Primeiro tivemos a “roubalheira do
Banestado” junto com a corrupção de Furnas. Em seguida veio o “mensalinho
mineiro”. Depois assistimos o “escândalo do mensalão do PT”. Nem bem esfriou,
nos defrontamos com a “Operação Lava Jato”, por fim a população brasileira é
presenteada com as “delações bomba da Odebrecht e da JBS”, apenas para citar
alguns escândalos financeiros, tudo envolvendo grandes grupos empresariais e
políticos bastantes conhecidos, circulando bilhões de reais em contas dos
mesmos e em paraísos fiscais, sem que os nossos órgãos que dizem serem
responsáveis pela fiscalização do dinheiro, terem conhecimento da sua
existência. Se é que não sabiam e se omitiram.
Diante do volume de recursos
envolvidos, o brasileiro começa a se perguntar onde está a decantada
“eficiência” do Banco Central e da Receita Federal, no que tange à fiscalização
da circulação de dinheiro em nosso País? Ou esta fiscalização só existe para a
classe média e menos abastada da sociedade?
A dúvida maior recai sobre a Receita
Federal, órgão considerado tão eficiente na fiscalização das contas da
população - especialmente quando esta fiscalização é sobre a classe média -,
onde ninguém entende como não descobriu essa dinheirama que as empresas
delatoras como a Odebrecht e JBS disse ter doado aos políticos?
E olha que foram milhões e milhões de
reais que passaram nas contas, não se está se falando de migalhas. Agora vá
você assalariado esquecer de declarar de ter adquirido um bem, por mais ínfimos
que seja. Aí você cai na malha fina e tem que passar pelo dissabor de ter que
se penitenciar junto ao auditor de plantão, como se fosse um criminoso. E é
assim que você é tratado pela eficiente máquina de moer a classe média
brasileira.
Nos depoimentos que os brasileiros
assistem diariamente pela TV e na grande imprensa nacional, os delatores falam
em milhões de reais, em dezenas de notas frias para esquentar o dinheiro,
depósitos no exterior, aquisições de bens, malas e malas de dinheiro vivo e a
Receita Federal - aquela mesma que nos trata como bandidos quando sonegamos
alguns centavos -, através de seu corpo de auditores e técnicos preparados, com
seus avançados computadores, com um corpo de profissionais qualificados, não
conseguiram detectar nada, em nenhuma das fases das operações? No mínimo
estranho o comportamento e a atuação da nossa Receita Federal, não acham?
Se analisarmos o sufoco que a plebe
passa no período em que é obrigado a fazer sua declaração de renda anual, o que
o brasileiro assiste em relação as delações dos envolvidos nas falcatruas com o
ambiente político, é no mínimo assombroso. Até porque, só para relembrar,
quando vamos declarar o Imposto de Renda é um deus nos acuda, diante das
ameaças que a Receita Federal faz. É um verdadeiro sufoco que ela transforma a
vida da população da classe média. É um corre, corre junto a contadores, é um
pegar e guardar notas de aluguéis, dentista, médico, comprovantes disto e daquilo,
etc., etc., etc. Ao menor deslize a Receita Federal de forma eficaz notifica,
multa, o coloca na malha filha e assim por diante.
Até aí tudo bem e até se entende, já
que tem equipe qualificada para tal. Agora, o que não dá para entender é que
diante da quantidade de dinheiro que circulou e circula através das diversas
práticas de corrupção e desvio de dinheiro público em que se envolveram a
classe empresarial, políticos e até alguns juristas esta mesma Receita Federal
não tenha detectado nada. Sem querer levantar suspeita, mais debaixo deste
angu, tem alguma carne podre. Com certeza alguma coisa está errada.
É muito fácil se omitir. Mais fácil
ainda se calar ou jogar a culpa nos outros, mais não dá para compreender que
órgãos como o Banco Central e a Receita Federal, que existem basicamente para
fiscalizarem a circulação de dinheiro e as receitas, seja da pessoa física ou
pessoa jurídica, não tenham detectados algo de suspeito, feita ao longo de
vários anos e de forma continuada. Se são considerados órgão de cuja
eficiência nas suas atuações como uns dos melhores do mundo, aí é que fica
ainda mais difícil da sociedade brasileira entender tamanha falha como órgãos
fiscalizadores.
