quinta-feira, 9 de maio de 2024

Com toda tragédia climática no RS, parlamentares mantém 'plano de destruição do meio ambiente no Brasil'

Pelo menos 90 pessoas já morreram no Rio Grande do Sul por causa das fortes chuvas que atingem o estado há mais de uma semana. O cenário na região, já devastador, pode piorar ainda mais. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta de grande perigo para o extremo sul do Rio Grande do Sul. A previsão é de mais de 100 milímetros de chuva por dia, ventos de mais de 100 quilômetros por hora e chuva de granizo entre terça (7) e quarta-feira (8).

A situação também é crítica nos municípios gaúchos que ficam ao redor da Lagoa dos Patos. O governo do estado fez um alerta na noite desta segunda-feira (6) sobre o risco de enchentes nestes locais. Isso porque a água da inundação em Porto Alegre desce para a Lagoa dos Patos para depois escoar para o mar. Também nesta segunda, a prefeitura de Pelotas emitiu ordem de saída para moradores de seis áreas com risco de inundação.

Do ponto de vista meteorológico, a chegada de frentes frias e as áreas de baixa pressão explicam a concentração de chuvas extremas. É o que explica Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, em entrevista ao programa Central do Brasil desta terça-feira (7).

Segundo Astrini, as mudanças climáticas potencializam fenômenos climáticos que já existem na região. "Elas não criam necessariamente algo que não existe, o que ela faz é potencializar toda essa possibilidade de chuva que já cairia lá."

Ele lembrou que o estado vem sofrendo constantemente com condições climáticas adversas. "O Rio Grande do Sul já sofreu no passado com enchentes e há dois anos vinha sofrendo consecutivas secas que também atingiram principalmente a lavoura e, infelizmente, esse é um novo normal."

O representante do Observatório do Clima chamou a atenção para a forma como essas mudanças climáticas são tratadas pela classe política, sobretudo no Congresso Nacional. "Se a gente olhar para a pauta no plenário da Câmara, o que eles têm lá é um verdadeiro plano de destruição do meio ambiente no Brasil. Inclusive com um deputado do Rio Grande do Sul propondo, por exemplo, projetos de lei para liberar geral o desmatamento em todas as áreas que não são florestais. Fica a pergunta: cadê as emendas dos parlamentares destinadas para a prevenção desse tipo de tragédia?"

Segundo informações do portal de notícias g1, dos 34 deputados federais gaúchos, apenas Fernanda Melchionna (Psol)  destinou emendas específicas para prevenção de desastres no estado em 2024.

Segundo ele, planos de contenção e adaptação devem ser colocados em prática nos estados com urgência. "A ministra Marina Silva chegou a anunciar mais de mil áreas no Brasil que estão sob intenso risco devido às mudanças climáticas. Vamos pegar essas regiões, juntar prefeitos, governadores, o governo federal e ter um plano de ação para essas localidades. Não basta ficar esperando, senão a gente vai ficar sempre correndo atrás do prejuízo e quem tem o prejuízo maior a gente já sabe: são as populações pobres."

É preciso ainda criar fundos e reservas financeiras para o enfrentamento das condições climáticas severas. "Precisamos ter mais planejamento antecipado para olhar para esses lugares, criar fundos, reservas financeiras e ir fazendo investimento, nós temos que ter bem claro onde está em maior risco, onde vai ser preciso investir primeiro."

•        Projetos de destruição ambiental avançam no Congresso

Há quase uma semana, o país assiste a pior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, que já afetou mais de 1 milhão de pessoas, deixou ao menos 90 mortos e centenas de desaparecidos. Ainda assim, mais de 25 projetos de lei que atacam o meio ambiente avançam no Senado e na Câmara dos Deputados, como mostra um levantamento do Observatório do Clima.

Para esta quarta-feira (8), por exemplo, está prevista a votação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, do projeto de lei 3.334/2023, que visa diminuir áreas de reserva na Amazônia Legal. De acordo com o texto, os imóveis rurais localizados em áreas de florestas na Amazônia Legal podem reduzir a área de reserva legal de 80% para até 50%.

O PL 3.334/2023 é só um exemplo dos 25 projetos de lei, além de três emendas à Constituição, que constituem o "Novo Pacote da Destruição" de 2024.

