sábado, 3 de junho de 2023

PF faz buscas contra neonazistas que teriam estimulado assassinatos

A Polícia Federal cumpre, nesta sexta-feira (2), mandados de busca e apreensão contra um grupo neonazista que usava aplicativos de mensagens e chats para compartilhar “material de extremismo violento ideologicamente motivado”.

Há suspeita de que integrantes do grupo tenham induzido assassinatos cometidos em 25 de novembro de 2022, em Aracruz (ES), por um menor de 16 anos.

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Segundo os investigadores, o grupo divulgava tutoriais de assassinato no aplicativo de mensagens, além de vídeos de mortes violentas, de fabricação de explosivos e de promoção de ódio a minorias. Havia também, em meio aos materiais divulgados, vídeos descrevendo ideais neonazistas.

Os ataques cometidos pelo menor ocorreram em duas escolas e, segundo a Polícia Civil do Espírito Santo, teriam sido planejados há pelo menos dois anos. Os disparos com arma de fogo resultaram na morte de quatro pessoas e 13 ficaram feridas. O adolescente é filho de um policial militar.

Os mandados de busca e apreensão das ações de hoje foram cumpridos nas cidades de São Paulo (SP) e Petrolina (PE), por determinação da 1ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Linhares, no Espírito Santo.

Extremismo violento

“A investigação demonstrou que os arquivos de conteúdo de extremismo violento encontrados no aparelho celular do menor foram baixados do canal do aplicativo que ele participava”, informou a PF.

 “O uso da cruz suástica na vestimenta do menor no momento do ataque demonstra a influência de ideologia neonazista recebida pelo grupo de aplicativo, reforçando a tese de que o atentado foi cometido por razões de intolerância a raça, cor e religião com o fim de provocar terror social, o que configura o crime de terrorismo”, acrescentou.

A PF informou que a empresa do aplicativo de mensagens pouco cooperou com a investigação. No entanto, mesmo sem a obtenção de boa parte dos dados solicitados, os investigadores conseguiram identificar dois integrantes que atuavam de forma ativa, “com postagens de teor racista e antissionista”.

De acordo com a PF, se somadas, as penas máximas dos crimes investigados atingem 72 anos de reclusão, “lembrando que tanto o crime de terrorismo quanto o de homicídio qualificado são considerados hediondos pela legislação”.

O ministro da Justiça e Segurança Pública anunciou as ações da PF por meio de sua conta no Twitter.

RELEMBRE O CASO:

•        ES: adolescente usa arma do pai e símbolo nazista em ataque a escolas

Após ser apreendido como principal suspeito de autoria do ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, um adolescente de 16 anos confessou o crime, informou a Polícia Civil do estado. O jovem contou que vinha planejando a ação há pelo menos dois anos. O adolescente é filho de um policial militar. 

"Os pais estavam destruídos e colaboraram muito com o nosso trabalho", disse o delegado da Polícia Civil, João Francisco Filho, que apresentou os detalhes da apreensão ao lado do governador Renato Casagrande, do secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, e do secretário de Segurança Pública, Marcio Celante. De acordo com o delegado, o adolescente foi encontrado em um dos imóveis da família no município. A operação foi tranquila e houve cooperação tanto dos pais quanto do autor do crime.

O ataque às duas escolas teve início por volta das 9h30 de hoje (25) e resultou na morte de pelo menos dois professores e uma aluna. Ficaram feridas 11 pessoas que foram levadas para hospitais da região. Alguns dos feridos já foram liberados. Segundo as últimas informações, quatro pessoas apresentam quadro de saúde mais delicado: três professores, cujo estado é grave, e  um aluno, em situação gravíssima.

Já se sabe que o adolescente usou duas armas de responsabilidade do pai: um revólver de calibre .38, de propriedade privada e uma pistola .40 pertencente à Polícia Militar. Ele também levava três carregadores. O governador Renato Casagrande confirmou que, no momento do crime, o adolescente usava uma braçadeira com um símbolo nazista.

Imagens das câmeras de segurança registraram a ação. O atirador vestia roupa camuflada e uma máscara de esqueleto, similar à usada em fotos nas redes sociais por um dos autores do massacre ocorrido em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo.

<< Motivação

A ação do adolescente começou pela Escola Estadual Primo Bitti, onde ele arrombou o cadeado de um dos acessos e fez disparos matando dois professores e ferindo mais nove. Em seguida, o atirador entrou em um carro e se dirigiu ao Centro Educacional Praia de Coqueiral, uma instituição privada. No local, efetuou novos disparos, tirando a vida de uma aluna e ferindo mais duas pessoas.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente é ex-aluno da Escola Estadual Primo Bitti, onde estudou até junho deste ano. A família o transferiu para outra instituição, mas a razão ainda não foi esclarecida.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, durante a apreensão, o adolescente não explicou por que fez os ataques. O delegado João Francisco Filho disse que ele estava tranquilo e não manifestou arrependimento. A apuração preliminar apontou que ele fazia tratamento psiquiátrico. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o adolescente não tinha um alvo definido e que ele pode ter agido sob estímulo de grupos extremistas, que se organizam de forma virtual dentro e fora do Brasil.

