O
que Kiev arrisca com ataques de drone na Rússia?
Relatos de operações militares em território russo
aumentaram nos últimos meses e culminaram com um ataque em Moscou.
Especialistas divergem sobre motivação por trás destas manobras.A espiral de
violência continua. Nos últimos dias, a Rússia tem lançado bombardeios diários
contra Kiev, que teriam deixado mortos, incluindo uma criança. Na região russa
de Belgorod, que faz fronteira com a Ucrânia, há também constantes relatos de
ataques. A imprensa russa noticiou sobre o abatimento de um drone em Kaluga
nesta quinta-feira (01/06) – um dia após um ataque em Moscou ter chamado
atenção internacional.
Há quase um ano já são registrados ataques de
drones, principalmente contra instalações militares e de infraestrutura
energética, não somente em regiões ucranianas anexadas pela Rússia, como a
Crimeia, mas também no próprio território russo. Um dos primeiros alvos foi uma
refinaria na região de Rostóvia, em junho de 2022.
Ataques em regiões mais distantes da fronteira são
mais raros. Em dezembro, a base aérea militar Engels, em Saratov, foi atacada
duas vezes.
A Ucrânia normalmente não assume a responsabilidade
por esses ataques. Ao mesmo tempo, a Rússia bombardeia todo o território
ucraniano com muito mais frequência, utilizando não somente drones, mas também
mísseis de vários tipos. Os danos e as vítimas não são proporcionais.
Nos últimos meses, aumentaram dos dois lados os
ataques de drones e bombardeios em regiões que não estão na zona de combate.
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O que está por trás do ataque em Moscou?
Analistas divergem sobre as causas que levaram a
essa expansão. O austríaco especialista em Rússia Gerhard Mangott aponta uma
ligação entre o ataque com drones em Moscou, o bombardeio de zonas russas na
fronteira e a atuação de “partisans” – como ele chama os combatentes de grupos
paramilitares da Legião da Liberdade da Rússia e do Corpo de Voluntários Russos,
compostos supostamente por cidadãos russos, que atuam do lado da Ucrânia.
“É evidente que o lado ucraniano quer levar os
horrores da guerra para a Rússia. Quer deixar claro para a população que o
Estado não é capaz de protege-los, nem na região de fronteira e nem em Moscou”,
avalia Mangott. Segundo ele, isso desvia a tentativa do Kremlin de “criar a
impressão para a sociedade russa de que não há guerra, como se tudo estivesse
normal”.
Já o especialista militar alemão Gustav Gressel, do
think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores, tem outra avaliação e
afirma que é preciso distinguir os ataques em Moscou dos acontecimentos em
Belgorod. Segundo ele, os ataques em Moscou são “instrumentos de guerra
psicológica”. “A história de Belgorod e os ataques na fronteira, por outro
lado, estão relacionados à contraofensiva”.
De acordo com Gressel, a Ucrânia quer obrigar a
Rússia a proteger militarmente a fronteira e, para isso, Moscou precisaria
retirar tropas do território ucraniano. Para o especialista, o grau de eficácia
dessa estratégia das forças ucranianas na contraofensiva só será medido dentro
de algumas semanas.
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A reação do Ocidente aos ataques em Moscou
O Ocidente teve uma reação contida aos
acontecimentos recentes. Ao ser questionado pela DW, um porta-voz do governo
alemão afirmou na quarta-feira que o direito internacional permite que a
Ucrânia ataque o território russo em legítima defesa, mas acrescentou que
Berlim é contra o uso de armas fornecidas pela Alemanha nessa situação.
A reação dos Estados Unidos, o principal fornecedor
de armas a Kiev, foi semelhante. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby,
afirmou que nenhuma arma americana foi usada no ataque a Moscou e destacou que
os EUA “não apoiam ataques dentro da Rússia”.
No entanto, representantes do Corpo de Voluntários
Russos já utilizaram veículos blindados americanos em uma incursão em
território russo. Gressel espera que isso não volte a se repetir, pois “isso
poderia tirar do sério os alarmistas da escalada em Washigton. Justamente a
Casa Branca é exageradamente cautelosa, Kiev deveria ser mais prudente”.
