sexta-feira, 2 de junho de 2023

Países do Brics pedem 'reequilíbrio' mundial diante do conflito na Ucrânia

Os principais diplomatas dos países do Brics pediram um "reequilíbrio" da ordem mundial em conversas nesta quinta-feira (1º), na África do Sul, em um momento em que o bloco busca maior relevância na cena internacional no contexto da guerra na Ucrânia.

Os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reuniram na Cidade do Cabo em uma conferência de dois dias.

"Nossa reunião deve enviar uma mensagem firme de que o mundo é multipolar, está se reequilibrando e que as velhas formas não servem para lidar com as novas situações", disse o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, em seu discurso de abertura.

A invasão russa da Ucrânia tem isolado amplamente a Rússia da comunidade internacional, levando-a a fortalecer seus laços com a China e outros países, incluindo a África do Sul.

O governo sul-africano diz querer manter neutralidade em relação à guerra, mas tem sido criticado por se aproximar do Kremlin e defende que os Brics atuem como um contrapeso a uma ordem internacional dominada pelo Ocidente.

"Nossa visão dos Brics é que nossa parceria proporcione liderança global em um mundo fraturado pela concorrência, tensão geopolítica, desigualdade e deterioração da segurança mundial", declarou a chanceler sul-africana, Naledi Pandor, na reunião.

As conversas precedem uma cúpula de chefes de Estado prevista para agosto, que se tornou um problema para o país anfitrião, a África do Sul, devido à possível presença do presidente russo, Vladimir Putin.

Putin é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por acusações de que a Rússia deportou ilegalmente crianças ucranianas.

Em tese, a África do Sul, membro do TPI, deveria deter Putin se ele colocasse os pés no país.

Nesta quinta-feira, a ministra Pandor reiterou que Putin, assim como todos os outros líderes, foi convidado e explicou que o governo estava estudando suas "opções legais".

Em frente ao hotel onde ocorreu a reunião, uma dúzia de manifestantes com bandeiras ucranianas e trajes tradicionais entoavam "Parem Putin! Parem a guerra!".

·         Ministros pedem fortalecimento do sistema internacional de controle de armas

Nesta quinta-feira (1º), os ministros das Relações Exteriores de países-membros do BRICS se encontraram em Cape Town na África do Sul para uma reunião de cúpula. Em meio a diversas pautas, algumas tiveram destaque, como o pedido dos chanceleres à comunidade internacional para que se fortaleça o sistema de controle de armas.

"Os ministros pediram o fortalecimento do sistema de controle de armas, desarmamento e não proliferação, incluindo a Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas [Biológicas] e Toxinas e sobre sua Destruição [BTWC] e a Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Uso de Armas Químicas e de Sua Destruição [CWC], e por preservar sua integridade e eficácia para manter a estabilidade global e a paz e segurança internacionais", disse o comunicado conjunto divulgado pelo bloco.

Os diplomatas também apoiaram as negociações de um acordo multilateral sobre a prevenção de uma corrida armamentista no espaço.

"Os ministros reafirmaram seu apoio para garantir a sustentabilidade a longo prazo das atividades espaciais e a prevenção de uma corrida armamentista no espaço sideral e de seu armamento, inclusive por meio de negociações para adotar um instrumento multilateral juridicamente vinculativo relevante", dizia o documento.

Ao mesmo tempo, as autoridades apreciaram os esforços de mediação internacional destinados a encontrar uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia.

"Os ministros recordaram suas posições nacionais sobre a situação dentro e ao redor da Ucrânia [...]. Eles observaram com apreço propostas relevantes de mediação e bons ofícios voltados para a resolução pacífica do conflito por meio do diálogo e da diplomacia."

Os ministros das Relações Exteriores do BRICS condenaram todos os ataques terroristas contra infraestrutura crítica, incluindo instalações de energia.

"Eles condenaram veementemente todos os ataques terroristas contra infra-estrutura crítica, incluindo instalações críticas de energia, e contra outros alvos vulneráveis", disse o comunicado, acrescentando que o chanceleres ressaltaram a necessidade de garantir a segurança energética, uma vez que ela é crucial para o desenvolvimento econômico, a estabilidade social, a segurança nacional e o bem-estar de todas as nações do mundo", dizia o comunicado.

