Guerra na Ucrânia
faz gasto militar da Europa explodir em 2022 e chegar a maior nível em trinta
anos
Os
gastos militares na Europa dispararam em 2022 após a invasão russa da Ucrânia e
atingiram seu nível mais alto desde o fim da Guerra Fria, de acordo com um
estudo publicado nesta segunda-feira (24) pelo Instituto Internacional de
Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês).
No
ano marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, os países
europeus gastaram, em média, descontando a inflação, 13% a mais em seus
exércitos do que em 2021.
Com
o aumento dos gastos europeus, a despesa militar mundial alcançou valores
recordes em 2022: US$ 2,24 trilhões (cerca de R$ 11,31 trilhões), o equivalente
a 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta, foram dedicados
exclusivamente à Defesa dos países.
Além
do conflito ucraniano, as "tensões cada vez mais graves no leste da Ásia
entre Estados Unidos e China" foram também uma razão, afirmou o
pesquisador Nan Tian, um dos autores do estudo.
Mesmo
nível da Guerra Fria
Este
é o maior crescimento de gastos militares em mais de 30 anos. Se o valor total
for calculado descontando o efeito da inflação, os governos alcançaram o mesmo
nível dos gastos de 1989, ano em que caiu o Muro de Berlim.
"Na Europa, [os gastos militares] estão no seu nível
mais alto desde o fim da Guerra Fria", enfatizou Tian.
As
despesas aumentaram mais significativamente, como esperado, nos dois países ligados
diretamente no conflito. No caso da Ucrânia, os gastos
aumentaram sete vezes, para US$ 44 bilhões (R$ 222,18 bilhões), um terço de seu
PIB.
Os
pesquisadores do Sipri enfatizam, no entanto, que este valor não inclui os
bilhões de dólares em armas recebidas por doações estrangeiras.
De
acordo com estimativas, a Rússia ampliou seus
gastos militares em 9,2% no ano passado.
Mas
mesmo excluídos os dois países, as outras nações do continente europeu tiveram
crescimento significativo no orçamento militar, indica o especialista.
Os
gastos militares na Europa chegaram a US$
480 bilhões (R$ 2,42 trilhões) em 2022. A tendência dessas despesas, na última
década, foi de alta e espera-se que continue a trajetória de forma
acelerada nos próximos anos.
Na Europa, quem mais gasta é o Reino Unido, que ocupa o sexto
lugar mundial (3,1%), à frente da Alemanha (2,5%) e
da França (2,4%).
EUA
e China somam metade dos gastos mundiais com Exército
Os Estados Unidos são de longe
o país com o maior investimento militar: em 2022, representou 39% dos gastos
globais. Em segundo lugar aparece a China, com 13% dos gastos mundiais. Isso
significa que os dois países representam mais da metade dos fundos destinados a
atividades militares em todo o mundo.
A Rússia soma 3,9% das
despesas militares, a Índia, 3,6%, e a Arábia Saudita soma 3,3% dos
gastos globais.
"A China tem investido cada vez mais em suas
forças navais como uma forma de ampliar seu alcance em relação a Taiwan, é claro, e depois além do Mar do Sul
da China", disse Tian.
A
tendência de aumentar os gastos de defesa também pode ser observada em outros
países da região, como Japão, Indonésia, Malásia, Vietnã e Austrália.
Nesta
segunda, um relatório do governo australiano apontou que o país deve dar nos
próximos anos maior prioridade à produção de mísseis de precisão de
longo alcance. O documento indica que os Estados Unidos não são mais
o "único líder do Indo-Pacífico".
Ø
Fundador
do grupo Wagner ordena não fazer mais prisioneiros, mas 'matá-los'
O
fundador do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse que suas
tropas que lutam na cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, não farão mais
prisioneiros ucranianos, mas os matarão.
Prigozhin
reagiu assim à divulgação de um áudio, publicado em uma conta do Telegram que
apoia o grupo Wagner, de uma suposta conversa entre soldados ucranianos que
ordenaram a execução de um combatente do grupo paramilitar feito
prisioneiro.
A
AFP não conseguiu confirmar a autenticidade desta gravação.
"Não
sabemos o nome do nosso homem ferido que foi abatido por miseráveis ucranianos.
Mas vamos matar todos no campo de batalha", disse Prigozhin em uma
mensagem de áudio publicada no domingo por seu serviço de imprensa no
Telegram.
"Quando
você faz um prisioneiro, você começa a cuidar dele, você o cura, você não o
machuca, e você o manda para casa depois de um tempo de negociações",
disse Prigozhin.
