Ao assistir
nesses dias a forma truculenta e autoritária da PM da Bahia, contra os
manifestantes que de forma pacífica saiam às ruas para protestar contra os
desmandos administrativos praticados pelos governantes e pelos políticos com
gastança desnecessária em supérfluo, enquanto sempre faltam recursos para
educação, saúde, segurança, infraestrutura entre outras necessidades básicas da
população, passou pela minha mente o velho filme ocorrido em 64, quando as
elites junto com as igrejas insuflaram as massas, com a mentira de que o
presidente da época desejava implantar o comunismo no País.
Veio aos
meus olhos, aquele 64 que dentro de ônibus quando nos dirigíamos pata o
colégio, tivemos nossa trajetória interrompida e com mais meia dúzia de
estudantes de outros colégios, fomos levados ao quartel do 18 do Forte, em
Aracaju, para sofrer todo tipo de ameaças e torturas psicológicas, com apenas
12 anos, pelo simples fato de querer estudar. Depois de uma tarde de opressão
tivemos nossos livros confiscados, pois segundo afirmavam, eram de conteúdo
comunistas. Lembro-me ainda do livro de história geral de Vitor Mussumeci, que
por ter um capítulo que abordava sobre o marxismo, recebeu o carimbo de
comunista. E ainda, quando no dia seguinte, fomos retirados da sala de aula de
aula, sob a escolta de 12 militares, para ser obrigado a ir a exposição do
material confiscado. Nada vi de perigoso, até os armamentos a arma mais perigosa
exposta era uma espingarda de socar e um facão de cortar cana. Hoje lembrando,
me dá vontade de rir.
Lembrei-me
de quantas vezes ouvimos nas igrejas, sacerdotes e pastores em suas pregações
chegarem ao extremo de afirmar que comunistas comiam crianças, quando na verdade
eram eles que às escondidas ficavam praticando atos libidinosos, usando de suas
lideranças para praticarem descaradamente a pedofilia.
E de
tanto pregarem a maldição ao comunismo do falecido (ou assassinado) João
Goulart, que apenas desejava fazer as transformações de base que hoje a
população sai às ruas clamando para que aconteça, se tivesse ocorrido àquela
época hoje o nosso País estaria saindo às ruas com outras pautas de
reivindicações., que conseguiram tirá-lo do Poder.
Lembrei-me
quando cheguei a Feira de Santana e das dezenas de humilhações que éramos
obrigados a suportar, por atos humilhantes praticados pelo capelão do exercito,
que chegava ao extremo de colocar um limão em nossas calças e se ele não saísse
pela perna, com um canivete cortava a calça. Lembro-me de muitos colegas que
não comungavam com esta situação vexatória, mas tinham que engoli-las, pois
sabíamos que ao nosso lado éramos obrigados a conviver com aqueles que serviam
de dedos duros dos militares, que não vale a pena citar. Veio-me a lembrança de
professores como Estrela (já falecido), que não deixava que nos abatêssemos e
sempre tinha uma palavra de encorajamento, mesmo tendo sido preso diversas
vezes.
Voltou o
filme das centenas de vezes que tivemos o colégio estadual invadido por
militares a busca dos ‘comunistas’, cujos atos que praticávamos era a reivindicar
a volta da normalidade democrática. Quantas vezes fomos alertados pela direção
do colégio para sairmos correndo, pois os ‘homens’ estavam chegando. Aí me
lembrei de Jaime Cunha, velho amigo e camarada, do assassinado Santa Bárbara,
com sua oratória, de Adroaldo e alguns outros, que o nome saiu da memória, pela
distância do tempo
Lembrei-me
d meu tempo de UFBA, em Salvador, das nossas reuniões em locais que acredito
nem os ratos se reuniriam, para discutirmos ações e traçarmos rotas de lutas.
Lembrei-me da luta para se conseguir reabrir o DCE, cuja sede ficava próxima à
praça Castro Alves e de quantas vezes tivemos que dormir por lá, porque o
prédio estava cercado por militares e se descesse seríamos presos.
