Noblat: Quando você
pensa já ter visto tudo, o bolsonarismo o surpreende
Distinga
a extrema-direita fanática, radical e golpista da direita que muitos chamam de
civilizada, que abriga conservadores e liberais. No Brasil, muitas vezes, as
duas andaram juntas. Foi assim quando Getúlio Vargas, para não ser deposto,
matou-se.
Foi
assim 10 anos mais tarde com o golpe militar que derrubou o presidente João
Goulart e só permitiu sua volta ao país dentro de um caixão. Foi assim em 2018
para eleger Bolsonaro e derrotar Fernando Haddad, de vez que Lula estava preso
e fora da disputa.
Feita
a distinção, lembre-se de bolsonaristas ajoelhados sob chuva à porta de
quarteis, alguns a reverenciar tanques e até pneus, outros a gritarem
“autorizo” a um golpe para anular o resultado das eleições, e um a tentar deter
um caminhão em alta velocidade.
Se
você pensou já ter visto tudo, saiba que verá muito mais quando a CPI do Golpe,
finalmente, começar; pelo menos a levar-se em conta o que aconteceu, ontem,
durante audiência no Senado que ouviria o ministro Silvio de Almeida, dos
Direitos Humanos.
O
senador Eduardo Girão (NOVO-CE), bolsonarista de quatro costados, tentou
entregar ao ministro uma réplica de plástico de um feto de 12 semanas. Almeida
negou-se a receber e disse que o gesto era uma performance inaceitável. Deu-lhe
um duro carão:
“Com
todo respeito, é uma exploração inaceitável de um problema muito sério que temos. […] Respeitando o
seu cargo, eu não vou aceitar, eu sou um homem sério e acredito que o senhor
também seja. Vou ser pai de uma menina”.
A
plateia levantou-se e aplaudiu Almeida. Girão não se abalou com isso. Uma
assessora o filmava. E ele postou o vídeo nas redes sociais com a seguinte
mensagem:
“Desprezo
pela vida? Ministro de Lula recusa réplica de bebê com 12 semanas, símbolo de
defesa da vida. Na campanha, Lula fez uma carta aos cristãos se comprometendo
com a vida plena em todas as fases. Mas seu governo é favorável ao aborto.”
O
senador bolsonarista enrustido Sérgio Moro, que saiu do armário ao despir a
toga para servir a Bolsonaro, ameaçado de demissão por ele voltou ao armário,
de onde saiu novamente para apoiá-lo no segundo turno, elogiou o gesto de
Girão:
“Não
entendi o argumento do ministro de Lula de que a entrega da réplica de um feto
seria ofensiva. Era um argumento contra o aborto. Tempos atrás, recebi uma
réplica igual do Senador, pessoa, aliás, muito educada. Minha solidariedade ao
Senador.”
Foi-se
o tempo que no Senado a direita era representada por figuras do porte de
Teotônio Vilella, Eunice Michilles, Jarbas
Passarinho, José Sarney, Murilo Badaró, Saldanha Derzi, Nilo Coelho, Petrônio
Portella, Amaral Peixoto e Roberto
Campos.
Por
ela, hoje, falam Dr. Hiran, Professora Dorinha, Damares Alves, Magno Malta,
Romário (que não fala), o indigitado Sérgio Moro, Hamilton Mourão, Marcos do
Val, Eduardo Girão e outros do mesmo naipe. Na Câmara dos Deputados é muito
pior.
O
ex-presidente americano Barack Obama perguntou um dia:
“Nós
fazemos uma política do cinismo ou uma política da esperança?”
À
parte o cinismo, a política que vemos por aqui, mas não só por aqui, é a do
empreendedorismo que beneficia acima de tudo os donos de mandatos. Danem-se os
que os elegeram.
