Fungos
podem zumbificar formiga, cigarra e outros insetos, mas risco real está nas
doenças fúngicas
Zumbis
causam medo em nossos corações – e, se forem persistentes, eventualmente eles
entram em nossas cabeças. Animais tomados por zumbis não controlam mais seus
próprios corpos ou comportamentos. Em vez disso, eles servem aos interesses de
um mestre, seja um vírus, fungo ou algum outro agente prejudicial.
O
termo “zumbi” vem do Vudu (ou Vodum), uma religião que evoluiu na nação
caribenha do Haiti. Mas a ideia de exércitos de zumbis humanos mortos-vivos e
comedores de cérebros vem de filmes, como “A Noite dos Mortos-Vivos”, séries de
TV como “The Walking Dead” e videogames como Resident Evil .
Tudo
isso é fictício. A natureza é onde podemos encontrar exemplos reais de
zumbificação – um organismo controlando o comportamento de outro organismo.
Eu
estudo fungos, um enorme reino biológico que inclui mofos, bolores, leveduras,
cogumelos e zumbificadores. Não se preocupe – esses “organismos comedores de
cérebro” tendem a ter insetos como alvos.
• Ladrões de corpos de
insetos
Um
dos exemplos mais famosos é o fungo da formiga zumbi, o Ophiocordyceps
unilateralis, que faz parte de um grupo maior conhecido como Cordyceps. Este
fungo inspirou o videogame e a série da HBO “The Last of Us”, em que uma
infecção fúngica generalizada transforma as pessoas em criaturas semelhantes a
zumbis e leva a sociedade a entrar em colapso.
No
mundo real, as formigas, geralmente, entram em contato com esse fungo quando
esporos – partículas reprodutivas do tamanho de pólen que o fungo produz – caem
sobre elas a partir de uma árvore ou planta acima. Os esporos penetram no corpo
da formiga sem matá-la.
Uma
vez lá dentro, o fungo se espalha na forma de levedura. A formiga para de se
comunicar com as companheiras de ninho e cambaleia sem rumo. Eventualmente, ela
se torna hiperativa.
Por
fim, o fungo faz com que a formiga suba em uma planta e se prenda a uma folha
ou caule com suas mandíbulas. O fungo muda para uma nova fase e consome os
órgãos da formiga, incluindo o cérebro. Um talo irrompe da cabeça do inseto
morto e produz esporos, que caem sobre formigas saudáveis abaixo, iniciando o
ciclo novamente.
Cientistas
descreveram inúmeras espécies de Ophiocordyceps. Cada uma delas é minúscula,
com um estilo de vida muito especializado. Algumas vivem apenas em áreas
específicas: por exemplo, o Ophiocordyceps salganeicola, um parasita de baratas
sociais, é encontrado apenas nas Ilhas Ryukyu, no Japão. Espero que existam
muitas outras espécies ao redor do mundo aguardando serem descobertas.
O
fungo da cigarra zumbi, o Massospora cicadina, também recebeu muita atenção nos
últimos anos. Ele infecta e controla as cigarras periódicas, que vivem no
subsolo e emergem brevemente para acasalar em ciclos de 13 ou 17 anos.
Também,
mantém as cigarras energizadas e voando por aí, mesmo enquanto consome e
substitui suas extremidades traseiras e o abdômen. Esse comportamento
prolongado de “hospedeiro ativo” é raro em fungos que invadem insetos. O
Massospora tem membros da família que atacam moscas, mariposas, milípedes e
besouros-soldados, mas eles fazem com que seus hospedeiros cheguem ao topo e
morram, como formigas afetadas por Ophiocordyceps.
• As verdadeiras ameaças
fúngicas
Essas
diversas parcerias mórbidas – relacionamentos que levam à morte – foram
formadas e refinadas ao longo de milhões de anos de tempo evolutivo. Um fungo
especializado em infectar e controlar formigas ou cigarras teria que
desenvolver ferramentas vastamente novas ao longo de milhões de anos para
conseguir infectar até mesmo outro inseto, mesmo um que seja parente próximo,
quanto mais um ser humano.
Na
minha pesquisa, coletei e manipulei centenas de cigarras zumbis vivas e mortas,
assim como inúmeros insetos, aranhas e milípedes infectados por fungos.
Dissequei centenas de espécimes e descobri aspectos fascinantes de sua
biologia. Apesar dessa exposição prolongada, ainda controlo meu próprio
comportamento.
Alguns
fungos ameaçam a saúde humana, de fato. Exemplos incluem o Aspergillus
fumigatus e o Cryptococcus neoformans, ambos podem invadir os pulmões das
pessoas e causar sintomas graves semelhantes aos da pneumonia. O Cryptococcus
neoformans pode se espalhar para fora dos pulmões e chegar ao sistema nervoso
central, causando sintomas como rigidez no pescoço, vômitos e sensibilidade à
luz.
