sábado, 8 de março de 2025

O Dia Internacional da Mulher e a Luta por Igualdade: Reflexões e Compromissos

O Dia Internacional da Mulher, celebrado anualmente em 8 de março, não é apenas uma data comemorativa, mas um símbolo da luta histórica das mulheres por direitos, equidade e respeito. Essa data tem suas raízes em movimentos trabalhistas e feministas do final do século XIX e início do século XX, quando mulheres começaram a se mobilizar para reivindicar melhores condições de trabalho, direito ao voto e igualdade de oportunidades.

Apesar das inúmeras conquistas ao longo das décadas, a luta por igualdade de gênero ainda é um desafio global. Mulheres continuam enfrentando desigualdade salarial, barreiras no mercado de trabalho, sub-representação em cargos de liderança, além de altos índices de violência de gênero.

Neste artigo, exploraremos a origem do Dia Internacional da Mulher, os desafios enfrentados atualmente e as ações necessárias para promover um mundo mais justo e igualitário para todas.

1A Origem do Dia Internacional da Mulher

O Dia Internacional da Mulher, celebrado mundialmente em 8 de março, tem suas raízes nos movimentos feministas e trabalhistas do final do século XIX e início do século XX. Sua origem está diretamente relacionada às lutas das mulheres por direitos trabalhistas, igualdade salarial, condições dignas de trabalho e participação política.

1.1. Movimentos Internacionais e Consolidação da Data

Um dos eventos marcantes que impulsionaram a luta das mulheres ocorreu em 1908, quando cerca de 15 mil trabalhadoras marcharam pelas ruas de Nova York, nos Estados Unidos, reivindicando redução da jornada de trabalho, melhores salários e direito ao voto. O impacto dessa mobilização foi tão grande que, no ano seguinte, o Partido Socialista da América instituiu o primeiro Dia Nacional da Mulher, celebrado em 28 de fevereiro de 1909.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, Dinamarca, a ativista Clara Zetkin, uma das grandes vozes do feminismo da época, propôs a criação de um dia internacional para dar visibilidade à luta feminina por direitos. A proposta foi aceita por mais de 100 mulheres de 17 países, embora a data oficial ainda não estivesse definida.

O movimento ganhou força em 1917, quando trabalhadoras russas organizaram uma greve histórica em 8 de março, protestando contra a fome, a Primeira Guerra Mundial e o regime czarista. Esse evento ficou conhecido como a "Marcha das Mulheres de Petrogrado" e marcou o início da Revolução Russa de 1917. Em reconhecimento ao protagonismo feminino, o governo soviético oficializou o 8 de março como feriado nacional em homenagem às mulheres.

A data foi oficialmente reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, quando o ano foi declarado como o Ano Internacional da Mulher. Desde então, o 8 de março passou a ser um marco global de reflexão sobre os direitos das mulheres, celebrando conquistas e reforçando a luta por igualdade de gênero.

1.2. O Dia Internacional da Mulher no Brasil

No Brasil, a luta das mulheres por direitos também tem uma trajetória marcante e está diretamente ligada à conquista de espaços na sociedade. Durante grande parte da história, as mulheres foram excluídas da política, do mercado de trabalho e dos estudos formais, sendo restritas ao papel de donas de casa e cuidadoras.

Um dos primeiros marcos da luta feminina no Brasil ocorreu em 1932, quando as mulheres conquistaram o direito ao voto, durante o governo de Getúlio Vargas. Essa foi uma vitória histórica que garantiu às mulheres o direito de participar ativamente da política nacional.

Outro momento crucial foi a redemocratização do país, com a Constituição de 1988, que trouxe avanços significativos na garantia de direitos trabalhistas e civis para as mulheres, incluindo a igualdade de gênero perante a lei.

Além disso, a luta contra a violência doméstica ganhou força com a criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, que passou a punir com mais rigor os agressores de mulheres e estabelecer medidas protetivas para as vítimas.

Nos últimos anos, o Dia Internacional da Mulher no Brasil tem sido marcado por manifestações, debates e ações voltadas para a promoção da igualdade de gênero. Movimentos como a Marcha das Mulheres e campanhas contra o feminicídio, a desigualdade salarial e o assédio têm ganhado cada vez mais visibilidade.

2. Os Desafios Contemporâneos das Mulheres

Embora o Dia Internacional da Mulher seja uma celebração das conquistas femininas ao longo da história, ele também serve como um momento de reflexão sobre os desafios que ainda persistem. Apesar dos avanços legais e sociais, as mulheres enfrentam desigualdade estrutural em diversas áreas, como no mercado de trabalho, na política, na segurança e na divisão de responsabilidades domésticas.

A seguir, apresentamos os principais desafios enfrentados pelas mulheres na atualidade, com dados e reflexões sobre cada um deles.

2.1. Desigualdade Salarial e Mercado de Trabalho

A disparidade salarial entre homens e mulheres continua sendo uma das maiores barreiras à equidade de gênero. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ganham, em média, 22% a menos do que os homens no Brasil, mesmo quando ocupam cargos e funções semelhantes.

Essa desigualdade se torna mais grave para mulheres negras e indígenas, que enfrentam um duplo preconceito: racial e de gênero. Além disso, setores como tecnologia, engenharia e ciência ainda têm uma representatividade feminina muito baixa, sendo dominados majoritariamente por homens.

Principais barreiras no mercado de trabalho:

·        Diferença salarial entre homens e mulheres.

·        Dificuldade de ascensão a cargos de liderança.

·        Preconceito em áreas historicamente masculinas.

·        Falta de políticas de inclusão e equidade de gênero nas empresas.

Soluções possíveis:

·        Implementação de políticas de igualdade salarial.

·        Maior incentivo à presença feminina em áreas como STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

·        Criação de programas de mentoria e capacitação profissional para mulheres.

2.2. Violência de Gênero e Feminicídio

A violência contra a mulher segue sendo uma das maiores crises sociais do Brasil e do mundo. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é vítima de feminicídio a cada sete horas no país.

A violência de gênero ocorre em diversas formas, incluindo violência doméstica, assédio moral e sexual, estupro, feminicídio e violência psicológica. Muitas mulheres enfrentam dificuldades para denunciar seus agressores devido à falta de apoio institucional e medo de retaliação.

Principais formas de violência de gênero:

·        Violência doméstica: Agressões físicas, psicológicas e patrimoniais dentro de casa.

·        Assédio moral e sexual: No trabalho, transporte público e outros espaços.

·        Feminicídio: O assassinato de mulheres por sua condição de gênero.

Soluções possíveis:

·        Fortalecimento da Lei Maria da Penha e criação de mais delegacias especializadas.

·        Campanhas educativas para combater a cultura do machismo e da impunidade.

·        Ampliar o acesso a centros de acolhimento e apoio psicológico para vítimas.

2.3. Sub-representação Feminina na Política e em Cargos de Liderança

Mesmo representando mais da metade da população brasileira, as mulheres ainda ocupam um número reduzido de cargos políticos e de liderança. No Congresso Nacional, apenas 17,7% das cadeiras são ocupadas por mulheres, um número muito inferior ao ideal para garantir uma representatividade equilibrada.

Nas empresas, a realidade não é diferente: apenas 5% das presidências das 500 maiores empresas do mundo são ocupadas por mulheres. O chamado "teto de vidro" ainda impede muitas mulheres de avançarem na hierarquia corporativa, seja por preconceito ou pela ausência de redes de apoio.

Principais barreiras:

·        Falta de apoio para mulheres na política.

·        Menor acesso a cargos de liderança no setor público e privado.

·        Cultura empresarial que prioriza homens para posições estratégicas.

Soluções possíveis:

·        Criação de cotas para mulheres na política.

·        Incentivo a programas de liderança feminina nas empresas.

·        Construção de redes de apoio para mulheres empreendedoras e gestoras.

