Solange Caetano: Em quem você vota,
enfermeira?
Estamos a menos de um
mês das mais importantes eleições municipais do Brasil neste século. Apesar de
eleger prefeitos e vereadores, cargos circunscritos ao debate de temas
municipais, essa eleição está nacionalizada e polarizada; o debate que percorre
as campanhas diz respeito às questões nacionais e, principalmente, ao embate
entre candidatos que defendem a Constituição, a democracia, os direitos dos
trabalhadores e uma sociedade mais justa, e aqueles que preferem o retrocesso,
um país sem leis, de ataque à ciência e aos direitos trabalhistas.
Ao votar nesse dia 6
de outubro, devemos procurar analisar cada candidato ou candidata às
prefeituras e câmaras de vereadores e procurar entender a quais interesses essa
pessoa servirá quando estiver no cargo.
Para os profissionais
de saúde, especialmente da área da enfermagem, é fundamental ter prefeitos e
vereadores comprometidos com a saúde pública. Mas não só isso: comprometidos
com a valorização dos profissionais da saúde. Isso tem uma implicação prática,
que é garantir o pagamento do Piso Salarial da categoria, conquistado depois de
muita luta, mas relativizado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
As eleições municipais
são também uma oportunidade para dar mais representatividade às mulheres e aos
negros, homens e mulheres pretas. São dois segmentos sociais historicamente
relegados à sub-representação, apesar de serem maioria na sociedade brasileira.
As mulheres são 51,5%
no Brasil, segundo o Censo de 2022. No entanto, apenas 12% dos municípios são
governados por mulheres. As mulheres negras somam 28% da população, mas estão à
frente de apenas 4% dos municípios. Os homens seguem no comando de 88% das
prefeituras brasileiras.
Dados mostram que no
Norte, há 68 cidades governadas por mulheres, 15% do total; no Nordeste, as
prefeitas são 17% e governam 307 cidades; o Centro-Oeste tem 12% de prefeitas,
55 cidades; no Sudeste, elas são 8% e governam 137 cidades; finalmente, no Sul,
governam 9% das prefeituras, 106 cidades.
Se o recorte for de
prefeitas negras, temos o seguinte: Norte, 9%, Nordeste, 7%; Centro-Oeste, 3%,
Sudeste, 2%; e Sul, 0,3%.
O que esses números
nos mostram? Sul e Sudeste, tidas como mais prósperas economicamente, são as
regiões com menor presença de mulheres prefeitas. E muito menor ainda se forem
prefeitas pretas. Por que será? É inevitável pensar que as políticas públicas destinadas
à reparação histórica de mulheres e homens pretos ainda são insuficientes;
assim como é insuficiente o incentivo à participação política das mulheres.
Por isso, nas eleições
desse ano, lembre-se de procurar candidatos comprometidos com a democracia e
com as causas da saúde, das mulheres e dos homens e mulheres pretas.
• ‘Setembro amarelo: o sofrimento dos
trabalhadores da saúde’. Por Célia Regina Costa
10 de setembro, é Dia
Mundial de Prevenção ao Suicídio. Segundo a pesquisa “COVID-19 Health care
wOrkErs Study (HEROES)”, divulgada em 2022, até 15% dos profissionais da saúde
ouvidos pelo estudo pensaram em cometer suicídio. De acordo com o levantamento,
trabalhadores e trabalhadoras de 11 países latino-americanos apresentavam altas
taxas de sintomas depressivos e sofrimento psíquico.
A análise realizada
pelas universidades do Chile e da Columbia (nos Estados Unidos), com a
colaboração da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), indicou a necessidade
de modificar o ambiente laboral e garantir condições de trabalho adequadas.
Medidas que incluíam a orientação de remuneração digna, condições contratuais
estáveis e criar espaços onde as equipes possam conversar, desabafar e praticar
o autocuidado.
Todos esses fatores,
porém, estão muito longe das práticas aplicadas pelo governo de São Paulo para
a área de saúde. No segmento, a realidade é de duplas jornadas por conta dos
baixos salários que obrigam a ter um segundo emprego, falta de condições mínimas
de trabalho, como materiais e insumos básicos, além de um número inadequado
para atendimento à população.
Hospitais sem
estrutura física mínima, com problemas que colocam profissionais em risco, sem
segurança e onde, muitas vezes, impera o assédio moral, ajudam a explicar esse
cenário alarmante.
Para piorar, a
política de entrega das unidades hospitalares por meio das privatizações amplia
a insegurança, já que os profissionais presentes nos locais transferidos à
iniciativa privada convivem com constantes incertezas. Sem saber se continuarão
onde construíram uma história e laços com a população.
A situação crítica não
se resume a uma profissão. Em 2022, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também
publicou um estudo para caracterizar a situação de mais de 2 milhões de
trabalhadores de nível técnico e auxiliar, que atuavam na assistência, no
cuidado e no enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil. Segundo a
pesquisa, 80% desse grupo vive desgastado profissionalmente com estresse
psicológico, ansiedade e esgotamento mental. Além disso, 70% citaram falta de
apoio institucional.
São homens e mulheres
invisíveis aos olhos do governo paulista, como profissionais da limpeza,
recepcionistas, motoristas, entre tantos outros que fazem compõem as
engrenagens que colocam a saúde em funcionamento, mas que se tornam alvo dos
cidadãos e cidadãs no cenário de serviços que, mesmo com muito esforço, não
atende à necessidade de todos e todas. Situação que amplia ainda mais a
violência e o estresse já presentes no cotidiano.
Atualmente, esse
cenário, além de não se alterar, piorou em São Paulo. A reversão dessa
conjuntura deve incluir a valorização das trabalhadoras e trabalhadores da
saúde e, para isso, qualquer gestão que esteja minimamente comprometida precisa
colocar em prática políticas públicas voltadas à abertura de concursos
públicos, salários dignos e jornadas decentes. O que temos hoje é o oposto,
silêncio às pautas de reivindicações da categoria, vale-refeição de apenas R$
12 por dia e a liquidação da saúde pública por meio de terceirizações de
setores ou as privatizações de unidades inteiras.
Um ambiente saudável
para trabalhar, proporciona qualidade de vida e cuidado com a saúde mental e
isso começa com condições dignas de trabalho, de alimentação e de direitos,
como negociação coletiva e respeito às pautas que refletem as necessidades da
categoria!
Fonte: Outras Palavras
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