quinta-feira, 9 de maio de 2024


 

A educação em Gaza está devastada e afetará 'uma geração inteira', diz mídia

A maior parte das escolas da Faixa de Gaza, incluindo as suas 12 universidades, está gravemente danificada a ponto de ficar inutilizável, o que pode prejudicar "uma geração inteira" de palestinos, segundo reportagem de veículo norte-americano.

Segundo o texto do The New York Times, em sete meses de guerra todos os níveis educacionais do enclave palestino foram devastados.

De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) citado pelo meio de comunicação, mais de 80% das escolas de Gaza foram gravemente danificadas ou destruídas pelos combates.

O Ministério da Educação palestino e mais de duas dezenas de funcionários da ONU acusaram Israel de atacar deliberadamente instalações educacionais e hospitais.

"Pode ser razoável perguntar se existe um esforço intencional para destruir completamente o sistema educacional palestino, uma ação conhecida como 'escolasticídio'", disse um grupo de 25 especialistas da ONU em um comunicado no mês passado.

"Esses ataques não são incidentes isolados", acrescentou. "Eles apresentam um padrão sistemático de violência que visa desmantelar os próprios alicerces da sociedade palestina".

Em resposta, os militares israelenses afirmaram em comunicado que não possuem uma "doutrina destinada a causar o máximo dano às infraestruturas civis" e atribuíram a destruição das escolas à "exploração de estruturas civis para fins terroristas" pelo Hamas, que, segundo as forças israelenses, constroem túneis sob as estruturas e usa para lançar ataques e armazenar armas.

"Sob certas condições, este uso militar ilegal pode anular a proteção das escolas contra ataques", afirmou o Exército israelense em resposta enviada ao jornal norte-americano. O Hamas sempre negou a utilização de edifícios civis para fins militares.

A ONU afirmou no mês passado que documentou pelo menos 5.479 estudantes, 261 professores e 95 professores universitários mortos em Gaza desde outubro, bem como pelo menos 7.819 estudantes e 756 professores feridos.

"As implicações para o futuro de Gaza são tão profundas como a devastação. Os estudantes já sofreram uma longa interrupção na sua educação e enfrentam agora um futuro com poucas escolas intactas para onde regressar quando a guerra terminar", diz o texto.

A guerra "afetou enormemente o sistema educacional", disse Hamdan al-Agha, um professor de ciências deslocado do sul de Gaza.

Antes da guerra, Gaza tinha 813 escolas que empregavam cerca de 22 mil professores, de acordo com o Global Education Cluster, um grupo de investigação que trabalha com a ONU. Muitas escolas eram geridas pela agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos, UNRWA.

Mas na semana passada, mais de 85% dessas escolas foram danificadas ou destruídas, segundo um estudo do Grupo Setorial da Educação, baseado em imagens de satélite. De acordo com o estudo, mais de dois terços das escolas de Gaza teriam de ser reconstruídas do zero ou amplamente reparadas antes de poderem voltar a ser utilizadas com segurança.

As universidades foram especialmente afetadas. A Universidade Al-Azhar, na cidade de Gaza, está em ruínas. Os militares israelenses usaram o campus como posto avançado e disseram que o Hamas operou lá.

 

¨      Israel poderá participar da Copa América de 2024 nos EUA? Uma manobra política por meio do futebol

 

Recentemente, a Federação Israelense de Futebol (IFA) assinou acordo de cooperação com a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). A parceria prevê formação de treinadores, árbitros e atletas das categorias feminina e de base. Foi prevista também a realização de amistosos e a participação de Israel em campeonatos organizados pela entidade.

Para especialistas consultados pela Sputnik Brasil, tal medida pode ser vista como uma manobra política — tanto para beneficiar a imagem de Israel como para ganhos políticos locais do atual presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez.

Sérgio Souto, pesquisador do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), entende que o acordo significa mais do que apenas uma colaboração esportiva. Segundo ele, há um uso estratégico do futebol por parte de Israel como uma ferramenta de "soft power", um tipo de influência política feita por meios propagandísticos, por exemplo.

"Evidentemente que é uma forma de Israel usar um "soft power" no momento em que vive um forte isolamento internacional. E aí temos uma contradição curiosa — ao mesmo tempo que há uma tentativa de forjar um apoio de Israel fora do seu continente, também denuncia o nível de isolamento de Israel no Oriente Médio."

"O futebol nunca foi só um esporte", ressalta o pesquisador, comentando que a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) "tem mais filiados do que a ONU [Organização das Nações Unidas]", o que era "um dos grandes orgulhos do principal responsável pela expansão da FIFA, que foi o [ex-presidente da entidade] João Havelange".

