terça-feira, 17 de setembro de 2024

Solange Caetano: Em quem você vota, enfermeira?

Estamos a menos de um mês das mais importantes eleições municipais do Brasil neste século. Apesar de eleger prefeitos e vereadores, cargos circunscritos ao debate de temas municipais, essa eleição está nacionalizada e polarizada; o debate que percorre as campanhas diz respeito às questões nacionais e, principalmente, ao embate entre candidatos que defendem a Constituição, a democracia, os direitos dos trabalhadores e uma sociedade mais justa, e aqueles que preferem o retrocesso, um país sem leis, de ataque à ciência e aos direitos trabalhistas.

Ao votar nesse dia 6 de outubro, devemos procurar analisar cada candidato ou candidata às prefeituras e câmaras de vereadores e procurar entender a quais interesses essa pessoa servirá quando estiver no cargo.

Para os profissionais de saúde, especialmente da área da enfermagem, é fundamental ter prefeitos e vereadores comprometidos com a saúde pública. Mas não só isso: comprometidos com a valorização dos profissionais da saúde. Isso tem uma implicação prática, que é garantir o pagamento do Piso Salarial da categoria, conquistado depois de muita luta, mas relativizado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

As eleições municipais são também uma oportunidade para dar mais representatividade às mulheres e aos negros, homens e mulheres pretas. São dois segmentos sociais historicamente relegados à sub-representação, apesar de serem maioria na sociedade brasileira.

As mulheres são 51,5% no Brasil, segundo o Censo de 2022. No entanto, apenas 12% dos municípios são governados por mulheres. As mulheres negras somam 28% da população, mas estão à frente de apenas 4% dos municípios. Os homens seguem no comando de 88% das prefeituras brasileiras.

Dados mostram que no Norte, há 68 cidades governadas por mulheres, 15% do total; no Nordeste, as prefeitas são 17% e governam 307 cidades; o Centro-Oeste tem 12% de prefeitas, 55 cidades; no Sudeste, elas são 8% e governam 137 cidades; finalmente, no Sul, governam 9% das prefeituras, 106 cidades.

Se o recorte for de prefeitas negras, temos o seguinte: Norte, 9%, Nordeste, 7%; Centro-Oeste, 3%, Sudeste, 2%; e Sul, 0,3%.

O que esses números nos mostram? Sul e Sudeste, tidas como mais prósperas economicamente, são as regiões com menor presença de mulheres prefeitas. E muito menor ainda se forem prefeitas pretas. Por que será? É inevitável pensar que as políticas públicas destinadas à reparação histórica de mulheres e homens pretos ainda são insuficientes; assim como é insuficiente o incentivo à participação política das mulheres.

Por isso, nas eleições desse ano, lembre-se de procurar candidatos comprometidos com a democracia e com as causas da saúde, das mulheres e dos homens e mulheres pretas.

 

•        ‘Setembro amarelo: o sofrimento dos trabalhadores da saúde’. Por Célia Regina Costa

10 de setembro, é Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Segundo a pesquisa “COVID-19 Health care wOrkErs Study (HEROES)”, divulgada em 2022, até 15% dos profissionais da saúde ouvidos pelo estudo pensaram em cometer suicídio. De acordo com o levantamento, trabalhadores e trabalhadoras de 11 países latino-americanos apresentavam altas taxas de sintomas depressivos e sofrimento psíquico.

A análise realizada pelas universidades do Chile e da Columbia (nos Estados Unidos), com a colaboração da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), indicou a necessidade de modificar o ambiente laboral e garantir condições de trabalho adequadas. Medidas que incluíam a orientação de remuneração digna, condições contratuais estáveis e criar espaços onde as equipes possam conversar, desabafar e praticar o autocuidado.

Todos esses fatores, porém, estão muito longe das práticas aplicadas pelo governo de São Paulo para a área de saúde. No segmento, a realidade é de duplas jornadas por conta dos baixos salários que obrigam a ter um segundo emprego, falta de condições mínimas de trabalho, como materiais e insumos básicos, além de um número inadequado para atendimento à população.

Hospitais sem estrutura física mínima, com problemas que colocam profissionais em risco, sem segurança e onde, muitas vezes, impera o assédio moral, ajudam a explicar esse cenário alarmante.

Para piorar, a política de entrega das unidades hospitalares por meio das privatizações amplia a insegurança, já que os profissionais presentes nos locais transferidos à iniciativa privada convivem com constantes incertezas. Sem saber se continuarão onde construíram uma história e laços com a população.

A situação crítica não se resume a uma profissão. Em 2022, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também publicou um estudo para caracterizar a situação de mais de 2 milhões de trabalhadores de nível técnico e auxiliar, que atuavam na assistência, no cuidado e no enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil. Segundo a pesquisa, 80% desse grupo vive desgastado profissionalmente com estresse psicológico, ansiedade e esgotamento mental. Além disso, 70% citaram falta de apoio institucional.

São homens e mulheres invisíveis aos olhos do governo paulista, como profissionais da limpeza, recepcionistas, motoristas, entre tantos outros que fazem compõem as engrenagens que colocam a saúde em funcionamento, mas que se tornam alvo dos cidadãos e cidadãs no cenário de serviços que, mesmo com muito esforço, não atende à necessidade de todos e todas. Situação que amplia ainda mais a violência e o estresse já presentes no cotidiano.

Atualmente, esse cenário, além de não se alterar, piorou em São Paulo. A reversão dessa conjuntura deve incluir a valorização das trabalhadoras e trabalhadores da saúde e, para isso, qualquer gestão que esteja minimamente comprometida precisa colocar em prática políticas públicas voltadas à abertura de concursos públicos, salários dignos e jornadas decentes. O que temos hoje é o oposto, silêncio às pautas de reivindicações da categoria, vale-refeição de apenas R$ 12 por dia e a liquidação da saúde pública por meio de terceirizações de setores ou as privatizações de unidades inteiras.

Um ambiente saudável para trabalhar, proporciona qualidade de vida e cuidado com a saúde mental e isso começa com condições dignas de trabalho, de alimentação e de direitos, como negociação coletiva e respeito às pautas que refletem as necessidades da categoria!

 

Fonte: Outras Palavras

 

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