domingo, 4 de junho de 2023

PF identifica funcionário comissionado do MEC em esquema de kit robótica

A Polícia Federal identificou um funcionário do MEC (Ministério da Educação) suspeito de participar do suposto esquema criminoso de compra de kits de robótica de uma empresa ligada ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

Os policiais cumpriram na quinta-feira (1º) mandados de prisão e de busca e apreensão contra investigados no caso.

Um dos alvos da apuração é o funcionário comissionado do MEC Alexsander Moreira. As autoridades identificaram movimentações financeiras suspeitas de R$ 737 mil, sendo parte do valor depositada em espécie, entre outubro de 2021 e novembro de 2022.

O caso teve origem em reportagens da Folha publicadas em abril do ano passado sobre as aquisições em municípios de Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa, a Megalic, pertencente a aliados de Lira. Um dos principais assessores do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante foi alvo da operação.

No governo Jair Bolsonaro (PL), o funcionário do MEC Alexsander Moreira era coordenador-geral de Apoio às Redes e Infraestrutura Educacional. A área tem atuação no sistema de transferências de recursos por onde saiu o dinheiro para os kits, o chamado PAR (Plano de Ações Articuladas). Os recursos eram geridos pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão ligado à pasta.

Moreira subiu de cargo no governo Lula (PT). Desde fevereiro, ele responde pela diretoria de Apoio à Gestão Educacional, dentro da Secretaria de Educação Básica do MEC.

Após questionamento da Folha, o MEC informou que "determinou o afastamento imediato do servidor comissionado supostamente envolvido e que irá colaborar prontamente com as investigações em curso".

A reportagem procurou Moreira, mas não obteve resposta. Lira nega envolvimento em irregularidades.

Em nota assinada pelo advogado Eugênio Aragão, a defesa da Megalic afirmou haver "grave equívoco" nas suspeitas e que todos os contratos se deram a partir de parâmetros técnicos do Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, com processo licitatório e ampla competitividade.

A nota diz que o Tribunal de Contas da União não viu direcionamento nem preços incompatíveis e que a reportagem da Folha que deu origem à investigação fez comparação indevida dos produtos da Megalic com kits de qualidade inferior.

O TCU, porém, concluiu em abril deste ano que houve fraude nos processos de compras de kits de robótica e suspendeu os contratos para esse fim.

As reportagens da Folha levantaram preços em diversas fontes (licitações, empresas, sites de vendas e especialistas do ramo), mostrando diferentes equipamentos, inclusive robôs considerados de ponta no mundo, como os da Lego, todos mais baratos.

Sempre com cargos comissionados, Alexsander Moreira está na pasta desde 2016. Antes disso, ele trabalhou por dois anos na empresa Pete, a fornecedora dos equipamentos robóticos para a Megalic.

Moreira tem ligação com outros dois investigados que também trabalharam na Pete. Uma delas é atualmente funcionária da Megalic.

O agora ex-funcionário do MEC recebeu três depósitos de um homem cuja empresa foi representada por Edmundo Catunda, sócio da Megalic e com estreita proximidade com Lira. A Megalic sempre negou irregularidades, mas não respondeu a novos questionamentos após a operação da PF.

Alexsander Moreira foi quem assinou uma nota técnica do MEC para subsidiar resposta do FNDE aos questionamentos do TCU (Tribunal de Contas da União), realizados após a publicação das reportagens da Folha. Um dos pontos questionados pelo tribunal foi o preço base de R$ 176 mil para cada solução de robótica (que inclui os robôs, material didático e treinamentos).

Esse valor constava dentro do PAR, o sistema do FNDE por meio do qual prefeituras realizam demandas de compras com dinheiro federal. Apesar disso, o governo não tem ata de registro para esse tipo de compra.

As prefeituras adquiriram os kits a partir de concorrências realizadas nos municípios e que tinham a Megalic como vencedora. Nessas atas constavam o mesmo valor de base, de R$ 176 mil.

A nota técnica assinada por Moreira defendeu os valores incluídos no PAR. O TCU, por sua vez, não identificou a existência de documentos capazes de fundamentar o preço.

