quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Novo documento mostra golpe planejado em detalhes, com anuência total de Bolsonaro

O relatório do inquérito da PF sobre a tentativa de golpe desmentiu completamente Jair Bolsonaro, horas depois de ele negar participação na trama, afirmando, com base em uma profusão de provas, que ele “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva” de todo o plano golpista.

Embora os golpes do tipo quartelada estejam em desuso, sendo substituídos pelas novas formas de corrosão da democracia, o golpe de Bolsonaro e seus asseclas seria à moda antiga. E fracassou exatamente porque não teve a adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica. Diante disso, Bolsonaro tenta salvar a própria pele, salta do barco golpista e vai para os EUA. No Brasil, desesperados e sentindo-se abandonados, os golpistas foram para a cartada afinal e arriscada, levando os acampados, arregimentados em vários pontos do país, para o ataque aos centros do poder.

Os detalhes do golpe aparecem em um documento que ainda não havia sido revelado e que foi encontrado na sede do PL, na mesa do assessor do general Braga Netto, Coronel Peregrino. O documento manuscrito estava em uma pasta denominada “memorias importantes” e era intitulado “Operação 142”, por ter como pretensa base jurídica o artigo 142 da Constituição, que na interpretação equivocada da extrema direita, permite a intervenção das Forças Armadas em caso de conflito entre os poderes ou de grave perturbação da ordem

Neste documento aparece a expressão “Lula não sobe a rampa”, síntese do objetivo do golpe, impedir a posse do presidente legitimamente eleito. Nele são listadas as ações que  seriam desencadeadas, sob o título “Linhas de Esforço”. Pela ordem, eram elas, tal como listadas no documento

         - Enquadramento jurídico no artigo 142 (AGU e MJ).

         - Comprometimento político: convocação do Conselho da República e da Defesa.

         - Discurso em cadeia nacional de TV e rádio.

         - Preparação (ensaios) da tropa para as ações diretas.

         - Mobilização de juristas e formadores de opinião.

         - Preparar releases para divulgação posterior.

         - Interrupção do processo de transição.

         - Anulação de atos arbitrários do STF.

O resto não estava escrito mas já é sabido: eliminação de Lula, Alckmin e Alexandre de Morais. Como em 64, depois viriam as cassações de adversários, a suspensão de garantias constitucionais e um ato de força que sintetizaria o espírito da ditadura, como o AI-5.

Se escapamos mesmo por muito pouco, eles não podem escapar da cadeia, para que ninguém mais ouse atentar contra o Estado Democrático de Direito e a vontade popular.

 

•                        Bolsonaro admite que estudou “todas medidas possíveis dentro da Constituição” para impedir a posse de Lula

Indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que nunca debateu “golpe” com ninguém, mas que “estudou” todas as possibilidades previstas na Constituição para impedir que seu adversário nas urnas em 2022, o presidente eleito Lula (PT), tomasse posse do cargo. As declarações foram dadas nesta segunda-feira (25).

“Nunca debati golpe com ninguém. Se alguém viesse falar de golpe comigo, eu perguntaria: ‘E o day after? Como a gente fica perante o mundo?’”, disse Bolsonaro à imprensa, no aeroporto de Brasília, após chegar de Maceió (AL).

“Agora, todas medidas possíveis, dentro das quatro linhas, dentro da Constituição, eu estudei“, afirmou o ex-presidente.

Já é sabido que Bolsonaro tinha simpatia pela ideia de decretar “estado de sítio”, que é uma medida constitucional e que pode ser acionada pelo presidente da República, mas somente em situações de grave comoção nacional ou quando as ações durante um estado de defesa se mostrarem ineficazes

Na última sexta-feira (22), a PF enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas, entre elas militares próximos ao antigo governo, por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

Ao longo das investigações, a PF encontrou diversas provas sobre planos de aspiração golpista que tinham como objetivo final impedir que Bolsonaro deixasse o Palácio do Planalto. As investigações, inclusive, descobriram uma trama para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSDB) e o ministro do Suprema Corte, Alexandre de Moraes.

O indiciamento, no entanto, é apenas o primeiro passo para uma eventual condenação dos envolvidos ou arquivamento do caso. Hoje (26), o relatório da PF deve ser encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que definirá o seguimento ou não da denúncia.

