terça-feira, 27 de junho de 2023

Crimes sexuais: 4º suspeito de abusar de meninas no Discord é preso em SP

A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta segunda-feira (26) o quarto integrante de uma rede de jovens investigada por suspeita de ameaçar e estuprar ao menos duas meninas, menores de 18 anos, que conheceram no Discord (aplicativo da internet usado principalmente por adolescentes para conversarem sobre games).

As vítimas têm 13 e 16 anos. Elas são, respectivamente de Santa Catarina e São Paulo. A polícia também investiga a possibilidade de que o grupo tenha estuprado e ameaçado mais cinco vítimas: 3 em São Paulo, uma no Espírito Santo e outra no Amapá.

Outros três rapazes, todos adultos, já tinham sido presos pelos policiais, na semana passada, após o Fantástico revelar, em maio, como jovens usavam a plataforma virtual para cometerem crimes.

Carlos Eduardo Custódio do Nascimento, o "DPE", tem 19 anos. Ele estava foragido após a Justiça decretar a sua prisão temporária a pedido do Ministério Público (MP). Na tarde desta segunda, ele se apresentou com seu advogado numa delegacia da capital paulista. Sua defesa não foi encontrada pela reportagem para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.

Ao menos uma garota de 13 anos acusou DPE de estuprá-la. Ela contou à polícia ter conhecido o rapaz no Discord. Depois fugiu de Santa Catarina, estado onde morava com a família, para se mudar para São Paulo. E passou a residir com DPE numa casa. Foi nesse imóvel que ela foi violentada sexualmente, de acordo com a investigação.

Os outros três detidos também são investigados por ameaça e estupro de vulnerável de adolescentes. Segundo as autoridades, o grupo conhecia as vítimas no Discord, depois pedia "nudes" (fotos íntimas das garotas).

Em seguida, as chantageavam as obrigando a fazer tarefas sádicas, do contrário, ameaçavam divulgar as imagens delas nuas nas redes sociais.

Para a investigação todos os agressores se conheciam e integravam esse grupo virtual. Entre as obrigações impostas por eles para as garotas estavam: enviar mais fotografias e vídeos sem roupas, se mutilarem, marcando a pele com as iniciais dos apelidos deles. E ainda eram obrigadas a terem relações sexuais forçadas com eles. Alguns abusos sexuais e agressões eram filmados e compartilhados pelos criminosos.

 

Ø  Quem são e como agiam os criminosos que abusavam de adolescentes no Discord

 

Cinco pessoas foram presas acusadas de envolvimento em crimes de violência contra adolescentes na plataforma Discord. Os abusadores não só ameaçam as meninas pela internet, como também atraem as vítimas para locais onde elas são humilhadas e agredidas. O Fantástico mostrou como opera a rede de criminosos que age no aplicativo.

“Eles são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres”, afirma o delegado Fábio Pinheiro Lopes.

<<< Veja a lista dos envolvidos:

# Izaquiel Tomé dos Santos, "Dexter", de 20 anos

  • Izaquiel, conhecido como "Dexter", está preso desde abril. Ao todo, a polícia identificou nove vítimas de Dexter. Ele é apontado como o torturador que tratava uma adolescente como escrava sexual em um vídeo da investigação. O Fantástico também encontrou outras 5 vítimas do jovem. Entre as evidências, estão fotos de meninas nuas, mutiladas com uma assinatura: o nome Dexter escrito com lâmina na pele. À Polícia Federal, Izaquiel admitiu ter chantageado garotas para que elas se mutilassem.

# Carlos Eduardo Custódio, "DPE", de 21 anos

  • O jovem de 19 anos, conhecido como DPE, é acusado de aliciar adolescentes que fugiram de casa. Entre as vítimas, está uma jovem de 13 anos de Joinville, Santa Catarina.
  • Em uma chamada ao vivo, Carlos Eduardo aparece agredindo fisicamente uma adolescente.
  • Carlos Eduardo estava foragido e foi preso nesta segunda-feira (26).

# Victor Hugo Souza Rocha, "Verdadeiro Vitor", de 21 anos

  • Na reportagem, Vitor Hugo mostra um arquivo nomeado como: "backup das vagabundas estupráveis". Em cada pasta, o nome de uma vítima. São dezenas de meninas violentadas, chantageadas, expostas e catalogadas. Ele foi preso e teve um HD apreendido.
  • Gabriel é acusado de ser uma das pessoas que violentaram sexualmente de uma garota de Joinvillle. Gabriel e William, o "Joust", foram presos na última sexta-feira (23).

·         Investigação

Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo também investiga o próprio Discord.

“Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataque as vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime”, declara o promotor de Justiça de São Paulo Danilo Orlando.

·         O que diz o Discord?

Em entrevista ao Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”. “Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz.

“Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”.

 

Ø  Criminoso que agia no Discord tinha pasta de arquivos com vítimas catalogadas

 

Fantástico mostrou a rede de criminosos que age no Discord, aplicativo muito usado por adolescentes. É um território sem lei, onde predadores estão à caça de menores de idade. A vítima passa a ser chantageada a cumprir desafios. Se ela não aceitar, fotos íntimas são vazadas.

Um dos bandidos tem vários aparelhos de armazenamento e revela uma coleção cruel: "backup das vagabundas estupráveis". Em cada pasta, o nome de uma vítima. São dezenas de meninas violadas, chantageadas, expostas, catalogadas.

Em uma dessas pastas há uma menina de Joinville, de apenas 13 anos. Em agosto de 2022, ela deixou um bilhete e fugiu de casa, atraída por um rapaz que conheceu no Discord.

“No início só foram conversando, falando que era amigo dela, que ela poderia ir para lá, que ia ser muito legal, que não teria nenhum adulto enchendo o saco. Ele mandou um aplicativo de carona daqui para ela ir para lá. E no primeiro dia já, ele forçou relações com ela. Depois disso, foram para outra casa. Chegando lá, eles doparam ela e a forçaram novamente a ter relações. E bateram nela, cortaram ela”, conta a irmã da vítima.

Durante duas semanas, ela foi forçada a se drogar e a ter relações sexuais com diferentes agressores. Alguns desses crimes foram transmitidos também no Discord. Mas tudo isso só chegaria ao conhecimento das autoridades meses depois.

Ela viajou mais de 500 quilômetros no carro de aplicativo e ficou numa casa em São Paulo, junto a outros adolescentes - todos também tinham fugido de casa. Foram aliciados por Carlos Eduardo Custódio, de 21 anos, conhecido como DPE.

A menina foi convencida a voltar para casa graças à persistência da irmã. Diálogo e acolhimento funcionaram como um antídoto para o pesadelo tóxico do Discord.

Vitor Hugo Souza Rocha, que mostrou o "backup das vagabundas estupráveis", foi preso. A apreensão do HD e o depoimento dele ajudaram a Polícia Civil de São Paulo a confirmar a identidade de mais dois criminosos, além dele e de Carlos Eduardo, o DPE: Gabriel Barreto Vilares, o Law, acusado de ser uma das pessoas que violentaram sexualmente a garota de Joinvillle, e William Maza dos Santos, o Joust.

Gabriel e William foram presos na última sexta-feira (23). Carlos Eduardo estava foragido, mas foi preso nesta segunda-feira (26). Procurados, os advogados e as famílias de Carlos Eduardo, Gabriel, Vitor e William não quiseram falar com a reportagem.

Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo também investiga o próprio Discord.

“Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataque as vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime”, declara o promotor de Justiça de São Paulo Danilo Orlando.

Em entrevista ao Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.

“Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz.

“Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”.

 

·         O que é o Discord e como funciona a plataforma

 

Em abril, uma reportagem do Fantástico mostrou como o Discord, um aplicativo popular entre adolescentes, havia virado uma ferramenta para envolver jovens em um submundo de violência extrema.

Agora, há uma nova investigação sobre um submundo perverso da plataforma, um território sem lei, onde predadores estão à caça de menores de idade. Um dos criminosos tem vários aparelhos de armazenamento e revela uma coleção cruel: "backup das vagabundas estupráveis". Em cada pasta, o nome de uma vítima. São dezenas de meninas violadas, chantageadas, expostas, catalogadas.

Até agora, quatro pessoas foram presas acusadas de envolvimento nos crimes; uma estava foragida, mas foi presa nesta segunda (26).

·         O que é o aplicativo?

O Discord é uma plataforma de comunicação on-line que permite que os usuários conversem por meio de mensagens de texto, voz e vídeo.

Embora seja popular entre os jogadores de games, o Discord também é usado por crianças e adolescentes para se comunicar com amigos e participar de comunidades.

O aplicativo permite que as pessoas se comuniquem em transmissões ao vivo de vídeos dentro da plataforma. Nesse momento, a vítima passa a ser chantageada a cumprir desafios. Se ela não aceitar, fotos íntimas são vazadas.

 

Ø  Discord: especialistas dão dicas para os pais sobre o uso seguro da plataforma na internet pelos filhos

 

O Discord é uma plataforma de comunicação online que permite que os usuários conversem por meio de mensagens de texto, voz e vídeo. Embora seja popular entre os jogadores de games, o Discord também é usado por crianças e adolescentes para se comunicar com amigos e participar de comunidades online.

