A educação em Gaza está devastada e afetará
'uma geração inteira', diz mídia
A maior parte das
escolas da Faixa de Gaza, incluindo as suas 12 universidades, está gravemente
danificada a ponto de ficar inutilizável, o que pode prejudicar "uma
geração inteira" de palestinos, segundo reportagem de veículo
norte-americano.
Segundo o texto do The
New York Times, em sete meses de guerra todos os níveis educacionais do enclave
palestino foram devastados.
De acordo com um
relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) citado pelo meio de
comunicação, mais de 80% das escolas de Gaza foram gravemente danificadas ou
destruídas pelos combates.
O Ministério da
Educação palestino e mais de duas dezenas de funcionários da ONU acusaram
Israel de atacar deliberadamente instalações educacionais e hospitais.
"Pode ser
razoável perguntar se existe um esforço intencional para destruir completamente
o sistema educacional palestino, uma ação conhecida como
'escolasticídio'", disse um grupo de 25 especialistas da ONU em um
comunicado no mês passado.
"Esses ataques
não são incidentes isolados", acrescentou. "Eles apresentam um padrão
sistemático de violência que visa desmantelar os próprios alicerces da
sociedade palestina".
Em resposta, os
militares israelenses afirmaram em comunicado que não possuem uma
"doutrina destinada a causar o máximo dano às infraestruturas civis"
e atribuíram a destruição das escolas à "exploração de estruturas civis
para fins terroristas" pelo Hamas, que, segundo as forças israelenses,
constroem túneis sob as estruturas e usa para lançar ataques e armazenar armas.
"Sob certas
condições, este uso militar ilegal pode anular a proteção das escolas contra
ataques", afirmou o Exército israelense em resposta enviada ao jornal
norte-americano. O Hamas sempre negou a utilização de edifícios civis para fins
militares.
A ONU afirmou no mês
passado que documentou pelo menos 5.479 estudantes, 261 professores e 95
professores universitários mortos em Gaza desde outubro, bem como pelo menos
7.819 estudantes e 756 professores feridos.
"As implicações
para o futuro de Gaza são tão profundas como a devastação. Os estudantes já
sofreram uma longa interrupção na sua educação e enfrentam agora um futuro com
poucas escolas intactas para onde regressar quando a guerra terminar", diz
o texto.
A guerra "afetou
enormemente o sistema educacional", disse Hamdan al-Agha, um professor de
ciências deslocado do sul de Gaza.
Antes da guerra, Gaza
tinha 813 escolas que empregavam cerca de 22 mil professores, de acordo com o
Global Education Cluster, um grupo de investigação que trabalha com a ONU.
Muitas escolas eram geridas pela agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos,
UNRWA.
Mas na semana passada,
mais de 85% dessas escolas foram danificadas ou destruídas, segundo um estudo
do Grupo Setorial da Educação, baseado em imagens de satélite. De acordo com o
estudo, mais de dois terços das escolas de Gaza teriam de ser reconstruídas do
zero ou amplamente reparadas antes de poderem voltar a ser utilizadas com
segurança.
As universidades foram
especialmente afetadas. A Universidade Al-Azhar, na cidade de Gaza, está em
ruínas. Os militares israelenses usaram o campus como posto avançado e disseram
que o Hamas operou lá.
¨ Israel poderá participar da Copa América de 2024 nos EUA? Uma
manobra política por meio do futebol
Recentemente, a
Federação Israelense de Futebol (IFA) assinou acordo de cooperação com a
Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). A parceria prevê formação de
treinadores, árbitros e atletas das categorias feminina e de base. Foi prevista
também a realização de amistosos e a participação de Israel em campeonatos
organizados pela entidade.
Para especialistas
consultados pela Sputnik Brasil, tal medida pode ser vista como uma manobra
política — tanto para beneficiar a imagem de Israel como para ganhos políticos
locais do atual presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez.
Sérgio Souto,
pesquisador do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME) da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), entende que o acordo significa mais do que
apenas uma colaboração esportiva. Segundo ele, há um uso estratégico do futebol
por parte de Israel como uma ferramenta de "soft power", um tipo de
influência política feita por meios propagandísticos, por exemplo.
"Evidentemente
que é uma forma de Israel usar um "soft power" no momento em que vive
um forte isolamento internacional. E aí temos uma contradição curiosa — ao
mesmo tempo que há uma tentativa de forjar um apoio de Israel fora do seu
continente, também denuncia o nível de isolamento de Israel no Oriente
Médio."
"O futebol nunca
foi só um esporte", ressalta o pesquisador, comentando que a Federação
Internacional de Futebol Associado (FIFA) "tem mais filiados do que a ONU
[Organização das Nações Unidas]", o que era "um dos grandes orgulhos
do principal responsável pela expansão da FIFA, que foi o [ex-presidente da
entidade] João Havelange".