2.4. A Duplicidade de Carga de Trabalho: Casa x Carreira

Um dos desafios mais silenciosos e, ao mesmo tempo, mais impactantes para as mulheres é a dupla jornada de trabalho. Mesmo quando trabalham fora, muitas ainda são as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e pelo cuidado com os filhos.

Pesquisas do IBGE mostram que as mulheres dedicam, em média, 10 horas semanais a mais do que os homens a atividades domésticas. Essa sobrecarga dificulta o crescimento profissional e compromete sua qualidade de vida.

Principais impactos da dupla jornada:

·        Menos tempo para investir em educação e capacitação profissional.

·        Aumento do cansaço físico e emocional.

·        Dificuldade de conciliar carreira e maternidade.

Soluções possíveis:

·        Incentivar a divisão equitativa das tarefas domésticas entre homens e mulheres.

·        Criar políticas de flexibilização do trabalho para mães e cuidadoras.

·        Promover a licença parental igualitária, permitindo que pais também tenham mais responsabilidades nos cuidados com os filhos. 

2.5. Falta de Acesso à Educação e Capacitação Profissional

A educação é um dos pilares mais importantes para a autonomia feminina. No entanto, muitas meninas e mulheres enfrentam dificuldades de acesso à escolaridade e capacitação profissional, especialmente em áreas rurais e comunidades de baixa renda.

A falta de incentivos para que mulheres ingressem em cursos técnicos e universitários contribui para sua menor presença em setores estratégicos da economia. Além disso, mulheres que engravidam cedo ou enfrentam dificuldades financeiras têm maior probabilidade de abandonar os estudos.

Principais barreiras educacionais para mulheres:

·        Menor acesso a cursos nas áreas de ciência, tecnologia e engenharia.

·        Desigualdade no acesso à educação de qualidade.

·        Dificuldade de conciliar maternidade e estudo.

Soluções possíveis:

·        Criar programas de bolsas de estudo para mulheres em situação de vulnerabilidade.

·        Ampliar o número de cursos gratuitos e acessíveis para mulheres.

·        Desenvolver projetos que incentivem meninas a entrarem em carreiras científicas e tecnológicas.

A Importância da Equidade de Gênero no Instituto Benjamin Constant

No Instituto Benjamin Constant (IBC), a valorização das mulheres é um compromisso essencial para a construção de um ambiente mais justo, inclusivo e igualitário. A presença e atuação das mulheres são reconhecidas e incentivadas em diversas áreas da instituição, desde a educação, saúde e pesquisa até arte, cultura, tecnologia e gestão.

A Comissão de Promoção da Igualdade Racial, de Gênero e Diversidade desempenha um papel fundamental na implementação de políticas institucionais voltadas à equidade de gênero, promovendo ações que garantam a participação ativa das mulheres, sua valorização profissional e a criação de oportunidades igualitárias.

O IBC reafirma seu compromisso com a igualdade de gênero, garantindo que todas as mulheres da instituição — alunas, servidoras, pesquisadoras e profissionais — tenham suporte, visibilidade e oportunidades iguais para seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Conclusão

O Dia Internacional da Mulher representa não apenas uma celebração das conquistas femininas, mas também um lembrete da necessidade contínua de transformação social. Ao longo da história, as mulheres lutaram arduamente por direitos fundamentais, como o acesso à educação, ao trabalho, à vida política e à segurança, e ainda enfrentam desafios diários para garantir a igualdade de gênero em todas as esferas da sociedade.

Apesar dos avanços legais e institucionais, a desigualdade salarial, a violência de gênero, a sub-representação em cargos de liderança e a sobrecarga da dupla jornada de trabalho continuam sendo realidades que limitam o desenvolvimento pleno das mulheres. Diante disso, é essencial que políticas públicas, iniciativas institucionais e a sociedade como um todo se mobilizem para garantir um futuro mais justo e equitativo para todas.

