Marcelo Zero: O
Brasil escolhe o Brasil
No
último dia 21, esteve na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
da Câmara dos Deputados do Brasil uma delegação da Comissão de Relações
Exteriores do Parlamento Europeu.
Na
conversa que se seguiu, diversificada, um parlamentar estoniano, do grupo de
direita “Identidade e Democracia”, afirmou, a respeito do conflito na Ucrânia e
da geopolítica em geral, que o Brasil teria de decidir entre ficar do lado das
“democracias”, isto é, o lado da Europa, dos EUA e aliados, ou do lado das
“ditaduras”, a saber, Rússia, China e outros países. Não haveria meio-termo e
equidistância possíveis.
Outro
parlamentar europeu afirmou que a China tende a “escravizar” outros países, por
meio de empréstimos e dívidas. Um parlamentar espanhol classificou o conflito
da Ucrânia como uma “guerra imperialista” promovida unilateralmente pela
Rússia, que, segundo ele, quer impor seu domínio autocrático em toda a Europa.
Essa
visão simplória e maniqueísta do conflito na Ucrânia e da nova ordem mundial
parece perpassar boa parte do espectro político europeu. Mesmo parte da
esquerda europeia parece ter aderido a essa visão “atlanticista” e paranoica da
nova conformação geopolítica e geoeconômica mundial, a qual conduz,
invariavelmente, à nova Guerra Fria, que antepõe, como disse o parlamentar
estoniano, o “bem”, as democracias ocidentais, e o “mal”, as “autocracias”,
como China, Rússia, etc.
Pois
bem, ao contrário do que afirmou o parlamentar estoniano, o Brasil e outros
países do chamado Sul Global não têm de escolher entre quaisquer dos lados
identificados por esse novo maniqueísmo diplomático.
Entre
EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, de outro, o Brasil escolhe o
Brasil, país com interesses próprios e independentes, que deseja ter boas
relações com todas as nações e que procura contribuir para a conformação de uma
ordem mundial multipolar, multilateral e simétrica, capaz de dar soluções para
os graves problemas do planeta, como o aquecimento global, a fome, a pobreza,
as desigualdades e as guerras.
A
maior parte dos países emergentes e em desenvolvimento do mundo concorda com
essa posição brasileira e não tem motivos históricos para ser hostil, a priori,
em relação à China, Rússia e outros países atualmente demonizados pela nova
cruzada ocidental.
Não
se deve esquecer que os países da América Latina, da África e de outras regiões
do “Sul Global” não foram colonizados por Rússia ou China. Foram colonizados,
essencialmente, pela Europa, o que, em alguns casos, deixou cicatrizes difíceis
de serem esquecidas.
Na
África, continente que se livrou do colonialismo em tempos relativamente
recentes, muitas vezes mediante guerras contra os colonizadores europeus, há
alguma desconfiança em relação à Europa, mas não há suspeição relativamente à
Rússia ou China. Este último país, frise-se, está investindo na África 2,5
vezes mais que todo o Ocidente combinado, o que vem beneficiando muitas
economias daquele continente. Por qual, motivo, então, a África teria de ser
hostil à China? Ou a América Latina?
Em
relação às “dívidas escravizantes”, a experiência negativa da maior parte dos
países do mundo tem mais a ver com dívidas contraídas com o Ocidente. Com o
FMI, por exemplo, organismo controlado por EUA e Europa, que só desembolsava e
desembolsa empréstimos mediante draconianas condicionalidades, impondo
políticas econômicas ortodoxas e impopulares aos seus credores.
O
Brasil, antes dos governos do PT, foi também uma vítima dessas dívidas. Ainda é
fresca, na memória coletiva da América Latina, as “décadas perdidas”
ocasionadas pelas “crises da dívida externa”. China e Rússia nunca nos
constrangeram dessa forma.
Rússia
e China também não interviram nos assuntos internos dos países da América
Latina. Nesse aspecto, há uma desconfiança histórica, no que tange aos EUA.
Motivos não faltam.
Em
estudo publicado na Harvard Review of Latin America, em 2005,
menciona-se que, apenas entre 1898 e 1994, os EUA conseguiram êxito em mudar
governos da região 41 vezes, o que dá uma média de uma mudança de governo a
cada 28 meses. Ressalte-se que, nesse estudo publicado na Universidade de
Harvard, não se analisa as possíveis intervenções recentes, como as ocorridas
em Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016).
O
recente apoio do governo Biden à democracia brasileira, muito bem-vindo, não
invalida o fato de que a América Latina não tem razões para ter desconfianças
em relação à Rússia ou China, nesse campo.
Ao
pressionar o Brasil e os demais países do mundo a se alinhar a um dos polos
dessa nova Guerra Fria, com argumentos maniqueístas e pueris, EUA e Europa
cometem um grave erro de avaliação, que poderá produzir efeitos contrários aos
pretendidos.
Com
efeito, essa pressão belicista poderá ser interpretada como uma atitude
arrogante e neocolonial.
Melhor
seria investir em cooperação franca, sem condicionalidades geopolíticas,
moralistas e maniqueístas, as quais colocariam obstáculos de monta à construção
de uma ordem mundial pacífica, sustentável, multipolar e simétrica. Colocariam
obstáculos, em última instância, a um mundo efetivamente mais democrático e
igualitário.
Melhor
seria abrir as burras e pagar suas dívidas históricas, como a relativa ao meio
ambiente.
Lula,
agora em Paris, referindo-se à famosa e ofensiva side letter do
assimétrico Acordo Mercosul-EU, deixou claro: parceiros estratégicos não devem
ser ameaçados. Muito menos submetidos a regras de outros países, que nem eles
mesmos conseguem cumprir.
Da
mesma forma, parceiros estratégicos não devem ser pressionados a se posicionar
contra seus próprios interesses e contra os interesses da maior parte dos
países do mundo.
E
“falsos amigos” são aqueles que impõem vassalagem para serem “amigos”.
Viu, Liberátion?
A
nova cruzada política-ideológica que EUA e Europa parecem querer impor ao mundo
não interessa ao planeta. Nem ela, nem as posições protecionistas e as
pretensões hegemônicas a ela associadas.
A
maior parte dos países do mundo, como Brasil, quer paz e pão. Quer ter a
oportunidade de crescer, prosperar e de dar às suas populações o mesmo nível de
bem-estar das populações europeias.
Os
antigos colonizados querem ter tratamento igual aos dos antigos colonizadores.
Querem respeito. Não se submeterão a bullyng diplomático,
venha de onde vier.
O
Brasil escolhe o Brasil. O Brasil escolhe o mundo. Só isso.
Ø
Lula
assume lugar na cena mundial. Por Paulo Moreira Leite
Sem
empregar malabarismos retóricos, o discurso de Lula na manhã desta sexta-feira,
23 de junho, em Paris, mostrou a força única de um estadista capaz de conversar
com a História presente.
O
Valor Econômico informa que naquele dia o presidente brasileiro fez o discurso
mais aplaudido de um encontro de nome pomposo e finalidade nebulosa
("Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global)", que reuniu uma
centena de chefes de governo do planeta.
Palmas
sempre querem dizer alguma coisa mas não dizem tudo.
Sem
deixar-se intimidar pelas personalidades que falam pelos maiores PIBs (e
maiores exércitos) do planeta, Lula consumiu 20 minutos num discurso sobre o
ponto realmente fundamental.
Ao
se referir a acordos economicos e compromissos morais que pareciam tão
promissores no final da Segunda Guerra Mundial, quando se venceu os
horrores do nazismo que hoje ameaça retornar em várias partes do planeta, com a
cumplicidade de várias parcelas do poder mundial, o presidente brasileiro
mostrou uma postura insubstituível.
Abriu
um debate único e indispensável para uma conversa sem hipocrisia, capaz de
discutir os impasses e perplexidades de um planeta em fase nitidamente
regressiva, pois já debateu "investimento em países pobres e hoje debate o
protecionismo dos países ricos".
Evitando
o papel conveniente de enfeite ecológico que costuma ser a fantasia mais
agradável de representantes de um país que abriga a Amazonia, cobrou
responsabilidades de todos e cada um quando fez o esclarecimento fundamental.
“Eu
não vim aqui para falar somente da Amazônia," disse. "Eu vim aqui
para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão
da desigualdade mundial. Não é possível que, numa reunião entre presidentes de
países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade
salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na
educação, a desigualdade na saúde ".
“Ou
seja, nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está
concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais
gente," disse.
Deixando
claro que, sem abrir caminho para um debate honesto sobre as condições
materiais de existência da humanidade, em todas as latitudes do planeta, Lula
mostrou-se capaz de cumprir um papel insubstituível.