Para ele, a atuação que define como "chacina" feita por Tel Aviv na Faixa de Gaza fez refluir o apoio entre árabes. "O mais importante foi a Arábia Saudita suspender, sem nenhum prazo para retomá-la, sine qua non, as relações com Israel."

Ele detalha que o convite foi estendido durante congresso da FIFA no Paraguai, "um dos principais aliados de Israel na América do Sul", que apesar de ter peso político menor que a Argentina, agora presidida por Javier Milei, já apoiava o Estado judaico há mais tempo.

O pesquisador diz que é preciso aguardar reações sobre tal aproximação, mas que é improvável haver algum tipo de desdobramentos relacionados a países que outrora criticaram a gestão do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, como a Colômbia de Gustavo Petro.

·        Ganho político regional

O jornalista esportivo Leandro Iamin destaca à Sputnik Brasil o viés político presente nas ações da Conmebol, especialmente sob gestão do atual presidente Alejandro Domínguez, filho de um "influente cartola paraguaio".

Segundo ele, a entidade historicamente demonstrou ser "mais um órgão político do que esportivo".

O jornalista destacou o desejo de Domínguez de usar a presidência da Conmebol como uma ponte para uma carreira política fora do esporte, evidenciado por ações como a homenagem ao pai do presidente durante o sorteio dos grupos da Copa Libertadores e a aproximação da entidade com Israel.

"O presidente da Conmebol quer ter uma vida política fora do esporte depois da Conmebol ou mesmo durante a Conmebol. É do interesse dele fazer esse trampolim."

Para ele, a inserção do desenvolvimento do futebol feminino e de base, além da profissionalização de árbitros, são temas apenas "para preencher" o acordo. "Qual é o sentido da Conmebol se aproximar da Federação de Israel? Eu acho que significa, em primeiro lugar, um desejo de contrapartida."

"Não sabemos exatamente qual a contrapartida, mas é uma forma do Domínguez colocar a Federação que ele preside a serviço de afinações políticas que vão dar algum capital político para ele no país dele [...]. O Paraguai é um dos poucos países que já votou e defendeu Israel no confronto que está acontecendo agora. É o único país do nosso continente que votou contra as denúncias de genocídio."

Para Iamin, mesmo após declarações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de críticas do presidente colombiano Gustavo Petro à gestão de Netanyahu, é improvável que haja algum atrito entre as respectivas confederações esportivas. "A gente já entendeu que o Netanyahu e o Estado de Israel não se importam muito com isso."

"Acho que o acordo não vai interferir, incomodar ou impactar em nada o grande debate de Estado que acontece hoje em Israel. Um debate, inclusive, que boa parte da população de Israel já entendeu que estava sendo levado a acreditar em coisas que não são necessárias."

·        Como o esporte pode influenciar na política?

Anteriormente, segundo o pesquisador Sérgio Souto, "o futebol, embora tivesse implicações sociais muito poderosas, era uma espécie de superestrutura simbólica, onde a competição entre nações se dava no campo esportivo", citando a atuação do brasileiro João Havelange — mais longínquo presidente da FIFA — para expandir a entidade, mantendo boas relações com diferentes nações e blocos.

"Vamos lembrar, ele [Havelange] não apoiou o boicote do futebol às Olimpíadas de Moscou em 1980, muito menos a retaliação que a União Soviética fez, boicotando também os jogos de Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele se mantinha à parte disso", exemplifica.

"De um tempo para cá, no meu modo de ver, de uma maneira que pode ser perigosa para o futuro do esporte e da universalização, a FIFA, assim como o Comitê Olímpico, andaram adotando posições políticas claramente, excluindo atletas de países que estão em guerra", diz ele, citando que "isso pode colocar em risco o capital político que a FIFA e que o futebol tinham".

"A Conmebol e a FIFA sempre foram entidades políticas. Mas elas não eram abertamente partidárias. É isso que é um dado novo, que eu acho perigoso, para o futuro das confederações, à medida que elas comecem a tomar posição. São políticas e aliadas, única e exclusivamente a um lado, elas podem desagradar a membros importantes", diz Souto.

Vale ressaltar que não é inédita a participação de seleções de fora da região na Copa América em competições promovidas pela Conmebol.

Em 2001, a Argentina optou não participar por preocupações com segurança na Colômbia, o país-sede, em meio a conflitos com as Farc. Honduras então foi convidada para substituir os argentinos e surpreendeu ao vencer a Bolívia e o Uruguai na fase de grupos. Nas quartas de final, venceram de forma histórica o Brasil por 2 a 0, o que causou à época um choque no futebol brasileiro.