Ø
Vídeo
de Bolsonaro nos EUA não mostra doença que teria provocado uso de remédios e
fake News
Em
depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira (26), a defesa
do ex-presidente Jair Bolsonaro alegou que estava sob efeito de
medicamentos quando postou um vídeo questionando o resultado das urnas
eletrônicas após as eleições de 2022.
O
motivo da medicação seria uma erisipela em sua perna. A doença causada por uma
infecção causa dores fortes e parte do tratamento envolve o uso de analgésicos
fortes, como morfina.
A
divulgação da doença foi feita, à época, pelo filho do presidente, Carlos
Bolsonaro, em uma foto no Telegram. O ferimento, que parecia extremamente
grave, contudo, não apareceu nas pernas de Bolsonaro em um vídeo postado três
semanas depois, na Flórida.
O
vídeo questionando a eleição de Lula foi postado e apagado no dia 11 de
janeiro, quando a perna de Bolsonaro já estava normal e sem ferimentos.
"Sobre
esse post, tanto a postagem foi acidental que ele não fez nenhum comentário e
apagou logo na sequência. Presidente quando saiu de férias, ele tratou a
eleição como página virada. Então, em momento algum você vai encontrar alguma
declaração dele declinando que a eleição tenha sido fraudada. Em momento algum
isso é falado", afirmou o advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, no dia
de hoje.
"O
presidente repudiou na noite do 8 todos os acontecimentos lamentáveis que
ocorreram aqui em Brasília. Fim da eleição, o presidente virou a página
política dele, o presidente enfrentou um processo de erisipela [doença de pele]
severo, o presidente não recebeu pessoas no Palácio, o presidente não articulou
politicamente, o presidente se fechou e no [dia] 30 viajou para os EUA, onde
permaneceu até o fim de março", completou o advogado.
·
Doença não apareceu em vídeo de Bolsonaro nos EUA
A
foto publicada no Telegram de Carlos Bolsonaro exibia ferimentos graves na
perna do então presidente:
Em
3 de janeiro, um vídeo mostra a perna de Bolsonaro sem o ferimento grave
divulgado pelo filho anteriormente.
A
informação divulgada pelo ex-ministro e advogado de Bolsonaro, Fabio
Wajngarten, se deu no âmbito do inquérito que apura os responsáveis pelos atos
golpistas de 8 de janeiro. A publicação foi incluída na investigação e, por
isso, o ex-presidente está sendo investigado.
Ø
Bolsonaristas
cotados para CPMI foram “engolidos” por ministro de Lula
Os
deputados bolsonaristas cotados para participarem da CPMI dos atos golpistas
não tiveram uma boa experiência num primeiro confronto com governistas.
Os
parlamentares do PL André Fernandes (CE), autor do requerimento de criação da
comissão, e Delegado Ramagem (RJ), ex-chefe da Abin com Jair Bolsonaro, são
apontados como favoritos para serem indicados à CPI, junto com Eduardo
Bolsonaro (RJ).
Fernandes
e Ramagem já foram “engolidos” numa audiência pública pelo ministro Flávio Dino
(Justiça), em 28 de março, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da
Câmara.
Fernandes
foi alvo da crítica e da ironia de Dino ao dizer que, com base no Jusbrasil,
site com informações jurídicas sobre as pessoas, que o ministro respondia a 277
processos.
O
ministro explicou a ele que esse site registra nomes de quem pediu direito de
resposta, de quem registrou candidatura e de quem foi testemunha num processo,
entre outros motivos. E afirmou:
“É
um piadista. Eu sou professor de direito e vou contar isso aos meus alunos como
uma anedota. O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias” – disse Dino ao
bolsonarista, provocando risos entre os governistas.
Ramagem
foi questionar o ministro sobre sua ida ao Complexo da Maré no Rio, e insinuou
que ele teria ido ao local após um acordo com uma “organização criminosa”. O
ministro rebateu:
“Eu ouvi um deputado, acho que foi esse senhor
aqui, Ramagem, dizendo que só é possível entrar lá com autorização do tráfico e
não sei o quê. Eu não tenho acordo com facção criminosa. O senhor me respeite.
