anunciar sua mudança para os Estados Unidos mais pareceu um menino criando seu mundo no Minecraft.

Ele sabe exatamente a participação que teve na tentativa de golpe de 8 de janeiro. E sabe que Cid também sabe. Logo, Alexandre de Moraes, também. Portanto, o que ele fez foi nada mais, nada menos do que fugir para não responder pelos crimes que cometeu, ou contribuiu para que ocorressem, contra a democracia brasileira. Simples assim!

•        Antes de decidir ficar nos EUA, Eduardo Bolsonaro já sabia que não teria o passaporte apreendido pela Justiça

Poucos dias antes de anunciar sua decisão de permanecer indefinidamente nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) recebeu um aviso importante de interlocutores do PL junto ao Judiciário. Conforme informações de Bela Megale, do jornal O Globo, o deputado tomou conhecimento de que o procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, se manifestaria contra a apreensão de seu passaporte, solicitada pelo PT. Mais tarde, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), seguiu o posicionamento da PGR e negou a apreensão do passaporte do parlamentar.

Diante dessa sinalização, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, chegou a desmobilizar um ato de parlamentares oposicionistas que planejavam exibir seus passaportes no plenário como forma de protesto em defesa de Eduardo Bolsonaro. A oposição também optou por cancelar uma reunião agendada com o PGR para tratar do assunto, considerando que o caso estava resolvido e que o deputado poderia retornar ao Brasil para assumir a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

No entanto, a decisão de Eduardo Bolsonaro de continuar nos Estados Unidos pegou seu partido de surpresa.

Mesmo sem o risco iminente de perder seu documento de viagem, Eduardo optou por continuar nos EUA, o que reforça a avaliação de que a decisão tem por objetivo reforçar a narrativa de uma suporta perseguição política no Brasil e encenar uma espécie de exílio.

•        Eduardo Bolsonaro entrou nos EUA com visto de turista e só poderá permanecer no país por até 6 meses

Nos Estados Unidos há 20 dias, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) entrou no país com um visto de turista (B1/B2), que permite estadia de até seis meses para viagens curtas e cursos rápidos, informa o jornal O Globo. Caso necessite estender sua permanência, o parlamentar poderia solicitar uma ampliação de 30 dias. No entanto, Eduardo já afirmou que pretende pedir asilo político ao governo de Donald Trump, estratégia que, se bem-sucedida, pode resultar na obtenção do green card — autorização de residência permanente nos EUA.

Nesta terça-feira (18), após afirmar que se licenciaria do mandato por quatro meses — período em que seu visto de turista permaneceria válido —, Eduardo declarou não ter "a mínima possibilidade de voltar ao Brasil". A fala veio mesmo após o procurador-geral da República, Paulo Gonet, ter se manifestado contra a apreensão do passaporte do parlamentar, medida que o próprio deputado apontava como razão para abrir mão temporária do cargo. Jair Bolsonaro (PL), reforçou o plano, dizendo que, caso o filho pedisse asilo político, "o Trump daria na hora".

A decisão de Eduardo Bolsonaro surpreendeu parte do Congresso e é vista como uma tentativa de mobilizar aliados diante do risco de um revés no Supremo Tribunal Federal (STF). No último domingo (17), Jair Bolsonaro comandou uma manifestação esvaziada em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde defendeu a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro.

Na terça-feira, Eduardo também afirmou que permanecerá nos Estados Unidos até que o ministro do STF Alexandre de Moraes seja punido por “abuso de autoridade”. Ele também pretende manter diálogo com figuras ligadas ao governo Trump para tentar pressionar a Justiça brasileira e a implementar sanções contra Moraes  através de influência externa.

Mesmo com a licença, Eduardo Bolsonaro não perde o mandato, mas terá seu salário cortado. Jair Bolsonaro sugeriu que já recebeu pedidos para que o filho permaneça no exterior e indicou que pode sustentá-lo financeiramente. Ainda de acordo com a reportagem, em caráter reservado, ministros do STF avaliam que o movimento de Eduardo pode ser um sinal de que Jair Bolsonaro está preparando o terreno para deixar o país.

Aliados e integrantes do PL tentaram justificar a decisão, alegando que Eduardo estava resistindo a "atos arbitrários". Antes de anunciar sua posição, o deputado telefonou para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e posteriormente comunicou sua decisão à bancada do partido.

•        'Não temos perseguições políticas, presos ou exilados políticos', diz presidente da Câmara

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que, atualmente, não há perseguições políticas ou exilados políticos no Brasil. A declaração, segundo a CNN Brasil, foi feita durante sessão solene da Casa, nesta quarta-feira (19), que celebrou os 40 anos da redemocratização do país.

“Nos últimos 40 anos, não vivemos mais as mazelas do período em que o Brasil não era democrático, não tivemos jornais censurados, nem vozes caladas à força, não tivemos perseguições políticas, nem presos, nem exilados políticos. Não tivemos crimes de opinião ou usurpação de garantias constitucionais. Não mais, nunca mais”, declarou Motta no evento que ocorreu poucos dias após o aniversário da posse de José Sarney, primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar, em 15 de março de 1985.

