O jornalismo por longos
anos respondeu a seu papel de transformar acontecimentos em notícias, dando
ordem ao caos, considerando a quantidade ilimitada de fatos noticiáveis. Sua
missão seria funcionar como um farol a estabelecer pontos de visão seguros para
os navegantes em alto mar e com pouca informação. Assim, aquilo que não
passasse pela mídia, jamais havia acontecido – então, impossível encontrar o
porto.
O mundo mudou com as
novas tecnologias e as luzes ainda mais confundem os viajantes; de modo que
pessoas em lugares distantes se comunicam freneticamente, muitas vezes
disseminando pontos de vista contrários a uma ordem social limitada por poucos
narradores midiáticos. Chegamos finalmente à era das tecnologias, com pessoas
em rede, o que acirra a disputa pelas histórias e pela realidade (ideologia),
sobretudo política.
Notoriamente, os
nervos nas redações estão acirrados, com a incerteza do fluxo da audiência para
diversas mídias instantâneas, as quais recebem cada vez mais atenção dos
empresários em busca de visibilidade de seus produtos – as perdas de receitas
comprometem as pequenas e grandes empresas de comunicação, reguladas pelo
tempo. Porém, o mais complicado neste mundo de visões múltiplas está na
organização da ordem social.
Discussão
efervescente
Afinal, como conviver
com um mundo hostil, com informações diversas, a volta do caos, que faz
ressuscitar ideias esquecidas, muitas delas ameaçadoras de outrora? O farol da
mídia tradicional, deste modo, segue sua missão e importância: evitar a
confusão social, contrastar no horizonte, no conservadorismo da ordem
institucional.
No momento político,
as manifestações pelo direito de definir pontos a serem observados dos fatos, e
apresentar os acontecimentos, colocam em lados opostos grandes redações e parte
importante da blogosfera, que usa as redes sociais para o fluxo das mensagens.
Sobressai um acirrado debate que envolve diferentes cenários, desde o global,
passando pelo regional, nacional até o local. De uma forma ou de outra se
vinculam, conforme as expectativas de mudanças nos diversos cenários políticos.
A propósito, quem tem
razão: a Rússia, ao defender seus interesses econômicos, ou a Europa, ao
desejar a liberdade democrática de países cuja filosofia se volta para os
interesses neoliberais, como é o caso da Ucrânia no limite para a guerra? Como
consequência, na América Latina qual caminho seguir, o fortalecimento da região
em torno da abertura econômica internamente para um bloco, formado pelas
principais economias da região, ou seguir os países desenvolvidos, sobretudo
considerando as experiências econômicas dos Estados Unidos – na discussão da
dependência? No Brasil, melhor se aproximar da China “comunista”, acreditar na
política do governo eleito da Venezuela ou defender a abertura econômica, com
gradativa redução do peso do Estado do bem-estar social, visto como
paquidérmico pelos economistas liberais, que exigem aumento de impostos e
travam o comércio de produtos?
Para cada destas
questões seria notório observar discussão efervescente no jornalismo dito
tradicional, que estabelece sua lógica nas narrativas, com base na realidade
que fortalece o poder econômico para o desenvolvimento e igualdade social,
apesar da concentração de renda.
Aos vencedores, as
narrativas
Os textos formulados
por jornalistas que estão nas ruas brasileiras ou mesmo em outros países, cada
vez mais envolve a decisão das redações locais e ao mesmo tempo globalizadas,
que se informam rapidamente por diferentes agências nacionais e internacionais.
Pode-se acreditar, neste sentido, que os enunciados para as narrativas estão
formulados quase previamente, assim, como as narrativas do mundo virtual. A
batalha pela história e realidade se mostra evidente. Quem pode mais?
No rádio, na TV,
jornais e revistas, as fontes fazem parte de uma narrativa hegemônica, mas por
estar em disputa, provisórias, porém dominante na capacidade de apresentar a
versão dos fatos, sobretudo confiáveis pela tradição e empreendedorismo de
séculos. Ainda em formação, o jornalismo online se apresenta com suas versões,
ao mesmo tempo conservadoras, radicais e questionadoras de uma ordem de
política neoliberal e com abertura global. Porém, cada qual escolhe seus
porta-vozes, personagens, sabendo previamente o cenário dos discursos que fazem
parte do jogo.
Finalmente, as
mediações são muitas para muitos emissores de informação. Assim, pode-se
imaginar, na multiplicidade se vê surgir, a possível almejada democracia e
liberdade para comunicar-se a partir da diferença, das disputas e diálogos no
jornalismo e fora dele. A história narrada com diversos juízos, mãos e
efetivamente com influência e interferência das (e nas) redes.
Politicamente há
dominantes e dominados, mas num processo de mudança mais rápido do que antes,
dos tempos de poucos narradores midiáticos, versões da história e visão de
mundo. Enfim, na discutível pós-modernidade, para os vencedores, as narrativas.
Antonio S. Silva é
jornalista e doutorando da UnB