Desde que entrou no MEC, Moreira lida com o tema de robótica educacional na pasta. Ele teve participação em uma tentativa da pasta de definir uma ata para compra desses equipamentos, em 2018, mas que acabou não vingando.

O tribunal suspendeu de modo cautelar, em abril de 2022, os pagamentos para compras de kits. No julgamento final, já neste ano, o órgão autorizou o pagamento apenas de materiais já entregues em contratações realizadas até abril passado.

Em nota, o MEC também afirmou que o FNDE já havia suspendido os repasses para aquisição dos kits, "notificado estados e municípios beneficiados", e que está tomando as providências recomendadas pelo TCU. "O FNDE, nesta semana, também firmou acordo de integridade junto à Controladoria-Geral da União", diz o texto.

A PF investiga possíveis fraudes que podem ter gerado prejuízo de R$ 8,1 milhões. A corporação cumpriu 26 mandados de busca e dois de prisão temporária.

"De acordo com a investigação, as citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes", disse a PF em nota.

Imagens de divulgação da operação mostram a apreensão de um cofre superlotado com dinheiro (ao menos R$ 4,4 milhões) de um dos alvos da investigação.

A gestão Bolsonaro também defendeu não haver problemas --no governo passado, o controle do FNDE foi entregue a indicados por políticos do centrão, controlado por Lira.

Em abril de 2022, a Folha mostrou que o governo Bolsonaro destinou, até aquele momento, R$ 26 milhões de recursos do MEC para a compra de kits de robótica para escolas de pequenas cidades de Alagoas que sofrem com uma série de deficiências de infraestrutura básica, como falta de salas de aula, de computadores, de internet e até de água encanada.

Enquanto municípios desembolsaram R$ 14 mil por cada robô educacional, com dinheiro do governo federal, nota fiscal obtida pela Folha mostrou que a Megalic adquiriu unidades por R$ 2.700 de um fornecedor do interior de São Paulo. A Megalic não produz os equipamentos.

 

       PF chegou a assessor de Lira ao seguir casal que fazia entregas em dinheiro vivo

 

A Polícia Federal chegou a Luciano Ferreira Cavalcante, ex-assessor de Arthur Lira (PP-AL), após seguir um casal de Brasília, que estaria desviando verba por meio da empresa Megalic, que recebia dinheiro de contratos de kits de robótica assinados no governo de Jair Bolsonaro (PL). As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

O casal foi preso nesta quinta-feira, 1º, na operação que também fez buscas contra Luciano Cavalcante.

Através das transações da Megalic, a PF chegou até o casal, descobrindo uma intensa movimentação de saques em espécie em agências bancárias e posteriores entregas. A investigação trabalha com a hipótese de que os valores tivessem agentes públicos como destino.

Entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, a polícia acompanhou e filmou ao menos dez idas do casal a agências bancárias e entregas de valores em Brasília, cidades próximas e em Maceió.

Em janeiro, a PF flagrou o veículo usado por esse casal na capital de Alagoas. Ao investigar o veículo, os agentes descobriram que o carro estava em nome de uma pessoa, mas era utilizado e ficava na residência de Cavalcante e sua esposa, Glaucia.

Nesse episódio do flagra, a PF acompanhou o casal de operadores de Brasília indo até a casa do então assessor de Lira. Glaucia foi filmada dirigindo o veículo com os dois durante deslocamentos em Maceió.

A defesa de Cavalcante disse que analisa os fatos, mas que "as simples imagens mencionadas não demonstram qualquer atividade ilícita do investigado", afirmou o advogado André Callegari.

A Megalic, empresa que fornecia os kits, funcionava em uma pequena casa no bairro de Jatiuca, em Maceió. A empresa não produz os kits de robóticas, sendo apenas uma intermediária e tendo fechado contratos milionários de ao menos R$ 24 milhões.

A Megalic está em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD).

•        Operação

A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta quinta-feira, 1, a Operação Hefesto para aprofundar a investigação sobre um esquema de fraudes em licitações de 43 municípios de Alagoas. O prejuízo estimado até o momento é de R$ 8,1 milhões, mas os investigadores que o rombo nos cofres públicos pode ser maior.

Os policiais fazem buscas em 27 endereços ligados aos investigados - 16 em Maceió (AL), oito em Brasília (DF), um em Gravatá (PE), um em São Carlos (SP) e um em Goiânia (GO). Duas pessoas também são alvo de mandados de prisão temporária em Brasília. As ordens judiciais foram expedidas pela 2.ª Vara Federal de Alagoas.

A PF afirma que houve direcionamento e superfaturamento de contratos para a compra de equipamentos de robótica, custeados com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), repassado pelo governo federal. As fraudes teriam ocorrido entre 2019 e 2022.

"As citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes", informa a Polícia Federal. A investigação é tocada em conjunto com a Controladoria Geral da União (CGU).

A Justiça Federal também determinou o sequestro de bens dos investigados e a suspensão de processos licitatórios e contratos administrativos celebrados entre a empresa fornecedora investigada e os municípios alagoanos que receberam recursos do FNDE para aquisições de equipamentos de robótica.

 

       Dino vai à casa de Lira para conter crise após operação da Polícia Federal atingir seu ex-assessor

 

O ministro da Justiça, Flávio Dino, esteve na residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após a operação da Polícia Federal que atingiu Luciano Cavalcante, o ex-assessor do deputado que atualmente trabalha na liderança de seu partido, o PP. Lira queria saber de Dino detalhes sobre a diligência e por que motivo o processo de busca e apreensão em endereços de seus aliados foi deflagrado agora, justamente no momento em que ele e o governo vivem uma crise de relacionamento.

O presidente da Câmara tem em mãos cópias de mensagens que a assessoria da Polícia Federal divulgou sobre a operação sigilosa e desconfia que o Palácio do Planalto prepara um cerco político contra ele. Agora, cobra uma apuração do que chama de "vazamento" ilegal de informações.

No encontro desta quinta-feira, 1.º, Dino disse a Lira que o inquérito da PF - aberto para investigar desvio de recursos destinados à compra de kits escolares de robótica, em Alagoas -, começou antes mesmo do início do governo Lula. É justamente essa investigação que atinge o ex-assessor do deputado e outros aliados. O ministro da Justiça afirmou, ainda, não ter controle sobre as datas de operação da PF.

Num dos locais de busca e apreensão, em Maceió, a PF encontrou R$ 4,4 milhões em dinheiro vivo. "Eu não tenho nada a ver com isso nem me sinto atingido", reagiu Lira. "Cada um é responsável por seu CPF."

•        Fúria

Furioso, o presidente da Câmara fez questão de repetir, após a aprovação da Medida Provisória (MP) de reestruturação dos ministérios, na noite de quarta-feira, 31, que o governo terá agora de andar com as próprias pernas. Àquela altura, não se desconfiava da operação da PF no dia seguinte. Aliados de Lira observam, porém, que ele já deveria saber de alguma coisa porque queria deixar caducar a MP e foi necessário muito esforço para demovê-lo da ideia.

Lira não se cansa de criticar o que chama de "ausência de articulação política" por parte do Executivo. Não é só: acha que está sendo "enrolado" por ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não querem dividir com ele a execução do Orçamento.

Na prática, o presidente da Câmara tem colecionado desavenças com o governo. Em abril, por exemplo, Dino vetou a indicação de Lira para uma vaga de desembargador do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1). O deputado queria emplacar no cargo o juiz João Carlos Mayer Soares, mas Dino alegou que ele era muito próximo do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, suspeito de ter estimulado os ataques golpistas de 8 de janeiro.

Em outra frente, o Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para a próxima terça-feira, 6, o julgamento de um recurso de Lira contra denúncia da Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva. O processo que pode torná-lo réu o acusa de receber propina de R$ 106 mil do ex-presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) Francisco Colombo. O dinheiro foi apreendido com um ex-assessor de Lira, que nega ter qualquer relação com aqueles valores.

 

Fonte: FolhaPress/Terra/Agencia Estado

 

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