Marcia Tiburi: A
democracia brasileira resistirá à escrotocracia brasileira?
Há
poucos dias fiz uma postagem no Instagram usando a expressão “escrotocracia” e
fui criticada por uma pessoa que disse que xingamentos não ajudariam a resolver
os problemas brasileiros. Essa pessoa tem toda a razão, mas como comunicação é um
assunto imenso e um problema imenso, além de um poder imenso, prova disso é que
o centralíssimo Ministério das Comunicações está nas mãos do Centrão,
precisamos avançar no debate sobre o que se diz, como se diz e toda a
parafernalha dos meios de produção da linguagem em um país dominado pela
mistificação e pela desregulamentação da mídia. Como se vê, o debate pode ir
por muitos lados. Eu não preciso dar nome aos bois, pois os donos das boiadas
que passam, alcançaram a façanha de agir como bem entendem, com toda a falta de
escrúpulos e desrespeito à lei e à ética que caracteriza a escrotocracia.
Entre
o esquerdo-fofismo e as táticas janônicas de comunicação usadas na campanha
política de 2022, fico com as últimas, até porque se eu bancar a esquerdo-fofa
depois dos ataques nada meigos que recebo, inclusive da esquerda, estarei
destoando demais do jogo político-cultural de nosso tempo. Não quero defender o
xingamento (como professora de filosofia, meu objetivo é fazer análises que nos
ajudem a refletir; sobre isso já escrevi uma Teoria Geral do Xingamento
https://revistacult.uol.com.br/home/teoria-geral-do-xingamento/). Quero apenas
dizer que a desqualificação da política não é invenção minha, ao contrário,
foram os homens como sujeitos do privilégio político que destruíram a política
a partir de palavras e ações em que vemos a democracia degenerar em demagogia
e, mais tarde, em fascismo. Contudo, reconheço que sempre podemos usar uma
expressão mais técnica para dizer as coisas, (“fezes” no lugar de dizer “merda”,
por exemplo), assim como poderia dizer oligarquia neoliberal e patriarcado em
vez de escrotocracia, mas uma MERDA escrita em caixa alta ou bem gritada nos
ouvidos certos de vez em quando tem muito mais valor epistemológico e retórico
dependendo do contexto.
Mas
para avançarmos no assunto: entendo por escrotocracia a forma de governo de
homens desqualificados que capitalizam sua desqualificação. Eles são
supremacistas brancos (mesmo quando pardos), que agem absolutamente sem
escrúpulos e contra as mulheres. Ter as mulheres como inimigas faz parte da
escrotocracia. Antigamente, os políticos podiam ser machistas elementares e
estruturais, pois tinham a politica só para si. Desde que as mulheres começaram
a participar mais da politica, ocupando espaços que eles esperavam continuar
sendo apenas seus, eles começaram todo tipo de jogo sujo. Vamos falar de dois
exemplos para entender o que se passa na grande escrotocracia que é o atual
Congresso Nacional brasileiro.
O
primeiro exemplo diz respeito ao escrotocrata-mor Arthur Lira, seguido de
escrotocratas menores, mas igualmente funestos. Todos, contudo, são imitações
baratas de Bolsonaro. Contudo, em relação a Bolsonaro, Lira é mais perigoso,
porque pensa e trabalha com uma intensidade mais intestina, logo, mais
inteligente na corrupção geral da política.
O
que Arthur Lira fez com Julyenne Lins, sua ex-mulher, esta no coração do
escrotismo: ameaçou-a de lhe tirar os filhos, ameaçou-a de morte, espancou-a e
ainda fez ela participar dos trâmites da corrupção dentro da própria casa, como
se, por ser casada com ele, ela tivesse a obrigação de receber malas de
dinheiro e ajudar a contar as cédulas. Nesse caso, a expressão escrotocrata é
modesta, pois ele poderia ser um feminicida se tivesse a chance de assassinar a
esposa como sugeriu.
