Angola: UNITA
desafia MPLA a marcar debate das autarquias em 30 dias
O
grupo parlamentar da UNITA, maior partido da oposição em Angola, desafiou esta
quinta-feira (27.04) o MPLA, no poder, a agendar nos próximos 30 dias a
discussão do pacote autárquico para a implementação das autarquias locais.
A
proposta foi expressa pelo líder da bancada parlamentar da União Nacional para
a Independência Total de Angola (UNITA), Liberty Chiaka, em conferência de
imprensa para apresentar a posição do partido face ao convite público de
diálogo formulado pelo grupo parlamentar do Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA).
Segundo
Liberty Chiaka, há uma semana o líder da bancada do MPLA convidou os angolanos
a refletirem sobre a necessidade de se institucionalizarem mecanismos de
diálogo inclusivo nos vários níveis e segmentos da vida nacional, não apenas em
relação ao funcionamento das instituições, mas também, sobretudo, nos circuitos
informais de captação da vontade popular e da perceção popular sobre os
diversos fenómenos sociais, económicos, políticos e culturais que formam o
ambiente nacional dos angolanos.
Liberty
Chiaka frisou que o convite contém aspetos que reputam de "muito
positivos" e outros que "encerram alguns equívocos que requerem um
posicionamento público do grupo parlamentar da UNITA".
"Finalmente,
o MPLA decidiu associar-se ao desejo genuíno da maioria dos angolanos",
disse o líder parlamentar, considerando que "a fuga ao diálogo impactou o
retrocesso do Estado democrático de Direito", nomeadamente o encerramento
do mecanismo bilateral de concertação política entre o Governo e a UNITA depois
das eleições de 2008.
• Diálogo? MPLA "furtou-se", diz
UNITA
"Quem
na Assembleia Nacional tem fugido ao debate de questões urgentes, necessárias,
relevantes e de interesse público?", questionou o líder do grupo
parlamentar da UNITA, citando casos de rejeição a pedidos como comissões
parlamentares de inquérito à dívida pública, ao fundo soberano, à gestão da
petrolífera estatal Sonangol ou à gestão do ex-BESA (Banco Espírito Santo de
Angola) e ao BPC (Banco de Poupança e Crédito).
O
político questionou igualmente quem abandonou o diálogo na Assembleia Nacional
sobre a proposta de Lei sobre a Institucionalização das Autarquias Locais.
"Quem
defende o diálogo inclusivo, aberto, honesto tem que ter consciência destas
manifestações de falta de diálogo, quem defende o diálogo faz justiça, não
partidariza o poder judicial, quem defende o diálogo faz um combate sério e
abrangente da corrupção e não de maneira seletiva", frisou.
De
acordo com Liberty Chiaka, a UNITA sempre defendeu o diálogo e manifestou
disponibilidade, "ao contrário do MPLA, que sempre se furtou e se escudou
na maioria qualificada e neste caso na maioria absoluta".
• "Basta de conversas"
Liberty
Chiaka disse que o grupo parlamentar da UNITA identificou no convite do grupo
parlamentar do MPLA três elementos positivos para a construção do futuro,
nomeadamente o reconhecimento implícito de que o curso do aprofundamento da
democracia no país havia sido abandonado e precisa de ser retomado.
"E
o partido no poder está disponível agora para, aos poucos, por via do diálogo
inclusivo, retomar o curso do aprofundamento da democracia", realçou.
Para
o grupo parlamentar da UNITA, não há necessidade de se institucionalizar mais
ou novos mecanismos de diálogo de concertação social para a captação da vontade
popular e da perceção popular sobre os diversos fenómenos sociais, económicos,
políticos e culturais, "há que utilizar os mecanismos existentes".
"Basta
de conversas sobre as autarquias, é preciso agir, para fazer acontecer de
facto", disse o deputado.
A
realização das primeiras eleições autárquicas tinha sido apontada para o ano
2020, mas foi adiada, sem nova data, dependente da finalização da aprovação do
pacote legislativo autárquico.
Escândalos na Justiça angolana: "Vai
de mal a pior"
Em
Angola, a justiça "vai de mal a pior", afirma José Gama, diretor do
portal de notícias ClubK. Como exemplo, o jornalista apresenta as constantes
polémicas envolvendo o Tribunal Supremo. José Gama é ainda de opinião que o
Presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, deveria ser demitido o mais
rádipadmente possível, tendo em conta os sucessivos escândalos e casos de
corrupção, envolvendo Joel Leonardo e até alguns dos seus familiares.
As
autoridades judiciais angolanas deram conta que uma das contas do Tribunal
Supremo domiciliada no banco BCI estará a registrar movimentações a serem
feitas a partir de Portugal.
LEIA
A ENTREVISTA:
• Como está a situação do presidente do
Tribunal Supremo?
José
Gama (JG): O presidente do Tribunal Supremo está a ser investigado por práticas
de corrupção, necessariamente por haver indícios de crimes de peculato que
terão ocorrido no tribunal que ele dirige. E havia uma sobrinha, que até
determinada altura funcionava como responsável das finanças e da administração,
e esta foi para Portugal e está foragida da justiça. Ela tem em sua posse um
cartão de crédito de uma das contas do Tribunal Supremo no Banco BCI e tem
feito algumas movimentações bancárias com este cartão.
• E essa senhora está também a ser
investigada?
JG:
Esta senhora deve também ser investigada pela justiça, aliás está a ser
investigada, porque há um relatório que a PGR envia para o Presidente da
República e que cita também ela como uma das pessoas que têm acesso às contas
do Tribunal Supremo. Ela, João Leonardo e uma outra funcionária que agora exerce
o papel de diretor das Finanças, Fátima Ferreira.
