quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MST - UM MOVIMENTO QUE MERECE RESPEITO


A reforma agrária, é a condição fundamental para o desenvolvimento do Brasil e para a geração de trabalho, distribuição de renda, democratização da sociedade, promoção da justiça no campo, ocupação equilibrada do território e uso sustentável dos recursos naturais. Sem que tenhamos esta visão, não poderemos pensar em um futuro melhor para as novas gerações.
Quando falamos em reforma agrária estamos defendendo a desconcentração da propriedade da terra, alterando profundamente a atual estrutura fundiária ainda altamente concentrada no Brasil, de forma que possamos tornar produtivas as enormes áreas de terras ociosas e ou com baixa produtividade, garantindo o cumprimento da função social da propriedade. É fundamental, portanto, que o diálogo seja ampliado e que as mudanças sejam aprofundadas.
Devemos entender que os movimentos sociais e as organizações no campo têm um papel fundamental na construção da democracia brasileira e do desenvolvimento nacional, sendo a sua existência e lutas, legitimas e necessárias.
Portanto, apoiar a luta do MST, sua mobilização nacional e de aprofundamento do diálogo e interlocução com o governo federal é necessário e fundamental, deixando de lado a hipocrisia e a defesa dos senhores coronéis e latifundiários, que nada fazem para aumentar a produtividade e geração de emprego ou busca de uma solução para o campo, mas sim, utilizar deste patrimônio, a enorme quantidade de terra que possui, para continuar mamando nas tetas dos recursos oficiais distribuídos sem qualquer critério ou controle da sua aplicação.
É importante que tenhamos em mente que a trajetória do MST não nasceu por acaso, mas surgiu em função da grande concentração fundiária que marca o Brasil desde o seu descobrimento. Em razão desta injustiça social, antes do MST outros movimentos e formas de resistências aconteceram como os Quilombos, Canudos, as Ligas Camponesas, a Guerrilha do Araguaia, entre muitas outras.
E afinal o que é ser SEM TERRA?
A maioria das pessoas tem este termo como depreciativo ou quanto ouve falar em sem-terra, passam a imaginar que são os trabalhadores rurais ou homens do campo que não têm terra.
Mas não. Sem - Terra hoje já passou a ser nome próprio. Faz parte da identidade destes heróis. É o nome de trabalhadores e trabalhadoras organizados lutando pela reforma agrária e para transformar a sociedade.
Ser Sem - Terra tornou-se sinônimo de resgate da dignidade de “trabalhadores” chamados de vagabundos, chutados e jogados de um lado para outro, por esta sociedade hipócrita, que valoriza o latifundiário, em detrimento desta gente que só quer uma coisa: terra e condições para trabalhar e produzir alimento para esta mesma sociedade, que não os respeitam.
Conquistaram, por sua opção de entrar na luta, uma identidade: SEM - TERRA. Tornaram-se, em razão do MST, um cidadão respeitado. E o MST nada mais é do que milhares de sem-terra.
A sociedade construída pelo neoliberalismo, fortemente sedimentada pelo governo Fernando Henrique Cardoso onde a prioridade foi a agro – exportação, ou seja, em vez de incentivar a produção de alimentos, a política agrícola foi voltada e traçada para atender os interesses do mercado internacional e forma que gerasse os dólares necessários para pagar os juros da dívida externa, desta forma excluiu os mais pobres, deixa-os sem trabalho, sem direitos e sem dignidade. Este foi o legado deixado pelos oitos anos de FHC e seus aliados.
O MST, aos poucos, vem conseguindo resgatar essa dignidade: consegue fazer seus documentos e registrar os filhos; aprende a ler e escrever a realidade e vê os seus filhos participando da escola; consegue um teto para a família.
E o Movimento vai muito além da Reforma Agrária. Luta pelo acesso da educação, não apenas aquela eduiação que se preocupa em alfabetizar ou transformar o Sem Terra em analfabeto funcional, mas por uma educação de qualidade que os capacitem para o futuro. Para tanto, hoje existem diversos centros de formação, onde acontecem cursos universitários para jovens Sem Terra, oferecendo cursos de letras, pedagogia, gestão, magistério, dentre outros, cujos cursos ocorrem dentro das áreas de reforma agrária, com isto, os educandos conciliam a formação e capacitação acadêmica com a política. Portanto, ao concluir o curso, os formandos retornam aos seus locais de origem como educadores e multiplicadores, conhecendo muito mais da realidade dos educandos e dos princípios da educação do campo.
Queiramos ou não, mas o Movimento dos Sem Terra tem que ser apontado como responsável pelo ressurgimento da questão da reforma agrária na consciência nacional. Para obter maior visibilidade perante a opinião pública e aumentar o seu poder de pressão junto aos poder público, os seus líderes proclamam: o objetivo do MST é mudar o modelo da sociedade, que ora assiste-se em nosso País e só conseguirá alcançar os objetivos quando a reforma agrária for uma luta de todos.
É preciso que tenhamos a compreensão que o Movimento Sem Terra não é uma falha do sistema ou uma disfunção, mas a condição necessária para o seu funcionamento. O Movimento expressa a dinâmica desse sistema. Ao concentrarem suas reivindicações no acesso a terra e ao crédito não está colocando em cheque a lógica do sistema. Por incrível que pareça, está reafirmando esta lógica. Enquanto, os mecanismos que aí estão e regulam o sistema capitalista e o acesso à terra não forem devidamente superados e a sua dinâmica de produção voltada para a agro-pecuária e ou agro - negócio e submetida aos interesses da economia urbana e ou da lógica do sistema financeiro, a luta pelo acesso à terra se auto-alimentará.
Ou seja, o Sem-Terra continuará produzindo novos sem terras, que serão originados deste modelo rural concentrador e excludente.
Agora vem o Congresso Nacional prestar mais um desserviço a Nação, que através da líder maior dos nossos latifundiários, pretende instalar uma CPI para apurar os recursos recebidos pelo MST e sua aplicação, utilizando-se do Congresso para tentar intimidar o Movimento.
Prestaria o nosso Congresso Nacional um serviço ao País, se ao invés de tentar intimidar um Movimento que apenas pede dignidade e respeito para os Sem Terras, tivessem os nossos representantes a coragem de instalar uma CPI com o objetivo de apurar para onde vão os recursos obtidos pelos latifundiários, através dos bancos oficiais, para serem aplicados na produção e desviados para aquisição de bens e imóveis de luxo, para financiar campanhas políticas, para investir no mercado financeiro, e depois saírem por aí, pedindo prorrogação e ou anistia dos seus débitos. Isto ninguém tem coragem de fazer.
Mas, mesmo com a tentativa de intimidação, liderado por parlamentares que não tem a mínima hombridade moral, porém tenho a certeza que o Movimento não irá recuar, e sim, será motivo para se unirem ainda mais, de se fortalecerem de continuarem através de seu movimento, a ocuparem órgãos públicos, ruas e estradas com suas bandeiras, com o objetivo de serem vistos pela sociedade e de estimular a discussão sobre a realidade rural brasileira.
E mais do que nunca está chegado a hora, do Movimento também dá uma resposta à sociedade, se unindo e reelegendo aqueles que defendem as suas causas e bandeiras e fortalecendo-os através da eleição de homens que tenham origem do movimento, fazendo uma bancada forte e competente, que possa se contrapor à bancada ruralista, que apenas defendem a situação de opressão e de anarquia que hoje reina no campo.

