sábado, 3 de junho de 2023

Preocupação de segurança russa deve ser levada em conta para paz, diz Amorim

O governo Lula voltou a afirmar que uma solução de paz para a Guerra da Ucrânia precisa levar em conta preocupações da Rússia, em especial no que diz respeito à segurança nacional, postura que destoa do discurso empregado por aliados do Norte Global no conflito.

A declaração desta vez foi proferida pelo ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência e principal conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para política externa, em entrevista ao jornal Financial Times publicada nesta sexta-feira (2).

"Não queremos uma terceira guerra mundial, tampouco uma nova Guerra Fria", afirmou. "As preocupações de todos os países da região devem ser levadas em conta se o objetivo é a paz. A outra alternativa seria a vitória militar total contra a Rússia. Sabemos o que vem depois disso? Eu não."

Amorim, que foi o enviado de Lula para conversar com Vladimir Putin em Moscou e com Volodimir Zelenski em Kiev, disse que a culpa do conflito não é da Ucrânia. "Kiev é vítima dos resquícios da Guerra Fria", afirmou. "Não podemos julgar essa situação pelo último um ano e meio. É uma situação de décadas."

Ainda na conversa com o jornal nipo-britânico, ele listou a segurança nacional como uma das principais preocupações de Moscou -antes de invadir o país vizinho, o Kremlin argumentou estar protegendo suas fronteiras do alargamento da Otan, a aliança militar ocidental.

As declarações do assessor da Presidência vão ao encontro de falas anteriores de Lula que chegou a dizer que Zelenski "não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer", dando a entender que uma negociação de paz poderia deixar de lado a desocupação de porções do território ucraniano hoje tomadas pela Rússia.

Em recente entrevista à Folha na capital Kiev, quando questionado sobre o fato de a proposta de paz do Brasil não abarcar pré-condições (como a desocupação desses terrenos), Zelenski desconversou, mas frisou que quer conversar com Lula e ouvir o que o petista propõe.

As falas de Amorim se dão em paralelo a um encontro de chanceleres do Brics, grupo que Brasil e Rússia integram, na África do Sul. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, está presente, e espera-se que tenha uma reunião bilateral com seu homólogo russo, o decano Serguei Lavrov, que em abril visitou Brasília.

Segundo trechos do discurso de Lavrov divulgados pela agência estatal Tass, o russo teria repetido que o Brics (composto também por Índia, China e pela anfitriã África do Sul) deve buscar resposta conjunta ao que chamou de ações do Ocidente como "tentativas de minar a segurança coletiva e terrorismo internacional".

Na declaração final do encontro divulgada nesta sexta-feira, um documento de 30 pontos, os países-membros reiteram pontos já conhecidos, como a condenação de sanções e embargos econômicos e a demanda pela reforma de conselhos de tomada de decisão na ONU.

Sobre a Guerra da Ucrânia, tema que sobrevoa um dos parágrafos, os membros do Brics dizem apreciar propostas relevantes pela paz que têm sido colocadas na mesa -além do Brasil, a China apresentou um plano, ainda que tenha sido ignorado pelo Ocidente- e pedem a plena implementação do acordo de grãos no Mar Negro, que permite o escoamento dos produtos ucranianos para outros continentes.

 

Ø  Orbán: contraofensiva da Ucrânia viraria 'banho de sangue', é necessário o evitar

 

O premiê húngaro detalhou os custos vindos de uma possível tentativa por Kiev de retomar o território controlado pela Rússia, sublinhando a superioridade numérica de Moscou.

Uma contraofensiva seria um "banho de sangue" para a Ucrânia porque o atacante sempre sofre grandes perdas, portanto, deve ser evitada antes de começar, disse Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.

"Eu mesmo, como um homem que serviu no Exército por um ano e meio, mesmo sem acabar uma academia militar aprendi que os atacantes podem ter três vezes mais baixas do que os defensores. E para um país cuja população é apenas uma parte da população do país adversário – na Rússia a população é de 130-140 milhões, na Ucrânia não sabemos quantos, provavelmente algo entre 30-40 milhões – iniciar uma grande estratégia nessas circunstâncias é um banho de sangue", advertiu Orbán na rádio Kossuth.

"Portanto, acho que, antes mesmo do início da contraofensiva ucraniana, tudo deve ser feito para convencer os lados da necessidade de um cessar-fogo e de conversações de paz. Caso contrário, perderemos muitas vidas humanas", acrescentou.

Desde o início do conflito a Hungria tem se oposto consistentemente às sanções sobre os recursos de energia russos e ao envio de armas para a Ucrânia. Em março de 2022, o parlamento húngaro publicou um decreto que proíbe o envio de armas para a Ucrânia a partir de seu território.