No Instituto Benjamin Constant (IBC), a valorização da mulher se reflete em ações que promovem a equidade de gênero em diversas áreas, incentivando a participação feminina no ensino, na ciência, na tecnologia, na literatura e nas artes. Além disso, reconhecer e fortalecer o papel das mães, professoras, pesquisadoras, servidoras e alunas dentro da instituição é um passo essencial para que todas tenham visibilidade, oportunidades e reconhecimento.

A construção de uma sociedade mais igualitária exige um esforço contínuo para quebrar estereótipos, eliminar barreiras estruturais e criar oportunidades reais para as mulheres. O compromisso com a igualdade de gênero não deve ser uma pauta pontual, mas sim um compromisso diário que envolve políticas institucionais, mudanças culturais e o fortalecimento da participação feminina em todos os setores da sociedade.

Que o 8 de março continue sendo um marco de luta, reflexão e avanços, impulsionando ações concretas para garantir que todas as mulheres tenham voz, respeito e igualdade de oportunidades. A transformação social começa com o reconhecimento do papel fundamental das mulheres e a construção de um futuro onde a equidade não seja apenas um ideal, mas uma realidade vivida por todas.

 

Fonte: Comissão de Promoção de Igualdade Racial, Gênero e Diversidade.

 

A anatomia da queda do poder de compra do brasileiro (e da popularidade de Lula)

O brasileiro começou 2024 enchendo o carrinho no supermercado. Não só comprou mais, como também teve acesso a mais categorias de produtos, como revelam os dados compilados pela empresa de pesquisa e consultoria Kantar com base nos gastos mensais de milhares de lares no país.

O ritmo predominante foi de ampliação do consumo, inclusive fora de casa, com uma frequência a bares, restaurantes e cafeterias 9% maior do que em 2023.

Boa notícia, não fosse pela sinalização que veio do último trimestre do ano.

Nos últimos meses, o brasileiro passou a fazer menos refeições fora de casa e a buscar cada vez mais economizar no supermercado, especialmente os mais pobres, sinalizam os números adiantados pela Kantar à BBC News Brasil.

"É por isso que a gente está chamando esse consumidor de equilibrista, porque entende que ele está fazendo escolhas com o objetivo de balancear os gastos", avalia Pedro Soares, diretor de contas da divisão Worldpanel da Kantar.

A pesquisa Consumer Insights acompanha os hábitos de consumo de 11.300 domicílios de todas as regiões e classes sociais do país, uma amostra que representa 60 milhões de lares.

Os dados são fruto da leitura das notas fiscais de tudo o que é comprado pelas famílias em canais que vão do supermercado e atacarejo a mercadinhos de bairro, passando por bares, restaurantes e lanchonetes.

O panorama de desaceleração registrado pelo levantamento em 2024 coincide com a trajetória de avanço da inflação de alimentos e bebidas no período.

Os preços nesse grupo cresceram em média 7,69% no ano passado, quase o dobro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechado, que avançou 4,83%.

A refeição dentro do domicílio foi a que ficou mais cara, 8,23% em média. O custo da alimentação fora de casa avançou um pouco menos, mas também cresceu mais que a inflação geral, 6,29%, conforme o indicador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em um ano de aceleração dos preços, à medida que o custo de vida ficou mais caro, o brasileiro foi reavaliando sua capacidade de compra e colocando o pé no freio do consumo, principalmente as classes D e E.

O cenário traçado pelo levantamento da Kantar dialoga com a piora na avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrada por diferentes pesquisas no último mês.

Especialistas têm citado uma série de razões para a perda de popularidade da gestão do petista, da dificuldade de comunicação com o eleitorado a crises como o episódio de desinformação em torno do pix.

A economia, contudo, e mais especificamente o aumento dos preços de alimentos, têm sido centrais na maior parte dos diagnósticos.

"É o calcanhar de aquiles de Lula", escreveu Christopher Garman, diretor para as Américas da consultoria de análise política Eurasia Group, em relatório enviado a clientes em meados de fevereiro.