4 comentários:

Francklin Sá disse...

Cristina comenta:
Querido, reli o texto, está muito bom.
Exceto as partes que não vejo cmo sendo o caminho, mas compreendo tua leitura e de certa forma faz sentido, minha unica questão em nao ve-la como positiva, é porque ao optar pela politica, pude ver que ao inves de perder, o MST tem perdido, perdido quadros que se envolvem no mundo da politica e acabam se corrompendo, perdendo no desgaste da sua imagem e militancia, que passam a focar a politica e desviar-se dos verdadeiros horizontes da luta, perder por passar a ver o povo como voto, e não como sujeitos, mas como eu já disse, tua leitura faz todo sentid, e seria correta se os individuos sem terra, ao se eleger continuassem fieis a sua bandeira e na luta pelo bem comum.

Francklin Sá disse...

Eu li o artigo , mas me desculpe , hoje MST para mim eh sinonimo de vandalismo . Apoio a teoria do que foi escrito mas a pratica que vemos hj eh diferente . Tem q apurar sim pra onde vai esse dinheiro . Pago meus impostos em dia e nao estou nada nada satisfeita ( nem muitas pessoas que converso sobre MST) com atos quase terroristas desses vandalos . Sei que la tem gente de bem mas acredito eu que seja minoria ou sejam uma maioria que nao esta tomando atitudes e estao permitindo que os maus se destaquem . Precisasmos sim da reforma agraria , mas nao da atual forma que esta. Abrcs

omentários de Aline Carvalho

Francklin Sá disse...

