Como
eram o amor, o sexo e o casamento no Egito Antigo
Você pode pensar que o comportamento dos antigos
egípcios era muito diferente do nosso. Mas não muito: eles tinham as mesmas
dúvidas, medos e motivações em relação aos conceitos de amor, sexo e casamento
que nós.
A diferença está na maneira como lidavam com essas
emoções.
No mundo moderno, "o sexo vende" e, às
vezes, também pode ser considerado tabu. Isso é algo que um egípcio antigo
típico não teria entendido.
Para os egípcios, sexo era um elemento básico da
vida, junto com comer e dormir e, portanto, não era algo sobre o que se poderia
rir, que se poderia evitar ou gerar vergonha.
E, por falar nisso, a língua egípcia, como as
modernas, possuía vários vocábulos para a relação sexual. Assim como,
naturalmente, eufemismos que podiam ser usados poeticamente como "vincular-se", "encontrar-se",
"passar uma agradável hora juntos"," entrar numa casa", "dormir
com" ou "divertir-se com"...
Na verdade, a poesia é uma fonte notável de
aprendizado sobre questões do coração e da libido no Egito Antigo.
·
A arte da insinuação
Eles também tinham várias palavras ara descrever os
órgãos sexuais femininos, como xnmt (útero), iwf (carne), kns (região
pubiana) ou k3t (vulva). Outros eram mais sutis, como keniw ou
"abraço".
Um poema do Império Novo (período da história
egípcia antiga entre o século 16 e o 11 a.C.), por exemplo, descreve um
relacionamento romântico dizendo: "Ela me mostrou a cor de seu
abraço". "Cor" costumava ser usada como eufemismo para pele, e
na poesia encontramos frases como "ver a cor de todos os seus
membros" ou "sua cor era suave".
No entanto, nem toda a poesia era tão sutil: há uma
que descreve um jovem querendo "correr em direção à sua gruta",
metáfora que realmente não precisa ser explicada.
Os antigos egípcios também usavam linguagem sexual
para insultar, praguejar e como exclamações mais gerais.
Para apressar um colega de trabalho, um barqueiro
egípcio poderia ter dito: "Rápido, fornicador!", como atestado no
túmulo de Ti, do Império Antigo, em Sacara, um sítio arqueológico do Egito, que
funcionou como necrópole da antiga cidade de Mênfis.
A expressão, aparentemente, foi considerada
inofensiva o suficiente para ficar no túmulo com o falecido por toda a
eternidade.
Embora o sexo fosse uma parte normal da vida
cotidiana, era preferível que ficasse confinado ao casamento, razão pela qual a
maioria das pessoas se casava, muitas vezes em uma idade jovem.
Como a poesia de amor do Império Novo é repleta de
desejos sexuais e românticos, além de amor não correspondido, encontramos
pistas sobre as práticas culturais da época por meio dos poemas. Por exemplo:
"Ele não sabe da minha vontade de abraçá-lo, senão escreveria para minha
mãe", permite-nos saber que, se um jovem quisesse se casar, deveria falar
com a mãe da moça para obter permissão.
Um poema do Império Novo explica como tarefas
simples são impossíveis por causa do amor: "Ele não me deixa agir com
sensatez".
Os casais apaixonados também se davam apelidos
afetuosos, como "O felino", "A tão procurada" e "Ela
(que é) de temperamento explosivo como um leopardo".
·
'Um ano comendo'
O casamento era um evento simples, sem cerimônia
religiosa ou civil; geralmente a mulher — embora ocasionalmente o homem —
simplesmente mudava-se para a casa do marido, talvez acompanhada por uma
procissão pelas ruas e uma festa.
Sem nada cerimonial ou oficial, a maioria dos
casamentos foi deixada em situação irregular, mas os casais ricos muitas vezes
assinavam contratos delineando as consequências financeiras de um divórcio.
Mas mais intrigantes são os documentos que descrevem
casamentos temporários ou de teste:
"Você estará em minha casa enquanto estiver
comigo como uma esposa a partir de hoje, o primeiro dia do terceiro mês do
inverno do décimo sexto ano, até o primeiro dia do quarto mês da estação das
cheias do ano dezessete."
Este casamento temporário ficou conhecido como
"um ano comendo" e permitia ao casal tentar o casamento, bem como uma
saída rápida caso não houvesse filhos durante este período ou se decidissem que
não estava dando certo.