Peter Szijjarto, ministro das Relações Exteriores e do Comércio húngaro, explicou que Budapeste busca garantir a segurança do território da Transcarpátia, onde vivem húngaros étnicos, já que os suprimentos de armas que a atravessem podem se tornar um alvo militar legítimo. A liderança do país tem sublinhado repetidamente que a Hungria defende o início das negociações de paz o mais rápido possível.

 

Ø  Kremlin: Europa é um instrumento obediente, é Washington que dita as regras na OTAN

 

É Washington quem dita as regras na OTAN, a Europa é um instrumento dócil nesta orquestra, declarou o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov nesta sexta-feira (2).

"Infelizmente, na OTAN é Washington quem encomenda e paga a música. A Europa, os países europeus, são infelizmente instrumentos obedientes nesta orquestra", disse Peskov aos jornalistas.

O porta-voz do Kremlin declarou também que a Rússia procurará proteger seus interesses, isso exclui a expansão da OTAN às custas da Ucrânia e a aproximação direta da Aliança Atlântica às fronteiras da Rússia.

"Rússia vai se esforçar para cumprir as suas tarefas, e a Rússia vai se esforçar para garantir os seus interesses e a sua segurança. Isso exclui tal expansão da aliança e seu avanço direto rumo às nossas fronteiras, incluindo a adesão da Ucrânia à OTAN", disse Peskov, respondendo ao pedido dos jornalistas para comentar as palavras do líder ucraniano Vladimir Zelensky sobre a adesão da Ucrânia à OTAN.

Anteriormente, o secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg observou em uma coletiva de imprensa que o bloco considera real a adesão da Ucrânia, mas ele não respondeu à pergunta se Kiev receberá um convite oficial para a Aliança na cúpula que decorrerá em 11 e 12 de julho na Lituânia.

Mais tarde Zelensky disse que a Ucrânia deve receber convites para aderir à OTAN e à União Europeia neste ano.

 

Ø  Zelensky admite que a Ucrânia não entrará na OTAN enquanto o conflito continuar

 

O mandatário ucraniano vê a Aliança Atlântica como a principal garante de segurança de Kiev, mas reconheceu que aderir agora "é impossível".

Vladimir Zelensky reconheceu na sexta-feira (2) em uma entrevista coletiva com Alar Karis, presidente da Estônia, que a Ucrânia não se tornará Estado-membro da OTAN enquanto as hostilidades estiverem em andamento.

Karis chegou a Kiev na sexta-feira (2).

"A adesão à OTAN é a melhor garantia de segurança para a Ucrânia. Não estamos procurando um substituto para a OTAN, mas somos pessoas adequadas e entendemos que não arrastaremos nenhum país da OTAN para a guerra. Portanto, entendemos que não seremos membros da OTAN enquanto esta guerra continuar. Não porque não queiramos, mas porque isso é impossível", disse Zelensky.

De acordo com ele, a Ucrânia espera receber garantias de segurança antes de entrar no bloco militar.

"Hoje, quando falamos de garantias de segurança para a Ucrânia, falamos de sanções, garantias financeiras, armas e assim por diante. Mas queremos que tudo isso seja claramente explicitado em documentos e apoiado por ações concretas. Essa garantia de segurança estaria em vigor até a Ucrânia receber a principal garantia de segurança, ou seja, a adesão à OTAN", explicou o presidente ucraniano.

Quanto à contraofensiva ucraniana, que tem sido esperada há meses, Zelensky defendeu que não se trata de "cinema".

"Não é cinema, é difícil para mim dizer quando você verá a contraofensiva. O principal é que a Rússia o veja, e não apenas o veja, mas o sinta", disse ele em resposta a uma pergunta sobre quando todos poderão ver ações ofensivas das Forças Armadas da Ucrânia.

·         Alemanha dá golpe nas esperanças da Ucrânia de adesão acelerada à OTAN

Alemanha deu um golpe nas esperanças da Ucrânia de aderir rapidamente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), escreve o colunista norte-americano Jon Jackson no jornal Newsweek.

"Para ganhar o direito de aderir à aliança, a Ucrânia precisa do apoio unânime dos atuais países-membros da OTAN, e a indecisão da Alemanha pode sinalizar um obstáculo no caminho", destacou ele.

Anteriormente, a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, disse em uma reunião informal dos chefes dos MRE dos países da OTAN em Oslo que é impossível que novos membros se juntem à Aliança Atlântica durante um conflito.

Por sua vez, o presidente ucraniano Vladimir Zelensky disse que Kiev espera receber um convite claro para aderir à OTAN na reunião de julho em Vilnius, na Lituânia.