Karl
Von Clausewits disse que a guerra era a continuação da política por outros
meios. Foucault o corrigiu dizendo que a política era a continuação da guerra,
mas no caso de Lira, podemos dizer que a política é a continuação do que ele
fazia dentro de casa. E o que ele fazia dentro de casa era violência, ameaça e
corrupção. Julyenne Lins vem tentando falar há muito tempo, mas pouca gente a
escuta. Por que a sociedade brasileira – e a imprensa – não quer ouvir o que
ela tem a dizer?
Mas
não é só Arthur Lira, poderoso e exímio chefe de organização criminosa, que é
um escrotocrata típico. Todo o congresso, com as exceções que confirmam a
triste regra da política patriarcal, é uma grande escrotocracia.
Vejamos
a perseguição vivida pelas seis deputadas da CPI do MST. Elas são todas
mulheres qualificadas, enquanto seus perseguidores (Ricardo Salles, Kim
Kataguiri e outros agitadores de sempre) são homens desqualificados que usam a
desqualificação como capital político. A CPI é uma pura cena que faz parte de
uma guerra híbrida para criminalizar o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, a
esquerda, a Reforma agrária e a própria democracia.
Sabemos
dessa tática do “ridículo político” usada desde há muito tempo e que teve seu
ápice a partir do golpe de 2016. Bolsonaro foi o rei do ridículo político e,
por isso, se tornou o presidência da República enquanto suas imitações
continuam no congresso tocando a boiada e tocando o terror. A tática de
estressar, atormentar e perturbar faz parte da tortur mental. É pura tática de
psicopoder. A caça às bruxas sempre foi baseada no tormento da perseguição.
Os
perseguidores são homens metidos a espertos que fazem o discurso grotesco para
impressionar, o assédio político para intimidar, tentam desviar a atenção e a
ação das deputadas que “ousaram” denunciá-los e interpelá-los. O assassinato de
Marielle Franco se deu por que ela denunciou demais. Esperamos que as nossas
deputadas saiam vivas disso tudo. Contudo, o golpe esta em curso. E é preciso
ter todo o cuidado.
Querem
fazer com que as mulheres parem de desmascarar o jogo dos escrotocratas e
gastem seu tempo se defendendo de falsas acusações.
O
show de masculinidade tóxica vai continuar enquanto não tivermos um Congresso
Nacional com maioria democrática.
Os
escrotocratas não se furtarão a torturar a democracia como fazem com mulheres.
Centrão faz pressão para tornar todas as
emendas obrigatórias
Líderes
de partidos de centro e de centro-direita iniciaram uma ofensiva para que, no
Orçamento de 2024, todas as emendas de congressistas sejam impositivas. Caso
isso aconteça, o governo será obrigado a pagar as emendas, independentemente de
os deputados e senadores serem da base ou da oposição. O único controle que o
governo teria seria sobre o momento de liberação.
Hoje,
o governo ainda usa as emendas como instrumento de fisiologia. Para ganhar
apoio em uma votação importante, o governo empenha mais emendas que nos
momentos anteriores. O Poder360 mostrou que o governo liberou R$ 1,1 bilhão em
emendas nas vésperas da votação do novo marco fiscal.
Atualmente,
as emendas individuais são divididas em 2 grupos:
• R$ 9,5 bilhões – emendas individuais
impositivas;
• R$ 9,7 bilhões – RP2, verbas
discricionárias do Executivo.
A
pressão pela mudança na regra já chegou ao ministro Alexandre Padilha (Relações
Institucionais). Responsável pela articulação com o Congresso, ele iniciou a
reação e fez contato com deputados para tentar reduzir a chance de o movimento
ganhar tração.
As
emendas impositivas surgiram no Orçamento de 2014. O relator era o mesmo de
agora: deputado Danilo Forte (União Brasil-CE). Ele ainda não se posicionou
publicamente sobre o tema, mas tem sido procurado por colegas para viabilizar a
vontade do Centrão.
Integrantes
do Planalto consideram que o destino das emendas será o principal embate do
governo com o Congresso no 2º semestre, depois da votação do marco fiscal, da
reforma tributária e do projeto que muda as regras de julgamento do Carf
(Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
O
governo deve ter, como vantagem, o fato de ter encaminhado no 1º semestre as
pautas consideradas mais relevantes. Assim, o 2º semestre tende a ser mais
esvaziado, com as negociações girando em torno do Orçamento. Pode ser um
respiro para o Planalto.