• O presidente do Supremo, Joel Leonardo,
é, no entanto, o máximo responsável por esses desvios, certo?
JG:
João Leonardo é praticamente o único titular de cargo público em Angola que
assina as contas da instituição. E os juízes, conforme manda a lei, não devem
praticar atos de gestão. A gestão dos tribunais é feita por um
secretário-geral. Portanto, estamos aqui perante uma infração cometida pelo
presidente da Corte Suprema angolana.
• O facto de Joel Leonardo ainda não ter
sido demitido prova que a justiça e o sistema judicial em Angola não funcionam?
JG:
Nós temos um regime autocrático em que o poder é concentrado num pequeno grupo
ou numa só pessoa. É a cultura dos líderes angolanos concentrarem todos esses
poderes, procuram controlar o aparelho judicial e com este controlo limitar o
funcionamento do aparelho de justiça em Angola. Portanto, as hipóteses são
reduzidas, portanto, tem de haver um aparelho de justiça a funcionar em pleno
nesta legislatura. Pelo contrário, estamos a ver aqui é o partido no poder a
procurar ter o controlo de pessoas a dirigir os tribunais que sejam da
confiança política. Com isso, limita o funcionamento das instituições judiciais
e também afeta a credibilidade destes homens.
• Na sua ótica, a justiça em Angola tem
hipóteses de vir a funcionar melhor ainda nesta legislatura?
JG:
Não acreditamos que com esta legislação o Presidente da Républica possa salvar
a justiça do descrédito em que ela está. Estamos num quadro de descrédito e era
importante o Presidente convidar João Leonardo a demitir-se em honra da imagem
e credibilidade do Estado angolano.
Guiné-Bissau precisa de 3,5 milhões de
dólares para eleições
A
Guiné-Bissau precisa de 3,5 milhões de dólares para viabilizar as eleições
legislativas de 4 de junho e aguarda que a comunidade internacional mobilize
este valor, disseram à agência de notícias Lusa fontes ligadas ao processo
eleitoral.
Fontes
do Governo guineense admitiram à Lusa a existência "desse défice",
mas lembraram "o esforço do país" que permitiu suportar, até aqui,
70% de todo o financiamento estimado para a realização de eleições.
Na
segunda-feira (24.04), o Governo, representado pelo vice-primeiro-ministro,
Soares Sambu, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e parceiros internacionais
debateram, num comité de pilotagem ao processo eleitoral, a questão do défice
do orçamento e solicitaram ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) que contacte a comunidade internacional no sentido de mobilizar e
disponibilizar os 3,5 milhões de dólares (cerca de 3,18 milhões de euros).
Fontes
do processo eleitoral indicaram à Lusa que o PNUD alertou para a dificuldade em
mobilizar aquele valor "em curto espaço de tempo", mas prometeu
contactar os parceiros internacionais da Guiné-Bissau no sentido de se
encontrar um mecanismo que possa viabilizar as eleições.
Solução
pode passar por Portugal
As
mesmas fontes precisaram à Lusa que um dos mecanismos em análise foi solicitar
a Portugal que avançasse com 3,5 milhões de dólares, como parte dos cinco
milhões de euros que Lisboa anunciou como apoio orçamental à Guiné-Bissau nos
próximos três anos.
Uma
fonte da comunidade internacional admitiu à Lusa que o Governo guineense não
coloca objeção a este mecanismo desde que seja aprovado por Portugal.
Assim
que os parceiros desembolsarem os apoios prometidos para aseleições
legislativas guineenses, o PNUD reporia os 3,5 milhões de dólares avançados por
Portugal, explicou a mesma fonte.
O
argumento do PNUD é de que "tecnicamente é impossível" mobilizar os
3,5 milhões de dólares tendo em conta a data das eleições, 4 de junho, e os
atos prévios que devem ser custeados.
Materiais
a caminho
Fonte
do Governo guineense observou que o cronograma eleitoral "ainda não está
em causa", frisando que ainda esta quinta-feira (27.04) os cadernos
eleitorais foram entregues pelo Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral
(GTAPE) à Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que Portugal vai enviar
"brevemente" alguns materiais para o dia da votação.
Como
tem sido hábito nas eleições democráticas na Guiné-Bissau, Portugal
disponibiliza boletins de voto, frascos de tinta indelével, formulários de ata
síntese, entre outros materiais. A mesma fonte adiantou que, por outro lado, o
PNUD já mandou encomendar, na Dinamarca, as urnas e as cabines de voto e que
aqueles materiais deverão chegar à Bissau "proximamente".
O
PNUD e o Governo da Guiné-Bissau assinaram em março o Projeto de Apoio ao
Ciclos Eleitorais, para o período entre 2023 e 2025, no valor de 5,3 milhões de
euros.
As
eleições legislativas da Guiné-Bissau estão orçadas em 7,9 mil milhões de
francos cfa (cerca de 12 milhões de euros), segundo o ministro das Finanças
guineense, Ilídio Té. De acordo com o ministro, até ao início de fevereiro, o Estado
guineenses já tinha disponibilizado 5,7 mil milhões de francos cfa (cerca de
8,6 milhões de euros).
No
início de janeiro, o ministro da Administração Territorial, Fernando Gomes,
tinha afirmado que o Governo guineense já tinha financiado 70% do valor do
orçamento para a realização das eleições legislativas, esperando que os
restantes 30% fossem apoiados pelos parceiros internacionais.
Fonte:
Deutsche Welle
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