Desafios perversos: como o aplicativo Discord virou ferramenta para envolver adolescentes em um submundo de violência extrema

No entanto, existem riscos de segurança associados ao uso do Discord pela falta de regulamentação. Um dos principais é o contato com predadores sexuais e/ou grupos extremistas para recrutar jovens e promover ideologias que fomentem ódio e atos violentos. O Fantástico conversou com especialistas, que dão algumas dicas para os pais que estão preocupados com o uso da plataforma.

·         Gustavo Estanislau, psiquiatra infantil

É importante que os pais tenham um pouco mais de contato com o adolescente, estejam um pouco mais por perto e participem das atividades que estão acontecendo dentro do quarto do jovem.

“Hoje em dia eu tenho a impressão de que a gente fica mais satisfeito quando os filhos começam a sair um pouco mais de casa e a gente consegue ter uma noção de com quem eles estão andando e o que eles estão fazendo. Isso vai depender muito de como as redes sociais são gerenciadas dentro de casa. E se a gente não tem muito contato com adolescente e não sabe como isso está acontecendo dentro do quarto, eu tenho que dizer que pode se tornar um potencial risco, sim”.

·         Vera Iaconelli, psicanalista

A supervisão do uso dos smartphones é muito importante.

“Os smartphones são perigosos para os adolescentes especificamente, pois dão acesso ao mundo sem mediação. Então, tudo que você evitou que seu filho visse, todas as relações que você evitou que ele tivesse, todas as informações que você não acha que eram apropriadas, de repente ele tem na palma da mão”.

Sair do ambiente virtual e voltar a ocupar o espaço público é necessário.

“As pessoas têm que estar umas com as outras fora do ambiente privado, estabelecer relações civilizadas no espaço público. Não tem que ter medo de levar o filho para o espaço. Tem que levar e ensinar como está nesse lugar junto aos outros. Quer dizer, reatar esses laços comunitários é muito importante. Lembrando que o adolescente sempre vai precisar de um certo espaço de privacidade”.

Escutar as crianças e saber responder para poder ajudá-los e orientá-los

“Ajudar as crianças a não sentirem culpa e medo de contar pros pais o que elas estão vendo, o que elas estão fazendo é superimportante. Os pais querem conversar com as crianças, mas conversar é escutar, não é ficar falando. Porque isso ela já tem. Os pais devem escutar o que essas crianças estão vivendo pra elas não ficarem inibidas de às vezes denunciar um crime".

·         Telma Vinha, pedagoga

Estar muito atento enquanto sociedade. Unir forças não só como família, mas de segurança de política pública e de escola também.

"É preciso estar atento, porque a gente diz inclusive que desradicalizar é enxugar gelo. Desradicaliza dois, aparecem dez. Então, a atuação tem que ser muito mais preventiva”.

·         Ana Frazão, advogada

Ter atenção com a proteção de dados dessas crianças e jovens na internet.

“O mundo digital tem colocado as pessoas numa situação de muita vulnerabilidade e de assimetria informacional. Então, não dá para dizer que aquele consentimento do pai na plataforma realmente foi um consentimento informado, um consentimento qualificado. É muito importante a gente deixar claro que os pais têm responsabilidade, precisam exercer o seu poder parental com muito cuidado, mas isso não afasta também a responsabilidade das plataformas” .

·         Thiago Tavares, presidente da Safernet

Usar as redes sociais apropriadas para cada idade; é necessária a supervisão dos pais

“A maioria das crianças e adolescentes hoje no Brasil acabam usando redes sociais mesmo que não sejam apropriadas para a sua idade. São espaços eminentemente adultos, tanto que os termos de uso proíbem a utilização por crianças. Nenhuma rede social permite um cadastro de um usuário com menos de 13 anos de idade. Acontece que a fiscalização ou o controle disso é muito precário. Então, a maioria hoje das crianças e adolescentes no Brasil acabam usando as redes sociais mesmo que não sejam apropriadas pra sua idade e muitas vezes acabam usando sem a supervisão dos pais também”.

📌 O Ministério da Justiça possui um canal oficial para denúncias: https://www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura. Contudo, reforçamos que sempre que possível, procure a delegacia mais próxima. Ou, Disque 100.

Em nota ao Fantástico, o Discord disse: "Estamos colaborando ativamente com o governo e agências de aplicação da lei no Brasil e nos Estados Unidos, enq

 

Fonte: g1

 

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