Prisão de Brennand
traz alívio, mas também aflição para vítimas
Enquanto
o governo brasileiro aguarda a extradição de Thiago Brennand, as mulheres
agredidas por ele vivem a expectativa desse retorno com uma mistura de
sentimentos, entre alívio e apreensão. O empresário é alvo de cinco mandados de
prisão preventiva por crimes como estupro e sequestro, e foi detido na
segunda-feira nos Emirados Árabes Unidos. A imagem de Brennand preso no Brasil
seria, para as mulheres que o denunciaram, uma vitória em meio à luta por
justiça em um processo com episódios de medo e sofrimento.
—
Vinha me mantendo forte, encorajando outras mulheres a denunciá-lo. Mas, quando
soube (da prisão), desabei em lágrimas. Foi uma reação genuína de alívio —
conta Stefanie Cohen, de 30 anos.
Stefanie
denunciou ter sido violentada por Brennand no ano passado, em outubro, depois
que os dois se conheceram em um restaurante onde ela comemorava a vitória no
concurso Miss São Paulo.
Em
entrevista ao GLOBO à época, ela disse acreditar ter sido vítima do “Boa noite,
Cinderela”, depois de aceitar um convite do empresário para jantar.
—
Conversei esses dias com algumas vítimas, e todas queremos vê-lo preso.
Precisamos dessa imagem. Ver isso será uma vitória pra todo mundo que sofreu
tanto nas mãos dele e acreditava que a impunidade seria eterna. Teremos a
sensação de dever cumprido e de mostrar para todos os homens que são “Thiagos”
que há, sim, Justiça — diz Stefanie, para quem a prisão do empresário pode
incentivar outras mulheres a denunciar agressões semelhantes
‘Despertou
gatilhos"
A
modelo Helena Gomes denunciou Brennand no ano passado. Seu caso foi o primeiro
a vir à tona, com a divulgação de imagens em que o empresário discute com ela
numa academia, na Zona Oeste de São Paulo.
Ele
agrediu Helena com empurrões, cuspidas no rosto e puxões no cabelo, depois que
ela, como conta, recusou um convite para sair com Brennand.
—
O meu foi (um caso de) briga. Mas o que escutei de muitas mulheres, se elas
decidissem falar (publicamente), chocaria ainda mais (pela gravidade) dos
crimes dele — diz Helena.
Ela
também afirma que, para algumas mulheres, a expectativa do retorno de Brennand
ao Brasil as remete à violência que sofreram.
—
Para a maioria, é um alívio. Mas, para algumas, pensar nele de novo por perto,
no Brasil, despertou gatilhos — reconhece.
O
empresário deixou o país em 4 de setembro do ano passado, com destino a Dubai.
No mesmo dia, o Ministério Público ofereceu denúncia à Justiça contra ele por
ter agredido Helena.
Ele
foi preso em um hotel de luxo dos Emirados Árabes, em 14 de outubro, mas
liberado após pagar fiança para responder ao processo em liberdade.
Helena
diz acompanhar o caso de perto. Ela acredita que ele terá de responder pelos
atos que cometeu:
—
Diante da proporção que o caso tomou, não vai ser tão simples pra ele — avalia.
— Nós o aguardamos aqui. Acabaram as férias.
‘Predador
sexual’
Vítimas
associam Brennand a um comportamento de “predador sexual”. Ele se apresentaria
como um homem cordial, culto e bem-sucedido. Mas, na prática, demonstrava um
comportamento agressivo ao ser contrariado. Aí vinham os abusos.
Antes
da agressão a Helena, outra aluna da mesma academia já havia registrado boletim
de ocorrência contra Brennand. A mulher de 28 anos, que pediu para não ser
identificada, conta que foi abordada com uma “conversa amigável”. Após dizer
que era comprometida, o empresário passou a xingá-la.
Para
essa mulher, que deixou de ir à academia por medo de Brennand e pela falta de
providências tomadas pelo estabelecimento após ela comunicar oficialmente a
agressão, a prisão do empresário não traz alívio:
—
Ele é um psicopata, continua fazendo todas as atrocidades que pode pois
acredita na personagem que criou para si mesmo. Brennand é completamente pirado
e não sei do que ele é capaz. Passei, por isso, a ter medo de tratar do caso.
Ele ter sido preso não vai fazê-lo parar. Só vai parar quando morrer — disse.
O que deve acontecer com Thiago Brennand
quando ele chegar ao Brasil, após ser extraditado dos Emirados Árabes
Desde
o último domingo (16), Thiago Brennand está preso nos Emirados Árabes Unidos. O
país autorizou a extradição do empresário, solicitada pelo governo brasileiro
no ano passado.
O
Fantástico vem revelando, nos últimos meses, todas as denúncias contra
Brennand.
O
repórter Valmir Salaro explica o que deve acontecer com o empresário assim que
ele voltar ao Brasil.
A
expectativa das autoridades brasileiras é que isso aconteça nos próximos dias.
-
Valmir Salaro: A partir do momento que ele chegar, quais são os procedimentos
legais que a senhora tem que cumprir?
-
Ivalda Aleixo, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da
Polícia Civil de São Paulo:
• “Primeiro, a gente faz um boletim de
ocorrência.
• Em seguida, nós requisitamos o exame de
corpo de delito junto ao IML.
• Depois, a audiência de custódia, que vai
dar a legalidade no cumprimento dos mandados de prisão.
• Nesse caso, são cinco, e de varas
criminais diferentes”.
O
empresário chegou a ser preso pela Interpol, em outubro do ano passado, em Abu
Dhabi, mas pagou fiança e foi solto. O Fantástico o localizou dias depois, num
hotel cinco estrelas. No Brasil, o destino será menos luxuoso.