Senado Federal

•        PL da BR 319

Também no Senado, temos o PL 4994/2023, conhecido como PL da BR 319, que põe em risco uma das áreas mais biodiversas da Amazônia. O projeto flexibiliza o licenciamento ambiental e permite o asfaltamento da rodovia BR-319, que conecta Manaus (AM) a Porto Velho (RO), cortando o bioma amazônico. O texto já foi considerado inconstitucional por ambientalistas e abre caminho para o desmatamento e a grilagem de terras.

•        PL da Grilagem

Na casa, também há dois projetos que facilitam a grilagem e que foram unidos: o PL 2633/2020 e PL 510/2021. O primeiro, de autoria do deputado Zé Silva (SOLIDARIEDADE/MG), foi anexado ao segundo, conhecido como PL da Grilagem, do senador Irajá Abreu (PSD/TO). Ambos visam flexibilizar normas da regularização fundiária.

Na prática, os projetos de lei, juntos, facilitam que invasores e grileiros possam regularizar seus títulos sob terras invadidas e desmatadas ilegalmente sem necessidade de assinaturas prévia de instrumento de regularização de passivo ambiental. Além disso, aumenta o risco de titulação de terras em áreas de conflito, como assentamentos, pois elimina a vistoria prévia à regularização de latifúndios de até 2.500 ha.

Especialmente o PL 510/2021, prevê anistia a invasores que desmataram ilegalmente uma terra pública entre final de 2011 e de 2014.

Anistia a desmatadores

Já o PL 2374/2020, de autoria do Senador Irajá (PSD/TO), tramita pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária e prevê anistia para desmatadores ao alterar o marco temporal da regularização de terras de reserva legal invadidas e desmatadas de julho de 2008 para maio de 2012.

•        Flexibilização do licenciamento ambiental

O PL 2159/2021, que tem como relatora, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, a senadora Tereza Cristina (PP/MS), ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro. O texto flexibiliza a Lei Geral do Licenciamento Ambiental e permite a isenção de uma série de empreendimentos que promovem a degradação e poluição ambiental.

•        Terras indígenas

# A PEC 48/2023 diz respeito ao marco temporal das terras indígenas e visa alterar o artigo 231 da Constituição Federal para definir que as populações indígenas têm direito a terras ocupadas apenas até a data da promulgação da Constituição de 1988.

# O PL 6050/2023 visa flexibilizar a atividade mineradora em terras indígenas, representando uma ameaça à vida da população indígena e à natureza.

Garimpo

# O PL 355/2020, que tramita na Comissão de Serviços de Infraestrutura, altera o Código de Mineração para criar o Estatuto do Garimpeiro ao facilitar o garimpo, que representa grave ameaça ambiental, e extingue o regime de matrícula.

<<< Também tramitam no Senado Federal os seguintes projetos e proposta:

# PL 6049/2023: Altera as regras do Fundo Amazônia

# PL 3087/2022: Reduz o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque

# PEC 03/2022: Retira a propriedade exclusiva da União sobre os Terrenos de Marinha

>>>>>> Câmara dos Deputados

•        Ameaça à vegetação nativa

O PL 364/2019 altera a Lei de Proteção da Vegetação Nativa e permite a destruição de áreas não-florestais em todos os biomas brasileiros. O texto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) e a deputada Erika Hilton (PSOL/SP) apresentou recurso.

•        Ameaça às Áreas de Conservação

Os PL 5822/2019 e PL 2623/2022 facilitam a exploração mineral nessas áreas. O PL 5822/2019 viabiliza o licenciamento ambiental de garimpos de pequeno porte em Unidades de Conservação de Uso Sustentável do tipo Floresta Nacional. Já o  PL 2623/2022 permite o licenciamento de lavras de pedreiras em Unidades de Proteção Integral e Unidades de Conservação em esfera nacional, estadual e municipal.

•        Invasão a terras públicas

Também tramita, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) com relatoria do deputado Coronel Chrisóstomo (PL/RO), o PL 2550/2021, que permite que o Incra emita certidões que legitimam invasão de terras públicas.

Marco Temporal

Na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, o PL 3915/2021 amplia o marco temporal de invasão de terras de julho de 2008 para maio de 2014. Para os ambientalistas, um dos principais perigos do projeto é incentivar mais invasões com a possibilidade de regularização futura, além de ser visto como uma anistia a grileiros que já invadiram terras.

•        Flexibilização do Ibama

De autoria do deputado Jerônimo Goergen (PP/RS), o PL 10273/2018 muda a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) e permite que o Ibama cobre apenas de atividades submetidas a procedimento de licenciamento ou autorização ambiental de competência da União.