 

Ø  Moscou: 'BRICS é uma das principais plataformas para proteger os interesses e soberania nacionais'

 

O BRICS está avançando e demonstrando sua força e relevância. É provavelmente o centro de gravidade do mundo multipolar e muitos países estão interessados em aderir ao BRICS, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, nesta quinta-feira (1º) aos jornalistas na Cidade do Cabo.

Ryabkov também observou a importância de todos os países que enviaram especialistas e negociaram o documento final não estarem apenas comprometidos com o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), mas demonstrarem um forte compromisso e compreensão clara de que esse é um dos principais formatos modernos, uma plataforma importante.

"[A cúpula do BRICS] é uma das principais plataformas a serem usadas para proteger os interesses e a soberania nacionais", sublinhou ele.

O vice-ministro também comentou a expansão do BRICS, sublinhando que essa questão tem sido discutida desde há algum tempo, mas que não era o momento certo para indicar países específicos.

"Há vários candidatos muito fortes para membros do BRICS, entre eles a Arábia Saudita. Apoiamos, sem dúvida, a sua candidatura e envidaremos todos os esforços para que o processo de definição dos parâmetros e critérios de admissão de novos membros não demore muito", enfatizou Ryabkov.

Além disso, Sergei Ryabkov disse que os relatos de que a cúpula dos BRICS pode ser transferida da África do Sul para a China são desinformação e não devem ser tidos em conta.

“Não tenho nenhuma base em meus contatos com meus colegas da África do Sul e da China para operacionalizar esse assunto de forma alguma. Esse não é o tema que estamos discutindo aqui", disse ele aos repórteres na Cidade do Cabo.

Mas, ao mesmo tempo, Sergei Ryabkov declarou que o BRICS não deve aceitar como novos membros países que aderiram às sanções contra a Rússia.

Segundo ele, "vemos aqui na África do Sul que há muitos que estão lançando todos os tipos de versões e narrativas no espaço da mídia".

"Trabalhamos com calma, de acordo com o esquema que é conhecido: a cúpula em Joanesburgo este ano, no próximo ano em Kazan", disse o vice-ministro.

"Muito provavelmente, esta é uma tentativa de complicar o trabalho normal no formato BRICS, uma tentativa de impor algum tipo de agenda falsa", acrescentou Ryabkov.

 

Ø  Com subida de 11,4%, investimento impulsiona crescimento da Índia

 

A formação bruta de capital fixo, que reflete o nível de investimento, aumentou em dois dígitos durante o último ano fiscal da Índia, mais que compensando o fraco crescimento do consumo, diz a mídia.

O aumento nos investimentos alavancou o crescimento econômico da Índia nos 12 meses até março de 2023, à medida que o governo avança com planos maciços de investimento de capital, disseram economistas citados na quinta-feira (1º) pela agência britânica Reuters.

A formação bruta de capital fixo, que mede o investimento, aumentou 8,9% no primeiro trimestre de 2023 e 11,4% no último ano fiscal indiano, que é entre abril de 2022 e março de 2023, segundo dados divulgados na quarta-feira (31). O governo central orçou 10 trilhões de rúpias indianas (R$ 612,77 bilhões) em investimentos de capital para este ano fiscal.

O impulso do investimento de capital nos últimos três anos levou o crescimento do setor de construção para mais perto dos níveis pré-pandêmicos, disse Sajjid Chinoy, principal economista da Índia na norte-americana JP Morgan. O setor cresceu 10,4% no quarto trimestre e 10% em todo o ano fiscal de 2022-23.

Os economistas estão mais céticos em relação ao surto de crescimento de 4,5% observado no valor agregado bruto (GVA, na sigla em inglês) do setor industrial.

O crescimento de 4,5% do GVA do setor industrial, por sua vez, está sendo parcialmente atribuído pelos economistas a uma peculiaridade estatística, com o governo calculando o PIB real através do ajustamento do crescimento do PIB nominal com um deflator de inflação intimamente ligado aos preços de atacado em vez dos preços de varejo.