Tudo isto
ocorreu ao ver as cenas praticadas nos últimos dias pela polícia militar
comandada pelo PT. Primeiro contra os alunos da FTC, que apesar de pagarem uma
das mensalidades mais caras, porém, em razão de desmandos administrativos,
estavam na rua exigindo seu direito, o de estudar. Aí vem a PM de Wagner e
baixa o cacetete.
Agora foi
os manifestantes, que em protestos pelos desmandos, obras faraônicas para
unicamente servir a FIFA e o rio de dinheiro desperdiçado e ou desviado, como
tem ocorrido em todo o Brasil. Mais uma vez aparece a PM de Wagner e do PT e
tome cacetete. Interessante ao se notar a mesma prática dos militares da
ditadura. Bateram apenas naqueles que estavam sem esconder o rosto e nos
jornalistas. Mas nos colegas infiltrados mascarados para descaracterizar o
movimento, nestes nem encostavam. Muito estranho, não? E esta é uma prática já
velha e conhecida, como o foi a montagem do diálogo quando da greve dos
policiais. Estes mesmos policias que quando paralisaram contaram com total
apoio da sociedade baiana, agora atendendo ordem do seu comandante chefe(Jaques
Wagner), reprime de forma violenta, aqueles que os abraçaram.
Porém,
como já dizia um antigo governante baiano, ‘pense em um absurdo, na Bahia
acontece’, e a cada dia que se passa isso se comprova. Hoje a Bahia é governada
pelo PT, sendo o seu líder maior no Estado um canastrão, bom de gogó e ruim de
cumprir o que promete, o que fala e o que assina.
Quando era
oposição ao também famigerado carlismo que dominou a Bahia sob a mão de ferro,
criticava todas as ações praticadas pelos governantes tachando-os de ditadores
e outras adjetivos. Tudo bem pois realmente era verdade.
Depois de
lutas e muitas lutas que tivemos que enfrentar conseguimos às duras penas à
democracia, que ainda está engatinhando. Muitos dos que lutaram para alcançar a
democracia e que foram presos e torturados estão aí, inclusive alguns até fazem
parte do atual governo. E deles, até o momento não ouvimos qualquer comentário
criticando as arbitrariedades praticadas pelo Sr. Jaques Wagner, que através de
sua PM reprimiu de forma violenta e covarde os manifestantes.
Fico me
perguntando onde estará Gabrielli, Petintinga, Leonelli, Emiliano José, Nilton
Vasconcelos, Waldir Pires e tantos outros que sofreram no período da ditadura e
debaixo do sapato do carlismo que nada falam do autoritarismo praticado na
Bahia? Será que o acesso ao Poder os transformaram ao ponto de apoiar e achar
normal aqueles atos praticados? Será este um governo que pode criticar o
carlismo, utilizando das mesmas práticas?
Será que
é este o PT sonhado por aqueles que na década de 80 saiam às ruas para
conseguir as assinaturas para que pudessem regularizar o partido junto ao TSE?
Será que era esta a forma de governar que sonhava o finado Beto Folha, Jaime
Cunha, Almir Queiróz, Prof. Marialvo, Gerinaldo, Antonio Ozetti, Padre
Albertino e tantos outros sonhadores?
Quero
acreditar que não, porque eu que lutei, que sofri e penei para saborear a democracia, não me sinto bem ao
ver tamanha maldade praticada contra quem apenas querem sonhar por um Brasil e
uma Bahia melhor.
E ao
assistir ao método utilizado pela PM da Bahia contra os manifestantes, veio
além da revolta, a vergonha e o sentimento de culpa, por saber que eu também
tenho minha parcela de responsabilidade, pois um dia cheguei a dá um voto a
este ser abjeto chamado Jaques Wagner, e aproveito o momento para me dirigir a
todos que sentiram na pele a violência da PM do PT, que foram as mesmas que passei
durante a ditadura militar, e pedir desculpas pelo erro que cometi, ao
contribuir para que este senhor assumisse o governo da Bahia, e aqui de
publico, afirmo, que a partir desta data jamais será permitido ser publicado no
Portal Municípios Baianos, qualquer nota de elogio ou de referencia elogiosa ao
ditador Jaques Wagner.