Floriano Loo comenta
Meu caro amigo
Graças a você e a seu filho, ontem eu estive falando ao vivo e em cores com o Waldeck. A coisa ficou assim: quando um de nós dois arranjar dois editores (de verdade) dá um deles para o outro.
A Feira do Livro estava uma loucura. Parecia ônibus apertado. Estive lá somente por uma hora. Quinze minutos para entrar, quinze para sair, e meia hora conversando com o Waldeck.
Para o carioca, deu na televisão, é farra. Ninguém lê porra nenhuma, nas estava lotado.
Mas vamos aos fatos: Li com especial atenção aquilo sobre os sem-terra.
O negócio é o seguinte:
De um lado os latifundiários e do outro, os que querem ser minifundiários.
Os latifundiários são financiados de pai para filho com o nosso dinheiro.
Os sem-terra estão se fudendo há muito tempo.
Por quê?
Os latifúndios, como você está careca de saber, pois é economista, não são só vastas fazendas. São S/A. Daí- sei que você sabe - só estou ilustrando, não são regidas pelo código civil e sim pela lei das sociedades anônimas.
Por isso é que tem o poder “cartorial” de se habilitar e pegar tais incentivos. Uma ou três, juntas, são uma S/A.
Em contrapartida, por serem empresas, têm clientes certos lá fora. Se o preço é bom lá fora, aqui dentro a gente fica sem o produto delas, pois não pagamos por ele em dólar.
Essas S/A garantem parte do PIB.
Agora vamos à hipótese em abstrato de que se conceda a qualquer título um minifúndio para cada família sem-terra.
Eles vão plantar uma roça diversificada e em princípio para consumo doméstico, e o que sobrar (pode nem colher) vender ali na feira do povoado, levado na carroça.
Isso pode matar a fome deles, mas não dá PIB.
A cultura diversificada não existe nas S/A, e sim uma monocultura altamente especializada, do jeito que o exportador gosta.
Hoje o negócio é soja. Soja pede muito terreno. Não dá para plantar soja em minifúndio.
Isso não é coisa do Lulla; isso, como você sabe, é coisa velha.
É política internacional. Os outros países fazem o mesmo, pois são concorrentes.
O que o governo poderia fazer era meter a mão no bolso do erário e dar tantas ações de uma por uma dessas fazendas S/A, para cada indivíduo sem terra, e a fazenda da qual ele detinha ações, acolhê-lo como trabalhador. Seu salário seria correspondente ao rendimento das ações; e ele teria direito lá dentro da própria fazenda S/A, um alqueire bom para produzir; para plantar seu sustento, porque o fazendeiro não dá esse direito ao seu peão, pois o subjuga nas “dívidas” do armazém.
Não interessa à máquina, meter a mão no erário e distribuir minifúndios de cultura plural e doméstica. Isso não dá PIB.
Organizar os sem-terra em cooperativas ou S/A, eles sem-terra, por sua origem humilde, não têm capacidade para gerir tal coisa.
Por o Estado para gerir, não interessa ao mesmo.
No tempo da ditadura, houve um buchicho internacional que o Brasil não havia ocupado a Amazônia, daí, pelas convenções internacionais a Amazônia não pertencia ao Brasil.
Foi então que os ditadores começaram a construir estradas que saiam do nada e iam para lugar nenhum. Estavam certos, pois punham no papel “a ocupação”. Além de estradas, lotearam a selva em sítios, e no meio do desenho tinha o povoado com farmácia e armazém. O cara ia para o sítio e ficava lá e não voltava para o “povoado”, evitando o deslocamento besta. Os povoados viraram cidadezinhas fantasmas, e lá nos sítios eles foram abandonados à sorte, pois o caso não era dar terras a eles, e sim garantir a Amazônia Legal.
Vê que o pobre é massa de manobra.
Com os sem-terras a coisa não é nem vai ser diferente.
Você conhece o nosso amigo Maquiavel: “quer ver um latifundiário puto da vida é tirar dele um palmo de terra”.
Os sem-terra têm que sair para outra.

Cristina Araújo disse...

Prezada Aline,

Muitas coisas em nosso país não andam como a nação merece e gostaria que andasse, e o MST é um reflexo disso. Uma mostra que há milhoes de cidadaos que não cabem neste modelo, que dele são excluidos.
Voce já parou para pensar em quantos pais e mães de familia sairam das ruas, da situação de meeiro (onde se matava de trabalhar e mal conseguia o pao de cada dia), do desemprego, das favelas onde só lhe restava o trafico... Que assim viviam porque nao tinham outra opção de vida e moradia, e que hoje, graças a luta do povo e do MST, tem um teto para se abrigar e se proteger do sol e da chuva?

Já parou para pensar que enquanto se plantam milhoes de quilometros de soja, eucalipto e tantos outros tipos de monocultura, falta feijao e arroz na mesa de muitas crianças e adultos nesse país? Ao fazer uma ocupação, nao é um ato de vandalismo que ocorre ali, mas uma esperança de cada brasileiro ter seus direitos assegurados, inclusive o mais elementar, o direito a vida.
Enquanto se exporta alimento, os brasileiros passam fome.

Já parou para pensar em quantos jovens e adultos, que sempre foram excluidos do sistema, hoje fazem cursos superiores graças a organização destes "vandalos"?

Pense um pouco em que estágio estariamos no campo se não fossem os movimentos organizados que ousam desafar o modelo economico e o latifundio.

Tantos sem terra, nao saem as ruas para protestar, as areas improdutivas para ocupar, por nao ter o que fazer. Ao contrario, é por que querem construir algo melhor: Uma sociedade mais justa e digna, onde os humanos possa viver, no minimo, em condições humanas.

Um abraço.