Ontem, a imprensa, Bolsonaro ainda insistiu que tratar de golpe seria uma “loucura” e sugeriu que – talvez – ele tenha sido a vítima. “É uma loucura falar em golpe, meu Deus do céu, uma loucura. Golpe com militares da reserva e cinco da ativa? Pelo amor de Deus! E outra coisa. Golpe existe em cima de uma autoridade constituída, que já tomou posse. O Lula já tinha tomado posse? Só se fosse em cima de mim o golpe“, argumentou.

<><> 'Nunca debati golpe com ninguém', diz Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado pela Polícia Federal, afirmou nesta segunda-feira (25) que nunca debateu golpe com ninguém.

Bolsonaro falou com a imprensa no aeroporto de Brasília, após chegar de Maceió.

No fim da semana passada, a PF enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o indiciamento de 37 pessoas — dentre elas, Bolsonaro — por três crimes: tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

O indiciamento não significa condenação. Há ainda um longo caminho jurídico para esse eventual desfecho.

As investigações da PF se referem a tramas golpistas que ameaçaram o país após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter vencido Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022.

"Nunca debati golpe com ninguém. Se alguém viesse falar de golpe comigo, eu perguntaria: "E o day after? Como a gente fica perante o mundo?", disse Bolsonaro para a imprensa, argumentando que o dia seguinte a um eventual golpe traria tantas dificuldades para o Brasil que ele nem cogitou essa hipótese.

"Agora, todas medidas possíveis, dentro das quatro linhas, dentro da Constituição, eu estudei", afirmou o ex-presidente.

Para Bolsonaro, falar em golpe é uma "loucura".

"Vamos supor até que eu fizesse essa loucura. Como é que fica o Brasil no dia seguinte? O mundo levantaria barreiras contra a gente, vira um inferno aqui. Ninguém quer isso daí. É uma loucura falar em golpe, meu Deus do céu, uma loucura. Golpe com militares da reserva e cinco da ativa? Pelo amor de Deus! E outra coisa. Golpe existe em cima de uma autoridade constituída, que já tomou posse. O Lula já tinha tomado posse? Só se fosse em cima de mim o golpe", argumentou.

Entre os indiciados pela PF há 25 militares e também ex-ministros do governo Bolsonaro, como os generais Braga Netto e Augusto Heleno.

 

•                        Em conversas obtidas pela PF, militares que tramaram golpe de Estado falam em 'guerra civil'

Em mensagens analisadas pela Polícia Federal, o general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência da República, Mario Fernandes, recebeu um áudio do general-de-brigada da reserva Roberto Criscuoli, em 29 de novembro de 2022, discutindo abertamente a possibilidade de uma "guerra civil".

No áudio, Criscuoli argumenta que a insurgência deveria ocorrer antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitando o "apoio maciço" de manifestantes que estavam acampados em frente aos quarteis-generais pelo país e concentrados em Brasília.

"Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade, vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois", afirmou.

Ele reforçou a urgência da ação, justificando que o momento era propício.

"É melhor ir agora. O povo está na rua e pedindo, que, daqui a pouco, nós vamos por interesse próprio."

Ele faz uma defesa do descumprimento da Constituição.

"Não tem que ser mais democrata agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. Agora o povo da rua tá pedindo, pelo amor de Deus," disse Criscuoli, referindo-se à suposta necessidade de ultrapassar os limites constitucionais.

No final do áudio, Criscuoli pediu para que Mario Fernandes transmitisse a mensagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele insistiu que a demora em agir estava favorecendo os adversários e pediu uma intervenção imediata:

"Nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro, amanhã eu não tô mais não."

 

•                        PF: Núcleo do golpe cogitou colocar Braga Netto na Defesa para driblar resistência de comandantes

O general da reserva Mário Fernandes, apontado como o responsável pelo plano para matar Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), aparece em um diálogo com Marcelo Câmara, então assessor de Jair Bolsonaro (PL), afirmando ter sugerido ao então presidente trocar o ministro da Defesa.

