segunda-feira, 26 de junho de 2023

Acadêmicos americanos: conflito ucraniano revelou que o mundo está cansado da hegemonia dos EUA

Especialistas baseados em Washington veem a posição dos EUA como não sendo mais predominante, afirmando que os americanos terão de ter em conta os interesses dos países emergentes para manter sua posição.

Mesmo com o maior orçamento militar do mundo, e com 750 bases militares no exterior, os EUA estão longe da hegemonia global, argumentou na sexta-feira (23) um think tank sediado em Washington.

Nas últimas décadas, Washington demonstrou capacidade de destruição em massa: na Coreia, no Vietnã, no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e em outros lugares, mas "obteve apenas vitórias de Pirro", o que levou à erosão da confiança na liderança dos EUA, de acordo com os acadêmicos do Instituto Quincy para Governação Responsável (Quincy Institute for Responsible Statecraft, em inglês).

Os gastos militares dos EUA atingiram US$ 876,9 bilhões (R$ 4,19 trilhões) em 2022, e o país também opera 750 bases militares estrangeiras. Ainda assim, Washington é incapaz de persuadir o Sul Global a aderir às sanções contra a Rússia por sua operação militar especial na Ucrânia, nota o think tank.

Segundo os recentes vazamentos do Pentágono, até mesmo alguns aliados e parceiros dos EUA demonstraram hesitação e falta de vontade de fornecer a Kiev armamentos. Enquanto isso, a maioria dos países do Sul Global ignorou os apelos dos EUA para impor sanções a Moscou, que consideram contraditórios com seus interesses nacionais.

Observadores políticos dos EUA identificaram anteriormente seis países do Sul Global, a Índia, Brasil, Turquia, Indonésia, Arábia Saudita e a África do Sul, como podendo decidir o futuro da geopolítica, e argumentam que a administração de Joe Biden precisa conquistar seus corações e mentes.

Em junho de 2022, Subrahmanyam Jaishankar, ministro das Relações Exteriores da Índia, rejeitou a alegação do Ocidente de que Nova Deli estava "sentada em cima do muro". Ele sublinhou que a Índia tem direito à sua opinião quanto ao conflito russo-ucraniano.

A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês) optou igualmente por colaborar tanto com os EUA quanto com a China. Elas também participam ativamente da iniciativa chinesa Um Cinturão, Uma Rota, apesar das tentativas de Washington de manter seu domínio na Ásia-Pacífico e conter a influência da China na região.

"A guerra na Ucrânia talvez seja o evento que torna o fim da Pax Americana evidente para todos. [...] [Outros países] querem decidir, e não que lhes digam o que é de seu interesse. Em resumo, em 2023, ouviremos um retumbante não à dominação dos EUA e veremos um apetite acentuado por um mundo sem hegemonia", opinou em maio de 2023 Fiona Hill, ex-vice-assistente do presidente dos EUA (2017-2019), durante uma conferência em Tallinn, Estônia.

Ela qualificou a resistência do Sul Global às exigências dos EUA e da União Europeia de impor sanções a Moscou como nada menos que "uma rebelião aberta", "um motim contra o que eles veem como o Ocidente coletivo dominando o discurso internacional e impondo seus problemas a todos os outros, enquanto deixam de lado suas prioridades em relação à compensação das mudanças climáticas, ao desenvolvimento econômico e ao alívio da dívida".

Observadores ocidentais também reconhecem que o centro de gravidade do mundo está se deslocando constantemente para o leste, e que o governo Biden tem procurado até agora evitar essa tendência tentando estabelecer "uma liderança tecnológica duradoura sobre a China" e reforçando as suas forças na Ásia-Pacífico. A ex-responsável americana chamou os legisladores americanos a aceitarem a realidade de que os EUA não são mais "a nação indispensável".

·         Mídia: aumento das taxas de juro nos EUA ameaça colapsar setor de crédito privado de US$ 1,4 trilhão

As taxas de juro nos EUA estão agora em 5%, o que, segundo uma economista da agência de classificação Moody's, está provocando sérios problemas nos empréstimos feitos quando as taxas eram baixas, há dois anos.

A Moody's, agência da classificação dos EUA, avisou em um artigo de sexta-feira (23) que o setor de crédito privado do país pode ser eliminado pelo aumento das taxas de juros e por uma economia em declínio.

O setor de crédito privado, ou seja, os empréstimos não bancários concedidos principalmente a empresas médias e pequenas, que não são negociadas publicamente, e às de propriedade de capital privado, cresceu muito na última década, atingindo um valor de US$ 1,4 a US$ 1,5 trilhão (de R$ 6,7 trilhões a R$ 7,17 trilhões), com o mercado igualando o tamanho do mercado dos chamados junk bonds dos EUA, e com previsão de poder atingir US$ 2,3 trilhões (R$ 11 trilhões) até 2027, disse ela ao jornal britânico Financial Times.

