Exorcismo
e sua história dentro da Igreja Católica
No ano de 2021, um incidente envolvendo uma criança
de três anos e uma sessão de exorcismo atraíram os olhos do mundo. Como
resultado disso, a prática, antes cada vez mais restrita aos filmes de ficção,
tornou-se novamente centro de debate ao redor do mundo.
Após a suposta sessão de exorcismo, três familiares
da vítima foram acusados de crime de abuso infantil. Isso se deu pelo fato de,
durante a cerimônia, alguém ter asfixiado a criança.
O ocorrido serviu para reascender as discussões em
torno das mortes causadas em rituais de exorcismo no passado. Por exemplo, em
1976, Anneliese Michel, uma alemã, morreu de desidratação e desnutrição após um
processo de 10 meses de exorcismos católicos.
Já em 2005, Maricica Irinia Cornici, uma freira
ortodoxa romena, faleceu na ambulância. Mais tarde descobriu-se que, durante
uma sessão de exorcismo, ela havia sido acorrentada em uma cruz.
Dito isso, a prática do exorcismo é um assunto que
oscila até mesmo dentro da própria Igreja Católica. Consequentemente, ao longo
da história, a instituição procurou rever sua posição em relação ao método
sobrenatural.
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Exorcismo: a vida imita a arte?
Gostando de filmes de terror ou não, certamente você
já ouviu falar do filme “O Exorcista”, lançado em 1973. Na trama, um padre é chamado
para ajudar uma garota de doze anos que vem apresentando um comportadomento
assustador.
Ao passo que a produção tornou-se um sucesso, muitas
pessoas passaram a buscar o auxílio de padres para lidar com os supostos demônios que assombravam suas vidas.
Contudo, a própria Igreja possuía um posicionamento
cético em relação ao exorcismo. Acreditando ou não, era inegável o sucesso do
assunto entre o público, o que transformou a prática em uma agenda política de
conversão de fiéis.
Dessa forma, em 1991, autoridades eclesiásticas
permitiram que fosse transmitido na televisão uma sessão de exorcismo. Em
seguida, o padre Richard P. McBrien falou um pouco sobre a súbita decisão
expositiva.
Foi assim que McBrien declarou que o exorcismo
estava sendo apresentado daquela forma não para salvar almas, mas como maneira
de impulsionar o avanço de uma agenda política tradicional.
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Fé, ciência e, sobretudo, política
Diante desse contexto, travou-se outra discussão
dentro dos muros da igreja. Sacerdotes são pessoas que estudam durante toda sua
vida, independente do posicionamento e da abordagem que utilizem.
Sendo assim, muitos acabam tornando-se acadêmicos de
estudos religiosos, como Joseph P. Laycock, que escreve sobre o exorcismo do
ponto de vista histórico e tem sua própria perspectiva sobre o posicionamento
da Igreja.
Segundo Laycock, as mudanças de postura da
instituição em relação ao exorcismo tem pouco a ver com a compreensão das
doenças mentais pela nossa cultura ou com outros avanços científicos.
Na verdade, tais mudanças levam mais em conta as
visões em disputa na própria igreja. Assim como descrito por McBrien, a
instituição conta com sua própria agenda política.
Se de um lado, alguns sacerdotes tendem a ser mais
conservadores, outros são mais liberais. Todavia, no fim das contas, todos os
interesses convergem em um único ponto: preservar e atrair fiéis para o
catolicismo.
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Exorcistas: O retorno
Em 1990, fundaram a Associação Internacional de
Exorcistas, cujo objetivo era convencer o Vaticano a levar a prática mais a
sério. Posteriormente, em 2004, houve uma solicitação para que as dioceses de
todo o mundo voltassem a nomear exorcistas.
No entanto, esses novos exorcistas precisavam ser
treinados, e o próprio Vaticano ofereceu um curso para especialização no
assunto. Aliás, um dos padres que passaram pelo treinamento foi Gary Thomas.
Embora o nome não seja reconhecível de imediato, ele
se tornou famoso após suas experiências originarem o filme “O Ritual”, de 2011.
No longa, um padre com pouca fé acaba tendo que lidar com o demônio Baal.
Dito isso, em 2014, a Associação Internacional de
Exorcistas recebeu, finalmente, o reconhecimento formal do Vaticano. Hoje, o
papa Francisco, considerado progressista, até mostra-se favorável à prática.
Fonte: BBC News
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