DOM HÉLDER CÂMARA:
O ARCEBISPO PERSEGUIDO PELA DITADURA MILITAR
Nara
Leão, Raul Seixas, Chico Buarque e Paulo Coelho. Esses são alguns nomes das
pessoas que foram resistência mesmo em meio a um dos períodos mais repressivos
da história do Brasil, a Ditadura Militar, imposta após
o Golpe de 1964, que derrubou o
governo e aparelhou todos os aspectos da vida social brasileira, prometendo uma
aceleração econômica ilusória, proteção e prospecção por meio da criminalização
de qualquer tipo de oposição ou dissidência.
Em
meio a isso estava Dom Hélder
Câmara, o arcebispo “irmão dos pobres” que foi perseguido pelos militares.
·
Ideais diferentes
Nascido
Hélder Pessoa Câmara, em Fortaleza, Ceará, em 7 de fevereiro de 1909, o
religioso ingressou no Seminário da Prainha em sua mais tenra idade, aos 14
anos, onde foi ensinado sobre filosofia e teologia.
Foi
lá que ele aprendeu que qualquer tipo de ideal comunista deveria ser
abominado e rejeitado veementemente. Por se tratar de um ensino muito
conservador, Dom Hélder teve que deixar de fora o entendimento sobre os ideais
do Iluminismo e da Revolução Francesa.
Em
1931, aos 22 anos, o religioso foi ordenado padre sob a tarefa de acompanhar os
Círculos Operários Cristãos e a Juventude Operária Católica (JOC), contribuindo
para a alfabetização dos adolescentes pobres. Filho de uma professora e um
jornalista crítico teatral, Dom Hélder ajudou na organização sindical de
mulheres em estado de vulnerabilidade à margem da sociedade, como lavadeiras e
empregadas domésticas.
Nada
ironicamente, Dom Hélder acabou simpatizando com movimentos religiosos que
rejeitavam o capitalismo, como a Legião Cearense do Trabalho, um grupo político-sindical
que flertava com ideias da Idade Média sobre como a
estrutura da sociedade, os costumes e o governos deveriam operar. Ele também
fez parte da Ação Integralista Brasileira, que possuía inclinações fascistas ao
reunir seus seguidores sob o lema "Deus, Pátria, Família".
Todo
esse histórico fez o padre se destacar, sobretudo, como um dirigente político,
na mesma proporção que líder religioso, tanto que conseguiu resultados
expressivos para a Liga Eleitoral Católica no Ceará. Em meados de 1936, com
apenas 27 anos, Dom Hélder já trabalhava como secretário estadual de educação
no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.
Tudo
isso mudou em 10 de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas, por meio de um
golpe de Estado, instituiu o então Estado Novo, dando início ao primeiro
capítulo da ditadura no Brasil.
·
De símbolo a pária
Com
isso, Dom Hélder se desvinculou da AIB, voltando às raízes do que chamava
"verdadeiro comprometimento" — no caso, com a Igreja e o povo. Ao
longo dos 10 anos que permaneceu no Rio, onde foi ordenado bispo aos 43 anos,
em 1952, ele estabeleceu compromissos com projetos sociais, fundando a Cruzada
São Sebastião, o Banco da Providência — para viabilizar moradias populares —, a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Conselho Episcopal
Latino-Americano, com o aval do Vaticano.
Semanas
antes do Golpe de 1964 de Castelo Branco, Dom Hélder foi designado arcebispo na
Arquidiocese de Olinda e Recife, dando início ao seu período de perseguição ao
longo de todo o regime opressor que o tornou de um ícone a um pária.
Apesar
das determinações do AI-5, o religioso continuou falando em conferências e
meios de comunicação internacionais sobre os crimes do regime ditatorial
brasileiro, mesmo correndo risco de vida.
Em
1969, Dom Hélder flertou com a morte quando seu auxiliar, o padre Antônio
Henrique Pereira Neto, foi assassinado por um grupo paramilitar chamado Comando
de Caça aos Comunistas (CCC), apoiado e financiado pelos militares e
empresários locais. Dias antes, a milícia havia metralhado o centro educacional
Juvenato Dom Vidal, onde o padre trabalhava, deixando feridos e causando a
paraplegia do estudante Cândido Pinto.
O
reconhecimento mundial de Dom Hélder como líder contra o autoritarismo e defesa
aos Direitos Humanos, provavelmente, foi o que impediu que a ditadura o
matasse, mas não que uma campanha difamatória de larga escala, inclusive
internacional, fosse criada. Os militares tentaram incriminá-lo de todas as
maneiras, acusando-o de contrabandear armas para grupos de guerrilha contra a
ditadura.
Dom
Hélder é o brasileiro que mais foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por suas
ações, reunindo 4 indicações, porém perdeu em todas às vezes devido à imagem
que os militares criaram dele.
Dom
Hélder Câmara deixou o comando da Arquidiocese de Olinda e Recife aos 76 anos,
em 1975, para se aposentar e viver em uma pequena casa aos fundos da Igreja de
Nossa Senhora das Fronteiras, onde permaneceu até 27 de agosto de 1999, seu
último dia de vida.
Em
2015, o Vaticano o reconheceu como Servo de Deus, a primeira etapa para o processo de
canonização por
todos os seus feitos históricos na luta pelos pobres e oprimidos.
Fonte:
Mega Curioso
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