Erdogan
assume terceiro mandato com promessa de defender 'soberania incondicional' da
Turquia
O líder turco Recep Tayyip Erdogan tomou posse de
seu terceiro mandato presidencial neste sábado (03/06), em Ancara. O chefe de Estado de 69 anos, que foi reeleito em 28 de maio com 52%
dos votos, prestou juramento perante os 600 deputados do novo Parlamento, de
maioria ultraconservadora, e prometeu "desempenhar suas funções com
imparcialidade" nos próximos cinco anos.
O juramento protocolar de Erdogan omite a forma autocrática como o líder turco governa o país há 20 anos,
guiado pela doutrina do partido conservador islâmico AKP, a repressão a
opositores e à minoria curda. O novo Parlamento turco, empossado nesta
sexta-feira (02/06), é dominado por partidos da direita ultranacionalista,
religiosa e conservadora.
"Como presidente, juro proteger a existência e
a independência do Estado, a integridade da pátria, a soberania incondicional
da nação, o Estado de Direito (e) o princípio de uma república laica, conforme
concebido por Atatürk", declarou Erdogan. Personalidade de referência do
período moderno, Mustafa Kemal Atatürk é chamado de "o pai dos
turcos" ao ser o primeiro presidente do país depois de fundar a República
da Turquia, em 1923.
As festividades de posse, em Ancara, ocorrem em um
dia de forte chuva na capital turca. Além do discurso no Parlamento, o ritual
de cerimônias inclui uma passagem de Erdogan pelo mausoléu de Atatürk, antes
das celebrações programadas no palácio presidencial e de um grande jantar no final
do dia. Após o encerramento das solenidades, Erdogan irá anunciar a composição
de seu novo governo.
Otan quer negociar fim do veto turco à Suécia
A cerimônia de posse conta com a presença de cerca
de 20 chefes de Estado e do secretário-geral da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg. A Turquia é um dos 31 Estados-membros
da aliança militar liderada pelos Estados Unidos e mantém o veto à adesão da
Suécia, alegando que o país oferece refúgio a ativistas de oposição que Ancara
considera "terroristas".
Stoltenberg deve tentar mais uma vez levantar o veto
turco à entrada da Suécia na Aliança Atlântica, que está bloqueada há 13 meses,
se possível antes de uma cúpula da Otan em Vilnius, em julho.
"Uma mensagem clara para nossos amigos suecos!
Respeitem seus compromissos (...) e tomem medidas concretas na luta contra o
terrorismo. O resto virá depois", tuitou o atual ministro das Relações
Exteriores, Mevlut Cavusoglu, na noite de quinta-feira (01/06).
Apesar de alterações feitas na Constituição e de uma
nova lei antiterrorismo, Ancara ainda critica a Suécia por abrigar refugiados
curdos, que ela descreve como "terroristas". Estocolmo autorizou uma
manifestação no domingo com o slogan "Não à Otan, não às leis de Erdogan
na Suécia", organizada especialmente por associações que apoiam grupos
armados curdos na Síria.
·
Novos ministros
Há forte expectativa em relação à lista de ministros
que será anunciada após as festividades, à noite, e que deve dar uma ideia da
direção que o chefe de Estado turco tomará para dar uma guinada na economia em
crise. Para essa árdua tarefa, o nome de um especialista reconhecido, Mehmet
Simsek, vem circulando com insistência há vários dias.
Ex-ministro das Finanças (2009-2015) e depois
vice-primeiro-ministro responsável pela Economia (até 2018), Simsek, 56 anos,
ex-economista do banco americano Merrill Lynch, teria a tarefa de restabelecer
um pouco de ortodoxia para restaurar a confiança dos investidores.
A luta contra a inflação galopante será uma das
prioridades do futuro ministro. Em abril, a inflação oficial permaneceu em mais
de 40% no acumulado de 12 meses, depois de ultrapassar 85% no fim do ano
passado, resultado de uma queda constante nas taxas de juros buscada por
Erdogan. O país ainda não se recuperou do terremoto de magnitude 7,8, ocorrido
em 6 de fevereiro, que deixou ao menos 50.000 mortos e devastou áreas inteiras
da região sudeste. De acordo com a ONU, o custo total do desastre é de mais de
US$ 100 bilhões.
Erdogan venceu o segundo turno da eleição presidencial
no domingo passado, com 52,1% dos votos, derrotando seu opositor, Kemal
Kiliçdaroglu (CHP), que obteve 47,9% dos votos.
Turquia:
Parlamento dominado pela direita ultranacionalista é empossado
Após sua vitória nas eleições de 28 de maio, o presidente
Recep Tayyip Erdogan será oficialmente reempossado como chefe da Turquia neste
sábado (03/06). Mas, antes disso, os novos membros do parlamento, eleitos nas
eleições legislativas realizadas em 14 de maio, assumem nesta sexta-feira
(02/06). O novo hemiciclo de congressistas está mais dominado do que nunca pela
direita ultranacionalista, religiosa e conservadora.