O
grupo Wagner, acusado de inúmeros abusos nas diferentes áreas de atuação em que
esteve implantado em vários países, está atualmente na linha de frente na
batalha de Bakhmut, no leste da Ucrânia.
Desde
o início da ofensiva russa contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, Kiev e Moscou
trocam acusações de maus-tratos a prisioneiros, o que constitui crimes de
guerra.
Em
meados de abril, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, denunciou os atos
de "monstros" russos depois que um vídeo chocante foi postado nas
redes sociais mostrando a decapitação de um suposto prisioneiro de guerra
ucraniano.
Prigozhin
rejeitou as acusações feitas por uma ONG e um desertor de seu grupo de que os
algozes do soldado ucraniano eram membros do grupo Wagner.
Ø
Rússia
preocupada com tensões entre Azerbaijão e Armênia
A
Rússia expressou "grande preocupação" nesta segunda-feira (24) com o
aumento das tensões entre Armênia e Azerbaijão, após a instalação de um posto
de controle no eixo disputado de Nagorno-Karabakh.
No
domingo (24), o Azerbaijão anunciou a instalação de um posto de controle na entrada
do corredor Lachin, a única estrada que liga a Armênia à disputada região de
Nagorno-Karabakh.
"Expressamos
nossa grande preocupação sobre a situação", disse o ministro das Relações
Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que considerou "inaceitável (...)
qualquer medida unilateral que viole" os acordos de 2020.
"Pedimos
às partes quem retornem imediatamente aos acordos existentes", acrescentou
em um comunicado.
Ex-repúblicas
soviéticas, Armênia e Azerbaijão travaram uma breve guerra em 2020 pelo controle
do enclave de Nagorno-Karabakh.
O
conflito terminou com uma derrota militar armênia e um acordo de cessar-fogo,
patrocinado pela Rússia, naquele mesmo ano.
O
Azerbaijão justificou a instalação do posto de controle como uma forma de
"impedir o transporte ilegal de mão de obra, armas e minas do território
da Armênia para formações ilegais de bandidos armênios no território do
Azerbaijão".
O
ministro das Relações Exteriores da Armênia, por sua vez, denunciou a ação como
"uma nova provocação" diante de "pretextos falsos e sem
fundamento".
Ø
Como grupo de
mercenários russos Wagner agiu no Sudão antes da guerra civil
O
grupo de mercenários Wagner, da Rússia, é acusado de ter várias relações
comerciais e militares com o Sudão, mas o grupo nega qualquer envolvimento no
atual conflito no país.
Seu
fundador, Yevgeny Prighozin — que é próximo do presidente Vladimir Putin —
afirma que "nenhum combatente da companhia militar privada Wagner está
presente no Sudão" há mais de dois anos.
Não
encontramos evidências de que mercenários russos estejam atualmente dentro do
país. Mas há evidências das atividades anteriores do grupo Wagner no Sudão, e
as operações de Prighozin no país foram alvo de sanções tanto dos EUA quanto da
União Europeia.
·
Acordos de mineração de ouro
Em
2017, o então presidente do Sudão, Omar al-Bashir, assinou uma série de acordos
com o governo russo durante uma visita a Moscou.
Entre
eles, estava um acordo para a Rússia estabelecer uma base naval em Porto Sudão,
no Mar Vermelho, assim como "acordos de concessão de mineração de ouro
entre a empresa russa M Invest e o Ministério de Minérios sudanês".
O
Tesouro americano alega que a M Invest e uma subsidiária, a Meroe Gold, são
empresas de fachada para as atividades do grupo Wagner no Sudão, terceiro maior
produtor de ouro da África.
"Yevgeniy
Prigozhin e sua rede estão explorando os recursos naturais do Sudão para ganho
pessoal e espalhando influência maligna pelo mundo", disse o então
secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, em 2020.
Tanto
a M Invest quanto a Meroe foram alvos específicos de sanções dos EUA.
De
acordo com uma investigação da rede americana CNN, o ouro foi transportado por
via terrestre para a República Centro-Africana, onde sabe-se que o grupo Wagner
opera — exportações que não foram registradas nos dados comerciais oficiais
sudaneses.
Quantidades
significativas de ouro também foram contrabandeadas por meio de uma rede de
aeroportos militares, de acordo com uma reportagem publicada no ano passado
pelo jornal britânico Daily Telegraph.
·
O que mais o Wagner fez no Sudão?
