Quarta-feira,
02 de dezembro de 2015. Um deputado com
mania de Imperador ergue a sua panela as margens do mar de lama que rodeia a
sua reputação e solta o paranoico brado retumbante: Independência ou golpe?! E
assim foi proclamada a república golpista do Brasil, cuja bandeira, além de um
tucano careca e cansado como símbolo, traz os dizeres: “Somos todos golpistas.”
Dom
Cunha 171 decidiu romper com a democracia e instituir a Eduardocracia. Quem não
estiver ao seu lado ou ceder as suas chantagens, está contra. E se está contra,
ele faz de tudo para derrubar. Curioso é que, graças ao processo democrático
ele se elegeu deputado e mesmo com todas as provas já expostas de que ele é um
corrupto de carteirinha, ele ainda permanece exercendo o seu mandato e
presidindo a câmara dos deputados. Provas essas que não são suficientes, ou até
mesmo inexistem, para legitimar o processo de abertura de impeachment contra a
presidente Dilma. Não que ela seja um anjo de candura. Está longe disso. Mas
para condenar é preciso provas concretas.
Não
vou entrar no campo técnico da política porque não estou apto para isso, mas
gostaria de chamar a atenção da população para alguns aspectos e situações
simples que envolvem todo esse processo de fritura da atual presidente e
consequentemente do seu partido. E que talvez nos permita compreender um pouco
do que realmente está por trás disso tudo. Quando as panelas começaram a bater
nas varandas gourmets de alguns membros da elite, o argumento era de que se
clamava por justiça e pelo fim da corrupção. Pois bem! A indignação do “povão”
cresceu, as varandas e sacadas dos apartamentos nos jardins ficaram pequenas
para abrigar tamanha sede de justiça e o som das panelas foi parar nas ruas do
país, como numa espécie de festa temática, que bem poderia ser batizada de
“Coxinhas Part y”.
Manifestantes
de origem pobre, que comprometeram a sua “bolsa família” para comprar a camisa
da seleção brasileira de futebol por R$ 300,00 para serem bem aceitos nos
protestos, se uniram a elite num só grito contra o comunismo petista que estava
destruindo o que antes era um país de Alice, cheio de maravilhas, políticos
honestos e sonhos encantados. Negros e brancos assalariados participaram
ativamente na linha de frente dessas manifestações e eram mostrados com
destaque pela mídia patrocinadora do evento. Eles de certo protestavam contra
os “privilégios” das cotas sócio-raciais e outras políticas de afirmação social
que o governo vermelho e malvado instituiu e os deu maior visibilidade,
irritando assim a elite historicamente mal acostumada a deter tudo o que é de
melhor na sociedade. Qualquer ironia nesse parágrafo, não é mera coincidência.
Cachorrinhos
e suas madames desfilavam pela Av.Paulista e por outras avenidas a beira mar,
dividindo o mesmo champanhe e comendo do mesmo caviar, como prova de igualdade
social. Os óculos escuros, importados e das mais variadas griffes, escondiam as
lágrimas de dor e sofrimento daquele povo que agora sentia o seu poder e o seu
status ameaçados pela corja populista que insistia em contrariá-los e continuar
concedendo alguma coisa aos que nada tinham. As bolsas Chanel guardavam as
panelas bem areadas pelas mãos daqueles que eles sempre julgaram inferiores
para ter direitos iguais aos deles, mas superiores na arte de esfregar o seu
chão e servir a sua mesa. A cada dez passos de exaustiva caminhada por justiça,
debaixo do sol escaldante dos trópicos, um gole na garrafinha de água perrier,
repunha as energias. E a luta continua.
A
luta foi tão intensa, que eles se cansaram de protestar e deixaram as panelas
de lado quando as contas secretas na Suíça, de propriedade do novo herói da
república foram descobertas. As panelas também não bateram quando o governo do
PSDB surrava os Professores em praça pública no Paraná. As panelas também se
omitem quando estudantes paulistas entre 12 e 16 anos são espancados pela
polícia de outro governo tucano, apenas por estarem lutando pelo direito de
estudar. Pensando bem, nunca ouvimos o som dessas panelas protestando contra o
salário mínimo, contra o racismo, contra a desigualdade social, contra a
pobreza extrema. As varandas também não se manifestaram contra um helicóptero,
que transportava um pó de origem suspeita, e que pousou no território do
candidato a salvador da pátria, escolhido pela m esma elite como o restaurador
da ordem e da paz no País.
Ao
que parece os apoiadores do golpe só erguem as suas panelas quando lhes convém.
Não importa se o indivíduo é corrupto ou ladrão. Desde que este esteja disposto
a tirar o PT do poder, os seus pecados estão perdoados. É a glamorização da
corrupção. É a tradição que precisa ser mantida. Desde o império a elite pode
tudo. O sobrenome se sobrepõe a lei. Não defendo esse ou aquele partido. Não
ponho a minha mão no fogo por esse ou aquele político. Mas é preciso raciocinar
um pouco. O povo tem direito de pensar e chegar as suas conclusões sem
interferências. A mídia golpista terá um papel importante nesse processo de
impeachment. A manipulação será grande. É preciso estar atento e forte.
Proponho
alguns questionamentos. Ainda que as provas tivessem sido suficientes contra
ele, você acredita mesmo que foi o povo com a carinha pintada que tirou o
Fernando Collor do poder? Depois do seu impeachment a corrupção acabou? Você
acredita que veremos caras pintadas nas ruas nesse novo processo? Você acha que
a elite, maior interessada no impeachment da Dilma, vai querer estragar a sua
cútis tratada com água de coco, com tinta guache? E se a Dilma sair o que vai
melhorar para você? Quem assumir o poder vai mudar tudo para melhor da noite
para o dia? A corrupção vai acabar? Você
quer um impeachment por convicção ou por pirraça, pelo fato de não ir com a
cara da presidente? Você quer um país mais justo ou quer perpetuar a política
do “Bom xibom xibom bombom”, onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada
vez fica mais pobre? A quem interessa esse golpe na democracia?
O
novo imperador conseguiu chegar às margens do mar da sua loucura pelo poder e
dar o seu grito. Mas se ele der mais um passo a frente, se afogará no mar de
lama que o cerca. Eu acho que a derrota dos golpistas será mais vergonhosa do
que os 7x1.
Gol
da Alemanha!
Neggo
Tom: Cantor e compositor. É pobre, detesta doença e mais ainda camarão
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