Durante seu discurso, Motta exaltou os avanços democráticos e negou que o país viva qualquer tipo de repressão política. A fala do deputado, no entanto, ocorre em um contexto de forte embate político. Um dia antes, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou que se licenciará do mandato para permanecer nos Estados Unidos, alegando temor de que seu passaporte seja apreendido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A medida foi cogitada após o deputado ser alvo de uma queixa-crime apresentada pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias. O parlamentar acusou Eduardo Bolsonaro de atuar contra a soberania ao articular retaliações contra o Judiciário Brasileiro junto aos Estados Unidos, levando a Procuradoria-Geral da República (PGR) a analisar o caso. A PGR se manifestou contra a apreensão do passaporte, e o ministro do STF Alexandre de Moraes arquivou o pedido.

Ainda assim, aliados de Bolsonaro passaram a se referir a ele como um “exilado político”, enquanto o próprio deputado declarou que considera pedir asilo político nos Estados Unidos.

•        Mudança na Lei da Ficha Limpa, para livrar Bolsonaro, perde força no Senado

A mudança na Lei da Ficha Limpa, defendida por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para torná-lo elegível para as eleições de 2026, não deve avançar no Senado. Parlamentares bolsonaristas defendem a redução do prazo de inelegibilidade previsto na lei de oito para dois anos, além de mudar o período de contagem da inelegibilidade. As informações são da GloboNews.

Segundo a jornalista Daniela Lima, a proposta de mudança na Lei da Ficha Limpa perdeu força no Congresso por conta da impopularidade. A ideia de tornar as punições mais brandas passa a sensação de impunidade e gera descontentamento em boa parte da população brasileira.

Além disso, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmaram ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), que a ideia de reduzir a inelegibilidade para apenas dois anos é inviável, já que é um período inferior a uma legislatura.

Com isso, a iniciativa perdeu força, principalmente no Senado. Um teste feito por articuladores da mudança na lei aponta que a proposta teria 34 dos 41 votos necessários. Chamou a atenção o fato de que até nomes do PL, partido de Jair Bolsonaro, se ausentaram da proposta e abandonaram o projeto.

•        Todo mundo odeia o Jair. Por Carlos Carvalho

Pouca gente conhece o Jair. Morador de um município na região metropolitana de Fortaleza, todo santo dia Jair Silva cruza a cidade para trabalhar, como ajudante de serviços gerais, em um luxuoso prédio em um dos bairros mais caros da cidade. Jair costuma acordar por volta das quatro horas da manhã. Enquanto sua esposa e o seus três filhos ainda dormem na kitnet alugada de 22 metros, Jair toma meio copo de café preto e anseia por uma tapioca na esquina do trabalho.

Pulando de ônibus em ônibus, Jair se orgulha de jamais ter chegado atrasado ao trabalho. Lá, apenas meia dúzia de pessoas, todos funcionários, sabem que Jair se chama Jair. Para os moradores, Jair não existe. Jair é apenas mais um invisibilizado, um sujeito que nada fez para vencer na vida e que merece, sim, ser odiado com todas as forças da natureza. Essa gente, diriam eles sobre pessoas como o Jair, é o grande problema desse país. Que se danem!

A caminho do trabalho, pela janela do ônibus, Jair vê meia dúzia de gatos pingados no calçadão da Avenida Beira-Mar, vestindo a camisa da seleção brasileira e acenando bandeiras do Brasil, Estados Unidos e, qual seria aquela bandeira com uma estrela azul sobre um fundo branco, entre duas faixas azuis horizontais, que Jair não reconhece?  Sim, Jair também trabalha aos domingos. E Jair lembra que nunca correu no calçadão da Beira-Mar, mas acha legal ver gente rica e branca se exercitando ali. Parece outro país, pensa. Jair nunca leu Iracema, mas gosta de passar por aquela avenida e espichar os olhos para ver o Mara Hope e imaginar até quando ele ficará ali naquela sua eterna briga com o mar.

Jair, que tem sobrevivido graças aos projetos sociais dos governos do PT, sabe que em uma praia não muito distante dali um Jair que nunca trabalhou na vida vocifera impropérios, baba e destila ódio aos borbotões. A ouvi-lo, centenas de pobres remediados, bastardos, falsos profetas, golpistas e ressentidos em geral. Imersos em uma dissonância cognitiva coletiva, mas também na cretinice e no mau caratismo, aplaudem seu ídolo de pés de barro. Jair não sabe como as democracias morrem nem sabe que o ato do outro Jair só é possível de acontecer por estarmos em uma democracia, a mesma democracia que Jair tentou e continua tentando destruir. No abismo de incivilidade que se tornou o Brasil, todo mundo odeia o Jair, o Silva.

 

Fonte: Brasil 247

 

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