Na avaliação de Christina Padgett, analista da Moody's, o setor está enfrentando agora seu "primeiro desafio sério" devido às dezenas de bilhões de dólares em empréstimos de alto risco emitidas em 2021, quando as taxas de juros estavam próximas de zero, e que enfrentam agora a perspectiva de incumprimento devido aos custos de juros crescentes provocados pelos aumentos das taxas do Fed, ou Reserva Federal, o banco central dos EUA.

A Moody's disse que as gigantes do crédito privado Owl Rock e Ares são especialmente vulneráveis, com índices de cobertura de juros para seus empréstimos (ou seja, dinheiro em caixa para pagar juros) que devem ser reduzidos pela metade.

Os perigos associados à onda de aumento da taxa de juros do Fed, que subiu de 0-0,25% em março de 2022 para 5-5,25% em junho de 2023, se tornaram evidentes no início de 2023, quando provocou a falência de três bancos comerciais dos EUA. Isso também levou a um contágio Europa, que quase arruinou o gigante bancário suíço Credit Suisse, antes de ele ser comprado pela UBS.

A volatilidade associada à taxa de juros também afetou o status do dólar como a moeda de reserva mundial de fato, com o fluxo de fundos e o provedor de dados de alocação de ativos EPFR Global revelando em maio que os investidores de mercados emergentes estavam se afastando de dívidas e ativos denominados em dólares, com os principais ganhos na participação das transações absorvidos pelo yuan chinês.

"A Reserva Federal tem apenas uma ferramenta. Essa ferramenta é aumentar as taxas de juros para reduzir a inflação. Mas a economia como um todo tem várias ferramentas, não apenas a política monetária, que o Fed tem, mas também o que chamamos de política fiscal, gastos federais", avaliou na semana anterior o economista Linwood Tauheed, acrescentando que os "problemas" associados ao recente colapso bancário "não desapareceram".

 

Ø  Preocupação dos EUA com contraofensiva ucraniana 'certamente não é voto de aprovação', diz analista

 

O alarme de Washington sobre o progresso mais lento do que o esperado da contraofensiva ucraniana contra as forças russas ocorre em meio aos temores inúteis de Kiev de que a ajuda militar da Casa Branca à Ucrânia possa parar se Joe Biden não vencer a eleição de 2024, disse o analista de relações internacionais e segurança, Mark Sleboda, à Sputnik.

Uma rede de notícias dos EUA citou recentemente um oficial militar norte-americano dizendo que a contraofensiva da Ucrânia "não está atendendo às expectativas em nenhuma frente". A fonte acrescentou que durante suas fases iniciais, a contraofensiva está tendo menos sucesso e as forças russas estão mostrando mais competência do que as avaliações ocidentais esperavam.

Isso aconteceu depois que o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, reconheceu em uma entrevista à mídia ocidental que o progresso da contraofensiva foi mais lento do que o desejado.

"Acho que isso é bastante interessante e provavelmente tem algo a ver com o fato de que os funcionários anônimos do governo Biden disseram que o regime de Kiev teve um desempenho inferior em todas as frentes com a ofensiva, o que certamente não é um voto de aprovação", disse Sleboda à Sputnik.

Segundo ele, "é algo que, obviamente, o regime está começando fazer um sério controle de danos".

O analista disse que os comentários de Zelensky na verdade significam que o presidente ucraniano aparentemente percebeu o fato de que "a guerra não é um filme de Hollywood e não é um sucesso de bilheteria da Netflix, como a série de TV Servant of the People, onde uma espécie de professor infeliz retratado por Vladimir Zelensky meio que acidentalmente se tornou presidente da Ucrânia e então tentou fazer algo de bom para o país."

Quando questionado sobre as preocupações de Kiev sobre uma possível suspensão ou redução substancial da ajuda militar de Washington no caso de Joe Biden perder a eleição presidencial dos EUA em 2024 para Donald Trump ou Robert F. Kennedy Jr., Sleboda disse que "o regime de Kiev pode estar com medo", mas por nenhuma razão.

"Não acho que o presidente [dos EUA] tenha muito a dizer. Não acredito que qualquer tipo de política externa séria ou mudança na política militar seja possível com a troca da presidência dos EUA. Não sei se os americanos acreditam na ficção de sua política democrática, [mas] não acredito", apontou o analista.

Os comentários surgiram alguns dias depois que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse que "durante 16 dias de intensas hostilidades", as forças ucranianas reduziram sua atividade, "tendo sofrido perdas significativas".

Ele disse que, no momento, as Forças Armadas ucranianas estão "se reagrupando, reunindo aquelas tropas que podem partir para a ofensiva no futuro". De acordo com Shoigu, "o inimigo ainda tem força para conduzir novas operações ofensivas, apesar das perdas massivas tanto em homens quanto em material".

O comentário foi precedido por declarações do presidente russo, Vladimir Putin, durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo de 2023 que Kiev não conseguiu atingir nenhum objetivo estratégico no início de sua contraofensiva, perdendo 186 tanques e 418 veículos blindados.

•        Perdas das forças ucranianas na contraofensiva serão importante lição para EUA, diz mídia

As perdas das forças ucranianas durante a contraofensiva serão uma importante lição para os EUA, afirmou o portal American Greatness.

