Mercado Financeiro apoia Lula contra bolsonarista do BC
Lula
aumentou o tom das críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos
Neto, após o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a taxa de juros básica
em 13,75%.
O
presidente da República afirmou, na Itália, que Campos Neto “joga contra a
economia brasileira” e que o patamar de juros estipulado pelo BC é simplesmente
“irracional”.
Agora
é mesmo.
Ao
contrário do início do ano, hoje a crítica ao Banco Central não é apenas de
Lula, mas de todos os setores empresariais e até de economistas do mercado
financeiro.
A
inflação em 12 meses está abaixo de 4%. Vai subir um pouco no segundo semestre
– mas a previsão é que termine em 5%. E – pior – a previsão do próprio BC é de
menos de 4% em 2024.
Ou
seja, dá para resumir assim, leitor: acabou o surto inflacionário. Esperava-se,
portanto, que o Banco Central indicasse, em seu tradicional comunicado, que
iria reduzir na próxima reunião. Mas ele, lamentavelmente, não deixou esse
sinal. Isso só fortalece o Lula.
Até
no Senado está caindo o apoio a Roberto Campos Neto. Enquanto isso, ele tem a chance
de mudar a comunicação até a próxima reunião, que acontecerá no início de
agosto.
• Até a Faria Lima se irritou com Bob Neto
Roberto
Campos Neto, desde sempre, apanhou muito do presidente Lula, da esquerda em
geral e do setor industrial por causa das taxas de juros. Agora, desde a noite
de quarta-feira, perdeu boa parte do apoio irrestrito que sempre teve na Faria
Lima depois do comunicado emitido após a reuniãodo Copom.
O
problema não foi a decisão de o BC manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, algo já
esperado por todos. Mas uma parte expressiva dos grandes bancos e gestoras
avalia que o comunicado emitido após a reunião deveria ter deixado uma porta
aberta para a queda da taxa de juros no dia 2 de agosto, quando o Copom se
reúne novamente.
Explica
um banqueiro de investimentos:
—
A consequência deste comunicado é dar munição aos que não toleram a
independência do Banco Central. O Campos está prestando um desserviço à
instituição da autonomia do BC.
Ainda
assim, boa parte desses mesmos banqueiros continua apostando que agosto marcará
o início da trajetória de queda da Selic. É óbvio, porém, que isso depende dos
sinais mostrar em vários indicadores e que não haja nenhum perigo de repique na
inflação.
Há
uma expectativa de que na ata do encontro de anteontem da diretoria do BC, que
será publicada na semana que vem, haja uma modulação do que saiu no comunicado.
Diz um banqueiro:
—
O BC tem a chance de na ata botar o carro novamente na pista.
Outro
banqueiro, que também crê que a Selic será reduzida no próximo Copom, lembra
que em agosto Gabriel Galípolo, o primeiro diretor indicado pelo governo Lula,
já terá tomado posse:
—
Vai ficar parecendo que foi a chegada dele ao BC é que forçou a queda, o que
não é correto.
Neste
momento, Campos Neto está em período de silêncio. Não pode dar qualquer
declaração até que a ata do Copom seja publicada na semana que vem. Não pode
falar, mas pode ouvir. E o que tem ouvido são esses sinais de descontentamento
vindo de uma turma que até agora esteve sempre muito alinhada com ele.
Ignorância da cúpula do governo sobre
juros e Banco Central ainda custa caro ao país
O
presidente da República deve ter facilidades para demitir o presidente do Banco
Central. Tal poder é tão mais justo quando se trata de Luiz Inácio Lula da
Silva e de um presidente do BC nomeado por Jair Bolsonaro, que fica no cargo
até 2024, se quiser, pois tem mandato legal.
É
o que disse o ministro Rui Costa, da Casa Civil, em um almoço com
parlamentares. A Selic e outras taxas de juros ainda estão nas alturas em parte
por declarações como estas, de Costa ou de Lula.
O
país “legitimou” um novo projeto econômico por meio da eleição de Lula, o que
se sobrepõe à ideologia de uma pessoa, Roberto Campos Neto, que preside o BC,
segue o ministro.
Para
começar, essa conversa revela que Costa tem escassa compreensão de como
funciona o Banco Central. Além disso, sugere a primazia de políticas de governo
sobre políticas de Estado (se muda o governo, tudo pode ser virado do avesso).
Pode ser o caso, mas onde está a proposta de mudança institucional?
Até
agora, o governo ladra, mas não morde, em parte porque a derrubada da autonomia
do BC não vai passar no Congresso. Se passasse, qual o plano de reforma do BC?
Apenas nomear um amigo, como Lula acaba de fazer no Supremo ou como diz que
quer fazer na Eletrobras, por exemplo? Isso é República?
Sim,
a política, o funcionamento e o grau de subordinação do BC a diretrizes do
governo podem ser objeto de debate e mudança. Aliás, o governo já pode decidir,
por exemplo, qual a meta de inflação ou como e quando a alcançar.
Desde
a eleição, o governo apenas xinga o BC e sugere que vai mudar a meta de
inflação. Essa conversa, além dos ataques de Lula à ideia de controle da dívida
pública, provocou uma alta de juros no atacadão do mercado de dinheiro onde se
definem as taxas de financiamento da dívida do governo, que são os pisos do
custo do crédito em geral.
Foi
apenas quando surgiu algum plano de contenção de gastos (“arcabouço fiscal”) e
quando melhoraram algumas condições financeiras determinadas lá fora (como o
dólar), por exemplo, que os juros no mercado voltaram ao nível de novembro, do
“Lula Day”, baixa que ocorreu a partir de maio.
O
ruído sobre a mudança (aumento) da meta de inflação ainda impede a queda mais
rápida de expectativas e juros. Se o governo já tivesse dito que não vai mexer
na meta, a ser decidida no final do mês, estaria ganhando dinheiro. Mas, com
esse rumor ignaro tem dado dezenas de bilhões aos rentistas que diz execrar.
Quase
ninguém no governo Lula entende os rudimentos do funcionamento do mercado
financeiro. Entende-se por lá, na verdade, que “tudo é político” ou
politiqueiro, mesmo. Que preços, condições financeiras, investimento produtivo
ou consumo se decidem por canetada, o que fica evidente na palermice vexatória
desse programa “Mais Carros”.
É a mentalidade de deputado decidindo o uso de
emenda parlamentar ou ministros disputando a nomeação para uma superintendência
da Codevasf no interior da Bahia.
Se
o governo tem outra ideia além de nomear amigos do rei para os postos-chaves do
Estado, qual é? Ainda que morra no Congresso, qual é a sua teoria monetária
moderna, por assim dizer? Apenas baixar a Selic na marra, colocando um sultão
amigo no BC, com outra “concepção ideológica”?
Então,
o que o governo vai fazer com expectativas de inflação, juros futuros e dólar?
São os indícios da disposição dos donos do dinheiro grosso a emprestar ao
governo ou a manter seu dinheiro em reais. Em suma, o preço que cobram. Vai
tabelar preços e juros, controlar saída de capital?
É
bom dar um jeito de que os endinheirados cobrem menos. Mas qual é o plano de
Lula 3 além dessas queixinhas desinformadas e contraproducentes?
Se todos perdessem com inflação e juros
altos, eles já teriam recuado para níveis mínimos
O
Banco Central, mais uma vez, manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano e não deu
qualquer sinal de seu recuo nos próximos meses. O presidente Lula da Silva, em
declaração feita na França à GloboNews na manhã de quinta-feira, afirmou que
Roberto Campos Neto joga contra a economia brasileira.
A
manutenção dos juros em 13,75% significa também um aumento real adicional de
mais 1% para efeito de aplicações no mercado. É que em 2021 a inflação do IBGE
acusou 10,5% e o BC elevou a Selic para 13,75%. Juros reais em cerca de 3%. Em
2022, a inflação recuou para 5,7%, e a Selic se manteve inalterada, produzindo
um juro real de 8%. Agora, em 2023, quando ao longo dos últimos 12 meses o
índice inflacionário desceu a quatro pontos, mantendo a Selic em 13,75%, o
Banco Central e o Comitê de Política Monetária elevaram os juros reais para 9%.
A
reação contra a manutenção dos juros partiu também da indústria do comércio em
várias escalas. Na realidade, a decisão do Banco Central e a falta de
perspectiva para a diminuição dos juros significou mais uma agressão ao governo
Lula, e como disse o presidente da República, a própria economia
brasileira. No O Globo, a matéria sobre
a decisão do BC é de Renan Monteiro, Manuel Ventura, João Sorima Neto, Renata
Andrade, Juliana Causin e Letícia Cardoso. Na Folha de S. Paulo, de Natália
Garcia.
Banco Central "sabota" o Brasil
com "negacionismo" sobre os juros, diz Randolfe Rodrigues
Líder
do governo Lula (PT) no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues (sem
partido-AP) afirmou nesta sexta-feira (23) à GloboNews que o presidente do
Banco Central, Roberto Campos Neto, está "sabotando" a economia
brasileira com sua postura "negacionista" sobre a taxa básica de
juros, atualmente em 13,75% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central fez sua mais recente reunião nesta semana e decidiu pela
manutenção do patamar da Selic. O comunicado, por sua vez, não indicou a
possibilidade de um corte nos juros nos próximos meses, como era esperado -
ainda que interlocutores do BC garantam que o comunicado indica sim para esta
possibilidade.
"Quem
tem que ficar irritado com a decisão negacionista - vou tratar assim - do Banco
Central, negacionista diante dos fatos, da realidade, é o país, o setor
produtivo, os industriais, é o varejo, é a atividade econômica, são os
trabalhadores. Ele não está irritando o presidente da República ou o
parlamento. Ele está sabotando o Brasil. Não tem assento em nenhuma realidade a
manutenção da taxa de juros [em 13,75% ao ano]. Pior: não tem assento em
nenhuma realidade sequer indicar a redução. O Banco Central está influenciando
um ciclo vicioso na economia ao invés de cumprir sua função de induzir o
crescimento econômico. E isso eu não estou dizendo só por mim, estou dizendo
pela ata [comunicado] do Banco Central", declarou o senador.
"O
Banco Central tem que ver os indicadores da economia e, de acordo com esses
indicadores, definir se a taxa de juros cumpriu o seu objetivo de desacelerar a
inflação ou não. Não se assenta na realidade. É um ato de sabotagem. Não é um
ato técnico, é um ato político da parte do presidente do Banco Central",
complementou na sequência.
Randolfe
garantiu que apresentará no âmbito da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Senado um requerimento para a convocação de Campos Neto. O parlamentar disse já
estar conversando sobre o assunto com o presidente do colegiado, Vanderlan
Cardoso (PSD-GO), e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
"O presidente do Banco Central tem que prestar explicações, porque está
atuando contra o Brasil, contra a realidade e contra os fatos concretos. Vou
fazer contato ainda hoje com o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos,
com o presidente Vanderlan. Ainda ontem conversei com o presidente Rodrigo
Pacheco. Antecipo que a insatisfação com o resultado e a perspectiva da última
reunião do Banco Central não é somente minha, somente da liderança do governo,
do governo. É do parlamento também. Dialoguei sobre isso com o presidente
Pacheco ainda ontem. Então é urgente ele comparecer novamente ao Senado para
prestar explicações".
Após pressão generalizada, membros do
Banco Central procuram o governo e dizem que Selic pode cair
A
repercussão negativa causada pela declaração do Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central na noite de quarta-feira (21) levou membros do
colegiado a procurarem representantes do governo Lula (PT) para explicar que,
embora poucas pessoas tenham compreendido dessa maneira, o texto realmente
deixa uma brecha aberta para uma redução na taxa básica de juros (Selic) em
breve.
Segundo
o site O Antagonista, os indícios sobre o início de um ciclo de cortes nas
taxas de juros devem se tornar mais claros com a publicação da Ata do Comitê,
que será publicada na terça-feira (27). “Essa talvez seja a explicação para o
comportamento dos juros futuros ontem, que mantiveram a precificação de corte
praticamente inalterada”, ressalta a reportagem.
O
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem sendo alvo de críticas
por parte do presidente Lula e de integrantes do governo federal em função da
manutenção da taxa de juros no patamar de 13,75% ao ano - mais alto do mundo em
nível real -, o que prejudica investimentos e reduz o poder de compra da
população.
A
pressão, porém, aumentou com as críticas feitas pelas grandes varejistas e
também pelo mercado financeiro. “Uma parte expressiva dos grandes bancos e
gestoras avalia que o comunicado emitido após a reunião deveria ter deixado uma
porta aberta para a queda da taxa de juros no dia 2 de agosto, quando o Copom
se reúne novamente", destacou o jornalista Lauro Jardim em sua coluna no
jornal O Globo.
Apesar
do Copom manter a taxa básica de juros no atual patamar pela sétima vez consecutiva,
a expectativa do mercado financeiro é de que os juros devem cair a partir de
agosto ou setembro.
Nesta
quinta-feira (22), o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou no
Conselho Monetário Nacional (CMN) denúncia contra o presidente do BC. Lindbergh
acusa Campos Neto de descumprimento dos objetivos da instituição e pede que o
CMN avalie a possibilidade de pedir ao Senado Federal a exoneração do
presidente do BC, indicado por Jair Bolsonaro (PL).
Fonte:
Veja/Tribuna da Internet/FolhaPress/Brasil 247
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