Eliseu
Padilha deve inaugurar o ministério paralelo dos afastados por envolvimento com
a Lava Jato, um puxadinho protetor anunciado por Temer na semana passada:
ministros citados ou investigados serão afastados temporariamente. Demissão, só
para os que se tornarem réus, algo que dificilmente acontecerá durante seu
mandato. Padilha pediu licença do cargo de ministro-chefe da Casa Civil para
fazer uma cirurgia que estaria mesmo programada. Ele jura que volta mas, no
curso da licença médica, devem ser divulgadas, pelo menos parcialmente, as
delações da Odebrecht.
Padilha,
muito provavelmente, passará da licença médica para o afastamento temporário,
não retornando ao Planalto. Pelo menos outros quatro ministros devem lhe fazer
companhia no puxadinho: Moreira Franco, Gilberto Kassab, Bruno Araujo e Marcos
Pereira. As paredes do governo estão começando a rachar e Temer, mais isolado e
só, será cada vez mais prisioneiro da coalizão parlamentar que, na ânsia para
salvar-se da Lava Jato, já não liga para as aparências nem para o efeito
nefasto da imposição de um nome como Osmar Serraglio para o ministério da
Justiça.
José
Serra pediu demissão do Itamaraty, alegando também motivos de saúde mas, como
tem mandato, em vez do puxadinho, desfrutará do aconchego do Senado. Delatores
teriam afirmado que ele recebeu R$ 23 milhões da empreiteira para sua campanha
de 2010. Um chanceler com hérnia de disco realmente deve sofrer muito. Mas o
vaidoso Serra sofreria muito mais se, confirmada sua citação por delatores,
tivesse que se submeter ao humilhante afastamento temporário anunciado por
Temer. O que ele vem anunciando é um retorno com grande disposição para o
ativismo parlamentar. O puxadinho é bom para quem não tem mandato, como
Moreira, Kassab e Marcos Pereira. Continuarão recebendo e tendo direito ao foro
especial.
Já
Padilha anunciou a licença médica horas depois que o melhor amigo de Temer,
José Yunes, revelou em depoimento, prestado espontaneamente, ter sido usado como
“mula” por Padilha, que em 2014 pediu-lhe para receber um pacote em seu
escritório. A entrega foi feita pelo operador de Eduardo Cunha e companhia
peemedebista, Lúcio Funaro, hoje preso. Yunes confirmou assim a delação do
executivo Claudio Mello Filho, da Odebrecht, de que parte dos 10 milhões pedido
à empreiteira por Temer foram entregues no escritório de Yunes.
Eduardo
Cunha também havia incluído uma pergunta sobre esta operação de entrega naquela
lista de questionamentos a Temer, como testemunha de defesa, vetada por Sérgio
Moro. Se Padilha vai mesmo operar a próstata, como garantem os próximos, a
cirurgia não vai acontecer durante o carnaval. O pedido de licença médica
poderia ter ficado para depois, para quinta-feira, ou para a semana que vem. Padilha,
tudo indica, fez uma retirada de emergência, antecipando a licença, antes que
subissem os gritos pedindo sua cabeça.
Ao
longo desta semana, o governo desgastou-se imensamente. Até mesmo quando
ganhou, como na aprovação do nome de Alexandre de Moraes para o STF, ganhou
perdendo. A indicação de um preposto acumpliciado com os investigados – como
tão simbolicamente revelado pela magistral fotografia de Dida Sampaio, em que
Moraes pisca para Edison Lobão durante a sabatina na CCJ do Senado – desnudou
moralmente o governo, apequenou Temer, o Senado e o próprio STF. Ao escolher
Serraglio para a Justiça, o governo sabia tratar-se de um arqueiro de Eduardo
Cunha, para não falar de outros traços do perfil.
Na
disputa pela primeira vice-presidência da Câmara, há poucos dias, Serraglio foi
derrotado por boa margem de votos por parte da base que não o engole. O
vitorioso foi Fabio Ramalho, o mesmo que agora anuncia o rompimento com o
governo do grupo do PMDB que defendia um candidato de Minas para o posto. E na base,
alastra-se também a rejeição às reforma previdenciária e trabalhista, com a
apresentação de emendas modificativas. Com o barco político fazendo tanta água,
não há risco de Temer compensar o desgaste com boas notícias na economia. Boas
é muita bondade, pois um aumento sazonal na arrecadação e uma redução atrasada
na taxa de juros não darão conta da recessão e do desemprego a curto prazo. O
que teremos, depois do carnaval, é o aprofundamento das rachaduras nas paredes
do governo.
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