sábado, 1 de abril de 2023

EUA usam dólar como arma de terrorismo econômico e Brasil deve se proteger, diz analista

A assinatura de acordo entre Brasil e China para reduzir uso do dólar poderá diminuir o custo de transações e acelerar o comércio. Mas o Palácio do Planalto deve estar preparado para retaliação dos EUA na forma de sabotagem econômica, alerta economista.

Nesta quarta-feira (29), Brasil e China firmaram acordo que permite a realização de transações comerciais sem o uso do dólar. O tratado permitirá que exportadores brasileiros façam conversões diretas entre o real e o yuan, a moeda chinesa.

O uso do novo sistema promovido pela China é opcional. Logo, empresas brasileiras poderão, pela primeira vez, escolher entre dois sistemas diferentes para realizar operações comerciais.

De acordo com a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, o acordo tem o intuito de reduzir os custos das transações entre os países. Mas, para o mestre em economista pela Universidade Federal Fluminense e assessor parlamentar David Deccache, o acordo garante sobretudo ganhos geopolíticos para o Brasil.

"O maior ganho do acordo é a diversificação do risco geopolítico. Agora temos dois sistemas opcionais para realizar operações, e não apenas um. Portanto não estamos mais totalmente subordinados à hegemonia do dólar", disse Deccache à Sputnik Brasil.

O acordo também representa um ganho tecnológico, uma vez que o sistema [de pagamentos internacionais] ocidental Swift "ainda é muito lento".

"A China avançou muito em sistemas atrelados a moeda digital do seu Banco Central, baseada em tecnologia blockchain", relatou Deccache. "Isso dá mais segurança e agilidade ao processo."

A secretária do Ministério da Fazenda também notou que o novo sistema garante que Brasil e China se protejam de flutuações cambiais, garantindo maior previsibilidade das taxas de câmbio, conforme reportou o jornal Estado de São Paulo.

"Com a diversificação das transações cambiais ficamos menos reféns das volatilidades em dólar", concordou o economista Deccache.

Pequim é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2022, 26,8% das exportações brasileiras foram destinadas à China, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (SECEX-MDIC). Já as importações brasileiras de produtos chineses respondem por 22,3% do total e apresentam tendência de alta.

"O jogo geopolítico começou a virar. Estamos em uma trajetória de queda das transações em dólar, do uso do sistema Swift e do acúmulo de reservas internacionais em dólares", relatou o economista.

•        Reação dos EUA?

A promoção de acordos que diminuem o uso do dólar deve gerar reações por parte de Washington, já que o uso da sua moeda lhes garante privilégios econômicos significativos em relação ao resto do mundo.

"O uso internacional do dólar é um privilégio exorbitante dos EUA [...] e último pilar do imperialismo norte-americano", declarou Deccache.

Nesse sentido, acordos para diminuir o uso do dólar podem representar um risco para Washington. A China promove acordos desse tipo com diversos países, como Arábia Saudita, Chile, Argentina e Rússia, como política de longo prazo para diminuir sua vulnerabilidade em relação ao dólar em meio a tensões geopolíticas entre grandes potências.

Para Deccache, o Brasil deve se preparar para período turbulento de transição de poder internacional e se resguardar do risco imposto pela dependência do dólar.

"A hegemonia do dólar é uma arma de terrorismo econômico utilizada pelos EUA", declarou o economista. "Estratégias de sabotagem econômica, como ataques a nossa moeda, podem voltar a acontecer e o governo precisa se preparar pra isso."

O especialista aponta, no entanto, que o governo Lula mantém posição dúbia ao, por um lado, adotar uma política econômica alinhada às normas do Ocidente e, por outro, uma política externa de questionamento.

"Eles se subordinam às diretrizes econômicas da ortodoxia ocidental, discutindo regras fiscais com base em padrões dos EUA, ao mesmo tempo em que discutem relações internacionais em outro padrão", apontou Deccache. "Então temos um choque."

O acordo com a China poderá ser um primeiro passo rumo à adoção de uma política de longo prazo para que o Brasil navegue "essa fase histórica muito interessante de transição de poder".

"Em determinados momentos temos duas opções: ou adiar o conflito, ser pego despreparado para ele, e, logo, acabar sendo destruído; ou encarar que o conflito existe e se preparar para ele", concluiu o economista.

No dia 29 de março, Brasil e China firmaram acordo para realização de transações em moedas locais, durante o Fórum de Negócios Brasil-China, realizado em Pequim. O acordo prevê o uso do Banco Industrial e Comercial da China como câmara de compensação e tem o intuito de reduzir os custos de transações entre os países, conforme declarou o Ministério da Fazenda brasileiro.

 

       Especialista: comércio em moedas nacionais entre Brasil e China beneficiaria a economia mundial

 

O comércio em moedas nacionais entre o Brasil e a China contribuirá para a estabilização da economia mundial, disse à Sputnik Kirill Babaev, diretor do Instituto da China e Ásia Moderna da Academia de Ciências da Rússia.

O Brasil e a China firmaram nesta semana dois acordos iniciais para criar um mecanismo de compensação que lhes permita realizar as transações em moedas nacionais, excluindo o dólar dos EUA.

Para o especialista russo, estes acordos "contribuem para a estabilidade do comércio internacional, protegendo os respetivos países do risco de pressão por meio de sanções".

"Tanto o Brasil como a China estão conscientes desse risco hoje, poderíamos dizer que estes acordos são uma garantia de que suas relações comerciais seguirão se desenvolvendo em condições estáveis", explicou.

As sanções impostas à Rússia, segundo Babaev, evidenciam que "o Ocidente pode utilizar a infraestrutura financeira internacional para fins de pressão política".

"Isso prejudica a sua credibilidade, e portanto, é lógico que o Brasil e a China, dois países do BRICS, duas grandes economias, ponderem converter os pagamentos em suas moedas nacionais. Em perspectiva, tal levará a passos inovadores, como a criação de uma moeda de reserva geral do BRICS com base na cesta de moedas dos países integrantes, será um desenvolvimento positivo que protegerá as relações econômicas dos cinco Estados-membros [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]", concluiu o economista.

O Brasil é o nono maior parceiro comercial da China, e a China é o maior parceiro comercial do Brasil, com o país asiático ultrapassando os EUA nessa qualidade desde 2009. As estatísticas da Administração Geral de Alfândegas da China mostram que o comércio bilateral atingiu US$ 171,49 bilhões (R$ 878,27 bilhões) em 2022, um aumento de 4,9% em relação a 2021. Enquanto isso, as exportações do Brasil para a China foram de US$ 89,43 bilhões (R$ 458,01 bilhões) em 2022, o que representa 26,8% do total de suas exportações.

 

       Analista: posição de México e Brasil na Cúpula para a Democracia foi 'autônoma' e 'independente'

 

Os governos do México e do Brasil se recusaram a apoiar a condenação da operação militar especial russa na Ucrânia contida na declaração da segunda edição da Cúpula para a Democracia organizada por Washington. O que indica esta decisão dos países latino-americanos mais poderosos?

No caso do México, o país latino-americano assinou o documento, mas com uma ressalva em que manteve sua rejeição ao parágrafo do texto que garante que os países signatários deploram as consequências da operação militar especial da Rússia na Ucrânia.

Para a especialista em história diplomática da Rússia e sua política externa pela Universidade de São Petersburgo, Imelda Ibañez Guzmán, a decisão do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, se situa em um cenário de transformações que estão ocorrendo na política mundial e que estão acontecendo e "cujas quais estamos testemunhando há um ano, como resultado do impacto da crise na Ucrânia em nível global."

"As projeções em termos de política externa, principalmente das grandes potências, nos mostram até que ponto essas mudanças estão presentes. Por um lado, existe aquela unipolaridade que pretende continuar influenciando não só regional, mas globalmente. Por outro lado, já temos a projeção da criação de um esquema multipolar, onde as políticas externas buscam um equilíbrio para negociar e cooperar sob o chamado equilíbrio de interesses, representado por Rússia, China e outras potências regionais que aos poucos vão projetando suas políticas externas de forma autônoma e independente", explicou a estudiosa em entrevista à Sputnik.

Nesse sentido, a internacionalista destacou que, no caso do México, a projeção de sua política externa é autônoma, além do fato de que neste caso não foi influenciada pelos Estados Unidos, o que mobilizou vários países, "especialmente o países euro-atlânticos, latino-americanos ou asiáticos, para impor sanções à Rússia".

Por outro lado, a analista internacional explicou que a Rússia vê o México como um parceiro estratégico de longo prazo. Por isso, a política externa de López Obrador visa "manter esse equilíbrio de interesses [...] com os Estados Unidos, porque também é verdade que geopoliticamente estamos próximos dos interesses estadunidenses; mas a diversificação que o [presidente mexicano] tem como objetivo [...] é alcançar o equilíbrio de interesses na relação bilateral com a Rússia".

É por esta razão que o chefe de Estado mexicano "permaneceu à margem de assinar integralmente este ato [...] que pretendia pressionar simbolicamente a Rússia a retirar esta operação do território ucraniano", disse a especialista.

Ao mesmo tempo, Guzmán, que também é acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), lembrou a posição do presidente do México em relação à democracia como forma de governo e, principalmente, respeito à autonomia nas tomadas de decisões que têm a ver com políticas internas, bem como o respeito pelo princípio da não intervenção.

No caso do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se a assinar a declaração por discordar do uso da Cúpula para a Democracia para condenar as ações russas.

Além disso, o presidente brasileiro especificou que a Organização das Nações Unidas (ONU) é o espaço ideal para discutir assuntos relativos ao conflito entre Ucrânia e Rússia.

Nesse sentido, Guzmán considerou que o presidente do gigante sul-americano voltou a gerar uma transformação em seu país depois de estar sob a influência do agora ex-presidente Jair Bolsonaro e, portanto, orientado para outro tipo de política externa.

"Regionalmente, pode-se tomar uma decisão no sentido de reforçar a projeção de interesses de política externa, principalmente por parte do Brasil, Argentina, México, vamos ver se Colômbia, Venezuela, claro, também. Obviamente os Estados Unidos vão busca ter influência na América Latina e vão buscar de todas as formas, estão fazendo isso, a Cúpula para a Democracia é simplesmente um mecanismo para projetar sua política externa unilateral", apontou a estudiosa de política internacional.

Diante desse cenário, para a pesquisadora, a forma como o presidente brasileiro projeta sua política externa é, como a de Andrés Manuel López Obrador, autônoma e independente da influência dos Estados Unidos.

"Ele quer estar presente em todo este processo de cessar-fogo, de apelo à paz, até fazer parte dos mediadores [...] buscar a paz e negociar como ocorre esta situação em termos de controle desta crise entre Ucrânia e Rússia", enfatizou a professora.

 

       China aceita nova data para visita de Lula; aprovação faz Planalto desmarcar com von der Leyen da UE

 

Mesmo tendo adiado a viagem por questões de saúde, a visita à China continua a ser prioridade do governo, tendo Lula encontrado com Celso Amorim e Mauro Vieira em momentos diferentes durante esta semana para acertar detalhes e manter a importância da viagem.

Com o cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China após o mandatário pegar uma pneumonia, a chancelaria brasileira enviou para Pequim uma nova data para viagem, e, de acordo com o jornal O Globo, a data foi aceita.

Portanto, Lula embarcará para o país asiático no dia 11 de abril, e deve encontrar com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, entre os dias 13 e 14. Entretanto, com a nova data, o petista perderá uma reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que estava prevista para o dia 12 de abril.

Segundo o jornal, a agenda com os chineses é considerada uma prioridade para o governo brasileiro devido a importância estratégica do país – que é o principal parceiro comercial do Brasil – e para reforçar a intenção da atual gestão de inaugurar um novo momento das relações comercias com a China, desgastadas durante a gestão de Jair Bolsonaro.

Por isso, há uma preocupação do governo em repetir a comitiva recorde que Lula levaria à capital chinesa, de cerca de 240 empresários e 40 parlamentares. Inicialmente, o roteiro incluía uma visita à gigante tecnológica Huawei e o fechamento de uma lista que poderia chegar a 30 acordos bilaterais.

Lula voltará a viajar para a Ásia em maio, após ser convidado por Tóquio no último dia 22 para cúpula do G7 no Japão, mas o Itamaraty não queria vincular um encontro ao outro, temendo que Pequim interpretasse o gesto como uma redução da importância política da viagem, segundo o UOL.

Porém, antes da nova ida à Ásia, Lula receberá o chanceler russo, Sergei Lavrov, no dia 17 de abril em Brasília.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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