Oliveiros Marques: A covardia é a marca
registrada da clã
Imagine-se no front, com o calor torrando
seus miolos, um banheiro químico malcheiroso e pneus que não exibem qualquer
reação diante dos seus cânticos e orações. Sua expectativa é de que algo de concreto
vá se realizar. “Esperem só mais 72 horas”, dizem seus líderes. Nada acontece,
mas sua certeza supera qualquer calendário. Você se mantém firme. Então, recebe
uma convocação: no dia 8 de janeiro, deve se incorporar à infantaria que poria
fim àquela guerra na batalha das batalhas - na tomada, enfim, do poder.
Enquanto isso, após todo o plano ser traçado,
seu comandante abandona o teatro de guerra e vai passear em território aliado
com seus amigos do mundo de Walt Disney. Seu quartel-general está lá,
devidamente decorado com os personagens ficcionais que inspiram o projeto de
país idealizado por ele. Está seguro, protegido por Mickey, Minnie, Pato
Donald, Dumbo, Pluto e, claro, o Pateta.
Mas essa covardia não lhe abate. Você, como
os bois de piranha que são jogados ao rio para salvar parte da manada, cumpre
seu papel e avança de peito aberto contra as baionetas inimigas. Pouco lhe
importa se, como resultado desse ataque desesperado, apenas você morreria. Ou
seria preso na Papuda. Tanto faz. Você estava ali por algo que acreditava ser
maior. Mas o resultado? Você e centenas de parceiros de batalha acabam presos.
Alguns, após tentarem fugir com a ajuda de coiotes, são capturados ao tentar
entrar naquele país que seu líder dizia ser território aliado.
E depois de ser abandonado pelo comandante no
momento mais crucial do seu delírio, agora é um dos principais generais do seu
exército que pica a mula e vai morar com o Mickey. Bem-feito para você. Porque
para Eduardo Bolsonaro, assim como para seu pai, farinha pouca, meu pirão
primeiro. Você foi abandonado mais uma vez pela mesma família. Em vez de ficar
no Brasil e enfrentar a luta ao seu lado, o Zero Três aproveita as regalias que
tem como deputado e decide ir morar na terra de Trump. Não me pergunte de onde ele
vai tirar dinheiro para se manter por lá.
A covardia parece estar no DNA da família.
Assim como a capacidade de construir narrativas ficcionais. O discurso de
Eduardo Bolsonaro ao anunciar sua mudança para os Estados Unidos mais pareceu
um menino criando seu mundo no Minecraft.
Ele sabe exatamente a participação que teve
na tentativa de golpe de 8 de janeiro. E sabe que Cid também sabe. Logo,
Alexandre de Moraes, também. Portanto, o que ele fez foi nada mais, nada menos
do que fugir para não responder pelos crimes que cometeu, ou contribuiu para
que ocorressem, contra a democracia brasileira. Simples assim!
• Antes
de decidir ficar nos EUA, Eduardo Bolsonaro já sabia que não teria o passaporte
apreendido pela Justiça
Poucos dias antes de anunciar sua decisão de
permanecer indefinidamente nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
recebeu um aviso importante de interlocutores do PL junto ao Judiciário.
Conforme informações de Bela Megale, do jornal O Globo, o deputado tomou
conhecimento de que o procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, se
manifestaria contra a apreensão de seu passaporte, solicitada pelo PT. Mais
tarde, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF),
seguiu o posicionamento da PGR e negou a apreensão do passaporte do
parlamentar.
Diante dessa sinalização, o líder do PL na
Câmara, Sóstenes Cavalcante, chegou a desmobilizar um ato de parlamentares
oposicionistas que planejavam exibir seus passaportes no plenário como forma de
protesto em defesa de Eduardo Bolsonaro. A oposição também optou por cancelar
uma reunião agendada com o PGR para tratar do assunto, considerando que o caso
estava resolvido e que o deputado poderia retornar ao Brasil para assumir a
presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
No entanto, a decisão de Eduardo Bolsonaro de
continuar nos Estados Unidos pegou seu partido de surpresa.
Mesmo sem o risco iminente de perder seu
documento de viagem, Eduardo optou por continuar nos EUA, o que reforça a
avaliação de que a decisão tem por objetivo reforçar a narrativa de uma suporta
perseguição política no Brasil e encenar uma espécie de exílio.