Desde
2017, fontes russas e internacionais publicaram imagens que parecem situar
mercenários russos dentro do Sudão.
Acredita-se
que as imagens mostrem eles atuando em várias funções, incluindo treinamento de
soldados sudaneses ou supostamente ajudando as forças de segurança a reprimir
protestos. A BBC não conseguiu confirmar essas imagens de forma independente.
Em
2021, um canal do Telegram vinculado ao Wagner publicou imagens em que um alto
comandante não identificado do grupo aparece premiando soldados sudaneses com
souvenirs em uma cerimônia realizada dois anos antes.
E
em julho de 2022, este canal distribuiu um vídeo que supostamente mostrava
mercenários do grupo Wagner realizando exercícios de pouso de paraquedas para
as forças sudanesas.
A
mesma fonte publicou um link para o perfil do Instagram de um mercenário russo
anônimo, que se autodenomina "freelancer" e compartilha histórias de
suas façanhas no Sudão em postagens de agosto e outubro de 2021.
Em
um filme de propaganda do Wagner de 2020, o Sudão foi apresentado como um dos
países onde os mercenários operam.
·
Quão influente é o Wagner?
O
Tesouro americano diz que o grupo Wagner conduziu "operações
paramilitares, apoiou preservação de regimes autoritários e explorou recursos
naturais".
"Inicialmente,
em 2018, eles tinham cerca de 100 homens treinando ativamente as forças
militares sudanesas, e a relação cresceu a partir daí", diz Joana de Deus
Pereira, do Royal United Services Institute, com sede no Reino Unido.
Reportagens
da imprensa sudanesa indicam que esse número subiu para cerca de 500, e que
eles estariam baseados principalmente no sudoeste, perto de Um Dafuq, próximo à
fronteira do Sudão com a República Centro-Africana.
O
Sudan Tribune afirmou que quando o presidente Bashir enfrentou protestos
populares em 2019, "combatentes russos" foram mobilizados para
observar os protestos antigoverno ao lado dos serviços de inteligência e
segurança sudaneses, embora isso tenha sido negado pelas autoridades sudanesas.
·
Troca de aliança
O
Grupo Wagner criou suas próprias campanhas de mídia para ajudar o presidente
Bashir a permanecer no poder, afirma Samuel Ramani, autor de um livro sobre as
atividades da Rússia na África.
"Prigozhin
estava pedindo para... que os manifestantes fossem acusados de ser pró-Israel
e anti-islâmicos", diz ele.
Isso
causou atrito com as próprias forças de segurança do presidente e, assim, o
Wagner passou a apoiar o homem que o derrubou — o general Abdel Fattah
al-Burhan.
"Enquanto
o Ministério das Relações Exteriores em Moscou era contra o golpe, Prigozhin e
o grupo Wagner acolheram a tomada de poder de al-Burhan", explica Ramani.
Segundo
ele, foi em 2021 e 2022 que o grupo Wagner aumentou suas conexões com as Forças
de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que atualmente combatem o Exército
oficial do Sudão, liderado pelo general Burhan.
Prigozhin
estava interessado em obter mais ouro por meio das minas recém-adquiridas pelo
líder da RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti.
No
ano passado, Hemedti visitou Moscou, dizendo que esperava fortalecer os laços
entre o Sudão e a Rússia.
No
entanto, Kholood Khair, do Confluence Advisory, um think-tank sobre assuntos
sudaneses, acredita que o grupo Wagner não está tomando partido de ninguém no conflito
atual.
"O
Wagner tem ligações tanto com as empresas do general al-Burhan quanto com as
empresas de Hemedti em diferentes níveis e de diferentes maneiras", diz
ela.
·
A presença do Wagner em outras partes da África
Foi
amplamente noticiado que os combatentes do Wagner estiveram na República
Centro-Africana por vários anos, protegendo as minas de diamantes do país,
assim como na Líbia e no Mali.
Uma
investigação da BBC em 2021 encontrou evidências de seu envolvimento na guerra
civil da Líbia em um dispositivo digital deixado para trás por um combatente do
Wagner e em conversas com soldados e civis do país.
No
Mali, o governo recorreu ao Wagner para ajudar a combater os militantes
islâmicos, embora nunca tenha reconhecido oficialmente a presença do grupo.
A
ONG internacional Human Rights Watch acusou os mercenários russos de abusos
graves, tanto na República Centro-Africana quanto no Mali, incluindo tortura e
assassinatos.
Fonte:
Rfi/AFP/BBC News Brasil
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