A ideia era tirar o general Paulo Sérgio Nogueira e colocar o general Braga Netto, que é apontado por fontes da Polícia Federal como o principal arquiteto do plano de golpe para manter Bolsonaro no poder mesmo com derrota na eleição de 2022.

"Ontem, falei com o presidente. Porra, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD [Ministério da Defesa], porra. Bota de novo o General Braga Netto lá. general Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo", diz Fernandes ao auxiliar do ex-presidente.

A conversa aconteceu no dia 10 de novembro de 2022, um dia após registros obtidos pela Polícia Federal apontarem a presença de Fernandes no Palácio da Alvorada, residêncai oficial da Presidência da República.

Fernandes era, na época, secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência da República e foi quem elaborou, segundo a PF, o documento no qual foi detalhado o plano para matar Lula, Alckmin e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

A conversa indica ainda que Fernandes, apontado pela PF como um integrante do núcleo que gestou a tentativa de golpe, estava disposto a enfrentar as consequências.

"Reestrutura [o MD] de novo, porra. Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe. Porra, negão. Qualquer solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parte pra cima, apoio popular é o que não falta", diz a Câmara.

As investigações da Polícia Federal mostram que o golpe efetivamente não aconteceu porque os então comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Júnior, se negaram a dar andamento a qualquer iniciativa antidemocrática.

Em seu depoimento à PF, Freire Gomes relatou ter sido consultado sobre uma minuta de decreto de golpe, mas afirmou ter sempre dito que o Exército não atuaria em tais situações. Ele declarou, ainda, ter informado a Bolsonaro na ocasião que qualquer atitude poderia resultar em responsabilização penal ao ex-presidente.

Braga Netto entrou no governo em fevereiro de 2020 assumindo a Casa Civil em um momento em que Bolsonaro passou a dar mais força ao núcleo militar da sua gestão.

Em abril de 2021, ele foi para o Ministério da Defesa para o lugar do então ministro Fernando Azevedo e Silva, que teria perdido a confiança do ex-presidente. Ele só deixa a pasta em abril de 2022, quando se desincompatibiliza para disputar as eleições como vice-presidente na chapa.

De acordo com a PF, o general da reserva Mário Fernandes era também um dos responsáveis por manter a ponte com os acampamentos golpistas junto a unidades militares. Em um dos áudios obtidos pelo blog, ele deixa transparecer a decepção com a frustração da tentativa de golpe.

"Ele [Bolsonaro] que tenha coragem moral, pelo menos até quinta-feira, falar que não quer mais, né? Pessoal, pelo menos, passar o Natal em casa”, disse a Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete.

•                        PF vê Braga Netto como principal autoridade por trás do golpe

As informações coletadas até o momento pela PF indicam que o general Braga Netto foi a principal autoridade por trás do golpe de estado para Bolsonaro no poder mesmo após a derrota nas urnas em 2022, conforme apurou o blog com fontes ligadas à investigação.

Para a PF, o ex-presidente Bolsonaro era indubitavelmente o principal beneficiário e comandante da tentativa frustrada, tanto que foi indiciado pelos mesmos crimes que o general e ex-ministro de seu governo – golpe de estado, abolição violenta do estado de direito e organização criminosa.

A investigação aponta, segundo o blog ouviu de investigadores, que o planejamento e a execução do plano foram chefiadas por Braga Netto. Na expressão de um deles, o general era "a cabeça pensante" responsável pela "operacionalização do golpe".

 

•                        'Quatro linhas da Constituição é o c*', 'guerra civil', 'inflamar a massa'

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista após o segundo turno das eleições de 2022 obteve áudios de militares discutindo os preparativos para o plano. A TV Globo teve acesso a 55 áudios que circulavam em grupos de militares de alta patente.

Segundo a PF, o general da reserva Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi o articulador do plano, que envolvia uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva; o vice, Geraldo Alckmin; e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Na quinta-feira (12), a PF indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Os áudios a seguir são de conversas ocorridas após o segundo turno das eleições de 2022.

O coronel Reginaldo Vieira de Abreu, em uma das conversas com o general Mário Fernandes, justificou a necessidade de um golpe de Estado porque o país estava em guerra e os adversários estavam vencendo.

“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c*. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou.

 

Fonte: Brasil 247/g1/Jornal GGN

 

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