Desde a transição para um sistema
hiperpresidencialista em 2018, imposta pela mão de ferro de Erdogan, o
Parlamento turco não é mais dominado por um partido com maioria absoluta, mas
por uma aliança de partidos.
No novo hemiciclo, a Aliança do Povo, que apoia
Erdogan, tem 323 dos 600 assentos, o que permitirá que o mandatário continue a
aprovar as leis que deseja.
Em oposição a ele estão duas alianças sem meios
reais de ação legislativa, mas que continuarão a usar o fórum parlamentar para
fazer com que as vozes da oposição sejam ouvidas na Turquia.
Dos 16 partidos assim representados, cerca de dez
estão à direita do espectro político, seja no campo do governo ou no campo da
oposição. Esses são grupos muçulmanos ultranacionalistas ou conservadores.
Nas últimas eleições, dois pequenos partidos
abertamente islâmicos entraram na aliança presidencial e, portanto, nas
bancadas da assembleia: o Novo Partido do Bem-Estar Social (YRP) e o Hüda-Par,
que, juntos, conquistaram nove cadeiras.
Embora apoiado por uma maioria absoluta, Recep
Tayyip Erdogan não tem uma maioria suficiente para revisar a Constituição,
assim como não teve no Parlamento anterior.
Ø Como ultradireita alemã tenta crescer com o debate climático
O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de ultradireita, está há semanas mais inflamado que o usual. Para a legenda de oposição,
as políticas do governo alemão não são apenas um fracasso, mas uma ameaça à paz
e à prosperidade. Em praticamente todas os temas, o partido baseia-se no
confronto: na guerra na Ucrânia, exige negociações de paz em vez de
fornecimento de armas. Na política de migração, exige "fechar as
fronteiras" em vez de recrutar trabalhadores qualificados.
Acima de tudo, o partido de ultradireita vem se
apresentando como um oponente agressivo na política energética e climática. As
medidas do governo federal, cuja coligação inclui o Partido Verde, são chamadas
de "programa de empobrecimento" por Alice Weidel, líder da bancada da
AfD no Bundestag (Parlamento alemão).
Para ela, os planos para converter os sistemas de
aquecimento residencial para o uso de energias renováveis são nada menos que um
"massacre do aquecimento": "As pessoas que não puderem mais
pagar [por isso] terão que vender suas casas", declarou ela em uma
coletiva de imprensa.
Emoções mais importantes que fatos
Em sua rejeição às medidas de proteção climática, a
legenda supera até mesmo muitos outros partidos europeus de ultradireita,
observa Christoph Richter, do Instituto para Democracia e Sociedade Civil
(IDZ), na cidade de Jena: "Ela coloca em dúvida as conclusões científicas
fundamentais sobre as mudanças climáticas provocadas pelo homem e, portanto,
considera as medidas de proteção climática sem sentido". O IDZ está
atualmente pesquisando como os populistas e extremistas de direita na Europa e
nos EUA lidam com a crise ambiental.
O próprio programa da AfD sobre proteção climática é
simples: Sim à energia fóssil e à energia nuclear, não à energia eólica. Os
especialistas observam que a AfD se baseia mais em emoções do que em princípios
programáticos. "Vemos que a AfD 'penetra' onde estão a maioria das
reservas e medos da população", analisa Christoph Richter. "Por
exemplo, ela se envolve em campanhas regionais contra a energia eólica."
Os verdes tornaram-se o oponente favorito da AfD. O
conceito deles de uma Alemanha amigável ao clima, cosmopolita e diversificada
serve ao partido de ultradireita como um plano para um cenário apocalíptico:
"Os cidadãos estão sendo expropriados!", "Eles estão destruindo
nossa prosperidade!", "Baerbock está agindo de forma criminosa e
insana!"
Com esses slogans sensacionalistas, a legenda vem
lutando especialmente nas mídias sociais contra o Partido Verde, da ministra do
Exterior, Annalena Baerbock, e do ministro da Economia, Robert Habeck.
Aparentemente com sucesso: as pesquisas de opinião veem o AfD como o partido
mais forte em três estados do leste da Alemanha, onde importantes eleições
estaduais serão realizadas no próximo ano. No âmbito federal, a legenda tem
hoje a preferência de até 18% dos eleitores nas pesquisas mais recentes. Já os
verdes, que chegaram a registrar a preferência de até 20% dos eleitores em
2022, hoje amargam não mais que 16% nos levantamentos mais recentes.
Antípoda dos verdes
O eleitorado dos verdes e da AfD parece ser oposto
em muitos campos políticos. Por exemplo, no mês de abril, o instituto de
pesquisas de opinião Infratest Dimap identificou que 76% dos apoiadores dos
Verdes acham que as medidas de proteção climática estão indo muito devagar,
enquanto 50% dos apoiadores da AfD acham que estão indo muito rápido.
