EUA usam dólar como
arma de terrorismo econômico e Brasil deve se proteger, diz analista
A
assinatura de acordo entre Brasil e China para reduzir uso do dólar poderá
diminuir o custo de transações e acelerar o comércio. Mas o Palácio do Planalto
deve estar preparado para retaliação dos EUA na forma de sabotagem econômica,
alerta economista.
Nesta
quarta-feira (29), Brasil e China firmaram acordo que permite a realização de
transações comerciais sem o uso do dólar. O tratado permitirá que exportadores
brasileiros façam conversões diretas entre o real e o yuan, a moeda chinesa.
O
uso do novo sistema promovido pela China é opcional. Logo, empresas brasileiras
poderão, pela primeira vez, escolher entre dois sistemas diferentes para
realizar operações comerciais.
De
acordo com a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda,
Tatiana Rosito, o acordo tem o intuito de reduzir os custos das transações
entre os países. Mas, para o mestre em economista pela Universidade Federal
Fluminense e assessor parlamentar David Deccache, o acordo garante sobretudo
ganhos geopolíticos para o Brasil.
"O
maior ganho do acordo é a diversificação do risco geopolítico. Agora temos dois
sistemas opcionais para realizar operações, e não apenas um. Portanto não
estamos mais totalmente subordinados à hegemonia do dólar", disse Deccache
à Sputnik Brasil.
O
acordo também representa um ganho tecnológico, uma vez que o sistema [de
pagamentos internacionais] ocidental Swift "ainda é muito lento".
"A
China avançou muito em sistemas atrelados a moeda digital do seu Banco Central,
baseada em tecnologia blockchain", relatou Deccache. "Isso dá mais
segurança e agilidade ao processo."
A
secretária do Ministério da Fazenda também notou que o novo sistema garante que
Brasil e China se protejam de flutuações cambiais, garantindo maior
previsibilidade das taxas de câmbio, conforme reportou o jornal Estado de São
Paulo.
"Com
a diversificação das transações cambiais ficamos menos reféns das volatilidades
em dólar", concordou o economista Deccache.
Pequim
é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2022, 26,8% das exportações
brasileiras foram destinadas à China, de acordo com dados da Secretaria de
Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
(SECEX-MDIC). Já as importações brasileiras de produtos chineses respondem por
22,3% do total e apresentam tendência de alta.
"O
jogo geopolítico começou a virar. Estamos em uma trajetória de queda das
transações em dólar, do uso do sistema Swift e do acúmulo de reservas
internacionais em dólares", relatou o economista.
• Reação dos EUA?
A
promoção de acordos que diminuem o uso do dólar deve gerar reações por parte de
Washington, já que o uso da sua moeda lhes garante privilégios econômicos
significativos em relação ao resto do mundo.
"O
uso internacional do dólar é um privilégio exorbitante dos EUA [...] e último
pilar do imperialismo norte-americano", declarou Deccache.
Nesse
sentido, acordos para diminuir o uso do dólar podem representar um risco para
Washington. A China promove acordos desse tipo com diversos países, como Arábia
Saudita, Chile, Argentina e Rússia, como política de longo prazo para diminuir
sua vulnerabilidade em relação ao dólar em meio a tensões geopolíticas entre
grandes potências.
Para
Deccache, o Brasil deve se preparar para período turbulento de transição de
poder internacional e se resguardar do risco imposto pela dependência do dólar.
"A
hegemonia do dólar é uma arma de terrorismo econômico utilizada pelos
EUA", declarou o economista. "Estratégias de sabotagem econômica,
como ataques a nossa moeda, podem voltar a acontecer e o governo precisa se
preparar pra isso."
O
especialista aponta, no entanto, que o governo Lula mantém posição dúbia ao,
por um lado, adotar uma política econômica alinhada às normas do Ocidente e,
por outro, uma política externa de questionamento.
"Eles
se subordinam às diretrizes econômicas da ortodoxia ocidental, discutindo
regras fiscais com base em padrões dos EUA, ao mesmo tempo em que discutem
relações internacionais em outro padrão", apontou Deccache. "Então
temos um choque."
O
acordo com a China poderá ser um primeiro passo rumo à adoção de uma política
de longo prazo para que o Brasil navegue "essa fase histórica muito
interessante de transição de poder".
"Em
determinados momentos temos duas opções: ou adiar o conflito, ser pego
despreparado para ele, e, logo, acabar sendo destruído; ou encarar que o
conflito existe e se preparar para ele", concluiu o economista.
No
dia 29 de março, Brasil e China firmaram acordo para realização de transações
em moedas locais, durante o Fórum de Negócios Brasil-China, realizado em
Pequim. O acordo prevê o uso do Banco Industrial e Comercial da China como
câmara de compensação e tem o intuito de reduzir os custos de transações entre
os países, conforme declarou o Ministério da Fazenda brasileiro.
Especialista: comércio em moedas
nacionais entre Brasil e China beneficiaria a economia mundial
O
comércio em moedas nacionais entre o Brasil e a China contribuirá para a
estabilização da economia mundial, disse à Sputnik Kirill Babaev, diretor do
Instituto da China e Ásia Moderna da Academia de Ciências da Rússia.
O
Brasil e a China firmaram nesta semana dois acordos iniciais para criar um
mecanismo de compensação que lhes permita realizar as transações em moedas
nacionais, excluindo o dólar dos EUA.
Para
o especialista russo, estes acordos "contribuem para a estabilidade do
comércio internacional, protegendo os respetivos países do risco de pressão por
meio de sanções".
"Tanto
o Brasil como a China estão conscientes desse risco hoje, poderíamos dizer que
estes acordos são uma garantia de que suas relações comerciais seguirão se
desenvolvendo em condições estáveis", explicou.
As
sanções impostas à Rússia, segundo Babaev, evidenciam que "o Ocidente pode
utilizar a infraestrutura financeira internacional para fins de pressão política".
"Isso
prejudica a sua credibilidade, e portanto, é lógico que o Brasil e a China,
dois países do BRICS, duas grandes economias, ponderem converter os pagamentos
em suas moedas nacionais. Em perspectiva, tal levará a passos inovadores, como
a criação de uma moeda de reserva geral do BRICS com base na cesta de moedas
dos países integrantes, será um desenvolvimento positivo que protegerá as
relações econômicas dos cinco Estados-membros [Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul]", concluiu o economista.
O
Brasil é o nono maior parceiro comercial da China, e a China é o maior parceiro
comercial do Brasil, com o país asiático ultrapassando os EUA nessa qualidade
desde 2009. As estatísticas da Administração Geral de Alfândegas da China
mostram que o comércio bilateral atingiu US$ 171,49 bilhões (R$ 878,27 bilhões)
em 2022, um aumento de 4,9% em relação a 2021. Enquanto isso, as exportações do
Brasil para a China foram de US$ 89,43 bilhões (R$ 458,01 bilhões) em 2022, o
que representa 26,8% do total de suas exportações.
Analista: posição de México e Brasil na
Cúpula para a Democracia foi 'autônoma' e 'independente'
Os
governos do México e do Brasil se recusaram a apoiar a condenação da operação
militar especial russa na Ucrânia contida na declaração da segunda edição da
Cúpula para a Democracia organizada por Washington. O que indica esta decisão
dos países latino-americanos mais poderosos?
No
caso do México, o país latino-americano assinou o documento, mas com uma
ressalva em que manteve sua rejeição ao parágrafo do texto que garante que os
países signatários deploram as consequências da operação militar especial da
Rússia na Ucrânia.
Para
a especialista em história diplomática da Rússia e sua política externa pela
Universidade de São Petersburgo, Imelda Ibañez Guzmán, a decisão do presidente
mexicano, Andrés Manuel López Obrador, se situa em um cenário de transformações
que estão ocorrendo na política mundial e que estão acontecendo e "cujas
quais estamos testemunhando há um ano, como resultado do impacto da crise na Ucrânia
em nível global."
"As
projeções em termos de política externa, principalmente das grandes potências,
nos mostram até que ponto essas mudanças estão presentes. Por um lado, existe
aquela unipolaridade que pretende continuar influenciando não só regional, mas
globalmente. Por outro lado, já temos a projeção da criação de um esquema
multipolar, onde as políticas externas buscam um equilíbrio para negociar e
cooperar sob o chamado equilíbrio de interesses, representado por Rússia, China
e outras potências regionais que aos poucos vão projetando suas políticas
externas de forma autônoma e independente", explicou a estudiosa em
entrevista à Sputnik.
Nesse
sentido, a internacionalista destacou que, no caso do México, a projeção de sua
política externa é autônoma, além do fato de que neste caso não foi
influenciada pelos Estados Unidos, o que mobilizou vários países,
"especialmente o países euro-atlânticos, latino-americanos ou asiáticos,
para impor sanções à Rússia".
Por
outro lado, a analista internacional explicou que a Rússia vê o México como um
parceiro estratégico de longo prazo. Por isso, a política externa de López
Obrador visa "manter esse equilíbrio de interesses [...] com os Estados
Unidos, porque também é verdade que geopoliticamente estamos próximos dos
interesses estadunidenses; mas a diversificação que o [presidente mexicano] tem
como objetivo [...] é alcançar o equilíbrio de interesses na relação bilateral
com a Rússia".
É
por esta razão que o chefe de Estado mexicano "permaneceu à margem de
assinar integralmente este ato [...] que pretendia pressionar simbolicamente a
Rússia a retirar esta operação do território ucraniano", disse a
especialista.
Ao
mesmo tempo, Guzmán, que também é acadêmica da Universidade Nacional Autônoma
do México (UNAM), lembrou a posição do presidente do México em relação à
democracia como forma de governo e, principalmente, respeito à autonomia nas
tomadas de decisões que têm a ver com políticas internas, bem como o respeito
pelo princípio da não intervenção.
No
caso do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se a assinar a
declaração por discordar do uso da Cúpula para a Democracia para condenar as
ações russas.
Além
disso, o presidente brasileiro especificou que a Organização das Nações Unidas
(ONU) é o espaço ideal para discutir assuntos relativos ao conflito entre
Ucrânia e Rússia.
Nesse
sentido, Guzmán considerou que o presidente do gigante sul-americano voltou a
gerar uma transformação em seu país depois de estar sob a influência do agora
ex-presidente Jair Bolsonaro e, portanto, orientado para outro tipo de política
externa.
"Regionalmente,
pode-se tomar uma decisão no sentido de reforçar a projeção de interesses de
política externa, principalmente por parte do Brasil, Argentina, México, vamos
ver se Colômbia, Venezuela, claro, também. Obviamente os Estados Unidos vão
busca ter influência na América Latina e vão buscar de todas as formas, estão
fazendo isso, a Cúpula para a Democracia é simplesmente um mecanismo para
projetar sua política externa unilateral", apontou a estudiosa de política
internacional.
Diante
desse cenário, para a pesquisadora, a forma como o presidente brasileiro
projeta sua política externa é, como a de Andrés Manuel López Obrador, autônoma
e independente da influência dos Estados Unidos.
"Ele
quer estar presente em todo este processo de cessar-fogo, de apelo à paz, até
fazer parte dos mediadores [...] buscar a paz e negociar como ocorre esta
situação em termos de controle desta crise entre Ucrânia e Rússia",
enfatizou a professora.
China aceita nova data para visita de
Lula; aprovação faz Planalto desmarcar com von der Leyen da UE
Mesmo
tendo adiado a viagem por questões de saúde, a visita à China continua a ser
prioridade do governo, tendo Lula encontrado com Celso Amorim e Mauro Vieira em
momentos diferentes durante esta semana para acertar detalhes e manter a
importância da viagem.
Com
o cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China após o
mandatário pegar uma pneumonia, a chancelaria brasileira enviou para Pequim uma
nova data para viagem, e, de acordo com o jornal O Globo, a data foi aceita.
Portanto,
Lula embarcará para o país asiático no dia 11 de abril, e deve encontrar com o
seu homólogo chinês, Xi Jinping, entre os dias 13 e 14. Entretanto, com a nova
data, o petista perderá uma reunião com a presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, que estava prevista para o dia 12 de abril.
Segundo
o jornal, a agenda com os chineses é considerada uma prioridade para o governo
brasileiro devido a importância estratégica do país – que é o principal
parceiro comercial do Brasil – e para reforçar a intenção da atual gestão de
inaugurar um novo momento das relações comercias com a China, desgastadas
durante a gestão de Jair Bolsonaro.
Por
isso, há uma preocupação do governo em repetir a comitiva recorde que Lula
levaria à capital chinesa, de cerca de 240 empresários e 40 parlamentares.
Inicialmente, o roteiro incluía uma visita à gigante tecnológica Huawei e o
fechamento de uma lista que poderia chegar a 30 acordos bilaterais.
Lula
voltará a viajar para a Ásia em maio, após ser convidado por Tóquio no último
dia 22 para cúpula do G7 no Japão, mas o Itamaraty não queria vincular um
encontro ao outro, temendo que Pequim interpretasse o gesto como uma redução da
importância política da viagem, segundo o UOL.
Porém,
antes da nova ida à Ásia, Lula receberá o chanceler russo, Sergei Lavrov, no
dia 17 de abril em Brasília.
Fonte:
Sputnik Brasil
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