E não há contrapartida do Ministério da Justiça a nenhuma facção criminosa.
Basta o senhor olhar os fatos. E eu acho que, como policial, o senhor deve
tratar de fatos”.
E
complementou:
“Um
deputado reclamou que às vezes eu faço uma piada ou outra. É a forma de me
defender de ofensas gravíssimas”.
Os
deputados do PL criticaram Dino e disseram que ele os desrespeitou e foi
irônico nas respostas.
Ø
Exército
ordenou que policiais “não tocassem em barracas” no QG, diz coronel da PM a CPI
Em
depoimento na Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) da Câmara
Legislativa,
a coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Cíntia Queiroz detalhou que o
Exército protegeu os bolsonaristas que estavam acampados em frente ao
Quartel-General de Brasília. “Não era permitido tocar nas barracas”, afirmou
Cíntia.
A
CPI investiga os atos antidemocráticos de 12 de dezembro e 8 de janeiro. Cíntia
Queiroz é subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança
Pública do DF (SSP-DF) e participou de ações no QG, que, segundo ela, não
acabaram com a desmobilização do ato golpista devido às ordens do Exército.
“Por
três vezes o Comando Militar do Planalto solicitou apoio para retirada do
comércio ambulante. A gente tinha expectativa, quando chegava nas reuniões, que
era para retirar o acampamento, mas eles diziam que era para retirar o comércio
ilegal. Não era permitido tocar nas barracas, na cozinha coletiva, na tenda
religiosa. A orientação que a gente tinha era essa”, detalhou.
Cíntia
ressaltou que era desejo do governador Ibaneis Rocha (MDB) e do então
secretário de Segurança Pública, Júlio Danilo, a retirada do acampamento, mas
houve dificuldade por parte da PM, por se tratar de uma área do Exército.
“Foram
feitas três tentativas de retirada. O movimento crescia, havia preocupação do
governador e do secretário, todo mundo queria retirar o acampamento, mas era
área do Exército, a gente precisava de autorização do Comando Militar do
Planalto.”
Em
nota à reportagem, o Exército afirmou que “os fatos estão sendo apurados por
parte das autoridades competentes”. “A Instituição segue à disposição dos
Órgãos que esclarecem os acontecimentos, a fim de contribuir com as
investigações em curso, sendo que quaisquer informações solicitadas serão
prestados exclusivamente aos mesmos”.
A
coronel Cíntia foi responsável por elaborar o Protocolo de Ações
Integradas (PAI) da
SSP sobre atos contra o resultado das urnas, marcados para os dias 7, 8 e 9 de
janeiro. Em março, ela foi indiciada pela
Corregedoria da
PMDF em um dos cinco inquéritos que apuram a conduta de militares no dia 8.
O Metrópoles mostrou que protocolos
de ações elaborados pela SSP antes de manifestações em Brasília apontavam
um planejamento mais
firme contra atos LGBTs, passeata estudantil e Marcha da Maconha do que na
contenção de protestos antidemocráticos. Orientações sobre a dimensão das
ameaças e a condução de possíveis presos, por exemplo, não aparecem no PAI
anterior à tentativa de golpe de janeiro.
Em
depoimento à Polícia Federal, que também investiga possíveis omissões ou
conivência de autoridades diante dos atos antidemocráticos, Cíntia disse que a
PMDF agiu de forma
atípica ao não elaborar planejamento próprio para a manifestação que
culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, além do PAI da
SSP, avaliando isso como algo “raro”.
A
subsecretária contou à PF que cabia à Polícia Militar do DF, por meio de
planejamento próprio, reforçar o policiamento ostensivo e empregar tropas
especializadas. O Departamento de Operações seria o responsável por esse
serviço.
Fonte:
Metrópoles/Fórum
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