A mídia ressalta que a Ucrânia perdeu um grande número de soldados e equipamentos, e esse fracasso é um erro que servirá como importante lição para os EUA e seus militares.

Segundo o portal, as forças ucranianas treinadas por especialistas da OTAN não tiveram um bom resultado no campo de batalha, além disso, ficou claro que os militares de Kiev não utilizam a tecnologia ocidental com muita habilidade, resultando em diversos erros no combate.

Anteriormente, dois representantes dos países ocidentais e um funcionário de alto escalão do Pentágono informaram que a contraofensiva ucraniana não correspondeu às expectativas.

Por sua vez, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou que as perdas eram esperadas e prometeu fornecer todo o apoio necessário ao regime de Kiev.

·         Hesitação da OTAN em fornecer armas pode 'custar caro' à contraofensiva de Kiev, diz analista

Analista citado pelo portal Business Insider afirma que os EUA e seus aliados hesitaram em fornecer armas e sistemas de defesa ao regime de Kiev, o que pode custar caro para a atual contraofensiva ucraniana.

De acordo com o analista do Instituto para o Estudo da Guerra e líder da equipe de inteligência espacial, George Barros, a hesitação da OTAN deu tempo para a Rússia construir suas defesas, repletas de artilharia e minas terrestres, sendo um grande obstáculo para as forças ucranianas.

A lentidão do avanço das forças de Kiev foi destacada por algumas autoridades do país, chegando elas a afirmar que o país perdeu muito tempo tentando convencer seus aliados a fornecerem as armas necessárias.

George Barros ressaltou que a demora da OTAN para decidir os prazos e as armas que seriam fornecidas ao regime de Kiev prolongou o conflito e dificultou a missão das forças ucranianas.

O especialista também destaca que um dos principais motivos para a demora da OTAN em agir e fornecer as armas deve-se ao fato de Biden e a OTAN temerem uma confrontação direta com a Rússia.

No início de junho, o regime de Kiev lançou uma contraofensiva contra as forças russas nas linhas de frente, contudo, suas forças têm sofrido fracassos uns atrás de outros.

·         Alemanha fornecerá mais 45 canhões antiaéreos Gepard e sistemas de defesa IRIS-T a Kiev

A Alemanha fornecerá mais 45 peças de artilharia antiaérea autopropulsada Gepard, além de sistemas de defesa antiaérea IRIS-T ao regime de Kiev.

O plano foi anunciado pelo chefe do Centro de Situação da Ucrânia do Ministério da Defesa alemão, o general de brigada Christian Freuding.

Segundo o general, a maioria dos canhões será transferida em "cooperação com os EUA".

Ele também informou que 15 Gepard chegarão a Kiev nas próximas semanas, e outros 30 até o final de 2023.

Ao mesmo tempo, 34 sistemas autopropulsados e dois IRIS-T já foram entregues à Ucrânia.

De acordo com especialistas, as medidas das autoridades alemãs apenas confirmam que o Exército alemão segue agindo sob as ordens de Washington, esgotando seus arsenais.

Recentemente, o chanceler alemão Olaf Scholz anunciou que o país se comprometeu em fornecer € 16,8 bilhões (R$ 87,8 bilhões) em assistência à Ucrânia, incluindo o apoio militar.

Após Washington, Berlim é quem fornece mais assistência militar a Kiev em termos de volume.

 

Ø  Assessor de Zelensky afirma que Ucrânia quer sediar 'Cúpula da Paz', incluindo Brasil e China

 

A Ucrânia quer sediar uma denominada cúpula global de paz para debater o plano de paz de Kiev, afirmou Andrei Yermak, chefe do gabinete de Vladimir Zelensky.

Recentemente, uma agência de notícias britânica citou fontes familiarizadas com o assunto afirmando que o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e a subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, viajariam para a Dinamarca de 24 a 25 de junho para realizar uma reunião com autoridades de países que não condenaram a operação militar russa na Ucrânia.

Estes países incluem a Índia, Brasil, África do Sul, Turquia e possivelmente a China.

"Uma importante reunião de conselheiros em Copenhague [...] Sugeri plataformas que poderiam ser um local potencial para a cúpula global de paz. Primeiro, apresentei a Ucrânia como opção mais desejável para nós. A propósito, muitos países já demonstraram disposição de sediar a cúpula, incluindo locais internacionais como a Assembleia Geral da ONU", escreveu Yermak.

Ele também observou que a reunião contou com a presença de conselheiros de segurança nacional e conselheiros políticos do Brasil, Canadá, Dinamarca, União Europeia, França, Alemanha, índia, Itália, Ucrânia, Arábia Saudita, África do Sul, Reino Unido, EUA, Turquia e Japão.

Por sua vez, Yermak adicionou que as partes concordaram em continuar o formato de consultas.

Em 1º de junho, Zelensky confirmou que se realizaria uma cúpula para a discussão de seu plano de paz, afirmando que deseja que essas conversas envolvam o maior número possível de países.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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