Para Renato Casagrande, a sociedade precisa estar mais atenta aos problemas de saúde mental. Ele pediu que as pessoas fiquem atentas ao comportamento de filhos, netos e irmãos, para que possam identificar situações em que seja necessária ajuda profissional. Considerou ainda que a comunidade escolar também deve estar vigilante.

O governador manifestou resistência a medidas que busquem dificultar o acesso às escolas ampliando as grades e os muros. "Escola não é para isso. Escola é para educar, para formar pessoas, para poder conviver com quem pensa diferente. Então os sinais de problemas de saúde mental são sinais que precisam receber atenção", reiterou.

<< Choque

A prefeitura de Aracruz divulgou nota informando que as aulas da rede municipal foram suspensas. As crianças que estavam nas escolas foram dispensadas. Casagrande informou que a retomada das aulas na Escola Estadual Primo Bitti ainda será discutida nos próximos dias. O prefeito de Aracruz, Luiz Carlos Coutinho, disse que as famílias das vítimas já estão sendo identificadas para receber assistência.

O clima é de choque na comunidade escolar do município. "É muita tristeza. É uma impotência. Aconteceu na escola [em] que eu trabalho, com os meus colegas e as minhas colegas, entende? Não sei se consigo voltar para a sala de aula e dar aula", disse a professora Leilany Campos, que leciona na Escola Estadual Primo Bitti.

Segundo Adriana Alves, diretora de uma escola infantil do município, a notícia gerou uma onda de desespero especialmente entre pais e educadores. Ela conta que, logo após o ocorrido, a Polícia Militar recomendou a todas as escolas manter os portões fechados. "Estamos vivendo um terror. Não poderíamos imaginar esse tipo de coisa acontecendo tão perto da gente."

 

       Vereador pastor se refere a indígenas como “barbárie” em discurso racista

 

O vereador da cidade de Santos, litoral de São Paulo, Roberto Oliveira Teixeira (Republicanos), conhecido como Pastor Roberto de Jesus, fez um discurso nesta última terça-feira (30), na tribuna da Câmara da cidade, extremamente racista e anti-indígena, ao ler um requerimento de votos de congratulações aos 31 anos de emancipação da cidade de Bertioga.

Durante sua fala, o vereador se referiu aos portugueses como a “civilização” e os indígenas como a “barbárie”:

"Bertioga surge na história do Brasil com a importância de um dos primeiros pontos geográficos com povoamento regular. Estes locais eram destinados à defesa de povoamento e foram palcos de grandes batalhas entre a civilização, representada pelos portugueses de Martim Afonso de Souza, e a barbárie, representada pelos Tamoios de Aimberê, Caoaquira, Pindobuçu e Cunhambebe, em constantes incursões contra os colonizadores”, disse.

A Câmara de Santos aprovou o requerimento por unanimidade e ele será encaminhado ao prefeito de Bertioga, Caio Matheus.

•        Autonomia

Bertioga fez parte do município de Santos até o dia 19 de maio de 1991, quando conquistou sua autonomia. A População compareceu às urnas, realizando o plebiscito que resultaria na emancipação do distrito. Das 3.925 pessoas que votaram 3.698 foram favoráveis à independência de Bertioga.

No mesmo dia em que o Pastor Roberto de Jesus fez o seu discurso contra os povos originários, a Polícia Militar reprimiu com violência manifestantes indígenas no Jaraguá, em São Paulo. Eles protestavam na rodovia dos Bandeirantes contra o Marco Temporal (Projeto de Lei 490/07), que estava em discussão na Câmara dos Deputados.

O projeto, que foi aprovado naquela mesma noite, estabelece que os povos indígenas têm direito de ocupar apenas as terras que ocupavam, ou já disputavam, até 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. A mudança também flexibiliza a mineração em terras indígenas. Os manifestantes agora convocam uma mobilização para o próximo domingo (4), às 8h, na Terra Indígena (TI) Jaraguá.

•        Deputados da região votaram a favor do Marco Temporal

O litoral paulista concentra o maior número de aldeias do Estado. Na Baixada Santista, segundo o censo de 2010, 3.318 pessoas se declararam indígenas. Ao todo, eram 17 aldeias na Região e cinco terras indígenas localizadas nos municípios de Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente e Bertioga. Os dados podem sofrer alterações com a divulgação do novo senso. A população nessas terras é do povo Guarani Mbya e Tupi-Guarani (Ñandeva) e a principal forma de subsistência é a agricultura e o artesanato.

A aldeia com maior população indígena está na Ribeirão Silveira, na cidade de Boraceia, ao lado de Bertioga, que abrigava aproximadamente 600 índios.

A despeito da região litorânea ter grande representatividade indígena no Estado, os deputados federais eleitos pela Baixada Santista votaram a favor do marco temporal e contra os povos originários. São eles Rosana Valle (PL), Alberto Mourão (MDB) e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

 

Fonte: Dinheiro Rural/Agencia Brasil/Fórum

 

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