Quem costuma viajar de avião, por
exemplo, observa a eficiência da fiscalização nos aeroportos, na hora do
embarque. É raio - x pra lá e prá cá com o objetivo de detectar a mínima
irregularidade que o passageiro transporte. Isto quando o embarque é feito
pelas vias normais, pois se sabe que nas salas vips, todo aquele controle deixa
de existir, pois por ali só trafegam autoridades, altos empresários, políticos,
ministros do judiciário e convidados ilustres. São brasileiros acima da média,
que deveriam também ser homens acima de qualquer suspeitas. E é por ali que as
coisas acontecem, infelizmente.
É por ali que são transportadas as
malas de dinheiro, que todo brasileiro desconfia, menos a Receita Federal. É
por ali que os milhões de reais trafegam. É por ali que os milhões de dólares
circulam.
Vejam bem. Não vamos muito longe.
Lembremos apenas do último depoimento. O do delator da JBS. Segundo o delator,
não sou eu que estou afirmando, mais os brasileiros assistiram na TV, o mesmo
saiu distribuindo dinheiro a rodo, sem a menor cerimônia ou sem medo de
qualquer fiscalização. Disse o delator da JBS em letras garrafais e amplamente
divulgada que deu 20 milhões de reais a um; 150 milhões de dólares a outros; 60
milhões a um outro; 30 milhões para mais um; foi mala de dinheiro pra lá e pra
cá; foi dinheiro em carro e em aeroporto; teve deputado que pediu 150 milhões
pra comprar 30 deputados, cada qual, a 5 milhões, como se fosse uma mercadoria.
Enfim, foi um verdadeiro festival de dinheiro, e a Receita Federal, cega como
sempre quando as coisas envolvem a elite brasileira, nada viu, ou fez que nada
viu e que não era com ela.
O interessante a observar é que este
não oi um fato isolado, muito pelo contrário, esta é uma relação promiscua que
vem rolando há anos, desde a década de 70, que passa pela OAS (empresa
conhecida na época de ACM, como Obras Autorizadas pelo Sogro, em razão da
empresa ter como sócio majoritário um genro de ACM); vai até a Odebrecht, com
seu crescimento meteórico naquela década e continua com as demais empreiteiras
conhecidas e envolvidas na Lava Jato, as quais em sua maioria surgiram e
cresceram de forma extraordinária, exatamente no período da ditadura militar. E
como disse o delator da Odebrecht, este já era um fato corriqueiro nas
licitações, já naquela época.
Mesmo sendo uma relação promíscua
iniciada lá atrás, há muitos anos e de forma rotineira e continuada,
estranhamente os computadores da Receita Federal e seus técnicos, volto a
afirmar, qualificados, nada descobriram ou detectaram ao longo de tanto tempo.
Sem querer entrar no mérito, mais não seria estranho, um homem público, ficar
milionário da noite para o dia, exercendo unicamente a atividade de
parlamentar, prefeito, governador, vereador ou secretario de governo, seja no
âmbito estadual ou municipal, quando eles mesmo dizem que o salário não
compensa o sacrifício, e todos sabem que os vencimentos recebidos, quando
somados, não daria para adquirir, talvez a casa que reside?
Não é estranho que um candidato a
prefeito, por exemplo, gaste R$ 1 milhão para sua campanha, quando o salário do
prefeito seria de R$ 15 mil mensal. Ora, o cálculo é simples 15 mil x 48 meses
= R$ 720.000,00. Este seria o seu faturamento, não? Portanto ainda ficaria
devendo R$ 280.000,00. Mais em lugar de sair com saldo devedor, pelo contrário,
de homem de classe média, deixa o governo milionário. Não deveria ser alvo de
uma fiscalização? Como é que um governador que ganha R$ 25 mil reais consegue
comprar um apartamento de R$ 4 milhões de reais? Não tem conta de chegar que
pague este investimento. Só a Receita não detecta. E por aí vai.
O mais estranho ainda, é que mesmo
diante de todos estes escândalos, em nenhum momento a Receita Federal se sentiu
na obrigação de vir a público para esclarecer o porque de tamanha falha em sua
fiscalização. Afinal os seus funcionários são servidores públicos, portanto
pagos pela população brasileira a quem deveriam dá satisfação dos seus atos.
Mais não estão nem aí. Estão apenas preocupados em arrochar a classe média. Mas
elites, ah as elites, estas eles tratam como meus senhores. É a relação de
senhorio e vassalos.