Café de açaí?
Caroço de fruto amazônico vira bebida aromática em comunidade do Maranhão
Transformar
o caroço de açaí em pó para preparo de uma bebida quente e amarga, aromática,
similar ao café. Foi essa a alternativa que as famílias extrativistas do
Povoado Km 1700 da zona rural do município de Imperatriz, no Maranhão,
encontraram para dar um destino ao resíduo do fruto amazônico.
Os
caroços do açaí sobravam após a colheita e beneficiamento do fruto,
representando um problema ambiental para a comunidade, que conta com 300
famílias. Os caroços eram jogados na rua e tornavam-se resíduos sem uma correta
destinação.
“Decidimos
torrar e vimos que dava uma excelente bebida”, explica a extrativista de açaí
Elcilene Alencar, de 41 anos, moradora da comunidade e presidente da Associação
Agroextrativistas Familiares Solidários – entidade selecionada em edital
do Fundo PPP-ECOS, do ISPN, com financiamento do Fundo Amazônia,
para a construção de uma agroindústria de beneficiamento do açaí.
Os
moradores se reuniram e pensaram numa solução para esse cenário: lavar, secar,
e torrar o caroço para, por fim, coar o pó com água e chegar num preparo
semelhante ao café. “Num primeiro momento, o sabor não ficou tão bom“,
conta a a presidente da associação. Mas, a cada torra, o “café” de açaí foi
melhorando.
·
Coffí: surge uma nova marca
Foi
a partir de uma parceria entre o povoado 1700 e a Faculdade de Imperatriz (MA),
Facimp, que a bebida aromática alçou novos voos: recebeu nome, marca e
endereço. A população e sobretudo as mulheres, que estão na linha de frente do
processo, receberam treinamento de marketing e de gestão financeira.
É
o que explicou Klenne Lys, de 24 anos, estudante de Engenharia Química e
coordenadora de projetos da entidade Enactus Brasil da Facimp. Segundo ela, ao
conversar com os moradores e perceber os problemas com os resíduos, o grupo
universitário, por meio da entidade, identificou que a própria comunidade já
tinha a solução: fazer “café de açaí”.
“Como
tinha muito caroço, a comunidade começou a utilizá-lo para adubo, mas também
torrando-o para fazer a bebida”, detalhou Klenne. Percebendo as possibilidades
de geração de renda por meio do beneficiamento, os estudantes levaram o
“café” para laboratórios e fizeram análises sensoriais para descobrir o ponto
de torra correto.
Assim,
surgiu o “Coffí”, que não é de fato um café, já que não possui cafeína. Mas,
tem gosto amargo e, tomado em temperatura quente, assemelha-se à bebida tão
popular no mundo. O processo de preparo é parecido: primeiro o caroço é lavado,
depois secado e por fim, torrado.
Comercializado
em feiras e lojas que vendem açaí, o pó pode ser encontrado em duas versões:
extra forte ou com rapadura. “Toda vez que vou à comunidade, levo um
pacote para casa”, conta a estudante. Atualmente, o produto é comercializado
apenas localmente. A presidente da Associação Agroextrativistas
Familiares Solidários, Elcilene Alencar, afirma que a intenção é expandir a
produção para alcançar novos mercados em outras regiões.
·
Extrativismo
O
açaí (Euterpe oleracea), por ser uma palmeira nativa da região, não
é plantado pela comunidade e sim manejado – há cerca de 30 anos, segundo
Elcilene. O fruto é uma importante fonte de renda para a população local e a
prática extrativista requer que a mata seja conservada – já que sem as árvores
não há frutos.
“É
o que a gente tenta promover: uso de área sem desmatamento, sem alterar o uso
do solo, apenas o extrativismo”, comenta Rodrigo Noleto, engenheiro florestal e
coordenador do Programa Amazônia, do ISPN, que acompanha o projeto de
fortalecimento da associação e de apoio à agroindustrialização da bebida de
açaí no povoado.
Com
apoio do PPP-ECOS, o projeto começou a ser executado em outubro de 2022.
Foi então que a comunidade viu as paredes da casa do açaí subirem, com previsão
de ser inaugurada no final de 2023. A proposta é que o local seja dividido em
duas partes: uma delas destinada ao processamento do açaí para extração de sua
polpa e a outra, para a torra do caroço.
“O
ISPN trouxe a oportunidade de transformar um produto, antes feito de forma
artesanal, em um produto levado ao mercado”, destacou a estudante Klenne Lys da
Facimp, acrescentando que o apoio institucional também contribui com o
“sentimento de valorização das mulheres por terem um de seus produtos
reconhecidos”.
Fonte:
eCycle
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