terça-feira, 22 de setembro de 2009

GLOBALIZAÇÃO: O DOMÍNIO DO FINANCEIRO SOBRE A PRODUÇÃO


Com as atuais regras da globalização, a realidade econômica e social mudou profundamente. Hoje os tempos são bem diferentes de quando o domínio econômico estava com o poder agrícola, onde a referência principal era o controle da terra, ou então na era industrial, quando a discussão se dava em relação aos meios de produção. Nos tempos da globalização, a economia passou a ser ditada pelo setor financeiro, cuja preocupação maior gira em torno do acúmulo de capitais, desenhando assim novos contornos à economia, cujas teorias tem o capital como fator referencial.
Na maioria dos países, inclusive no Brasil, respira-se a democracia política, que traz como ideal o poder a ser exercido pela sociedade de acordo com um pacto social e de forma democrática, procurando envolver ou contar com a participação de todos em suas decisões, em contraposição ao que ocorre na economia. Diferente do que se passa no campo político, com a ascensão do domínio da economia pela área financeira, a população passou a conviver com a ditadura econômica, onde apenas 435 famílias no mundo maneja a seu bel prazer, recursos superiores à metade mais pobre da população mundial, que pela lógica ditada pela globalização, está a exigir que esta economia seja urgentemente democratizada e socializada, não só os prejuizos, como ocorreu na crise recente, mas, também e principalmente, nos ganhos.
Portanto, para alcançar esta democracia, será necessário que ela seja canalizada racionalmente, fazendo com os esforços e ganhos produtivos sejam distribuidos entre todos ou que sejam dadas as condições para que todos tenham acesso aos recursos, voltando as vistas não apenas e unicamente sob o ponto de vista do crescimento, mas que a visão seja alargada de forma que sejam identificados o QUE está crescendo e PARA QUEM.
Seria interessante que os responsáveis ou governantes procurassem dar uma guinada radical na orientação da economia, de forma que os esforços produtivos sejam canalizados em busca de resultados que interessem e atendam o conjunto das pessoas, para tanto, torna-se necessário que sejam estabelecidos novos instrumentos de avaliação, incluindo-se o conceito de rentabilidade social como essencial para o cálculo macroeconômico da produtividade.
Quando falamos em rentabilidade social, queremos dizer que é necessário que sejam considerados os fatores sociais que envolvem a economia, para que se possa evoluir para uma contabilidade que demonstre para sociedade o verdadeiro resultado em termos de qualidade de vida ou de progresso social, ou mesmo da degradação imposta a sociedade de forma real.
De que adianta um grande produtor ou empresário rural, sob o argumento de aumento da produtividade por hectare, ou de que está contribuindo para a riqueza do munícipio ou da região, expulsar os pequenos produtores para a periferia urbanas. Esta é uma avaliação ditada pela ótica empresarial de forma unilateral, sem que a aprofundemos e a coloquemos um viés social. Se analisarmos a situação como um todo, aí incluindo a ótica social, veremos os custos gerados por esta expulsão, com o surgimento de favelas, poluição do ar e das águas, o desconforto destas famílias expulsas do seu habitat natural, da geração do desemprego e dos demais custos sociais levados para as cidades, com certeza o cálculo do resultado final será bem diferente dos números frios apresentados inicialmente.
Assim, o discurso do aumento da produtividade e da geração de riquezas hipoteticamente criado, quando deduzidos dos custos sociais que esta produção ocasionou, com certeza o resultado final obtido será bem diferente daqueles divulgados pela contabilidade.
Portanto, nesses novos tempos, é importante que uma nova metodologia contábil seja estabelecida, de forma que o calculo da riqueza nacional, agregue os custos gerados à sociedade, invertendo de forma radical os métodos utilizados atualmente, incluindo o ser humano, não apenas como mais um instrumento a serviço das organizações, mas que passe a ser visto como um objetivo a mais, ou seja, onde o social prevaleça e deixe de ser um meio para assegurar os objetivos econômicos, muito pelo contrário, que o econômico passe a ser visto como um meio para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Uma vida com saúde, educação de qualidade e gratuita, com acesso a cultura, lazer e segurança é o que todos esperam e exigem da vida. Desta forma, a economia deveria ser colocada a serviço dos objetivos sociais e da constante busca para melhorar a qualidade de vida da população.
Mensurar a qualidade de vida, os custos sociais do funcionamento de uma escola ou de hospital ou posto de saúde, do trabalho voluntário das pessoas e dos serviços femininos domiciliar, por exemplo, é bastante dificil, até por falta de uma metodologia precisa. Porém, queiramos ou não, esta é uma realidade que deve ser enfrentada e ter os seus cálculos incluidos para que possamos quantificar o valor final das atividades econômicas, e de forma justa possamos avaliar a importancia das políticas públicas e privadas instituidas.
O que se pretende ao incluir os custos sociais, é demonstrar a importancia de se mudar o enfoque frio das contas econômicas e públicas. Um banco, ao desviar os recursos da poupança para aplicações no mercado financeiro especulativo e logicamente apresentar lucros elevados e "contribuido" para elevação do PIB, deveria em lugar de ser parabenizado, ser punido, por ter cometido o crime de desvio de recursos, por ter descapitalizado a sociedade, ao retirar ou reduzir o uso produtivo da poupança, que é para isto que a poupança foi estabelecida e com este objetivo: PRODUZIR.
A financeirização da economia aquiriu o papel central na globalização da economia, onde o mais importante é o lucro e o poder gerado pela especulação financeira em detrimento do investimento no setor produtivo, cuja especulação consiste em acumulação de riqueza sem a necessidade de produzir riqueza correspondente, o que significa dizer em termos práticos, são pessoas que vivem do suor dos outros, sem oferecer nada em troca. Assim, descapitalizam o setor produtivo, o Estado, a sociedade, o consumidor, que afinal são os reais proprietários dos recursos, em benefícios de poucos, quando na realidade o fluxo de capital existente deveriam ser canalizados para a produção.
O que se pretende, diferente da ótica implantada pelo Banco Central do Brasil, presidida por um homem vindo da área financeira, cuja visão é vista apenas por este lado da sua formação, é que os recursos financeiros possam servir ao nosso desenvolvimento e das comunidades, por mais distante que se encontrem, pois é a sociedade como um todo os proprietários dos recursos existentes. Leis devem ser criadas de forma que as agências financeiras cumpram obrigações continuadas e afirmativas para satisfazer as necessidades de créditos das comunidades, ou seja, que as obrigações e ações afirmativas tenham como objetivos o de colocar os recursos das comunidades em benefício da própria comunidade, e não benefício das instituições financeiras, pertencentes aquelas 435 famílias, abordadas no início.