A análise se debruçava sobre a mais recente enquete realizada pelo Datafolha, de fevereiro, que apontou uma redução de 35% para 24% entre aqueles que avaliam a gestão como "excelente" e "boa" e um aumento de 34% para 41% entre os que a julgam como "ruim" e "péssimo".

Os percentuais anteriores haviam sido aferidos em dezembro de 2024, ou seja, essa piora ocorreu em apenas dois meses.

O quadro foi reforçado na semana passada com os dados da pesquisa Genial/Quaest, que apontaram que o índice de desaprovação do presidente supera a aprovação em todos os oito Estados pesquisados. Em seis deles, a desaprovação seria maior que 60%.

<><> Anatomia de uma queda

No decorrer de 2024, o brasileiro não apenas comprou mais, mas também teve acesso a uma maior variedade de produtos.

Sua cesta de consumo incluiu desde itens básicos de alimentação, limpeza e higiene até aqueles que não são considerados de extrema necessidade pela pesquisa, como tratamentos capilares, isotônicos e bebidas esportivas e chocolates.

Em cada trimestre (a periodicidade acompanhada pelo levantamento), foram mais de 50 categorias acessadas em média, o primeiro ano que esse patamar foi ultrapassado.

A expansão se deu entre todas as classes sociais, com alta de 5,1% em unidades em relação ao ano anterior.

"Do ponto de vista de consumo de bens não duráveis, 2024 foi um ano positivo", observa Soares.

Os sinais de que a tendência se esgotava começaram a aparecer no último trimestre.

A desaceleração no ritmo de crescimento das refeições fora de casa foi a primeira indicação de que os brasileiros vinham se preocupando em controlar mais os gastos. No último trimestre, a frequência com que as famílias faziam esses programas aumentou 4,1%, menos da metade dos 9% observados no ano cheio.

Depois, chamaram atenção as mudanças nos hábitos de consumo dentro do supermercado.

À medida que o fim do ano se aproximava, os carrinhos foram ficando menos cheios e os consumidores passaram a fazer mais visitas aos pontos de venda, um indicativo de que intensificaram a busca por preços mais baixos e por promoções.

A frequência das visitas aos pontos de venda aumentou em 8% no último trimestre, em comparação com o mesmo período de 2023, enquanto o valor gasto por visita (tíquete médio) recuou 0,4%.

A composição da cesta de consumo no quarto trimestre, em relação ao mesmo período do ano anterior, também reitera a percepção de desaceleração, com crescimento de categorias como a de empanados, por exemplo, em detrimento de frangos e avanço do café solúvel ante queda no consumo de café torrado.

Os brasileiros também compraram menos sorvete nos três últimos meses de 2024, passando a levar mais biscoitos, e colocaram menos cerveja no carrinho, e mais água e refrigerante.

O aumento do número de visitas aos pontos de venda foi puxado especialmente pelo atacarejo, que cresce na preferência não só dos consumidores que precisam fazer compras maiores, mas também entre aqueles que decidem passar no supermercado para levar apenas alguns itens para casa.

"Acho que o consumidor já enxerga essa equação de valor dentro do atacarejo de forma tão clara que, mesmo nas compras menores, por conta dessa busca por preço, ele procura esse canal para compra", acrescenta Soares.

Esse movimento acabou impulsionando a demanda por todas as categorias de preço dentro do atacarejo, tanto as marcas mais baratas quanto as "premium".

Além de um número maior de visitas às lojas, os consumidores brasileiros também recorreram mais ao e-commerce, mais um sinal de que estão buscando economia.

As compras de itens como bebidas, produtos de higiene e ração para animais de estimação aumentaram nos canais digitais.

"O consumidor também está variando os meios de acesso, 'mixando' aplicativos com compras que faz no WhatsApp e no site dos varejistas."

Apesar da perda de fôlego, de forma geral o consumo medido pela pesquisa da Kantar não chegou a contrair entre os brasileiros, reitera Soares.

Essa, ele acrescenta, também é a tendência para 2025. A projeção da consultoria para este ano é de estabilidade na despesa com a cesta de consumo — o que não necessariamente sinaliza um alívio para o governo, especialmente diante da deterioração da aprovação da gestão entre os mais pobres.