Sem
medo de falar claro sobre assuntos graves, Lula repetiu, em escala universal,
aquele comportamento que marca uma história iniciada há meio século sob uma
ditadura militar que torturava no andar debaixo e afinava a voz para as camadas
de cima.
Com
uma estatura política que raros estadistas do planeta podem exibir, esculpida
pelo conhecimento infinito que a vida lhe trouxe -- na pobreza de Garanhuns,
nas lutas metalúrgicas do ABC, no Planalto e na cela de Curitiba --, ele
retorna ao país depois de lembrar ao planeta que não haverá saída sem a
emancipação dos mais pobres e a libertação dos oprimidos.
Foi
essa a lição que Lula deixou em Paris, num discurso histórico e sem enrolação,
de quem fala o que é preciso dizer sem perder a simpatia, como se
estivesse entre velhos e bons amigos numa mesa de bar em qualquer botequim do
planeta.
Alguma
dúvida?
·
Efeito
Lula: “dólar já está na direção dos R$ 4,40”, diz economista
Em
entrevista ao Metrópoles, o professor Márcio Holland, da Escola de Economia de
São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), afirmou que o dólar está em
queda e a moeda já está a caminho dos R$ 4,40.
"Não
é tarefa trivial prever o câmbio. Mas a moeda americana pode chegar a R$ 4,00?
Sim, pode. Há uma série de fatores que estão contribuindo para a tendência de
valorização do real. Mas o fato é que o dólar já está na direção de R$ 4,40, ou
mesmo, algo entre esse valor e R$ 4,50", enfatizou o economista.
Questionado
por que o dólar está caindo, Holland disse que questões externas têm peso nessa
queda, mas o cenário interno está favorecendo.
"O
cenário interno no Brasil também favorece a queda. No primeiro Relatório Focus
deste ano (que reúne projeções semanais de agentes do mercado sobre indicadores
econômicos) a previsão de crescimento do PIB brasileiro era de 0,78% em 2023.
Agora, ela está em 2,14%. A nota de risco dada pela agência internacional
S&P para o país também passou de neutra para positiva. O arcabouço fiscal foi
encaminhado e, agora, a discussão já se concentra na reforma tributária, com um
substitutivo em análise na Câmara dos Deputados. Isso tudo cria um otimismo
típico do mercado", afirmou.
Ø
Lavareda
diz que Bolsonaro não 'desaparecerá' com inelegibilidade: "próximo
candidato da direita dependerá de Jair"
O
cientista político Antonio Lavareda analisou o possível cenário das eleições
presidenciais de 2026 sem Jair Bolsonaro (PL), prestes a ser
considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com o
estudioso, o bolsonarismo ainda representa "um movimento muito
grande" da política brasileira e seu peso eleitoral não poderá ser
desconsiderado.
"É
óbvio que o Bolsonaro vai perder substância [se declarado inelegível], ocorre
que perder substância não é a mesma coisa que desaparecer. A sociedade
brasileira é invertebrada do ponto de vista político, porque quem daria
ossatura, uma estrutura de estabilidade, são os partidos", introduziu
Lavareda.
O
cientista político explicou que a falta de partidos relevantes na política
nacional foi compensada por muito tempo por um fenômeno chamado 'identidade
partidária negativa', representado pelo antipetismo: "as pessoas da
direita ficavam procurando candidatos que fossem antagônicos ao PT; quanto mais
contundentes, mais apoio teriam neste segmento. Isso foi encapsulado pelo
bolsonarismo, que é hoje o movimento que substitui o 'partido da direita'. Esse
partido tem cerca de 1/4 da sociedade, 25%, ele pode declinar, chegar a 20%,
mas é um partido muito grande".
"Bolsonaro
teve 37% dos votos no segundo turno. Ele teve esses 25% de eleitores mais
duros, com valores próximos à direita - parte deles da extrema direita, como
nós vimos, com as concentrações nas frentes dos quartéis e estradas - e mais
uns 12% de pessoas mais liberais, hostis à esquerda, mas não autoritários
radicais, etc. Mas isso aí nos permite entender o peso que o bolsonarismo terá
nos próximos ciclos eleitorais. Eu tenho convicção de que o próximo candidato
que vai ser hegemônico à direita será menos radical do que Bolsonaro, mas com
certeza dependerá do apoio de Jair Bolsonaro", concluiu o cientista político.
Fonte:
Brasil 247
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