“Como
são mandados de prisão preventiva, ele não tem uma condenação nesses crimes,
ele vai para um Centro de Detenção Provisória”, afirma Ivalda Aleixo, diretora
do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil de São
Paulo.
Thiago
Brennand é réu em oito processos por diferentes crimes: estupro, sequestro e
cárcere privado, lesão corporal, corrupção de menores, ameaça e calúnia,
injúria e difamação. Ainda existem outras três investigações em andamento
contra ele por estupro.
Se
condenado, Brennand pode cumprir mais de 30 anos de prisão.
Senador é acusado de usar pedreiro como
laranja em empresa endividada; entenda o caso
O
senador Alexandre Giordano (MDB-SP) é investigado por estelionato pela Polícia
Civil de São Paulo após ter passado uma de suas empresas para o nome de um de
seus empregados, um pedreiro. Quando o ex-funcionário foi acionado pela Justiça
em uma ação de cobrança contra a empresa, prestou queixa contra o senador. O
Ministério Público de São Paulo (MPSP) acompanha o caso.
Desconhecido
de parte do eleitorado, Giordano assumiu a cadeira de senador por São Paulo em
2021, após a morte de Major Olímpio, de quem era suplente. Seu mandato vai até
o fim de 2026.
Como
senador, Giordano teria direito a foro privilegiado (que permite que ele só
seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal). Por isso, em fevereiro, o delegado
do caso, Paulo Sérgio Silva, do 9º Distrito Policial (Carandiru) consultou a
Justiça se manter a investigação ou remetê-la a instâncias superiores.
Como
o crime de estelionato do qual ele é suspeito ocorreu antes do início de seu
mandato, a promotora de Justiça Miriam Fuga Borges, que acompanha o caso,
entende que há jurisprudência para que o inquérito continue em São Paulo. Em
fevereiro deste ano, ela defendeu que o caso permaneça na primeira instância.
O
Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), do TJ de São Paulo, ainda vai se
manifestar sobre o assunto. Se a Polícia Civil for afastada da investigação, a
Polícia Federal terá de pedir autorização ao STF para dar prosseguimento ao
inquérito.
Segundo
a Polícia Civil, o pedreiro Itamar Santos Pereira, de 46 anos, trabalhou entre
2000 e 2020 para o senador na empresa Indústria Brasileira de Estruturas de
Ferro (Ibef), a maior parte do tempo sem nem sequer ter a carteira de trabalho
assinada.
Na
empresa, ele foi formalmente registrado em dois períodos: entre janeiro de 2007
a dezembro de 2009 (no cargo de encarregado de obras) e de agosto de 2010 a
outubro de 2013 (como coordenador de obras). Depois disso, de volta à
informalidade, Pereira afirmou à polícia que continuou trabalhando para a Ibef,
mas por contrato de empreitadas, até o início da pandemia de Covid-19, em 2020.
Daquele período em diante, os serviços ficaram escassos e ele deixou de
trabalhar para Giordano.
Em
outubro de 2020, Pereira foi procurado por um oficial de Justiça, que trazia
consigo uma carta precatória para o pedreiro referente a um processo movido
contra a Ibef. Foi quando ele diz ter descoberto que, ao menos no papel, era o
dono da empresa. Segundo os registros da Junta Comercial de São Paulo, Pereira
constava como sócio do senador havia mais tempo. A entrada do pedreiro na
empresa se deu em 2012, quando Pereira adquiriu 1% da companhia. Em agosto de
2013, os outros 99% da companhia foram transferidos para o pedreiro.
Quando
foi depor na polícia sobre o caso, em janeiro 2021, o pedreiro reconheceu sua
assinatura nos documentos levados à Junta Comercial que davam conta da
transferência da empresa. Mas ele disse que não se lembrava de tê-los assinado.
A carta precatória que teria revelado ao pedreiro que ele era, na verdade, um
empresário, partiu de uma disputa empresarial. A Ibef está sendo processada por
um cliente, a Steco Incorporações, desde 2017.
A
Steco contratou a Ibef para a instalação de uma estrutura metálica em um galpão
industrial em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, em 2014, por R$
2,8 milhões, em valores da época. Mas a Steco diz que o serviço ficou com “uma
série de defeitos” e “problemas decorrentes da má prestação dos serviços”. Por
isso, a empresa acionou a Justiça contra a Ibef.
Os
advogados da Steco adicionaram ao processo e-mails assinados pelo senador
Giordano em 2016, quando ele se identificava como “CEO” da Ibef e,
independentemente da dúvida sobre a propriedade da empresa, a Justiça já
reconheceu o direito de a empresa ser ressarcida.
A
reportagem tentou contato com o senador durante o fim de semana e conseguiu
falar com um de seus assessores, que ficou de conversar com Giordano mas
afirmou não ter conseguido localizá-lo.
O
senador depôs na Polícia Civil em dezembro de 2020 sobre o caso, no 32º
Distrito Policial (Vila Gustavo), na zona norte da capital. Na ocasião, ele
afirmou que havia havia cedido 1% da Ibef para Pereira em 2012 e o restante da
empresa em 2013, por meio de um instrumento particular de alteração contratual.
No
depoimento, o senador disse que foi uma “surpresa” saber, depois, que Pereira
dizia desconhecer o fato de que era dono da empresa. Giordano disse também que
Pereira trabalhou como seu empreiteiro contratado até 2020 e que, por causa da
pandemia, as contratações se encerraram, o que teria deixado o ex-funcionário
irritado.
Fonte:
Extra/g1/Metrópoles
Nenhum comentário:
Postar um comentário