Os
áudios dos grampos autorizados pela quebra de sigilo telefônico do senador
Aécio Neves (PSDB) e de sua irmã Andrea pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
nas investigações sobre as delações de Joesley Batista, dono da JBS (Friboi), e
que foram divulgados nesta quarta-feira (31), revelam mais que o
"mal-estar" entre os tucanos, como enfatiza a relação entre Aécio
Neves e imprensa. Uma relação já conhecida, porém, até então, sem provas.
Em
meio à troca de "fogo amigo" ou no calor de uma operação
"salve-se quem puder", com direito a ameaças veladas – "nós
estamos do mesmo lado nessa história"; "porque te envolve";
"sabe o que vai acontecer? joga você no meio" – as conversas, carregadas
de palavrões por parte de Aécio, trazem à tona também o modus operandi de uma
turma que é profissional em pressionar e calar qualquer crítica ou dissonância
na imprensa em relação aos seus interesses.
Nos
áudios, o presidente nacional do PSDB, o senador afastado, dá ordens expressas
ao governador do Paraná, o também tucano Beto Richa, para acionar sua
assessoria de imprensa ("pessoal mais qualificado"), a fim de
intervir para tirar rapidamente do ar a matéria "Aliado do Paraná já
considera Aécio na cadeia", postada (e retirada) pelo UOL do Paraná.
Na
matéria, que causou celeuma no ninho tucano poucos minutos depois de ir ao ar
no UOL Paraná, repercutia um comentário de Valdir Rossoni, secretário-chefe da
Casa Civil do governo Beto Richa dizendo que visitaria Aécio Neves na cadeia,
quando ele fosse preso por causa das contas mantidas na Suíça com as propinas
recebidas do esquema de corrupção. O link para a matéria está inacessível, mas
seu depoimento é reforçado por um vídeo, também contundente, contra Aécio.
Nesse
meio tempo, a própria assessoria de Aécio Neves já teria partido para a
ofensiva sobre os correspondentes do portal UOL em Brasília, com receio da
viralização do vídeo e do impacto nacional das declarações de Rossoni, que
Aécio orienta tachar de "má interpretação dos fatos".
Em
outro momento, Aécio conversa com outra pessoa subordinada a ele, provavelmente
um assessor, chamado "Flávio", e ordena a retirada do ar também do
vídeo de Rossoni e manda que o subordinado volte a ligar no celular de Richa
para conseguir isso. Ele orienta o que dizer ao governador: "O senador tá
muito chateado (...) Tudo bem que o UOL tirou, mas o cara (Rossoni) tem de
tirar a postagem, porque eles estão agora explorando a postagem do cara",
diz Aécio.
Como
os grampos estão apenas ligados às investigações sobre as delações dos
empresários da JBS, disponíveis na quebra de sigilo do STF, as conversas
divulgadas só revelam as comunicações entre Aécio e sua irmã. Os diálogos entre
os tucanos Richa e Rossoni ou das assessorias intimidando os veículos de
comunicação não estão no foco dessa investigação.
A
suposta "teimosia" do chefe da Casa Civil de Beto Richa, ambos
(governador e secretário) com interesses eleitorais bem definidos, soa como uma
tentativa de blindagem de mais um escândalo envolvendo Richa e Rossoni, bem
como de se distanciar das denúncias e do avanço de investigações que cada vez
mais batem às portas palacianas no Paraná.
Existem
mais arquivos de gravações disponibilizados pelas quebras de sigilo do STF, bem
como ocorre seletividade por parte dos veículos da imprensa grande na escolha
dos trechos, enfoques e versões. Uma escolha a dedo sobre o quê e quem
beneficiar ou colocar em maus lençóis.
Curioso
que, todas as vezes em que o senador afastado sugeriu ao governador do Paraná
estarem todos no mesmo barco ou do mesmo lado dessa história, recebeu a
concordância de Richa: "Eu sei (...) É, estamos todos!".
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