Para ele, a atuação
que define como "chacina" feita por Tel Aviv na Faixa de Gaza fez
refluir o apoio entre árabes. "O mais importante foi a Arábia Saudita
suspender, sem nenhum prazo para retomá-la, sine qua non, as relações com
Israel."
Ele detalha que o
convite foi estendido durante congresso da FIFA no Paraguai, "um dos
principais aliados de Israel na América do Sul", que apesar de ter peso
político menor que a Argentina, agora presidida por Javier Milei, já apoiava o
Estado judaico há mais tempo.
O pesquisador diz que
é preciso aguardar reações sobre tal aproximação, mas que é improvável haver
algum tipo de desdobramentos relacionados a países que outrora criticaram a
gestão do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, como a Colômbia de Gustavo
Petro.
·
Ganho político regional
O jornalista esportivo
Leandro Iamin destaca à Sputnik Brasil o viés político presente nas ações da
Conmebol, especialmente sob gestão do atual presidente Alejandro Domínguez,
filho de um "influente cartola paraguaio".
Segundo ele, a
entidade historicamente demonstrou ser "mais um órgão político do que
esportivo".
O jornalista destacou
o desejo de Domínguez de usar a presidência da Conmebol como uma ponte para uma
carreira política fora do esporte, evidenciado por ações como a homenagem ao
pai do presidente durante o sorteio dos grupos da Copa Libertadores e a aproximação
da entidade com Israel.
"O presidente da
Conmebol quer ter uma vida política fora do esporte depois da Conmebol ou mesmo
durante a Conmebol. É do interesse dele fazer esse trampolim."
Para ele, a inserção
do desenvolvimento do futebol feminino e de base, além da profissionalização de
árbitros, são temas apenas "para preencher" o acordo. "Qual é o
sentido da Conmebol se aproximar da Federação de Israel? Eu acho que significa,
em primeiro lugar, um desejo de contrapartida."
"Não sabemos
exatamente qual a contrapartida, mas é uma forma do Domínguez colocar a
Federação que ele preside a serviço de afinações políticas que vão dar algum
capital político para ele no país dele [...]. O Paraguai é um dos poucos países
que já votou e defendeu Israel no confronto que está acontecendo agora. É o
único país do nosso continente que votou contra as denúncias de
genocídio."
Para Iamin, mesmo após
declarações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de
críticas do presidente colombiano Gustavo Petro à gestão de Netanyahu, é
improvável que haja algum atrito entre as respectivas confederações esportivas.
"A gente já entendeu que o Netanyahu e o Estado de Israel não se importam
muito com isso."
"Acho que o
acordo não vai interferir, incomodar ou impactar em nada o grande debate de
Estado que acontece hoje em Israel. Um debate, inclusive, que boa parte da
população de Israel já entendeu que estava sendo levado a acreditar em coisas
que não são necessárias."
·
Como o esporte pode influenciar na
política?
Anteriormente, segundo
o pesquisador Sérgio Souto, "o futebol, embora tivesse implicações sociais
muito poderosas, era uma espécie de superestrutura simbólica, onde a competição
entre nações se dava no campo esportivo", citando a atuação do brasileiro
João Havelange — mais longínquo presidente da FIFA — para expandir a entidade,
mantendo boas relações com diferentes nações e blocos.
"Vamos lembrar,
ele [Havelange] não apoiou o boicote do futebol às Olimpíadas de Moscou em
1980, muito menos a retaliação que a União Soviética fez, boicotando também os
jogos de Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele se mantinha à parte disso", exemplifica.
"De um tempo para
cá, no meu modo de ver, de uma maneira que pode ser perigosa para o futuro do
esporte e da universalização, a FIFA, assim como o Comitê Olímpico, andaram
adotando posições políticas claramente, excluindo atletas de países que estão
em guerra", diz ele, citando que "isso pode colocar em risco o
capital político que a FIFA e que o futebol tinham".
"A Conmebol e a
FIFA sempre foram entidades políticas. Mas elas não eram abertamente
partidárias. É isso que é um dado novo, que eu acho perigoso, para o futuro das
confederações, à medida que elas comecem a tomar posição. São políticas e
aliadas, única e exclusivamente a um lado, elas podem desagradar a membros
importantes", diz Souto.
Vale ressaltar que não
é inédita a participação de seleções de fora da região na Copa América em
competições promovidas pela Conmebol.
Em 2001, a Argentina
optou não participar por preocupações com segurança na Colômbia, o país-sede,
em meio a conflitos com as Farc. Honduras então foi convidada para substituir
os argentinos e surpreendeu ao vencer a Bolívia e o Uruguai na fase de grupos.