• Empoderamento
A
discussão para tornar todas as emendas impositivas ainda é incipiente. Caso
tome corpo, será um fator de empoderamento do Legislativo.
O
Poder360 mostrou que o Executivo tem perdido influência na construção da pauta
do Legislativo. É um movimento que teve início no 1º governo de Dilma Rousseff
(PT).
O
governo e o Congresso têm protagonizado crises. O presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), critica a articulação política. Em paralelo, pressiona para
indicar as emendas, como fazia no governo anterior.
O
PT, por outro lado, tenta segurar o ímpeto de Lira sob o argumento de que
perderia os meios para elaborar políticas públicas. O embate já levou o governo
a ter derrotas na Câmara.
O
debate sobre as emendas será ampliado depois da votação do novo marco fiscal e
da reforma tributária.
Lula: Haddad está certo de aprovação da
reforma tributária e tem sido mestre na articulação
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado, dia 24, em Paris que
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está seguro da aprovação da reforma tributária.
O relatório sobre a reforma foi apresentado há dois dias e deve ser votado na
Câmara no mês que vem. Otimista, Lula afirmou que Haddad está entusiasmado com
as conversas no Congresso e disse que as “coisas “estão andando bem” no Brasil.
“Haddad
está certo que a gente vai aprovar a reforma tributária”, disse Lula. “Será a
primeira reforma tributária em tempo de democracia, a última foi em 1964. Fazer
reforma tributária com golpe é muito fácil, agora fazê-la democraticamente num
Congresso que não temos maioria significa que você tem de ter habilidade para
construir essa maioria.”
Lula
elogiou o envolvimento do ministro da Fazenda na articulação política com os
líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso. A área é uma das mais
criticadas no Palácio do Planalto, comandada pelo ministro Alexandre Padilha
(Relações Institucionais). “Haddad tem sido um mestre na articulação com o
Congresso Nacional”, disse o presidente.
• Lula volta a defender moeda comum: 'Por
que tenho que comprar dólar?'
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender nesta sexta-feira
(23) a criação de novas moedas para realizar o comércio entre países. Em
discurso na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, na França,
Lula criticou a dependência do dólar.
"Tem
gente que se assusta quando eu falo que é preciso criar novas moedas para a
gente fazer comércio. Eu não sei por que Brasil e Argentina têm de fazer
comércio em dólar. Por que que a gente não pode fazer nas nossas moedas? Não
sei por que Brasil e China não podem fazer nas nossas moedas. Por que eu tenho
que comprar dólar? Então essa é uma discussão que está na minha pauta",
declarou Lula.
O
presidente também afirmou que vai discutir o tema na reunião dos Brics em
setembro - o grupo é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
"Essa discussão vai acontecer também na reunião do G-20, porque nós vamos
precisar colocar mais companheiros africanos para participar do G-20",
defendeu.
Lula
disse, ainda, que é preciso "parar de fazer proselitismo com
recursos" internacionais e "fazer investimento em coisas
estruturantes, que mudam a vida dos países". "É por isso que estou
otimista com a criação do Banco dos Brics. É por isso que estou otimista com a
possibilidade de criar o Banco do Sul. É por isso que estou otimista de a gente
discutir moeda de comércio", afirmou.
• Histórico
Desde
o início do seu mandato, o presidente vem defendendo em diversas oportunidades
a criação de moedas únicas para comércio entre países, diminuindo a dependência
do dólar.
No
fim de maio, em reunião com líderes de 11 nações sul-americanas , Lula defendeu
a criação de uma "unidade de referência comum para o comércio" na
região.
Antes
disso, em visita à China em abril, ele defendeu uma moeda comum com os Brics .
"Por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no
dólar? Por que não o iene? Por que não o real?", questionou na ocasião.
No
início do ano, Lula já havia defendido também uma moeda comum com a Argentina ,
em visita ao país vizinho. "Se dependesse de mim, o comércio exterior
sempre seria feito nas moedas dos países para não depender do dólar",
disse à época.
Fonte:
Brasil 247/Poder 360/IstoÉ/iG
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