De modo geral, porém, ele está convencido de que
“Kiev tem direito de atacar alvos na Rússia”, pois “ninguém pediu para Putin
começar essa guerra”. O especialista acrescenta que o presidente russo precisa
arcar com as consequências de seus atos agora.
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Caças F-16 para intimidação?
No contexto da expansão dos ataques em território
russo, Oleg Ignatov, do Grupo Crises Internacionais, avalia que a Ucrânia tenta
“aumentar o preço da guerra para Rússia”. Segundo o especialista, os Estados
Unidos têm muita influência na Ucrânia, mas não em todas as áreas. Ignatov
acredita que Washington pode convencer Kiev a não usar armas americanas, como o
sistema de mísseis Himars, em ataques ao território russo, mas não mais do que
isso.
O desejo de Kiev de receber mais armas do Ocidente
deve ter um efeito dissuasivo. Na mais recente cúpula do G7, no Japão, o
presidente americano, Joe Biden, afirmou que seu homólogo ucraniano, Volodimir
Zelenski, prometeu não usar os caças F-16, que a Ucrânia pede há tempos, para
atacar a Rússia. Até agora, o Ocidente decidiu apenas treinar os pilotos
ucranianos, mas ainda não liberou o envio dos jatos.
Ø Em novo ataque, Rússia lança 30 mísseis e drones sobre Kiev
A Rússia voltou a atacar, nesta sexta-feira (2), a
capital ucraniana, utilizando mais de 30 mísseis e drones. Segundo a
administração militar da Ucrânia, todo esse armamento foi abatido pelas defesas
aéreas ucranianas.
“O terror continua em Kiev com ataques aéreos. Os terroristas
estão desesperados e atacam a capital quase sem parar”, informou a
administração militar, sublinhando que este é o sexto ataque aéreo contra a
capital ucraniana nos últimos seis dias.
De acordo com os responsáveis, as forças russas
usaram uma combinação de drones (veículos aéreos não tripulados) Shahed, de
produção iraniana, lançados de “diferentes direções”, e mísseis de cruzeiro
disparados por aviões, a partir do Mar Cáspio.
Ainda segundo as autoridades ucranianas, duas
pessoas ficaram feridas pela queda de escombros, incluindo uma criança. “Além
disso a queda de escombros danificou cinco casas particulares”. O presidente da
Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, indicou que não foram realizadas chamadas
para os serviços médicos durante ou após o ataque durante a madrugada.
O relatório diário do Estado-Maior da Ucrânia
informou que as defesas aéreas nacionais abateram 15 mísseis de cruzeiro e 18
drones Shahed.
Desde o final de abril, a Rússia tem aumentado a
intensidade e a frequência dos ataques com drones e mísseis à capital
ucraniana.
Embora os sistemas de defesa ocidentais que a
Ucrânia tem instalados em Kiev derrubem quase a totalidade dos projéteis,
várias pessoas morreram nos últimos dias devido à queda de destroços na
sequência das interceptações.
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Belgorod
Do outro lado do conflito, a Rússia afirmou ter
respondido a um ataque ucraniano na cidade de Belgorod, acrescentando que as
cidades fronteiriças de Chebekino e Novopetrovka e a região de Kursk foram alvo
de bombardeios na madrugada de hoje.
Segundo o governador de Belgorod, duas pessoas
morreram e outras duas ficaram feridas quando um drone caiu na cidade.
Intensamente bombardeada durante vários dias, a
região russa de Belgorod foi alvo, na semana passada, de uma grande incursão
que levantou questões sobre a solidez das defesas fronteiriças da Rússia.
“Cerca de duas companhias de infantaria motorizada
reforçadas por tanques tentaram invadir o território russo na quinta-feira.
Perto de 70 homens armados participaram do ataque”, informou o Ministério russo
da Defesa.
“O assalto foi precedido de bombardeios a
instalações civis depois de três ataques de grupos terroristas ucranianos terem
sido repelidos pelos militares russos, apoiados pela força aérea”, acrescentou.
Ainda segundo o Ministério da Defesa, “no total,
foram eliminados mais de 50 terroristas ucranianos, quatro veículos blindados
de combate, um veículo BM-21 Grad de lançamento múltiplo de foguetes e uma
van”.