Um comentário:

Francklin Sá disse...

Floriano Lott fala

É isso aí garoto. Mas fixar o da roça à terra é difícil.
Numa fazenda S/A que planta cana, digamos que tenha morando dentro
(bóia-frias eventuais fora) trinta pessoas.
Peões facão na mão, mulheres e crianças (pois não tem creche).
Aí a S/A compra uma (só uma) ceifadeira de cana que vai na carroceria
dum caminhão dirigido por uma mocinha (é verdade) perita no assunto,
com curso profissionalizante e o diabo a quatro.
Ela não saiu de dentro das famílias que habitam na fazenda. Porque ela
tem cultura (segundo grau) e escola profissionalizante que é lá longe
da fazenda.
Com a ceifadeira, não precisa mais tacar fogo no canavial. Não precisa
mais dos peões, pois ela ( a moçoila) colhe, limpa, corta em pedaços
iguais, amarra em feixes, tudo ao mesmo tempo, e transporta.
Basta uma máquina dessas e uma mocinha dessas, e os lavradores têm que
pegar o pau de arara e ir para São Paulo ser peão de obra.
A família vai aumentar a favela.
Porque para cada máquina teria que ter várias escolas, começando do
beabá até saber lidar com a máquina.
Como a máquina substitui porrões e mais porrões de pessoas, nem isso
vai adiantar. A solução seria construir estradas de ferro passando por
todas as S/A. Estas EF dariam suporte em tempo integral. Levaria o
adubo. Durante a colheita teria vagões-fábricas de enlatados. O
produto que sobrasse seria manufaturado e enlatado pelos moradores
locais, e levados aos portos de mar ou portos secos.Teriam
vagões-escolas para os adultos. Escolas técnicas.
Aí, mesmo na entresafra o povo teria atividade e estaria fixado à terra.
Mas nunca, eu disse nunca, a terra seria dele. A menos que o governo
obrigasse que o salário deles seria em parte em ações da S/A.
Mas isso já é comunismo...
Não é, mas vão dizer.
Eu recebi um PPS agora, neste instante, alertando que o Lulla quer
implantar um regime comunista no Brasil.
É brincadeira.
Mas o brasileiro se borra de medo do comunismo.
Veja Getúlio, parlamentarismo no Jango e a Gloriosa de 64.
A saída é o pau de arara.