<<< Também tramitam na Câmara dos Deputados os seguintes PLs:

# PL 1282/2019 e PL 2168/2021: Obras de irrigação em áreas de preservação permanente.

# PL 686/2022: Suprime o controle sobre a vegetação secundária em área de uso alternativo do solo

# PL 2550/2021:  Amplia do uso da Certidão de Reconhecimento de Ocupação (CRO)

# PL 2001/2019, PL 717/2021 e PL 5028/2023: Buscam inviabilizar a criação de UCs

# O PL 4546/2021, apresentado pelo ex-presidente Bolsonaro em 2021, institui política de infraestrutura hídrica chamada por ambientalistas de "PL da Privatização da Água", pois se desconecta da Política Nacional de Recursos Hídricos e deixa de tratar a água como bem comum.

 

       PF investigará Pablo Marçal e quem espalha fake news sobre tragédia no RS

 

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, informou na noite desta terça-feira (7) que a Polícia Federal investigará as volumosas fake news relacionadas à catastrófica enchente enfrentada pela população do Rio Grande do Sul nos últimos dias. As informações falsas e o circo de bobagens descarregados diariamente nas redes sociais são criados e espalhados por perfis de extrema direita, abertamente adeptos do bolsonarismo, e estão atrapalhando de forma direta as operações de resgate e socorro.

“Pedi que o ministro Ricardo Lewandowski [da Justiça e Segurança Pública] desse uma entrevista à imprensa anunciando que vai pedir à Polícia Federal que abra procedimento, e que a AGU [Advocacia-Geral da União], junto com o Ministério da Justiça, irá acionar os órgãos competentes para consequente ação judicial e de responsabilização dessas pessoas", declarou Costa durante uma reunião com todos os ministros do governo federal envolvidos nas ações levadas a cabo no Rio Grande do Sul, realizada na sala de emergência montada em Porto Alegre.

Comandantes das Forças Armadas, assim como servidores dos órgãos estaduais civis e militares envolvidos nas operações, vêm relatando resistência por parte da população, assim como grandes dificuldades para realizarem as ações necessárias, por conta das mentiras espalhadas em larga escala pelos bolsonaristas. Uma conferida rápida nas páginas desses extremistas, inclusive de deputados e outros parlamentares seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já mostram o volume de informações mentirosas que eles distribuem para seus fanáticos apoiadores.

“As Forças Armadas e equipes de resgate da Defesa Civil estão exausta de tanta fake news. AGU e PF devem agir para identificar os agentes criminosos e para impedir sua ação organizada para prejudicar os resgates e salvamentos”, disse o ministro Paulo Pimenta, chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), que é gaúcho e tem se mostrado indignado com a confusão gerada pela enxurrada de mentiras pulverizada pelos bolsonaristas.

•        Coach Pablo Marçal e a fake news devastadora

O coach bolsonarista Pablo Marçal, muito conhecido nas redes sociais por seus conteúdos bizarros e grotescos, assim como pela legião de seguidores que o defende, espalhou uma mentira descarada nos últimos dias e relacionada à tragédia do Rio Grande do Sul. Na publicação mentirosa, o personagem adorado pela extrema direita afirmava que a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul estaria exigindo nota fiscal das doações feitas para socorrer a população.

Mesmo com 98 mortos até o momento e uma centena e meia de desaparecidos, Marçal divulgou deliberadamente a mentira e gerou muita confusão no ambiente já caótico no Estado. Foi preciso que um coronel da Brigada Militar gaúcha gravasse um vídeo e divulgasse nos perfis institucionais do estado desmentindo a atitude mórbida do coach bolsonarista.

“A Brigada Militar reforça que não está realizando fiscalizações em embarcações, não está cobrando notas fiscais ou impedindo a circulação de alimentos. Como Instituição de segurança pública, todas nossas forças estão voltadas em salvar vidas e manter a ordem pública”, diz o porta-voz da corporação no comunicado gravado.

Pelas redes sociais, internautas foram para cima do coach-meme e relembraram outros absurdos protagonizados pelo cidadão que foi até pré-candidato à Presidência da República em 2022; já organizou uma atividade que levou um funcionário dele à morte e chegou a colocar um grupo inteiro em risco de morte durante uma atividade de montanhismo sem nenhuma estrutura ou bom senso.

 

Fonte: Brasil de Fato/Fórum

 

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