O México foi o país mais frequentemente convidado para a Copa América, participando de todas as edições de 1993 a 2016. Embora tenha conquistado o segundo lugar em duas ocasiões, em 1993 e 2001, sua última participação, em 2016, foi marcada por uma derrota humilhante para o Chile por 7 a 0, levando à ausência dos mexicanos na edição seguinte.

Costa Rica, Japão, Jamaica, Panamá, Haiti e Catar também foram convidados em diferentes anos.

No caso do Japão e Catar, Souto afirma se tratarem de casos com questões econômicas envolvidas. "No Japão, se visava um novo mercado, principalmente para transmissão de jogos dos times aqui da América do Sul, e no caso do Catar, o dinheiro que o Catar tem é suficiente para 'comprar uma participação'. Mas outros países já foram convidados e não puderam participar por questões de calendário."

Em 2020, o Catar e a Austrália disputariam a Copa América, mas desistiram por conta da Covid-19 e o torneio foi disputado no ano seguinte, no Brasil, com a Argentina campeã.

Ele cita seleções que acabaram disputando algum torneio quando uma outra deixou de jogar, por algum motivo. O pesquisador narra que a União Soviética, em 1974, se recusou a jogar uma partida das eliminatórias para a Copa do Mundo daquele ano, em boicote contra o ex-ditador chileno, Augusto Pinochet, por exemplo.

·        Por que os times de Israel jogam na Europa?

A seleção israelense de futebol é afiliada da União das Associações Europeias de Futebol (UEFA, na sigla em inglês), porque devido às tensões que o país enfrenta no Oriente Médio, o Estado judaico entende ser inviável disputar partidas em sua região. Portanto, os clubes e a seleção de Israel disputam as ligas europeias desde 1991.

Para o pesquisador Sérgio Souto, é pouco provável que Israel jogue a próxima Copa América, sediada neste ano nos EUA, já que o torneio tem seus grupos definidos.

"[Israel jogar a Copa América 2024] é possível, mas eu acho pouco provável. Tudo na vida política é uma dinâmica muito própria — nada é impossível, mas é pouco provável que isso aconteça agora, na Copa América de 2024."

Entretanto, Souto afirma que em futuras Copas Américas, há uma possibilidade maior da seleção israelense disputar o torneio sul-americano.

Do ponto de vista esportivo, segundo o jornalista Leandro Iamin, é relevante e necessário ter seleções convidadas. "A Conmebol sempre passa por um problema, por ter dez seleções. Para se fazer um campeonato mais racional em datas, com grupos de quatro, você precisa juntar 12 seleções ou até 16. Para isso, você inevitavelmente precisa de um convidado ou dois."

Em casos como o dos EUA ou México, por exemplo, a proximidade geográfica e continental é um dos fatores. No caso de Catar e Japão, para ela já havia interesses em tentar vender a imagem desses países que sediariam as Copas do Mundo daqueles anos (2002 e 2018).

No entanto, isso se difere de um eventual interesse israelense, que não sediará nenhum evento esportivo nos próximos anos.

Para ele, a motivação política das pessoas que estão a frente das entidades é o fator determinante, sobretudo porque a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Associação do Futebol Argentino (AFA), as principais confederações do futebol sul-americano, estão "abandonadas" e "sem força" para "impedir que se aparelhe a Conmebol para fins políticos".

"Um convite para uma Copa América futura só tem a ver com questões políticas, que é diferente do caso do Japão e do Catar — que você ainda conseguiria ter um olhar esportivo, ainda que com esforço."

Ainda assim, Iamin relembra que até a próxima Copa América, que deverá ser sediada no Equador em 2028, muita coisa pode mudar, incluindo a presidência da Conmebol e o curso do conflito na Faixa de Gaza. "A gente corre o risco de estar vendo só um balão de ensaio, uma tentativa de um presidente da Conmebol fazer uma presença e ganhar prestígio na Câmara Política paraguaia. Mas quatro anos é muito tempo."

"É uma parceria que não é sólida, ela não tem musculatura e não é forte. Ela não é relevante e não tem sentido. Então, do mesmo jeito que ela foi criada do nada, ela pode se dissolver do nada também. Mas é um risco. E eu chamo de risco porque eu acho que depõe contra, que pega mal. Acho que é um desprestígio colocar uma seleção como a de Israel para jogar a Copa América sem qualquer apelo técnico, sem qualquer sentido esportivo."

 

Fonte: Sputnik Brasil


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