As
doenças fúngicas invasivas estão aumentando em todo o mundo. Assim como
infecções fúngicas comuns, como pé de atleta – uma erupção cutânea entre os
dedos dos pés – e a micose, uma erupção cutânea que, apesar do nome, é causada
por um fungo.
Os
fungos prosperam em ambientes perpetuamente quentes e úmidos. Você pode se
proteger contra muitos deles tomando banho depois de suar ou estiver sujo e,
também, não compartilhando equipamentos esportivos ou toalhas com outras
pessoas.
Nem
todos os fungos são assustadores e, mesmo os mais alarmantes, não vão te
transformar em um morto-vivo. O mais próximo que você pode chegar de um fungo
zumbificador é assistindo a filmes de terror ou jogando videogame.
Se
tiver sorte, você pode encontrar uma formiga ou uma mosca zumbi na sua
vizinhança. E, se você achar que elas são legais, pode se tornar um cientista
como eu e passar a vida procurando por eles.
• Mutação em testículos
pode levar à extinção dos homens na Terra, aponta ciência
Já
imaginou como seria o planeta sem a presença de homens cis? Esse pode ser o
futuro da humanidade, aponta Jenny Graves, uma renomada geneticista australiana
e especialista no cromossomo Y.
A
extinção do sexo masculino pode ser causada por uma mutação genética que já
começou. Alguns mamíferos, assim como os seres humanos, se dividem em
cromossomos X e Y.
Enquanto
as mulheres cis têm dois cromossomos X, os homens cis têm um X e um Y. Esses
pares representam cerca de 4% do DNA de uma pessoa e determinam seu sexo.
A
cientista Jenny explicou, em entrevista à BBC Science, que os cromossomos X são
gigantes em comparação aos Y, não só em tamanho, como em quantidade. Enquanto o
X tem entre 900 e 1.400 genes, o Y tem 45.
“Existem
apenas 45 genes no cromossomo Y, e apenas um deles é responsável por torná-lo
masculino. Alguns outros ajudam na produção de esperma, mas para os demais,
ainda não sabemos bem por que estão ali. Nós simplesmente não conseguimos nos
livrar deles”, apontou.
Contudo,
nem sempre foi assim. Originalmente, o cromossomo Y era semelhante ao X e tinha
mais de 900 genes, que foram se extinguindo até sobrar apenas 45, alguns deles
sendo inúteis.
Comparado
ao seu estado original, o cromossomo Y já perdeu cerca de 97% de seus genes
ancestrais nos humanos. O cromossomo X, por outro lado, permanece praticamente
intacto.
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Como aconteceria a extinção dos homens cis?
O
problema não é exclusivo dos humanos e já ocorreu com outros animais. As moscas
da fruta, por exemplo, já perderam quase todos os seus cromossomos Y.
“A
razão para essa perda parece ser dupla. Primeiro, o cromossomo Y, por
definição, está sempre em um testículo, nunca em um ovário. Descobriu-se que o
testículo é um lugar perigoso para estar, em parte porque há muita mutação
acontecendo”, ressaltou Jenny.
Isso
porque são necessárias várias divisões celulares para que o esperma seja
produzido e cada divisão, destaca a cientista, é uma chance de mutação.
“Isso
pode ter um grande efeito no cromossomo Y. Ele também não é muito bom em se
reparar, pois há apenas um por célula”, completou.
A
maioria dos cromossomos consegue arrumar alguma mutação trocando DNA com o
cromossomo oposto, em um processo chamado recombinação. No entanto, como o
cromossomo Y é herdado sozinho, ele não tem um parceiro com quem possa trocar
material genético, ao contrário do que acontece nas mulheres, que possuem dois
cromossomos X.
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Quando os homens serão extintos?
A
pesquisadora ressalta que a percepção do tempo é diferente na evolução. Embora
a ciência considere a extinção dos cromossomos Y rápida, é provável que nenhum
homem cis do século 21 esteja vivo para ver o último de sua espécie. “A menos
que bilionários descubram o segredo da imortalidade”.
“Quando
digo rápido, estou falando em termos evolutivos. Os cromossomos sexuais
evoluíram em mamíferos há cerca de 180 milhões de anos. Levou todo esse tempo
para o cromossomo Y se degradar até esse nível”, relatou Jenny.
“É
engraçado que as pessoas se preocupem tanto com a perda do cromossomo Y. Meus
cálculos aproximados mostram que temos mais seis ou sete milhões de anos até
que o cromossomo desapareça completamente”, completou.
Em
termos evolutivos, o futuro dos homens cis é incerto. Em milhões de anos, o
sexo masculino pode simplesmente deixar de existir. As mutações também podem
resultar em um sexo completamente novo.
A
evolução, no entanto, já está acontecendo. Com 8 bilhões de pessoas ao redor do
mundo e as mutações ocorrendo a todo momento em testículos, Jenny acredita que
em algum lugar já pode ter nascido o primeiro homem cis sem um cromossomo Y.
Fonte:
Por Matt Kasson, para The Conversation Brasil/ND Mais
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