Não dá para entender o ufanismo de alguns, ao afirmarem que estamos acabando
com a miséria e na primeira calamidade, os Institutos Médicos Legais se vêem à
volta com amontoados de mortos, as famílias começam a procurar os desaparecidos
e a defesa civil contar os milhares de desabrigados.
Neste momento aparece a realidade nua e crua, apesar das autoridades
insistirem em negar, porém, verão que a maioria dos envolvidos são pessoas que
não tem onde morar ou foram se abrigar em áreas de risco, pois foi esta a única
opção que lhe deram.
Ora, é muito fácil para o gestor público omisso e irresponsável culpar as
condições climáticas ou mesmo transferi-la para as famílias que sem opção foram
residir em áreas de riscos, não acha? O difícil é assumirem a responsabilidade
pela omissão em nada fazerem para modificar a situação, uma vez que as
intempéries são fatos que tem ocorrido todos os anos, não se tratando de algo
raro, são previsíveis.
São situações que tem se repetido anos após anos, mudando apenas sua
intensidade, em locais repetidos e a cada tragédia tem levado a vida de várias
pessoas e deixado milhares de famílias desabrigadas.
Fatos como as enchentes em São Paulo há décadas vem se repetindo, e que
tem feito o poder público paulista para solucionar? E no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa
Catarina, Bahia, entre outros?
Pergunta-se: os problemas não têm ocorrido anualmente, sempre no mesmo período?
O que tem feito os dirigentes, para de
forma planejada e organizada encontrar uma saída para situação?
Como sempre nada, pois se não são incompetentes então são mal
intencionados, se assim não o fossem, já se teria encontrado uma saída.
Claro, esta situação normalmente ocorre em bairros pobres. Nos das elites
os problemas são rapidamente equacionados e para eles nunca falta recursos.
Quando falamos das calamidades, também queremos incluir as secas cíclicas
que tem ocorrido no sul e no nordeste do Brasil, sem que os governantes de plantão
se dignem a apresentar soluções que não só minimizem os seus efeitos, mas que
sejam dadas as condições das famílias de enfrentá-las.
Exemplos de irresponsabilidades praticadas existem as mãos cheias, só que
os governantes de hoje, para se eximirem da culpa, preferem transferir a
responsabilidade para o passado, transferindo a sua omissão para aqueles que já
se foram.
Quer um exemplo? A catástrofe que ocorreu no Rio de Janeiro e que arrasou
a região serrana era do conhecimento do governo carioca da possibilidade de vir
a ocorrer, desde novembro de 2008, através de estudos técnicos, que apontava o
risco de deslizamentos de terras naquela área.
Porém, mesmo com estudos em mãos, o que o governo fez para proteger
aquela população? Nada, exceto, depois do fato ocorrido, jogar a culpa nos
governos passados. Muito fácil, mas o crime cometido fica impune.
É mais fácil jogar a culpa no passado ou na natureza do que assumir a
responsabilidade, mesmo tendo em mãos pareceres técnicos que aponte para o
problema. Culpar o passado é fácil, até porque muitos daqueles do passado já
não tem como responder e outros, por acordos ou adesões encontram-se bem
aquinhoados na atual administração e não irá desagradar o chefe com desmentidos
ou defesas.
Culpar a natureza é muita cara de pau, até porque esta não tem como se
defender e, transferir para as famílias pobres é chover no molhado.
Mas o que deixa indignado, é ver a imprensa que dá tanto espaço aos
políticos, não aproveitar o momento, para transformar a situação em uma peça de
investigação jornalística e ir a fundo para ver de quem é realmente a culpa,
que com certeza não será dos pobres ou da natureza.
Ao jogar a culpa nas famílias pobres pelas tragédias, é querer tripudiar
com a inteligência do povo brasileiro. É simplesmente fugir das suas
responsabilidades.
Senão vejamos: dados divulgados pelo Ministério das Cidades, mostra que
existem 10 milhões de moradias em condições precárias. Se conseguiram
identificar a situação então sabe onde estão localizadas.
Agora pergunto: o que tem feito os nossos gestores em fomentar ações e
políticas públicas para minorar estas condições de precariedade? Pelo que se
sabe e se tem conhecimento, nada ou quase nada. Ficam sempre a espera de uma
nova calamidade, para justificar a gastança e o desvio dos recursos públicos,
em proveito próprio.
Ninguém procura morar em condições precárias ou em áreas de riscos, pelo
espírito de aventura ou por querer aparecer para a sociedade como heróis, são
as condições que lhe deram que o fizeram ou o forçaram a buscar estes locais,
pois são os únicos que lhe restam.
Ou alguém em sã consciência acha que a pessoa procura construir um
barraco em uma área de risco, levando
mulher e filhos, apenas pelo simples fato de gostar de aventura? Ora isto é uma
piada de mau gosto. Estas são as condições
e as oportunidades que lhes são dadas.
Esta tem sido a dura realidade que estas famílias têm que enfrentar,
apesar dos discursos bonitos.
São pessoas desempregadas, muitas sem educação, que vivem basicamente da
renda da bolsa família, ou quando conseguem trabalho se sujeitam a receberem
salário inferior ao mínimo necessário para a subsistência sua e de sua família.
São pessoas que vivem na miséria, em estado de penúria, e ainda vem os nossos
governantes culpá-las? É muita maldade.
Apenas para que sirva de analise, vejamos alguns dados de fundamental
importância e cujas informações são inquestionáveis: no Brasil temos cerca de
30 milhões de pessoas que sobrevivem com
menos de R$ 150,00 por mês, sendo que deste total cerca de 12 milhões vivem com
R$ 70,00. Acrescido a este 30 milhões, temos mais cerca de 40 milhões de
trabalhadores e ou aposentados que percebem um salário mínimo. Desta forma,
temos 70 milhões de pessoas e ou famílias, que conseguem sobreviver com até um
salário mínimo.
Se acrescentarmos as crianças e adolescentes, mais os desempregados então
chegarão a uma população próxima dos 130 milhões de pessoas no País, que
sobrevivem com esta renda.
Então, será este o tipo de populismo a que querem se referir alguns
dirigentes? Será que com este rendimento, estariam dadas as condições para que
as pessoas possam residir em locais que não lhes traga algum risco?
Está na hora dos nossos dirigentes públicos de assumirem a
responsabilidade pela sua omissão.
Quando será que teremos governantes que reconhecerá que apesar de
estarmos em um País rico, porém, conscientemente pagamos um dos piores salários
ao trabalhador brasileiro? Quando será que teremos governantes que em lugar de
jogar a culpa para os antecessores, chamará a responsabilidade para si e
buscará encontrar as soluções para os problemas estruturais? Quando será que
teremos gestores públicos que em lugar de culpar os pobres ou o populismo
praticado por alguns, irá ter a coragem de assumir publicamente que a culpa
está na superexploraçao a que está submetido o trabalhador e na ganância
insaciável de nossa elite empresarial, com o aval do Poder Público, cuja sede
pelo lucro tem transformado o trabalhador brasileiro em escravos?
Seria pedir muito à classe dirigente deste País que continua deitado em
berço esplêndido?