<><> Classes D e E mais afetadas

O detalhamento dos dados da pesquisa Consumer Insights por classe social mostra que as que mais sentiram no bolso a mudança de cenário no fim de 2024 foram a D e E.

Quando se trata dos programas fora de casa, esse foi o único grupo em que a frequência de consumo fora do lar recuou no último trimestre de 2024, expressivos 10% em relação ao mesmo período do ano anterior, contra alta de 8% nas classes A e B e de 6% na classe C.

No supermercado, foi o único grupo que chegou a reduzir o total de unidades que colocou no carrinho (-0,6%) e ampliou o gasto médio por domicílio em ritmo significativamente menor, 4,3%, quase metade do registrado entre os demais (8,6% classes A e B, 8,5% classe C).

A queda na aprovação do governo sinalizada pelas pesquisas de opinião foi especialmente pronunciada nessa fatia da população. Conforme o Datafolha, entre os brasileiros com renda inferior a dois salários mínimos a avaliação da gestão como excelente/boa recuou de 49% para 29% de dezembro para fevereiro.

Como destaca a Eurásia em relatório, ao lado das mulheres (em que a avaliação positiva da gestão retraiu de 38% para 24%), esse grupo é justamente aquele mais sensível à aceleração na inflação de alimentos, já que tradicionalmente vê uma fatia maior da renda comprometida com gêneros básicos.

Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que, em janeiro de 2025, 22,61% do orçamento das famílias com renda entre 1 e 1,5 salário mínimo era direcionada para a compra de alimentos, ante 18,44% no mesmo mês de 2018.

 

¨      Carlos Castilho: A falta de transparência nas pesquisas sobre popularidade de Lula

Desde janeiro as manchetes dos grandes jornais brasileiros têm destacado uma série de pesquisas de opinião pública com uma intrigante característica comum: a sinalização de uma queda continuada na popularidade do governo do presidente Lula.

A coincidência é intrigante porque não estamos às vésperas de eleições, não ocorreu algum erro catastrófico do atual ocupante do palácio do Planalto e muito menos um desastre econômico, tipo surto de desemprego, disparada do dólar ou da inflação.

Normalmente, as pesquisas sobre popularidade de políticos acontecem dois anos antes de uma eleição e funcionam como uma espécie de avaliação da aceitação popular de eventuais candidaturas.

Também podem servir para testar a receptividade de alguma medida importante inserida na agenda pública de debates. Mas as sondagens sobre popularidade do governo Lula não se enquadram em nenhuma destas categorias gerando especulações sobre quais seriam os reais objetivos das consultas.

O fato de as pesquisas terem um viés comum indica um interesse em desenvolver uma percepção pública de que Lula não conta com as simpatias da população.

A divulgação repetida de dados sugerindo uma imagem negativa do governo acaba por condicionar atitudes e posicionamentos das pessoas e configura o exercício da chamada advocacy informativa, ou seja, a promoção pela grande imprensa brasileira de uma ou mais ideias previamente estruturadas.

A razões para a realização de tantas pesquisas sobre um mesmo tema num espaço de tempo tão curto ainda são uma incógnita. Três hipóteses surgem como as mais prováveis:

a) Debilitar agora o governo Lula seria uma estratégia para alimentar expectativas de possíveis candidatos da oposição conservadora nas eleições presidenciais de 2026 e neutralizar articulações visando a reeleição de Lula;

b) Seria uma forma de desviar a atenção pública sobre o julgamento e possível prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro acusado de tramar um golpe de estado em 2022;

c) Poderia ainda ser uma manobra para minar o prestigio internacional de Lula num momento em que o cenário mundial confere ao Brasil um protagonismo crescente por conta da questão ambiental e da liderança política do país na América Latina.

<><> A questão da transparência

Não há dúvidas de que a questão da popularidade do presidente interessa a muita gente e tem desdobramentos importantes na política nacional.

