terça-feira, 25 de abril de 2023

Guerra na Ucrânia faz gasto militar da Europa explodir em 2022 e chegar a maior nível em trinta anos

Os gastos militares na Europa dispararam em 2022 após a invasão russa da Ucrânia e atingiram seu nível mais alto desde o fim da Guerra Fria, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (24) pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês).

No ano marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, os países europeus gastaram, em média, descontando a inflação, 13% a mais em seus exércitos do que em 2021.

Com o aumento dos gastos europeus, a despesa militar mundial alcançou valores recordes em 2022: US$ 2,24 trilhões (cerca de R$ 11,31 trilhões), o equivalente a 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta, foram dedicados exclusivamente à Defesa dos países.

Além do conflito ucraniano, as "tensões cada vez mais graves no leste da Ásia entre Estados Unidos e China" foram também uma razão, afirmou o pesquisador Nan Tian, um dos autores do estudo.

Mesmo nível da Guerra Fria

Este é o maior crescimento de gastos militares em mais de 30 anos. Se o valor total for calculado descontando o efeito da inflação, os governos alcançaram o mesmo nível dos gastos de 1989, ano em que caiu o Muro de Berlim.

"Na Europa, [os gastos militares] estão no seu nível mais alto desde o fim da Guerra Fria", enfatizou Tian.

As despesas aumentaram mais significativamente, como esperado, nos dois países ligados diretamente no conflito. No caso da Ucrânia, os gastos aumentaram sete vezes, para US$ 44 bilhões (R$ 222,18 bilhões), um terço de seu PIB.

Os pesquisadores do Sipri enfatizam, no entanto, que este valor não inclui os bilhões de dólares em armas recebidas por doações estrangeiras. 

De acordo com estimativas, a Rússia ampliou seus gastos militares em 9,2% no ano passado.

Mas mesmo excluídos os dois países, as outras nações do continente europeu tiveram crescimento significativo no orçamento militar, indica o especialista.

Os gastos militares na Europa chegaram a US$ 480 bilhões (R$ 2,42 trilhões) em 2022. A tendência dessas despesas, na última década, foi  de alta e espera-se que continue a trajetória de forma acelerada nos próximos anos.

Na Europa, quem mais gasta é o Reino Unido, que ocupa o sexto lugar mundial (3,1%), à frente da Alemanha (2,5%) e da França (2,4%).

EUA e China somam metade dos gastos mundiais com Exército

Os Estados Unidos são de longe o país com o maior investimento militar: em 2022, representou 39% dos gastos globais. Em segundo lugar aparece a China, com 13% dos gastos mundiais. Isso significa que os dois países representam mais da metade dos fundos destinados a atividades militares em todo o mundo.

Rússia soma 3,9% das despesas militares, a Índia, 3,6%, e a Arábia Saudita soma 3,3% dos gastos globais.

"A China tem investido cada vez mais em suas forças navais como uma forma de ampliar seu alcance em relação a Taiwan, é claro, e depois além do Mar do Sul da China", disse Tian.

A tendência de aumentar os gastos de defesa também pode ser observada em outros países da região, como JapãoIndonésiaMalásiaVietnã e Austrália.

Nesta segunda, um relatório do governo australiano apontou que o país deve dar nos próximos anos maior prioridade à produção de mísseis de precisão de longo alcance. O documento indica que os Estados Unidos não são mais o "único líder do Indo-Pacífico".

 

Ø  Fundador do grupo Wagner ordena não fazer mais prisioneiros, mas 'matá-los'

 

O fundador do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse que suas tropas que lutam na cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, não farão mais prisioneiros ucranianos, mas os matarão. 

Prigozhin reagiu assim à divulgação de um áudio, publicado em uma conta do Telegram que apoia o grupo Wagner, de uma suposta conversa entre soldados ucranianos que ordenaram a execução de um combatente do grupo paramilitar feito prisioneiro. 

A AFP não conseguiu confirmar a autenticidade desta gravação. 

"Não sabemos o nome do nosso homem ferido que foi abatido por miseráveis ucranianos. Mas vamos matar todos no campo de batalha", disse Prigozhin em uma mensagem de áudio publicada no domingo por seu serviço de imprensa no Telegram. 

"Quando você faz um prisioneiro, você começa a cuidar dele, você o cura, você não o machuca, e você o manda para casa depois de um tempo de negociações", disse Prigozhin.

O grupo Wagner, acusado de inúmeros abusos nas diferentes áreas de atuação em que esteve implantado em vários países, está atualmente na linha de frente na batalha de Bakhmut, no leste da Ucrânia. 

Desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, Kiev e Moscou trocam acusações de maus-tratos a prisioneiros, o que constitui crimes de guerra. 

Em meados de abril, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, denunciou os atos de "monstros" russos depois que um vídeo chocante foi postado nas redes sociais mostrando a decapitação de um suposto prisioneiro de guerra ucraniano. 

Prigozhin rejeitou as acusações feitas por uma ONG e um desertor de seu grupo de que os algozes do soldado ucraniano eram membros do grupo Wagner.

 

Ø  Rússia preocupada com tensões entre Azerbaijão e Armênia

 

A Rússia expressou "grande preocupação" nesta segunda-feira (24) com o aumento das tensões entre Armênia e Azerbaijão, após a instalação de um posto de controle no eixo disputado de Nagorno-Karabakh.

No domingo (24), o Azerbaijão anunciou a instalação de um posto de controle na entrada do corredor Lachin, a única estrada que liga a Armênia à disputada região de Nagorno-Karabakh.

"Expressamos nossa grande preocupação sobre a situação", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que considerou "inaceitável (...) qualquer medida unilateral que viole" os acordos de 2020.

"Pedimos às partes quem retornem imediatamente aos acordos existentes", acrescentou em um comunicado.

Ex-repúblicas soviéticas, Armênia e Azerbaijão travaram uma breve guerra em 2020 pelo controle do enclave de Nagorno-Karabakh.

O conflito terminou com uma derrota militar armênia e um acordo de cessar-fogo, patrocinado pela Rússia, naquele mesmo ano.

O Azerbaijão justificou a instalação do posto de controle como uma forma de "impedir o transporte ilegal de mão de obra, armas e minas do território da Armênia para formações ilegais de bandidos armênios no território do Azerbaijão".

O ministro das Relações Exteriores da Armênia, por sua vez, denunciou a ação como "uma nova provocação" diante de "pretextos falsos e sem fundamento".

 

Ø  Como grupo de mercenários russos Wagner agiu no Sudão antes da guerra civil

 

O grupo de mercenários Wagner, da Rússia, é acusado de ter várias relações comerciais e militares com o Sudão, mas o grupo nega qualquer envolvimento no atual conflito no país.

Seu fundador, Yevgeny Prighozin — que é próximo do presidente Vladimir Putin — afirma que "nenhum combatente da companhia militar privada Wagner está presente no Sudão" há mais de dois anos.

Não encontramos evidências de que mercenários russos estejam atualmente dentro do país. Mas há evidências das atividades anteriores do grupo Wagner no Sudão, e as operações de Prighozin no país foram alvo de sanções tanto dos EUA quanto da União Europeia.

·         Acordos de mineração de ouro

Em 2017, o então presidente do Sudão, Omar al-Bashir, assinou uma série de acordos com o governo russo durante uma visita a Moscou.

Entre eles, estava um acordo para a Rússia estabelecer uma base naval em Porto Sudão, no Mar Vermelho, assim como "acordos de concessão de mineração de ouro entre a empresa russa M Invest e o Ministério de Minérios sudanês".

O Tesouro americano alega que a M Invest e uma subsidiária, a Meroe Gold, são empresas de fachada para as atividades do grupo Wagner no Sudão, terceiro maior produtor de ouro da África.

"Yevgeniy Prigozhin e sua rede estão explorando os recursos naturais do Sudão para ganho pessoal e espalhando influência maligna pelo mundo", disse o então secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, em 2020.

Tanto a M Invest quanto a Meroe foram alvos específicos de sanções dos EUA.

De acordo com uma investigação da rede americana CNN, o ouro foi transportado por via terrestre para a República Centro-Africana, onde sabe-se que o grupo Wagner opera — exportações que não foram registradas nos dados comerciais oficiais sudaneses.

Quantidades significativas de ouro também foram contrabandeadas por meio de uma rede de aeroportos militares, de acordo com uma reportagem publicada no ano passado pelo jornal britânico Daily Telegraph.

·         O que mais o Wagner fez no Sudão?

Desde 2017, fontes russas e internacionais publicaram imagens que parecem situar mercenários russos dentro do Sudão.

Acredita-se que as imagens mostrem eles atuando em várias funções, incluindo treinamento de soldados sudaneses ou supostamente ajudando as forças de segurança a reprimir protestos. A BBC não conseguiu confirmar essas imagens de forma independente.

Em 2021, um canal do Telegram vinculado ao Wagner publicou imagens em que um alto comandante não identificado do grupo aparece premiando soldados sudaneses com souvenirs em uma cerimônia realizada dois anos antes.

E em julho de 2022, este canal distribuiu um vídeo que supostamente mostrava mercenários do grupo Wagner realizando exercícios de pouso de paraquedas para as forças sudanesas.

A mesma fonte publicou um link para o perfil do Instagram de um mercenário russo anônimo, que se autodenomina "freelancer" e compartilha histórias de suas façanhas no Sudão em postagens de agosto e outubro de 2021.

Em um filme de propaganda do Wagner de 2020, o Sudão foi apresentado como um dos países onde os mercenários operam.

·         Quão influente é o Wagner?

O Tesouro americano diz que o grupo Wagner conduziu "operações paramilitares, apoiou preservação de regimes autoritários e explorou recursos naturais".

"Inicialmente, em 2018, eles tinham cerca de 100 homens treinando ativamente as forças militares sudanesas, e a relação cresceu a partir daí", diz Joana de Deus Pereira, do Royal United Services Institute, com sede no Reino Unido.

Reportagens da imprensa sudanesa indicam que esse número subiu para cerca de 500, e que eles estariam baseados principalmente no sudoeste, perto de Um Dafuq, próximo à fronteira do Sudão com a República Centro-Africana.

O Sudan Tribune afirmou que quando o presidente Bashir enfrentou protestos populares em 2019, "combatentes russos" foram mobilizados para observar os protestos antigoverno ao lado dos serviços de inteligência e segurança sudaneses, embora isso tenha sido negado pelas autoridades sudanesas.

·         Troca de aliança

O Grupo Wagner criou suas próprias campanhas de mídia para ajudar o presidente Bashir a permanecer no poder, afirma Samuel Ramani, autor de um livro sobre as atividades da Rússia na África.

"Prigozhin estava pedindo para... que os manifestantes fossem acusados ​​de ser pró-Israel e anti-islâmicos", diz ele.

Isso causou atrito com as próprias forças de segurança do presidente e, assim, o Wagner passou a apoiar o homem que o derrubou — o general Abdel Fattah al-Burhan.

"Enquanto o Ministério das Relações Exteriores em Moscou era contra o golpe, Prigozhin e o grupo Wagner acolheram a tomada de poder de al-Burhan", explica Ramani.

Segundo ele, foi em 2021 e 2022 que o grupo Wagner aumentou suas conexões com as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que atualmente combatem o Exército oficial do Sudão, liderado pelo general Burhan.

Prigozhin estava interessado em obter mais ouro por meio das minas recém-adquiridas pelo líder da RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti.

No ano passado, Hemedti visitou Moscou, dizendo que esperava fortalecer os laços entre o Sudão e a Rússia.

No entanto, Kholood Khair, do Confluence Advisory, um think-tank sobre assuntos sudaneses, acredita que o grupo Wagner não está tomando partido de ninguém no conflito atual.

"O Wagner tem ligações tanto com as empresas do general al-Burhan quanto com as empresas de Hemedti em diferentes níveis e de diferentes maneiras", diz ela.

·         A presença do Wagner em outras partes da África

Foi amplamente noticiado que os combatentes do Wagner estiveram na República Centro-Africana por vários anos, protegendo as minas de diamantes do país, assim como na Líbia e no Mali.

Uma investigação da BBC em 2021 encontrou evidências de seu envolvimento na guerra civil da Líbia em um dispositivo digital deixado para trás por um combatente do Wagner e em conversas com soldados e civis do país.

No Mali, o governo recorreu ao Wagner para ajudar a combater os militantes islâmicos, embora nunca tenha reconhecido oficialmente a presença do grupo.

A ONG internacional Human Rights Watch acusou os mercenários russos de abusos graves, tanto na República Centro-Africana quanto no Mali, incluindo tortura e assassinatos.

 

Fonte: Rfi/AFP/BBC News Brasil

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário