quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Qual será próximo passo de Putin após escalada na guerra na Ucrânia?

"Qual será o próximo passo de Vladimir Putin?"

É uma pergunta que muitos me fizeram na última semana. E é compreensível.

Afinal, na semana passada o líder do Kremlin relaxou bastante os critérios para usar suas armas nucleares em um conflito.

E na mesma semana, Estados Unidos e Reino Unido cruzaram (outra) linha vermelha traçada por Putin — ao permitirem que a Ucrânia dispare contra a Rússia mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente.

E também foi a semana em que Putin ameaçou o Reino Unido, os EUA e qualquer outro país que estiver suprindo a Ucrânia com esse tipo de arma e para esse tipo de propósito.

"Nos consideramos no direito de usar nossas armas contra bases militares nestes países que permitirem o uso de armas contra nossas bases", disse o líder russo, em um pronunciamento à nação na quinta-feira (21/11).

Então é de se entender a urgência da pergunta "qual será o próximo passo de Vladimir Putin".

Por eu ser o editor de Rússia da BBC News, talvez você imagine que eu tenho uma resposta. Mas para ser sincero, eu não tenho.

Talvez nem mesmo Putin saiba a resposta, o que deixa tudo mais grave.

Em vez de respostas, eu tenho algumas observações.

·        Usando a escalada

Esta semana, o Kremlin acusou o "Ocidente coletivamente" de escalar a guerra na Ucrânia.

Mas esses quase três anos de guerra na Ucrânia demonstraram que é Putin quem está usando a escalada de tensões como método para atingir suas metas — neste caso o controle sobre a Ucrânia ou a paz nos termos da Rússia.

Há muitos exemplos de Putin escalando a guerra: a invasão de grande escala da Ucrânia, a decisão de declarar quatro territórios ucranianos como parte da Rússia, o envio de soldados norte coreanos para a região de Kursk, a decisão de atacar a cidade de Dnipro com um novo míssil balístico hipersônico de alcance médio na quinta-feira e as ameaças de atacar o Ocidente.

Uma vez eu descrevi Putin como um carro sem marcha ré ou freio, voando baixo em uma estrada, com o acelerador no máximo.

Pelo visto, pouco mudou.

Não esperem que esse "Putinmóvel" de repente vá desacelerar — ou reverter a escalada de tensões — diante de ataques com mísseis de longo alcance na Rússia.

Mas a escalada é outro assunto. É uma possibilidade clara.

A Ucrânia deve estar se preparando para mais ataques russos, com bombardeios ainda mais pesados.

Governos ocidentais provavelmente estão avaliando o nível de perigo diante dos alertas de Putin.

Mesmo antes do pronunciamento de Putin na televisão, havia temores no Ocidente de uma escalada na guerra híbrida da Rússia.

No mês passado, o diretor do MI5 — a agência britânica de inteligência — alertou que a inteligência militar russa está engajada em uma campanha para "gerar pânico em ruas britânicas e europeias".

"Vimos incêndios, sabotagem e muito mais", disse ele.

Em junho, Putin havia sugerido que Moscou poderia fornecer armas a rivais do Ocidente se a Ucrânia recebesse permissão para atacar a Rússia com mísseis ocidentais de longo alcance.

"Nós acreditamos que se alguém acha que é possível fornecer essas armas em uma zona de guerra para atacar nosso território e criar problemas para nós, por que não podemos suprir armas da mesma classe para regiões pelo mundo que podem atacar bases sensíveis nos países que estão fazendo isso com a Rússia?"

·        A opção nuclear

A pergunta "qual será o próximo passo de Putin" costuma ser seguida por: "Putin usaria uma arma nuclear na guerra contra a Ucrânia?"

O presidente russo já deu umas indiretas pouco sutis.

Quando anunciou o começo de sua "operação militar especial" — a invasão de grande escala da Ucrânia — ele fez um alerta para "aqueles de fora que possam se sentir tentados a interferir".

"Não interessa quem possa querer se atravessar no nosso caminho ou criar ameaças para nosso país e nosso povo", disse o líder do Kremlin. "Eles devem saber que a Rússia vai responder imediatamente. E as consequências serão tamanhas que jamais terão sido vistas em toda a sua história."

Líderes ocidentais minimizaram as declarações, tratando-as como bravatas nucleares. Desde o começo da guerra, governos ocidentais já ultrapassaram diversas "linhas vermelhas" da Rússia: fornecendo tanques, sistemas de mísseis avançados e caças F16 à Ucrânia.

As "consequências" citadas pelo Kremlin nunca se materializaram.

Em setembro, Putin anunciou que estava relaxando os critérios para uso de armas nucleares — e o decreto foi publicado esta semana.

Agora essa linha vermelha também foi cruzada pelo Ocidente. Em seu pronunciamento, Putin confirmou relatos ocidentais de que a Ucrânia disparou mísseis Atacms, dos EUA, e Storm Shadow, do Reino Unido, contra alvos dentro da Rússia.

No começo da semana passada, o tabloide Moskovsky Komsomolets, que é pró-Kremlin, um tenente-general disse que seria "miopia da Rússia" responder ao ataque "dando início à Terceira Guerra Mundial".

Seria bom se o Kremlin também pensasse assim.

Mas o pronunciamento de Putin não sinalizou isso. Sua mensagem aos aliados da Ucrânia no Ocidente parece ser: essa é uma linha vermelha séria para mim, e eu desafio vocês a tentarem cruzá-la.

"Nem mesmo Putin sabe se ele pode usar armas nucleares ou não. Tudo depende das suas emoções", me disse recentemente o colunista Andrei Kolesnikov do jornal Novaya Gazeta.

"Sabemos que ele é um homem muito passional. A decisão de dar início a essa guerra também foi um passo passional. Por isso temos que levar a sério sua ideia de mudar a doutrina nuclear. Eles dizem que o medo da guerra precisa voltar e isso vai conter ambos os lados, mas isso também é uma ferramenta de escalada."

"Por essa interpretação, devemos admitir que Putin, sob algumas circunstâncias, pode pelo menos usar uma arma nuclear tática dentro de uma guerra nuclear limitada. Não vai resolver o problema. Mas será o começo de uma escalada suicida para o mundo todo."

Armas nucleares táticas são pequenas ogivas para uso em campos de batalha ou em ataques limitados.

·        O fator Trump

Vladimir Putin age conforme seus impulsos. Ele também é motivado por um ressentimento contra o Ocidente, e parece determinado em não recuar.

Mas ele também sabe que o mundo será um lugar muito diferente em breve.

Em dois meses, Joe Biden terá deixado a Casa Branca, e Donald Trump será o novo presidente dos EUA.

Trump tem expressado ceticismo sobre assistência militar americana à Ucrânia e críticas em relação à aliança militar Otan.

Ele também disse recentemente que conversar com Vladimir Putin seria "algo inteligente".

Tudo isso deve soar como música aos ouvidos de Putin.

O que significa que apesar das mais recentes ameaças e alertas, o Kremlin pode decidir evitar uma grande escalada agora.

Isso se o Kremlin estiver calculando que Trump vai ajudar pôr um fim à guerra em termos que beneficiam a Rússia.

Se esse cálculo mudar, a resposta de Moscou também pode mudar.

 

¨      Ataque recorde de drones russos deixa Ucrânia no escuro

As forças russas realizaram seu maior ataque de drones na Ucrânia durante a madrugada de segunda para terça-feira (26/11), causando cortes de energia na região de Ternopil e danificando edifícios residenciais na região de Kiev, no leste do país, informaram autoridades ucranianas.

Dos 188 drones usados durante a noite, a Ucrânia abateu 76 e perdeu o rastro de 96, provavelmente devido à guerra eletrônica, disse a Força Aérea ucraniana. Cinco drones foram em direção a Belarus.

"O inimigo lançou um número recorde de UAVs de ataque Shahed e drones não identificados", segundo comunicado militar, além de quatro mísseis balísticos Iskander-M. A Rússia usa drones "suicidas" produzidos a baixo custo e drones "chamarizes" de baixo custo, os quais atrapalham as defesas aéreas ucranianas.

"Infelizmente, houve ataques a instalações de infraestrutura crítica e prédios particulares e de apartamentos foram danificados em várias regiões devido ao ataque maciço de drones", disse um comunicado da Força Aérea, acrescentando que não houve registro de vítimas.

O ataque danificou a rede de energia em Ternopil, uma importante cidade no oeste da Ucrânia e cortou a energia de cerca de 70% da região de mesmo nome, disse o governador local, Vyacheslav Nehoda, na televisão nacional.

Ternopil fica a cerca de 220 quilômetros a leste da Polônia, país-membro da Otan. A cidade e a região circundante de mesmo nome tinham uma população de mais de um milhão de habitantes antes do início da invasão russa, em fevereiro de 2022.

"As consequências são ruins porque a instalação foi significativamente afetada, e isso terá impacto sobre o fornecimento de energia de toda a região por um longo tempo", disse Nehoda.

<><> Falta de água

O ataque também levou à interrupção dos serviços de água e calefação, segundo mensagem publicada no Telegram pelo chefe do quartel-general da Defesa regional, Serhiy Nadal.

Nehoda informou que os serviços de emergência haviam restaurado a maior parte do abastecimento de água pela manhã e que as autoridades locais estavam planejando cortes de energia na sequência do ataque.

O operador da rede elétrica nacional da Ucrânia, Ukrenergo, afirmou que cortes emergenciais de energia estavam em vigor na região e que engenheiros estavam trabalhando para restaurar o fornecimento de luz.

Os ônibus elétricos que atendem a cidade seriam substituídos por ônibus a diesel, e geradores ajudariam na falta de energia em escolas, hospitais e instituições governamentais, segundo Nadal.

Rússia também atacou a capital Kiev durante a madrugada, informou a administração militar da cidade no Telegram, acrescentando que as unidades de defesa aérea destruíram mais de 10 drones russos.

A queda de destroços danificou quatro residências particulares, dois edifícios de apartamentos altos, duas garagens e um carro na região ao redor da capital, disse seu governador, Ruslan Kravchenko.

Os drones se aproximaram de Kiev em ondas e de diferentes direções, mas não houve danos ou feridos na cidade, segundo postagem de Serhiy Popko, chefe da administração militar de Kiev, no aplicativo de mensagens Telegram.

A intensificação dos ataques noturnos com drones às cidades ucranianas coincide com uma grande investida da Rússia ao longo das linhas de frente no leste da Ucrânia, onde as forças russas obtiveram alguns dos maiores ganhos territoriais mensais desde 2022.

<><> Recorde russo de conquista de território

O Exército da Rússia conquistou 235 quilômetros quadrados de território da Ucrânia na semana passada, um recorde semanal em 2024, principalmente na região de Donetsk.

Os militares russos obtiveram os maiores ganhos de território nas proximidades de Velika Novosilka, localidade estratégica perto da fronteira administrativa entre as regiões de Donetsk e Zaporíjia, informou o canal do Telegram "Agentsvo".

Além disso, eles também teriam tomado cerca de 33 quilômetros quadrados na direção do reduto ucraniano de Pokrovsk – que tinha uma população de 60 mil habitantes antes da guerra –, o principal alvo da atual ofensiva russa na região de Donbass.

Até agora, em novembro, as tropas russas conquistaram 600 quilômetros quadrados de território, 100 quilômetros quadrados a mais do que em outubro, segundo o Agentsvo, que usa dados da plataforma ucraniana DeepState.

De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra dos Estados Unidos (ISW, na sigla em inglês), os russos tomaram mais território no sul de Donetsk nas últimas semanas do que em todo o ano de 2023.

Ao mesmo tempo, o Agentsvo afirma que os russos já estão lutando no centro de Kurakhove, outro reduto importante em Donetsk, onde entraram no início deste mês.

Para iniciar o cerco a Pokrovsk, os russos precisam primeiro tomar Kurakhove, de acordo com especialistas militares de ambos os lados.

O Exército russo também está forçando a entrada na região nordeste de Kharkov para tomar Izium e Kupiansk, e atacar pelo norte os principais centros de operações ucranianos no Donbass: Kramatorsk e Sloviansk.

De qualquer forma, os especialistas ocidentais não preveem que os russos conseguirão romper todas as linhas defensivas ucranianas antes do início iminente do inverno.

<><> Otan reafirma apoio à Ucrânia

A Otan reafirmou seu apoio à Ucrânia em conversações em Bruxelas nesta terça-feira, após a tentativa da Rússia de "intimidar" os aliados de Kiev com o disparo na semana passada de um míssil hipersônico experimental de alcance intermediário.

Na quinta-feira, a Rússia realizou um ataque à cidade ucraniana de Dnipro que, segundo o presidente Vladimir Putin, foi um teste de seu novo míssil Oreshnik.

Putin disse que o ataque com mísseis foi uma resposta ao fato de a Ucrânia ter disparado contra a Rússia armas fornecidas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.

O líder do Kremlin advertiu que Moscou se sente "no direito" de atingir instalações militares em países que permitem que a Ucrânia use suas armas contra a Rússia.

"Durante a reunião, os aliados da Otan reafirmaram seu apoio à Ucrânia", disse a aliança em um comunicado após a reunião.

"O ataque, que teve como alvo Dnipro, é visto como mais uma tentativa da Rússia de aterrorizar a população civil na Ucrânia e intimidar aqueles que apoiam a Ucrânia enquanto ela se defende contra a agressão ilegal e não provocada da Rússia."

<><> "Surto de loucura russa"

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, chamou o ataque de "o mais recente surto de loucura russa" e pediu a atualização dos sistemas de defesa aérea para enfrentar a nova ameaça.

Kiev pediu "resultados concretos e significativos" após convocar a reunião do Conselho Otan-Ucrânia.

Uma autoridade da Otan disse que a Ucrânia identificou os sistemas de defesa aérea de que precisa para tentar combater a nova ameaça de mísseis de Moscou antes de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da aliança em Bruxelas na próxima semana.

Alguns aliados deram a entender que poderiam fazer anúncios na reunião da próxima semana sobre novas defesas aéreas para Kiev, disse o funcionário.

A escalada das tensões sobre a Ucrânia ocorre no momento em que pairam dúvidas sobre o futuro do apoio ocidental após a reeleição de Donald Trump na principal potência da Otan, os Estados Unidos.

O americano colocou em dúvida a manutenção da vasta ajuda militar de Washington a Kiev e prometeu um acordo rápido para acabar com a guerra. 

Moscou prometeu "ações de retaliação" a novos ataques aéreos ucranianos dentro da Rússia usando mísseis ATACMS fornecidos pelos EUA.

Em um raro reconhecimento de perdas, o Kremlin disse que os novos ataques causaram danos a equipamentos militares e feriram alguns de seus funcionários em terra na região de Kursk.

 

Fonte: BBC News Mundo/DW Brasil

 

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