A vida de casado no Egito Antigo não era muito
diferente do que é hoje, e um casal tinha muitas das mesmas preocupações:
essencialmente criar, alimentar e prover um lar para sua família.
No entanto, nem todos os enlaces do Egito Antigo
eram perfeitos, e papiros médicos mostram que os homens costumavam consultar
médicos devido a problemas sexuais dentro do casamento.
·
Em caso de problemas…
Havia inúmeras receitas disponíveis para o marido
seduzir a esposa:
"Remova a caspa do couro cabeludo de uma pessoa
morta que foi assassinada e sete grãos de cevada, enterrados na sepultura de
uma pessoa morta, e esmague-os com dez onças de sementes de maçã. Adicione o
sangue de um carrapato de cachorro preto, uma gota de sangue do dedo anular da
sua mão esquerda e o seu sêmen. Esmague-o até formar uma massa compacta,
coloque-o em um copo de vinho... e deixe a mulher beber."
Certamente seria difícil persuadir uma esposa
desinteressada a beber tal poção, mas, se o fizesse, acreditava-se que ela se
apaixonaria perdidamente pelo marido novamente.
Nesse caso, dava-se o passo seguinte, que era moer
sementes de acácia com mel e "esfregar isso no seu falo e dormir com a
mulher". Se isso não funcionasse, o homem era aconselhado: "Esfregue
seu falo com a espuma da boca de um garanhão e durma com a mulher."
O mesmo nível de ajuda médica não estava disponível
para a esposa, pois era considerado impróprio para uma mulher consultar um
médico sobre esses assuntos: "Uma esposa é uma esposa. Ela não deve fazer
amor. Ela não deve ter relações sexuais".
Isso deixa claro que era considerado impróprio que
uma mulher desejasse fazer sexo, pois ela só deveria estar disponível para o
marido a seu pedido.
·
'Segure seu coração acelerado'
Os casamentos eram dissolvidos por vários motivos,
sendo o mais comum a ausência de filhos ou o adultério.
Embora as mulheres em teoria não devessem desejar
relações sexuais, o adultério era considerado "o grande crime (geralmente)
encontrado em uma mulher".
Mas tanto homens quanto mulheres cometiam adultério,
e tanto homens quanto mulheres podiam dar início a um divórcio por causa disso.
O adultério era tão comum que aparecia no Livro dos
Mortos na chamada "Confissão Negativa", onde o falecido negava ter
feito coisas consideradas ilegais ou socialmente inaceitáveis.
É na última categoria que cai o adultério, e a
Instrução de Ani (dinastia 21 ou 22 por volta de 1.000 aC) aconselha os novos
maridos: "Segure o coração disparado. Não vá atrás de uma mulher; não
deixe que ela te roube o coração".
·
Divórcio
Embora o divórcio fosse geralmente concedido por adultério,
se o marido desejasse, ele poderia solicitar que sua esposa adúltera fosse
severamente punida, em alguns casos com mutilação ou execução. No entanto,
essas punições severas geralmente eram o enredo de contos literários, e o
divórcio era mais fácil e comum no mundo real.
Tanto homens quanto mulheres podiam se divorciar,
basta o homem dizer um "te expulso", ou a mulher falar "estou
indo embora", ou qualquer um dos cônjuges soltar um "estou me
divorciando de você".
O divórcio geralmente era tão simples quanto um
casamento, com a mulher saindo da casa do marido, voltando para a casa do pai
ou para a sua.
O divórcio não trazia nenhum estigma social, e tanto
homens quanto mulheres se casavam novamente e muitos tinham famílias numerosas.
No entanto, se uma mulher se divorciava quando tinha
30 anos, era raro ela se casar novamente. Nessa idade, ela era considerada
velha.
Quando se trata de questões do coração, seja no
mundo moderno ou no Egito Antigo, há muitas informações que simplesmente não
são registradas.
No entanto, até certo ponto, podemos ter uma ideia
de como os antigos habitantes do Vale do Nilo conduziam seus relacionamentos e
sua visão de sexo e relacionamentos.
E, embora nossa ideia de como tudo isso funcionava
certamente incompleta, muito é familiar: os antigos egípcios não eram tão
diferentes de nós quando se tratava de relacionamentos... eles viveram, se
apaixonaram, amaram, se casaram, se divorciaram e às vezes até faziam tudo isso
mais de uma vez.
Fonte: Por Charlotte Booth, em BBC History Extra

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