Por esta razão, é intrigante a ausência de matérias jornalísticas analisando o tipo de público entrevistado, o formato das perguntas, os locais onde as respostas foram colhidas, a metodologia de processamento dos números obtidos.

Sabe-se que as pesquisas de opinião acontecem em contextos definidos e que seus resultados precisam ser interpretados levando em conta estes mesmos contextos.

Como a imprensa é o veículo preferencial na divulgação dos dados das pesquisas de opinião, é obvio que ela tem um papel primordial no desenvolvimento das percepções do público.

Daí a necessidade da preocupação com a questão da transparência tanto dos métodos e procedimentos como dos objetivos que orientaram a realização da pesquisa num momento determinado.

Sem transparência, o público fica privado dos instrumentos necessários para fazer sua própria avaliação dos resultados divulgados e aumentam as dúvidas sobre o que está oculto nos procedimentos adotados pelos pesquisadores e pelos jornalistas responsáveis pela publicação e interpretação dos dados das pesquisas.

A imprensa e o jornalismo existem para servir às pessoas e não a interesses e estratégias políticas ou econômicas. Pelo menos é o que costumam dizer a maioria dos manuais de redação e os principais teóricos da profissão.

 

¨      Pesquisas merecem um olhar mais holístico. Por Edelberto Behs

CNT/MDA divulgou mais uma pesquisa de opinião, na terça-feira, 25, quando entrevistou, de 19 a 23 de fevereiro, 2.200 pessoas presencialmente. A leitura recaiu – para gáudio da imprensa liberal – sobre a queda da aprovação tanto do governo quanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É evidente que os resultados – 40,5% aprovam o governo Lula, 55,3% o desaprovam e 4,2% não sabem ou não responderam –, assim como a queda de aprovação do presidente da República, que caiu 9,2 pontos desde a última aferição, em novembro passado, devem preocupar o Palácio da Alvorada e a Esplanada dos Ministérios. A pesquisa, convém lembrar, é a fotografia do momento, podendo sofrer alterações no decorrer do tempo. Ela precisa ser encarada, no entanto, de forma holística para se alcançar imagens que permitam melhores interpretações.

O governo Lula está sendo mal avaliado? Numa eventual candidatura de Lula para um quarto mandato, quem seriam possíveis adversários? O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicano), ou Eduardo Bolsonaro (PL)? A pesquisa indagou isso e apurou que num embate com Lula, Tarcísio teria 14% e Eduardo 13% das intenções de voto. Dos pesquisados, 35% não gostariam de ter, nas próximas eleições presidenciais, candidatos vinculados a Lula e a Bolsonaro, este inelegível.

Então, uma leitura possível dos dados da recém pesquisa CNT/MDA é que a sociedade brasileira está decepcionada com a política dos brasileiros e brasileiras. A avaliação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal teve a manifestação de que é muito positiva ou positiva para o Brasil de apenas 16,6% dos entrevistados; 37,6% a encaram como negativa e 35,9% como neutra!

Impressionante a pesquisa detectar que 68,6% do universo pesquisado entenderem que a escolha do presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal afetam diretamente a vida da população; mas 69,4% desse mesmo universo confessaram que não tiveram conhecimento da eleição para escolha dessas lideranças!

Os meios de comunicação de massa, redes sociais, assessorias de imprensa não tiram nenhuma consequência desses dados? Pior, 31,7% – seria a Kombi dos bolsonaristas? – não ouviram falar ou não ficaram sabendo das denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro na tentativa de golpe de Estado! Somente 27,3% – seria a Kombi dos progressistas? – que souberam detalhes sobre o caso e 39,7% só ouviram falar superficialmente!

E daí, muitos brasileiros e brasileiras ainda têm Bolsonaro, embora inelegível, como um possível candidato num eventual confronto futuro com Lula, e os dois acabariam, hoje, em empate técnico no primeiro turno! Um absurdo se tomados em conta todas as denúncias que pesam sobre o ex-presidente.

A pesquisa parece evidenciar, de forma clara, que a política – a partidária e o fazer político para o crescimento e benefício da comunidade – está em descrédito. E Lula junto. Seria um milagre, nesse retrato atual, se ele fosse uma exceção, ainda mais com um Congresso que continua fazendo as suas “pedaladas” e contribuindo para esse quadro de descrédito.

O momento fica periclitante pois favorece a introdução dos famosos oportunistas que correm por fora. Quem perde é a democracia, como ficou evidenciado no dia 8 de janeiro de 2023.

 

¨      Ministros "têm que sair de seus cercadinhos e defender o governo", diz coordenador do Prerrogativas

O advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Prerrogativas, grupo que reúne juristas renomados do campo progressista, avalia que os ministros do governo Lula precisam se mobilizar para defender o presidente. 

Pesquisas recentes apontam uma disparada na desaprovação do governo e, segundo Marco Aurélio, que é amigo pessoal de Lula, os ministros têm que "entrar em campo" para defender o presidente e reverter este cenário. 

Em entrevista ao jornal Estadão, o advogado brincou que o governo precisa, após o programa Pé de Meia, lançar o programa "Pé na Bunda" para demitir os ministros que não se engajam na defesa do governo e não entregam resultados.

À Fórum, Marco Aurélio sustentou que, neste "segundo tempo" de governo, é momento dos ministros "saírem de seus cercadinhos" e "colocarem os corações nas chuteiras" em defesa do governo.

O advogado ainda vai na mesma linha da análise publicada em artigo do editor da Fórum, Renato Rovai, e afirma que os ministros precisam dar mais entrevistas para a mídia independente, em detrimento da prioridade que sempre dão à mídia corporativa, que mantém uma campanha permanente para desgastar o governo. 

"É fundamental que os ministros entrem no segundo tempo desse jogo, que é um jogo de final de campeonato, colocando os corações nas chuteiras. É absolutamente fundamental e imprescindível. A defesa do governo Lula não cabe somente ao presidente Lula. A gente tem que engajar os ministros e tem que dar um chacoalhão em cada um deles para que eles voltem, na verdade, a interagir com o campo progressista e com a sociedade em geral, se expondo um pouco mais, saindo dos seus cercadinhos, dando entrevistas para a mídia progressista, participando de eventos públicos", pontua Marco Aurélio. 

O advogado afirma que tal mobilização é essencial para que "o país não seja entregue novamente ao bolsonarismo". Em sua avaliação, "o governo é muito bom e tem muitas entregas", mas "não está conseguindo demonstrar isso exatamente porque a gente não está conseguindo se apoderar desses legados e se comunicar com a sociedade". 

"É um problema de comunicação? É. Mas, em especial, é um problema de política", arremata Marco Aurélio. 

<><> Boulos: é preciso defender o governo

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) esteve no Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (26) e fez uma análise parecida com a de Marco Aurélio de Caravalho. Segundo o parlamentar, o governo Lula precisa de "um freio de arrumação", mas avalia que é preciso ser responsável quanto às críticas.

"No fim do dia, a questão é simplesmente a seguinte: o que hoje está colocado no Brasil é que se a gente não trabalha para fortalecer e não para enfraquecer publicamente o governo, o resultado é uma chance real de retorno da extrema direita em 2026, de maneira mais feroz, a exemplo do que o Trump está fazendo nos Estados Unidos", alerta o deputado.

"Então a gente tem que saber fazer análise, tem que saber fazer as críticas, tem que saber qual é o espaço de crítica. Eu já sentei com o presidente Lula inúmeras vezes e coloquei o que eu penso dos limites do governo. Agora eu não acho que quem tem responsabilidade histórica com o momento que o país está vivendo, deve cumprir o papel de chegar aqui e sair atacando a torto e a direito o governo, acreditando que isso pode levar a conjuntura mais à esquerda. Não leva. Deveriam ter aprendido com que o Brasil viveu nos últimos 10 anos", emenda Boulos.

 

Fonte: BBC News Brasil/Viomundo/IHU/Fórum