PL das Fake News:
relator defende adoção de 'arsenal' de punições se plataformas descumprirem regras
O
deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do projeto conhecido como "PL
das Fake News", defendeu nesta segunda-feira (24) que o poder público
tenha à disposição um "arsenal" de sanções que possam ser aplicadas
às redes sociais em caso de descumprimento das regras.
Orlando
Silva deu a declaração em entrevista à GloboNews. A expectativa no Congresso
Nacional é que a Câmara dos Deputados vote ainda nesta semana um requerimento
que dá urgência ao projeto, isto é, que permite ao texto ser votado mais rapidamente.
A expectativa é de que o texto, em si, seja votado em seguida.
"Uma
lei que não tem sanção não é uma lei, é uma recomendação, é um conselho. [...]
O que prevemos é um rol de obrigações, uma lista de obrigações que devem ser
cumpridas, seja no campo da transparência – para que saibamos como a operação
das empresas se dá –, seja no campo do dever de cuidado, a atenção que deve ser
dada a determinados riscos e a determinados crimes", declarou o relator.
"É
necessário que o Estado brasileiro tenha à sua mão um arsenal de medidas
sancionatórias, se preciso, para que a lei seja cumprida", completou
Orlando Silva na entrevista.
Segundo
o deputado, o projeto prevê um capítulo somente para as sanções às empresas.
A
lista deve incluir advertência, multa, suspensão e até bloqueio dos serviços.
Essas duas últimas, mais graves, só podem ser definidas por decisão de órgão
colegiado da Justiça, segundo prevê o projeto.
• Responsabilidade por impulsionamento
Ainda
na entrevista à GloboNews, Orlando Silva informou que o projeto prevê a
responsabilização das plataformas digitais quando houver a divulgação de fake
news por meio do impulsionamento do conteúdo, isto é, quando o usuário paga
para a rede social disseminar ainda mais uma publicação.
Para
o relator do "PL das Fake News", há um consenso "plenamente
consolidado" por parte de parlamentares que a medida é necessária.
"Tem
temas que já estão plenamente consolidados. Um dos temas que estão consolidados
diz respeito à responsabilidade das plataformas digitais quando houver
patrocínio, quando houver pagamento para levar uma determinada mensagem [com
fake news] mais longe do que ela iria sem impulsionamento", afirmou o
relator.
Orlando
Silva tem afirmado que a chamada autorregulação, isto é, as próprias redes
sociais combatendo as fake news publicadas por usuários, é "muito
importante", mas tem se mostrado "insuficiente".
Em
março, entidades do setor de radiodifusão se reuniram em Brasília para discutir
o combate às fake news e defenderam que as redes sociais sejam responsabilizadas
quando for comprovada a disseminação de conteúdo falso por parte dos usuários.
• Imunidade parlamentar nas redes sociais
Orlando
Silva também defendeu nesta segunda-feira que a chamada imunidade parlamentar
possa ser estendida para as publicações feitas por parlamentares nas redes
sociais.
O
Artigo 53 da Constituição estabelece que deputados e senadores "são
invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos".
"O
STF [...] estabeleceu contornos para a imunidade parlamentar. Agora, há uma
tensão muito forte em razão de uma série de decisões judiciais que foram
tomadas e restringiram o direito de fala, até mesmo chegaram a suspender contas
de parlamentar. Acredito que seja correto que a imunidade parlamentar seja estendida
às redes sociais. Agora, isso é diferente da imunidade parlamentar ser
utilizada para ocultar crime ou criminoso", declarou Orlando Silva na
entrevista à GloboNews.
Presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes tem
afirmado que liberdade de expressão é diferente de liberdade de agressão ou de
cometer crimes.
"Não
podemos cair na armadilha da extrema direita de achar que estamos regulando
liberdade de expressão. Esta é a grande armadilha, o grande discurso e a narrativa
que a extrema direita no mundo todo conseguiu construir. Tudo é 'minha
liberdade de expressão'. Isso foi pegando, as pessoas se sentiram à vontade
para voltar a ser racistas, homofóbicas e nazistas. 'Liberdade de expressão'.
Pode no mundo real? [...] Se pode no mundo real, pode aqui também. Não pode
mundo real? É crime? É crime aqui também", afirmou Moraes em março deste
ano.
Grupo de Lira resiste a pressões e diz
que vai manter votação do PL das Fake News
Líderes
partidários aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mantêm a
expectativa de votar e aprovar nesta quarta-feira (26) a urgência do PL das
Fake News, apesar da pressão da oposição e de plataformas pela criação de uma
comissão especial para debater mais profundamente o texto.
A
urgência é um requerimento usado para acelerar a votação de uma proposta. Com
isso, o projeto não precisa passar por comissões e pode ser levado diretamente
ao plenário, ainda nesta semana.
O
posicionamento é alinhado ao do relator, Orlando Silva (PC do B-SP), que não vê
riscos de adiamento na votação por causa da crise que causou a demissão do
general Gonçalves Dias, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e pela
possível criação da CPI mista dos atos golpistas de 8 de janeiro.
Líderes
e deputados de partidos do centrão, de centro-direita e da base do governo
dizem reservadamente concordar com o calendário estabelecido por Lira na última
quarta-feira (19). Na sessão, o presidente da Câmara citou a possibilidade de
votar, além da urgência, o mérito do projeto nesta semana.
O
cenário político conturbado, porém, é a aposta da oposição para conseguir adiar
a votação da urgência. Em abril do ano passado, requerimento para acelerar a
apreciação do texto foi derrotado por apenas 8 votos —recebeu 249 votos a
favor, mas precisava de 257.
Em
tentativa de postergar a votação, o deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE)
recolheu mais de 100 assinaturas em um requerimento que buscava criar uma
comissão especial para debater o mérito do projeto.
"Creio
que três meses, 90 dias, ou 60 dias seria um prazo razoável para que
pudéssemos, no âmbito de uma comissão especial, com a representatividade proporcional
das bancadas desta Casa, ter uma proposição que representasse a média do
pensamento do povo brasileiro", defendeu em sessão.
A
ideia de uma comissão especial é defendida por alguns integrantes de partidos
da base governista. Os deputados Marcos Tavares (PDT-RJ) e Professora Luciene
Cavalcante (PSOL-SP) são autores de requerimentos para a criação de um
colegiado destinado a estender o debate.
Tavares,
por exemplo, alega o risco de o projeto embutir censura e vigilância em massa
de dados para defender a criação da comissão especial.
A
representante do PSOL, por sua vez, afirmou que medidas de regulação da
internet para enfrentamento a situações como a violência contra escolas e
crianças exige o aprofundamento da discussão por parte de governos, empresas de
tecnologia, sociedade civil e usuários.
Lira,
em resposta às tentativas de adiar a votação, afirmou que o projeto já foi
debatido "sob todos os aspectos". "Ele hoje interfere na
segurança das escolas, ele interfere na vida econômica de grandes e gigantescos
interesses", disse.
"Aqui
nós temos interesses gigantescos de big techs, de monetização, de
responsabilização, e tudo caiu em cima da liberdade de expressão. Essa
liberdade de expressão tirou dezenas de redes de parlamentares do ar, dezenas
de redes", criticou.
"Não
é justo para esta Casa que não tenha o seu direito de imunidade material
estendido para a internet, para garantir o acesso dos parlamentares às redes
sociais. Não é justo para esta Casa não ter como investigar quem planta terror
na vida dos nossos filhos nas escolas."
A
extensão da imunidade parlamentar às redes sociais foi um dos pontos incluídos
por Orlando Silva em texto que foi aprovado por grupo de trabalho da Câmara em
dezembro de 2021. O relator manteve o dispositivo no parecer que concluiu na
última segunda-feira (17).
Na
visão de alguns parlamentares, votar o projeto sob influência de episódios como
os ataques a escolas é prejudicial para a regulação das redes.
"Não
existe consenso na base. Como líder, não acho apropriado, num momento
contaminado que a gente está vivendo, de plena comoção e de medo na sociedade
com a questão das escolas, discutir um tema desses de forma açodada", diz
o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), que vê risco de tumultuar a
votação. "Eu não tenho conforto ainda de votar esse assunto."
Ao
longo da última semana, as plataformas intensificaram a pressão para tentar
barrar a votação da urgência.
Na
semana passada, três entidades que representam o setor de tecnologia divulgaram
nota em que pedem que os parlamentares rejeitem o requerimento de urgência do
projeto e apoiem a criação de uma comissão especial para tratar do tema.
No
dia seguinte, o Google publicou uma carta na qual defende que a aprovação do
atual texto poderá agravar o problema da desinformação.
A
empresa também vai fazer uma campanha publicitária na internet e em jornais
advertindo para os riscos, segundo a plataforma, de votar o projeto sem
discutir pontos que em seu entender não foram objeto de debate no Congresso.
Fonte:
g1/FolhaPress
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