No entanto, o Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial da S&P Global India também subiu para 58,7 pontos em maio, o melhor valor desde outubro de 2022.

"As condições de demanda demonstraram uma força notável, com as encomendas de fábrica aumentando ao ritmo mais rápido desde janeiro de 2021", de acordo com um comunicado divulgando os dados do PMI.

Já o consumo privado cresceu em um ritmo anual lento de 2,8% no quarto trimestre de 2022, e desceu 2% em relação ao terceiro trimestre desse ano. Quanto ao primeiro trimestre de 2023, ele apenas subiu 0,5% em relação aos três meses anteriores.

"A inflação mais alta pode ser a principal razão por trás do desempenho lento do consumo privado", teorizaram Sonal Varma e Aurodeep Nandi, da japonesa Nomura.

 

Ø  Distanciamento da China é perigoso e pode arruinar União Europeia, alerta mídia

 

O jornal alemão Spiegel relatou que a separação da China e seu distanciamento político seriam mais perigosos do que beneficiários para a União Europeia.

De acordo com a mídia, uma tentativa da China de tentar reduzir a dependência europeia criaria mais riscos para os europeus.

A China está se tornando cada vez mais importante para o comércio europeu, ultrapassando os Estados Unidos como maior parceiro comercial da UE em 2020.

Em 2021, a China representou 16% do comércio total do bloco, com as terras raras e módulos solares sendo artigos importantes para a transformação de energia verde na Europa.

Com um afastamento da China, a Europa ainda dependeria das importações da América Latina, África e Ásia.

A mídia ainda alertou que esse distanciamento é a única coisa que a Europa menos precisa em um mundo em que os fluxos comerciais são restritos e divididos geoestrategicamente.

Isso porque diversos produtos da China são indispensáveis para os países europeus, principalmente para a Alemanha, onde o gigante asiático foi o parceiro comercial mais importante da Alemanha pelo sétimo ano consecutivo.

Além disso, esse distanciamento faria com que a renda dos cidadãos alemães caísse 2%, segundo estudo do Instituto Austríaco de Pesquisa Econômica, causando uma perda bilionária na economia da Europa.

 

Ø  Acadêmico: China já é líder mundial e está afastando EUA no Oriente Médio

 

A China já se tornou o líder mundial e está demonstrando isso afastando os EUA no Oriente Médio, disse em entrevista à Sputnik renomado acadêmico e filósofo dos EUA Noam Chomsky.

Ao ser perguntado se a China se tornaria o líder mundial, ele respondeu: "Ela já o é".

Como exemplo da crescente influência da China no mundo, Chomsky citou a adesão da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos como parceiros de diálogo à Organização de Cooperação de Xangai (SCO na sigla em inglês).

"Nos últimos meses, a Arábia Saudita se juntou à SCO, seguida por um segundo peso pesado regional – os Emirados Árabes Unidos, que já se tornaram um hub da 'rota da seda' marítima da China, que se estende de Calcutá, no leste da Índia, através do mar Vermelho até a Europa. A China está entrando agora no mercado de armas do Oriente Médio", disse o interlocutor da agência.

Tudo isso, disse o acadêmico, demonstra uma "erosão significativa" do sistema do Oriente Médio, que nos últimos 80 anos esteve sob controle dos EUA, que substituíram o Reino Unido.

Ele também observou que a Europa vai passar por um provável declínio e desindustrialização se optar por permanecer dentro do sistema dominado pelos EUA.

"A Europa tem uma decisão importante a tomar: permanecer dentro do sistema dominado pelos EUA, enfrentando um provável declínio e até mesmo, preveem alguns, a desindustrialização? Ou vai se adaptar de alguma forma ao seu parceiro econômico no Leste, rico em recursos minerais que a Europa precisa e uma porta de entrada para o lucrativo mercado da China?", questiona Chomsky.

O especialista observou que essas questões têm surgido de uma forma ou de outra desde a Segunda Guerra Mundial.

 

Fonte: AFP/Sputnik Brasil

 

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