• Eduardo
Bolsonaro entrou nos EUA com visto de turista e só poderá permanecer no país
por até 6 meses
Nos Estados Unidos há 20 dias, o deputado federal
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) entrou no país com um visto de turista (B1/B2), que
permite estadia de até seis meses para viagens curtas e cursos rápidos, informa
o jornal O Globo. Caso necessite estender sua permanência, o parlamentar
poderia solicitar uma ampliação de 30 dias. No entanto, Eduardo já afirmou que
pretende pedir asilo político ao governo de Donald Trump, estratégia que, se
bem-sucedida, pode resultar na obtenção do green card — autorização de
residência permanente nos EUA.
Nesta terça-feira (18), após afirmar que se
licenciaria do mandato por quatro meses — período em que seu visto de turista
permaneceria válido —, Eduardo declarou não ter "a mínima possibilidade de
voltar ao Brasil". A fala veio mesmo após o procurador-geral da República,
Paulo Gonet, ter se manifestado contra a apreensão do passaporte do
parlamentar, medida que o próprio deputado apontava como razão para abrir mão
temporária do cargo. Jair Bolsonaro (PL), reforçou o plano, dizendo que, caso o
filho pedisse asilo político, "o Trump daria na hora".
A decisão de Eduardo Bolsonaro surpreendeu
parte do Congresso e é vista como uma tentativa de mobilizar aliados diante do
risco de um revés no Supremo Tribunal Federal (STF). No último domingo (17),
Jair Bolsonaro comandou uma manifestação esvaziada em Copacabana, no Rio de
Janeiro, onde defendeu a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de
Janeiro.
Na terça-feira, Eduardo também afirmou que
permanecerá nos Estados Unidos até que o ministro do STF Alexandre de Moraes
seja punido por “abuso de autoridade”. Ele também pretende manter diálogo com
figuras ligadas ao governo Trump para tentar pressionar a Justiça brasileira e
a implementar sanções contra Moraes
através de influência externa.
Mesmo com a licença, Eduardo Bolsonaro não
perde o mandato, mas terá seu salário cortado. Jair Bolsonaro sugeriu que já
recebeu pedidos para que o filho permaneça no exterior e indicou que pode
sustentá-lo financeiramente. Ainda de acordo com a reportagem, em caráter
reservado, ministros do STF avaliam que o movimento de Eduardo pode ser um
sinal de que Jair Bolsonaro está preparando o terreno para deixar o país.
Aliados e integrantes do PL tentaram
justificar a decisão, alegando que Eduardo estava resistindo a "atos
arbitrários". Antes de anunciar sua posição, o deputado telefonou para o
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e posteriormente comunicou
sua decisão à bancada do partido.
• 'Não
temos perseguições políticas, presos ou exilados políticos', diz presidente da
Câmara
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo
Motta (Republicanos-PB), afirmou que, atualmente, não há perseguições políticas
ou exilados políticos no Brasil. A declaração, segundo a CNN Brasil, foi feita
durante sessão solene da Casa, nesta quarta-feira (19), que celebrou os 40 anos
da redemocratização do país.
“Nos últimos 40 anos, não vivemos mais as
mazelas do período em que o Brasil não era democrático, não tivemos jornais
censurados, nem vozes caladas à força, não tivemos perseguições políticas, nem
presos, nem exilados políticos. Não tivemos crimes de opinião ou usurpação de
garantias constitucionais. Não mais, nunca mais”, declarou Motta no evento que
ocorreu poucos dias após o aniversário da posse de José Sarney, primeiro
presidente civil após 21 anos de ditadura militar, em 15 de março de 1985.
Durante seu discurso, Motta exaltou os
avanços democráticos e negou que o país viva qualquer tipo de repressão
política. A fala do deputado, no entanto, ocorre em um contexto de forte embate
político. Um dia antes, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou que se licenciará do
mandato para permanecer nos Estados Unidos, alegando temor de que seu
passaporte seja apreendido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A medida foi cogitada após o deputado ser
alvo de uma queixa-crime apresentada pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh
Farias. O parlamentar acusou Eduardo Bolsonaro de atuar contra a soberania ao
articular retaliações contra o Judiciário Brasileiro junto aos Estados Unidos,
levando a Procuradoria-Geral da República (PGR) a analisar o caso. A PGR se
manifestou contra a apreensão do passaporte, e o ministro do STF Alexandre de
Moraes arquivou o pedido.