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Corpo de Voluntários Russos
Um grupo que se intitula Corpo de Voluntários Russos
– constituído por combatentes russos que apoiam Kiev e que reivindicou, na
passada semana, um papel na incursão em Belgorod – informou ontem que está
combatendo em território russo perto de Chebekino.
As autoridades russas confirmaram que Chebekino,
cidade com uma população de 40 mil pessoas, a cerca de dez quilômetros da
fronteira ucraniana, foi alvo de “ataques ininterruptos” que danificaram vários
edifícios e feriram 12 pessoas.
“Um prédio atingido por projéteis, lançados pelo
lança-foguetes múltiplo Grad, está em chamas e um edifício da administração
local também sofreu danos”, disse o governador da Belgorod, Vyacheslav Gladkov,
no Telegram. Ainda segundo Gladkov a cidade ficou sem eletricidade.
De acordo com o responsável, a aldeia de
Novopetrovka, também na região de Belgorod, foi atingida por ataques que
provocaram ferimentos em dois professores. Os habitantes dessas áreas
bombardeadas estão sendo acolhidos em centros temporários.
“O maior centro municipal de alojamento temporário
está ficando gradualmente cheio, porque todas as pessoas que chegam de
Chebekino estão sendo enviadas de forma organizada para outros centros”,
divulgou Gladkov.
Nesta madrugada, vários drones ucranianos foram
abatidos pela defesa aérea russa perto de Kursk, uma cidade próxima da
fronteira com a Ucrânia, afirmou o governador da região, Roman Starovoyt, no
Telegram, que pediu aos residentes para “manterem a calma”. Desde fevereiro de
2022, esta região tem sido regularmente bombardeada pelas forças ucranianas.
O Kremlin já denunciou a falta de condenação
internacional destes ataques em território russo. “Nem uma única palavra de
crítica ou de condenação ao regime de Kiev por este fato”, acusou o porta-voz
da presidência russa, Dmitry Peskov.
Ø Ucrânia diz ter derrubado 36 mísseis e drones russos
Forças ucranianas em Kiev disseram nesta sexta-feira
que derrubaram 36 mísseis e drones russos dentro e ao redor da capital durante
a noite, com duas pessoas feridas por destroços antes de as autoridades
suspenderem os alertas de ataque aéreo na maior parte do país.
A Rússia lançou cerca de 20 ataques com mísseis e
drones em Kiev desde o início de maio, uma onda de ataques que teria como
objetivo atrapalhar os preparativos da Ucrânia para uma grande contraofensiva.
Um comunicado da Força Aérea ucraniana informou que
suas defesas aéreas derrubaram 15 mísseis de cruzeiro e 21 drones. Disse que
uma série de drones foi lançada na noite de quinta-feira, seguida por uma
saraivada de mísseis de cruzeiro enquanto as pessoas dormiam, por volta das 3h no
horário local.
"Os ocupantes não estão parando suas tentativas
de aterrorizar a capital ucraniana com drones e mísseis", afirmou.
As autoridades militares da capital, escrevendo no
Telegram, elogiaram as defesas aéreas da cidade e disseram que não houve relatos
de danos ou vítimas.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, que relatou
anteriormente duas ondas separadas de ataques, escreveu no Telegram que não
houve chamadas para serviços de resgate.
Nos arredores de Kiev, as autoridades disseram que
duas pessoas ficaram feridas como resultado da queda de destroços, incluindo
uma criança.
"Além disso, os destroços que caíram
danificaram cinco casas particulares", declarou a administração do estado
no serviço de mensagens Telegram.
A Ucrânia diz que destrói a maioria dos mísseis e
drones que as forças russas usam em ataques, mas uma menina de 9 anos estava
entre as três pessoas mortas em um ataque com mísseis em Kiev na quinta-feira,
depois que o abrigo para o qual elas correram não abriu as portas.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse
que se as autoridades locais não puderem fornecer proteção, elas poderão ser
processadas.
Autoridades russas relataram mais bombardeios
transfronteiriços a partir da Ucrânia nesta sexta e disseram que dois drones de
longo alcance atacaram infraestrutura de combustível e energia mais ao norte da
Rússia, mas que nenhum incêndio foi relatado lá e não houve relatos de feridos.
Fonte: Revista Planeta/Reuters

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