Christoph Richter, do IDZ, vê a direita europeia
unida em sua rejeição às medidas de proteção climática: "Eles estão unidos
pelo interesse em manter a desigualdade existente entre as nações
industrializadas e outros países, principalmente os do Sul Global, porque as
nações industrializadas europeias lucram com essa disparidade."
Desde a sua fundação em 2013, a AfD vem alterando o
foco de quem são seus inimigos. Seu adversário favorito no início era o Partido
Liberal Democrático (FDP) e sua política sobre a dívida europeia. Quando o FDP
ficou de fora do Bundestag na eleição de 2013, a alegria da AfD não teve
limites.
Em seguida, o partido mirou nos conservadores e na
sua líder e então chanceler federal Angela Merkel. A política de refugiados de
Merkel fez a AfD entrar em ebulição e obteve grande sucesso, especialmente nos
estados do leste.
Merkel deixou o cargo, e agora o AfD se concentra em
um novo inimigo: os verdes. A forma dos ataques não é novidade para Christoph
Richter: "Conhecemos os ataques muito agressivos contra o clima e os
ambientalistas dos EUA da década de 1980. Naquela época, um forte movimento
contrário se formou lá."
No entanto, o fato o partido de ultradireita parecer
ter sucesso com sua estratégia se deve principalmente à insegurança dos outros
partidos, observa Richter: "O fator de sucesso relevante das campanhas da
AfD é que suas narrativas também são aceitas pelos centristas. Isso é uma
estratégia muito perigosa que acaba prejudicando os partidos estabelecidos e a
proteção climática."
Ø Zimbábue proíbe críticas ao governo antes das eleições
A Assembleia Nacional do Zimbábue aprovou na noite
de quarta-feira (31/05) um controverso projeto de lei que proíbe as críticas ao
governo do país.
O projeto de lei, que ainda precisa ser aprovado
pelo Senado e depois sancionado do presidente Emmerson Mnangagwa, provocou
temores de uma possível repressão aos dissidentes, a pouco mais de dois meses
das eleições.
O projeto de lei foi aprovado poucas horas depois
que o governo anunciou que as eleições parlamentares e presidenciais serão
realizadas em 23 de agosto deste ano. Mnangagwa busca garantir um segundo
mandato. O partido governista Zanu-PF, de Mnangagwa, tem maioria na Assembleia
Nacional.
O que é a 'Lei Patriótica?'
Muito da controvérsia gerada pela nova lei se deve a
uma cláusula que criminaliza ações que possam ser prejudiciais à
"soberania e interesse nacional do Zimbábue". Nos casos mais graves,
os que forem considerados culpados poderão sofrer penas de até 20 anos de prisão.
O partido governista Zanu-PF defendeu a lei,
afirmando que ela motiva os mais de 15 milhões de habitantes a se tornarem
"patriotas"
"Essa lei não foi feita para limitar a
existência de partidos políticos, ela existe para impulsionar o povo do
Zimbábue a amar seu país e parar de criticá-lo", disse o parlamentar
Joseph Chinotimba, do Zanu-PF.
·
Reação da oposição
Grupos de direitos humanos, ativistas e políticos da
oposição denunciaram o projeto de lei, dizendo que a medida visa proibir
qualquer crítica ao governo do país africano.
Os críticos que a cláusula servirá para punir
organizações da sociedade civil, cidadãos e partidos políticos que se oponham
ao Zanu-PF.
"A liberdade de expressão está morta",
escreveu o jornalista e ativista Hopewell Chin'ono no Twitter, acrescentando
que foi "um dia muito triste para o Zimbábue".
Um porta-voz da Coalizão de Cidadãos pela Mudança
(CCC), da oposição, descreveu o projeto de lei como "perigoso".
"O Zanu-PF reduziu nossa grande nação a um
posto avançado da tirania", disse o porta-voz do CCC, Fadzayi Mahere, à
agência de notícias Reuters.
Observadores estão se preparando para uma votação
tensa nesse país onde o descontentamento com a pobreza arraigada, cortes de
energia e carestia é profundo.
Emmerson Mnangagwa, de 80 anos, substituiu o antigo
ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, em 2017, após um golpe palaciano liderado
pelos militares.
Seu principal adversário é o chefe do CCC, Nelson
Chamisa, de 45 anos. Advogado e pastor, Chamisa perdeu por uma pequena margem
para Mnangagwa nas eleições de 2018.
Grupos de direitos humanos estão se preparando para
o impacto do novo projeto de lei à medida que a campanha se intensifica antes
das eleições em agosto.
"É lei mais draconiana que vimos no
Zimbábue", disse o chefe do Fórum de ONGs de Direitos Humanos, Musa Kika.
Fonte: Opera Mundi

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