Nas quartas de final, venceram de forma histórica o Brasil por 2 a 0, o que
causou à época um choque no futebol brasileiro.
O México foi o país
mais frequentemente convidado para a Copa América, participando de todas as
edições de 1993 a 2016. Embora tenha conquistado o segundo lugar em duas
ocasiões, em 1993 e 2001, sua última participação, em 2016, foi marcada por uma
derrota humilhante para o Chile por 7 a 0, levando à ausência dos mexicanos na
edição seguinte.
Costa Rica, Japão,
Jamaica, Panamá, Haiti e Catar também foram convidados em diferentes anos.
No caso do Japão e
Catar, Souto afirma se tratarem de casos com questões econômicas envolvidas.
"No Japão, se visava um novo mercado, principalmente para transmissão de
jogos dos times aqui da América do Sul, e no caso do Catar, o dinheiro que o
Catar tem é suficiente para 'comprar uma participação'. Mas outros países já
foram convidados e não puderam participar por questões de calendário."
Em 2020, o Catar e a
Austrália disputariam a Copa América, mas desistiram por conta da Covid-19 e o
torneio foi disputado no ano seguinte, no Brasil, com a Argentina campeã.
Ele cita seleções que
acabaram disputando algum torneio quando uma outra deixou de jogar, por algum
motivo. O pesquisador narra que a União Soviética, em 1974, se recusou a jogar
uma partida das eliminatórias para a Copa do Mundo daquele ano, em boicote contra
o ex-ditador chileno, Augusto Pinochet, por exemplo.
·
Por que os times de Israel jogam na Europa?
A seleção israelense
de futebol é afiliada da União das Associações Europeias de Futebol (UEFA, na
sigla em inglês), porque devido às tensões que o país enfrenta no Oriente
Médio, o Estado judaico entende ser inviável disputar partidas em sua região.
Portanto, os clubes e a seleção de Israel disputam as ligas europeias desde
1991.
Para o pesquisador
Sérgio Souto, é pouco provável que Israel jogue a próxima Copa América, sediada
neste ano nos EUA, já que o torneio tem seus grupos definidos.
"[Israel jogar a
Copa América 2024] é possível, mas eu acho pouco provável. Tudo na vida
política é uma dinâmica muito própria — nada é impossível, mas é pouco provável
que isso aconteça agora, na Copa América de 2024."
Entretanto, Souto
afirma que em futuras Copas Américas, há uma possibilidade maior da seleção
israelense disputar o torneio sul-americano.
Do ponto de vista
esportivo, segundo o jornalista Leandro Iamin, é relevante e necessário ter
seleções convidadas. "A Conmebol sempre passa por um problema, por ter dez
seleções. Para se fazer um campeonato mais racional em datas, com grupos de
quatro, você precisa juntar 12 seleções ou até 16. Para isso, você
inevitavelmente precisa de um convidado ou dois."
Em casos como o dos
EUA ou México, por exemplo, a proximidade geográfica e continental é um dos
fatores. No caso de Catar e Japão, para ela já havia interesses em tentar
vender a imagem desses países que sediariam as Copas do Mundo daqueles anos
(2002 e 2018).
No entanto, isso se
difere de um eventual interesse israelense, que não sediará nenhum evento
esportivo nos próximos anos.
Para ele, a motivação
política das pessoas que estão a frente das entidades é o fator determinante,
sobretudo porque a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Associação do
Futebol Argentino (AFA), as principais confederações do futebol sul-americano,
estão "abandonadas" e "sem força" para "impedir que se
aparelhe a Conmebol para fins políticos".
"Um convite para
uma Copa América futura só tem a ver com questões políticas, que é diferente do
caso do Japão e do Catar — que você ainda conseguiria ter um olhar esportivo,
ainda que com esforço."
Ainda assim, Iamin
relembra que até a próxima Copa América, que deverá ser sediada no Equador em
2028, muita coisa pode mudar, incluindo a presidência da Conmebol e o curso do
conflito na Faixa de Gaza. "A gente corre o risco de estar vendo só um balão
de ensaio, uma tentativa de um presidente da Conmebol fazer uma presença e
ganhar prestígio na Câmara Política paraguaia. Mas quatro anos é muito
tempo."
"É uma parceria
que não é sólida, ela não tem musculatura e não é forte. Ela não é relevante e
não tem sentido. Então, do mesmo jeito que ela foi criada do nada, ela pode se
dissolver do nada também. Mas é um risco. E eu chamo de risco porque eu acho
que depõe contra, que pega mal. Acho que é um desprestígio colocar uma seleção
como a de Israel para jogar a Copa América sem qualquer apelo técnico, sem
qualquer sentido esportivo."
Fonte: Sputnik Brasil
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