Ainda assim, aliados de Bolsonaro passaram a
se referir a ele como um “exilado político”, enquanto o próprio deputado
declarou que considera pedir asilo político nos Estados Unidos.
• Mudança
na Lei da Ficha Limpa, para livrar Bolsonaro, perde força no Senado
A mudança na Lei da Ficha Limpa, defendida
por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para torná-lo elegível para as
eleições de 2026, não deve avançar no Senado. Parlamentares bolsonaristas
defendem a redução do prazo de inelegibilidade previsto na lei de oito para
dois anos, além de mudar o período de contagem da inelegibilidade. As
informações são da GloboNews.
Segundo a jornalista Daniela Lima, a proposta
de mudança na Lei da Ficha Limpa perdeu força no Congresso por conta da
impopularidade. A ideia de tornar as punições mais brandas passa a sensação de
impunidade e gera descontentamento em boa parte da população brasileira.
Além disso, os ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) afirmaram ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União
Brasil), que a ideia de reduzir a inelegibilidade para apenas dois anos é
inviável, já que é um período inferior a uma legislatura.
Com isso, a iniciativa perdeu força,
principalmente no Senado. Um teste feito por articuladores da mudança na lei
aponta que a proposta teria 34 dos 41 votos necessários. Chamou a atenção o
fato de que até nomes do PL, partido de Jair Bolsonaro, se ausentaram da
proposta e abandonaram o projeto.
• Todo
mundo odeia o Jair. Por Carlos Carvalho
Pouca gente conhece o Jair. Morador de um
município na região metropolitana de Fortaleza, todo santo dia Jair Silva cruza
a cidade para trabalhar, como ajudante de serviços gerais, em um luxuoso prédio
em um dos bairros mais caros da cidade. Jair costuma acordar por volta das
quatro horas da manhã. Enquanto sua esposa e o seus três filhos ainda dormem na
kitnet alugada de 22 metros, Jair toma meio copo de café preto e anseia por uma
tapioca na esquina do trabalho.
Pulando de ônibus em ônibus, Jair se orgulha
de jamais ter chegado atrasado ao trabalho. Lá, apenas meia dúzia de pessoas,
todos funcionários, sabem que Jair se chama Jair. Para os moradores, Jair não
existe. Jair é apenas mais um invisibilizado, um sujeito que nada fez para
vencer na vida e que merece, sim, ser odiado com todas as forças da natureza.
Essa gente, diriam eles sobre pessoas como o Jair, é o grande problema desse
país. Que se danem!
A caminho do trabalho, pela janela do ônibus,
Jair vê meia dúzia de gatos pingados no calçadão da Avenida Beira-Mar, vestindo
a camisa da seleção brasileira e acenando bandeiras do Brasil, Estados Unidos
e, qual seria aquela bandeira com uma estrela azul sobre um fundo branco, entre
duas faixas azuis horizontais, que Jair não reconhece? Sim, Jair também trabalha aos domingos. E
Jair lembra que nunca correu no calçadão da Beira-Mar, mas acha legal ver gente
rica e branca se exercitando ali. Parece outro país, pensa. Jair nunca leu
Iracema, mas gosta de passar por aquela avenida e espichar os olhos para ver o
Mara Hope e imaginar até quando ele ficará ali naquela sua eterna briga com o
mar.
Jair, que tem sobrevivido graças aos projetos
sociais dos governos do PT, sabe que em uma praia não muito distante dali um
Jair que nunca trabalhou na vida vocifera impropérios, baba e destila ódio aos
borbotões. A ouvi-lo, centenas de pobres remediados, bastardos, falsos
profetas, golpistas e ressentidos em geral. Imersos em uma dissonância
cognitiva coletiva, mas também na cretinice e no mau caratismo, aplaudem seu
ídolo de pés de barro. Jair não sabe como as democracias morrem nem sabe que o
ato do outro Jair só é possível de acontecer por estarmos em uma democracia, a
mesma democracia que Jair tentou e continua tentando destruir. No abismo de
incivilidade que se tornou o Brasil, todo mundo odeia o Jair, o Silva.
Fonte: Brasil 247

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