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, o país não aceitará nenhuma outra decisão da cúpula do bloco, exceto um convite para se juntar a ela.

No final de maio, o chanceler russo Sergei Lavrov advertiu durante o discurso no XI Encontro Internacional de altos representantes encarregados de questões de segurança que os países da OTAN estão envolvidos no conflito ucraniano e essa linha irresponsável aumenta a ameaça de um confronto militar direto entre potências nucleares.

 

Ø  China avalia próxima missão por paz na Ucrânia após primeira ter pouco progresso

 

O enviado chinês que visitou capitais europeias no mês passado em busca de promover negociações de paz na Ucrânia disse nesta sexta-feira que Pequim está considerando outra missão, depois de reconhecer que sua viagem pode não produzir resultados imediatos.

Em entrevista coletiva, Li Hui rejeitou uma reportagem dizendo que ele promoveu um cessar-fogo que deixaria sua aliada Rússia ocupando partes da Ucrânia e disse que Pequim fará "qualquer coisa" para aliviar as tensões.

No entanto, existem grandes obstáculos para encontrar um terreno comum entre os lados em guerra, acrescentou.

"Sentimos que há uma grande lacuna entre as posições de ambos os lados... Conseguir que todos os lados negociem agora ainda enfrentaria muitas dificuldades", disse Li, enviado especial da China para assuntos da Eurásia e ex-embaixador de longa data em Moscou.

"A China está disposta a considerar ativamente o envio de outra delegação a países relevantes para dialogar sobre a resolução da crise na Ucrânia", declarou Li, sem dar detalhes sobre quais países.

Em maio, Li completou uma viagem de 12 dias a Kiev, Varsóvia, Paris, Berlim, Bruxelas e Moscou, no que a China disse ser uma tentativa de encontrar um terreno comum para um eventual acordo político.

"O risco de escalada da guerra Rússia-Ucrânia ainda é alto", afirmou Li, acrescentando que todos os lados precisam tomar medidas concretas para "esfriar a situação" e garantir a segurança das instalações nucleares.

"Desde que seja para aliviar a situação, a China está disposta a fazer qualquer coisa", disse ele.

Os Estados Unidos e vários países europeus têm apelado a Pequim para usar sua influência sobre a Rússia para buscar o fim da crise, embora a recusa de Pequim em condenar Moscou pela invasão tenha levantado suspeitas sobre seus motivos.

Li, embaixador da China em Moscou de 2009 a 2019, disse que a Rússia apreciou o desejo e os esforços da China para promover uma solução pacífica para a crise.

No início deste ano, a China publicou um plano de paz de 12 pontos, pedindo que a proteção dos civis e a soberania de todos os países sejam respeitadas.

Autoridades francesas e alemãs com conhecimento das reuniões de Li na Europa disseram que ele se manteve fiel a esses pontos de discussão e buscou enfatizar o papel dos Estados Unidos na escalada da crise ao fornecer armas à Ucrânia.

"Não houve plano de paz. Foi mais uma sessão de fazer uma mesa redonda de cada uma das nossas posições", disse a autoridade francesa, pedindo anonimato.

"Acho que não esperamos que a China seja uma mediadora, mas ela pode usar sua influência sobre a Rússia e pode ajudar a fazê-la entender."

 

Ø  Sanções impostas à Rússia por guerra na Ucrânia devem ser mantidas, diz Japão

 

O Japão e os países que pensam da mesma forma devem estar unidos e manter as sanções contra a Rússia até que ela termine sua agressão na Ucrânia, disse o ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, nesta sexta-feira.

"A julgar pela situação e, especialmente, pelo que a Rússia está dizendo e fazendo, acho que é importante que o G7 e os países que pensam da mesma forma permaneçam unidos e continuem com sanções severas contra a Rússia", disse Hayashi em uma coletiva de imprensa.

Ele disse que espera que as sanções incentivem a Rússia a "pôr fim à sua agressão o mais rápido possível, para que possamos chegar à fase em que poderemos usar o diálogo e as negociações de paz".

Os líderes dos países do Grupo dos Sete (G7) se reuniram na cidade de Hiroshima no mês passado e renovaram seu compromisso com as sanções contra a Rússia, ao mesmo tempo em que prometeram trabalhar para evitar que elas sejam contornadas.

Os países do G7 afirmaram que restringiriam as exportações de maquinário industrial, ferramentas e tecnologia úteis para o esforço de guerra da Rússia e limitariam sua receita com o comércio de metais e diamantes.

 

Fonte: FolhaPress/Spurnik Brasil/Reuters

 

Nenhum comentário: