Bolsonaro
já vinha trabalhando em plano de fuga desde 2021
A
Polícia Federal, em relatório enviado à Procuradoria-Geral da República no
inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado, trouxe à tona a
existência de um plano de fuga elaborado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
ainda em 2021. O plano foi descoberto em um arquivo de PowerPoint armazenado no
notebook do tenente-coronel Mauro Cid de Oliveira, ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro. O documento, reportado pelo Valor, detalha estratégias que seriam
acionadas em caso de confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo
ocupação militar de edifícios governamentais e evasão do então presidente para
fora do Brasil.
De
acordo com o relatório, o plano previa três cenários para sua ativação:
interferência do STF no Executivo, cassação da chapa presidencial para as
eleições de 2022 e eventual bloqueio da aprovação da PEC do voto impresso no
Congresso. Esses elementos confirmam que o plano foi concebido em 2021, ano em
que Bolsonaro intensificou pressões sobre o Legislativo para tentar aprovar o
fim do voto eletrônico, incluindo manobras militares simbólicas realizadas pela
Marinha na Esplanada dos Ministérios. A proposta, entretanto, foi rejeitada
pela Câmara dos Deputados.
• Ocupação militar e fuga
internacional
O
plano previa a ocupação dos Palácios da Alvorada e do Planalto por agentes
armados do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para garantir a segurança
de Bolsonaro durante a evasão. O relatório da PF indica que a estratégia
envolvia a tomada de "infraestruturas estratégicas" e ações
coordenadas para afastar o presidente de possíveis medidas judiciais ou
políticas que ameaçassem seu mandato.
O
ápice das tensões entre o Executivo e o STF, segundo os investigadores, ocorreu
em 7 de setembro de 2021. Naquela data, durante ato com apoiadores em São
Paulo, Bolsonaro chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes de
"canalha" e afirmou que não cumpriria decisões judiciais. A
declaração gerou especulações sobre um impeachment sumário, mas a crise foi
contornada após o ex-presidente Michel Temer intermediar um pedido de desculpas
público de Bolsonaro.
• "Plano
adaptado" no final de 2022
Embora
o plano inicial não tenha sido implementado em 2021, a PF aponta que ele foi
adaptado e executado no final de 2022, após a derrota eleitoral de Bolsonaro.
"Jair Bolsonaro, após não conseguir o apoio das Forças Armadas para
consumar a ruptura institucional, saiu do país para evitar uma possível prisão
e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023",
afirma o relatório.
Em
30 de dezembro de 2022, Bolsonaro embarcou para Orlando, nos Estados Unidos, a
bordo de um avião presidencial, evitando assim a transmissão da faixa
presidencial ao presidente Lula. Ele permaneceu três meses fora do Brasil,
enquanto seu entorno político continuava sob investigação. O relatório ainda
reforça que os eventos de 8 de janeiro de 2023 – a invasão e depredação das
sedes dos Três Poderes – estavam alinhados com os objetivos estratégicos
delineados no plano.
Essa
nova revelação acrescenta um capítulo importante às investigações sobre o
período de tensão política no Brasil, reforçando as suspeitas de planejamento
prévio de atos que atentaram contra a ordem democrática.
• Discurso golpista de
Bolsonaro foi a causa do 8 de janeiro
A
Polícia Federal (PF) concluiu que a disseminação de narrativas golpistas
durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro propiciou o recente atentado
com um homem-bomba no Supremo Tribunal Federal (STF) e os atos golpistas de 8
de janeiro de 2023.
A
conclusão está no relatório no qual a PF indiciou Bolsonaro e mais 36 acusados
por golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O
sigilo foi derrubado nesta terça-feira (26) pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do chamado inquérito do golpe.
Na
avaliação dos investigadores responsáveis pela conclusão do inquérito, a
difusão de "forma rápida e repetitiva" de narrativas golpistas
manteve o desejo de grupos extremistas de consumação do golpe que teria sido
planejado pelo ex-presidente e seus aliados, mas não foi aplicado pela falta de
adesão do Exército e da Aeronáutica.
"Esse
método de ataques sistemáticos aos valores mais caros do Estado democrático de
direito criou o ambiente propício para o florescimento de um radicalismo que,
conforme exposto, culminou nos atos do dia 8 de janeiro de 2023, mas que ainda
se encontra em estado de latência em parcela da sociedade, exemplificado no
atentado bomba ocorrido na data de 13 de novembro de 2024 na cidade de
Brasília", diz a PF.
Além
do atentado do dia 13 deste mês e os atos de 8 de janeiro, a PF citou a
tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, ocorrida em Brasília, no dia
12 de dezembro de 2022; e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque no
aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro daquele ano.
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Bolsonaro como líder do golpe
No
relatório, os investigadores afirmam ainda que Jair Bolsonaro atuou de
"forma direta e efetiva" nos atos executórios para tentar um golpe de
Estado em 2022.
"Os
elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma
inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro,
planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios
realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um
golpe de estado e da abolição do estado democrático de Direito, fato que não se
consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz o
relatório.
Segundo
a PF, Bolsonaro tinha conhecimento do
chamado Punhal Verde e Amarelo, plano elaborado pelos indiciados com o objetivo
de sequestro ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Conforme
a PF, o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, anuiu com a
articulação golpista, colocando as tropas à disposição do então presidente Jair
Bolsonaro.
O
plano de golpe de Estado não foi consumado por falta de apoio dos comandantes
do Exército e da Aeronáutica.
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"Lula não sobe a rampa"
Um
documento manuscrito apreendido pela Polícia Federal (PF) na sede do Partido
Liberal (PL) propõe ações para interromper o processo de transição de governo,
“mobilização de juristas e formadores de opinião”.
O
documento encerra com o texto “Lula não sobe a rampa”. Segundo a PF, em uma
clara alusão ao impedimento de que o vencedor das eleições de 2022 assumisse o
cargo da presidência.
O
material foi apreendido na mesa do assessor do general Walter Braga Netto,
coronel Peregrino, faz um esboço de ações planejadas para a denominada
“Operação 142”. O nome dado ao documento faz alusão ao artigo 142 da
Constituição Federal que trata das Forças Armadas e que, segundo a PF, era uma
possibilidade aventada pelos investigados como meio de implementar uma ruptura
institucional após a derrota eleitoral de Bolsonaro.
Após
a retirada do sigilo, o inquérito do golpe foi enviado para a
Procuradoria-Geral da República (PGR). Com o envio do relatório, o
procurador-geral da República, Paulo Gonet, vai decidir se o ex-presidente e os
demais acusados serão denunciados ao Supremo pelos crimes imputados pelos
investigadores da PF.
• Golpistas planejavam
culpar governo Lula por atos do 8 de janeiro
Materiais
encontrados na residência do general da reserva Mário Fernandes indicam que
havia um conjunto de estratégias para atrapalhar as investigações da tentativa
de golpe de Estado. Uma delas era voltada para a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, para que a oposição imputasse ao governo Lula
a responsabilidade pelos atos golpistas de 2023. A informação está no relatório
da Polícia Federal (PF), cujo sigilo foi retirado hoje (26) pelo ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mário
Fernandes era o número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo de
Jair Bolsonaro. O documento com as estratégias para a CPMI foi criado em
16/05/2023, quando Fernandes ocupava cargo de natureza especial no gabinete do
deputado federal General Pazuello. No documento, estão “ideias-forças” para
orientar a oposição ao governo Lula. A principal delas era afastar a
responsabilidade do grupo investigado pela PF e conseguir o impeachment do
atual presidente da República.
Outro
objetivo era desgastar o STF e o ministro Alexandre de Moraes, para avançar em
pedidos de impeachment de ministros da corte suprema, denominados “ditadura da
toga”, e anular as prisões dos golpistas dos atos de 8 de janeiro, chamados de
“patriotas”.
“Mostrar
o abuso de poder do STF, principalmente do Alexandre de Moraes, na prisão de
cerca de 1.500 patriotas, que só tem um comparativo na história da humanidade,
que são as prisões dos judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial”, diz um
dos trechos do documento.
Também
se pretendia intimidar e coagir a Polícia Federal, ao afirmar que o órgão
policial cometeu abusos e prendeu ilegalmente participantes do 8 de janeiro.
Além
das orientações sobre a CPMI, foram encontradas com Mário Fernandes anotações
para criar uma narrativa contra o então ministro da Justiça, Flávio Dino. O
objetivo era responsabilizá-lo por omissão na tentativa de golpe de Estado no 8
de janeiro em Brasília.
• Militares revelam
ressentimento com Rogério Marinho por oposição ao golpe
Anotações
encontradas pela Polícia Federal (PF) em documentos relacionados ao delator
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, revelaram ressentimentos de
militares bolsonaristas com o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da
oposição no Senado. De acordo com o portal Metrópoles, mensagens enviadas ao
general Braga Netto mencionam o nome de Marinho em um contexto de decepção:
“Ressentimento com a parte política da direita: Rogério Marinho”.
A
ala militar radical do bolsonarismo teria se frustrado com a postura do
senador, que, em dezembro de 2022, desaconselhou iniciativas que pudessem levar
a uma ruptura democrática. Na ocasião, Marinho tentava convencer aliados do
então presidente Jair Bolsonaro a buscar paciência para construir uma volta ao
poder pela via eleitoral em 2026.
Ainda
de acordo com a reportagem, Rogério Marinho argumentava que Bolsonaro tinha o
apoio de “50% da população” e que o Partido dos Trabalhadores (PT) enfrentaria
dificuldades para governar, o que poderia abrir caminho para um retorno
triunfal da direita ao Planalto. O senador também estava focado na articulação
de sua candidatura à presidência do Senado, uma movimentação que contava com
apoio de Bolsonaro. Contudo, Marinho foi derrotado por Rodrigo Pacheco (PSD) em
janeiro de 2023.
A
postura conciliatória do senador foi vista como uma traição por parte de
militares que estariam envolvidos nas tramas investigadas pela PF. As anotações
de Mauro Cid, feitas por um interlocutor próximo, foram apreendidas e incluíram
outras declarações que reforçam o clima de tensão dentro do grupo.
Segundo
o documento apreendido, Mauro Cid revelou questionamentos sobre figuras-chave
do entorno bolsonarista, como o general Mario Fernandes, preso sob suspeita de
planejar atentados contra o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes,
do STF.
Outras
partes da mensagem destacam avaliações feitas sobre Braga Netto, ex-ministro da
Casa Civil, descrito como tendo um “pensamento democrático de transparência das
urnas”. A defesa de Braga Netto contrasta com a visão dos militares sobre
Rogério Marinho, reforçando o distanciamento entre diferentes alas do grupo
bolsonarista.
Rogério
Marinho, que ocupou cargos de destaque no governo Bolsonaro, como secretário
especial da Previdência e ministro do Desenvolvimento Regional, mantém sua
posição como líder da oposição no Senado. Contudo, as revelações da PF expõem
divisões internas no bolsonarismo, sobretudo entre militares e lideranças
políticas que priorizam estratégias institucionais para o retorno ao poder.
O
documento apreendido pela PF foi descrito como “grave” pelas autoridades.
Segundo os investigadores, ele reforça as suspeitas sobre a existência de um
plano golpista e ilustra os conflitos entre diferentes grupos que orbitavam o
ex-presidente Bolsonaro.
Fonte:
Brasil 247/Agencia Brasil
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