terça-feira, 25 de abril de 2023

O nascimento de um novo ciclo: como a Índia tem marcado seu lugar entre as grandes potências?

O atual ministro das Relações Exteriores da Índia Subrahmanyam Jaishankar iniciou no dia 21 de abril um circuito de visitas pela América Latina e países do Caribe no intuito de estreitar laços comerciais com a região e de ratificar o interesse indiano pelo estabelecimento de laços mais estreitos com o continente.

Trata-se de uma movimentação política importante por parte de Nova Deli, que vem atuando no cenário internacional contemporâneo como uma forte candidata ao papel de protagonista no jogo das grandes potências do século XXI. Além do mais, o país também assumiu a presidência da Cúpula de Líderes do G20 neste ano.

Não por acaso, muitos têm prestado detida atenção à política externa da Índia nos últimos tempos, com o objetivo de identificar quais sejam os caminhos a serem trilhados por Nova Deli em seu relacionamento com outros atores independentes como Estados Unidos, China, Rússia, assim como com o Sul Global.

Vale lembrar que a Índia é um dos poucos países identificados como "país-continente" (outro termo também utilizado seria o de "país-baleia"), devido ao seu tamanho, localização e potencial econômico, o que a credencia de forma natural a um papel de grande importância no jogo de forças internacional.

Por isso mesmo, a Índia considera que a dimensão de seu território (7º maior do planeta, com 3,2 milhões de km2) e população (2ª maior do mundo com perspectivas de ultrapassar a da China), além de sua já mencionada economia (7ª maior do mundo em PIB nominal) e poderio militar (por se tratar de uma potência nuclear desde 1974), a qualifica para um estatuto elevado no sistema internacional, explicando assim a reivindicação do país por uma maior voz nos assuntos mundiais.

Nesse contexto, apesar da clara predominância dos Estados Unidos no Banco Mundial (um dos principais pilares da governança global do pós-Guerra), a Índia já é um dos países com maior poder de voto dentro da instituição, atrás apenas de: Japão, China, Alemanha, Reino Unido e França.

No âmbito do Fundo Monetário Internacional, por sua vez, a Índia ainda se encontra sub-representada em termos de cotas e poder de voto em comparação com sua participação no PIB global. Por conta disso, desde 2003 a Índia, juntamente com países importantes como Brasil e África do Sul, já declarava que a reforma do FMI "deve reduzir efetivamente o grave desequilíbrio entre a ampla maioria do poder de voto hoje detido pelas economias avançadas e a participação insatisfatória dos países em desenvolvimento", observação que implicitamente critica a posição dos países do G7 frente às demandas levantadas pelo Sul Global.

Não obstante, esse discurso em prol de uma maior voz para os países emergentes em instituições de tomada de decisão internacional trata-se de um dos principais pontos defendidos pelo BRICS, no qual a Índia tem participação ativa.

Com relação, por sua vez, ao Conselho de Segurança da ONU, desde 2011 a Índia vem pressionando por reformas em sua composição, juntamente com países importantes como Brasil, Alemanha e Japão, formando o então chamado grupo G4.

Já em sua primeira reunião ministerial, às margens da Assembleia Geral da ONU de 2011, os Estados do G4 afirmaram seu desejo de assumir maiores responsabilidades nos assuntos mundiais, postulando a sua inclusão como membros permanentes de um Conselho de Segurança expandido, de modo a torná-lo "verdadeiramente representativo das realidades geopolíticas atuais".

Desde então ficou claro que a Índia já enxergava possuir a capacidade e, mais do que isso, o direito a assumir a missão de mantenedora da paz e da segurança internacionais, complementando assim os esforços dos atuais cinco membros permanentes do Conselho.

Em se tratando de Ásia, um dos marcos recentes da política externa indiana foi sua adesão em 2017 à Organização de Cooperação de Xangai. A Organização (fundada em 2001) conta ainda com a presença de China, Rússia e dos países da Ásia Central e objetiva combater a instabilidade regional no continente asiático; não sem razão, a adesão da Índia sinalizou para uma verdadeira reestruturação estratégica do continente eurasiático envolvendo a interação política entre a superpotência chinesa e duas grandes potências (Rússia e Índia).

Com isto, diminui-se significativamente a capacidade de influência na Eurásia por parte de atores extrarregionais, como Estados Unidos e União Europeia.

Ademais, a Índia também representa um país fundamental no âmbito da recente "viragem asiática" da Rússia nas relações internacionais, conforme codificada no mais recente Conceito de Política Externa assinado por Vladimir Putin, com Nova Deli recebendo boa parte dos recursos energéticos russos desde 2022 e passando a estabelecer relações de comércio com Moscou baseadas em moedas locais.

Para além do comércio, compete notar que as relações entre Rússia e Índia são historicamente marcadas pela cooperação militar e técnica desde o período soviético. Por conta disso, Nova Deli é um dos maiores importadores de armas russas do mundo e em 2020 realizou a aquisição de modernos sistema de defesa antiaérea S-400.

É do estabelecimento dessa maior cooperação russo-indiana que se pretende continuar o processo de consolidação de um mundo multipolar que reflita a pluralidade civilizacional e de sistemas de valores no mundo.

A Índia, sobretudo, não se alinhou ao Ocidente nas moções condenatórias à Rússia durante as sessões da Assembleia Geral da ONU em 2022 e neste ano, demonstrando a posição independente do país em relação ao conflito, apesar das fortes críticas que recebeu dos países ocidentais.

Fora justamente a partir dessa posição de independência que o ministro indiano Jaishankar manifestou-se de forma crítica em relação aos países europeus, dizendo que "a Europa precisa superar a mentalidade de achar que os problemas da Europa são os problemas do mundo, mas que os problemas do mundo não são os problemas da Europa". Jaishankar deixava claro, portanto, que a Índia não estaria disposta a seguir nenhum tipo de ditame externo, que não esteja de acordo com seus próprios interesses nacionais.

Ao mesmo tempo, apesar de fazer parte tanto do BRICS como da Organização de Cooperação de Xangai, a Índia também colabora com os Estados Unidos no âmbito do grupo Quad (Diálogo Quadrilateral de Segurança) desde 2017, que inclui ainda a Austrália e o Japão, movimento esse considerado como uma tentativa de mitigar a posição da China na região da Ásia-Pacífico.

Todavia, é preciso lembrar que a capacidade dos Estados Unidos de garantir uma espécie de contenção à China por meio dessa coalizão ainda não é clara. A Índia, por exemplo, não depende diretamente dos americanos para sua proteção nem possui bases militares estadunidenses instaladas em seu território, como é o caso do Japão.

A questão da participação da Índia no Quad, portanto, parece tratar-se de uma política calculada de balanceamento estratégico de Nova Deli perante as duas superpotências do sistema (EUA e China).

Por fim, curiosamente uma das características mais notáveis da tradição hinduísta refere-se à sua compreensão do tempo como um fenômeno cíclico e não linear. Segundo esse entendimento, a própria criação passa por sucessivos ciclos de existência, aprendizado, crescimento e dissolução.

Hoje testemunhamos exatamente a dissolução de um ciclo no âmbito das relações internacionais, representado pela breve dominação dos países ocidentais no sistema. Em seu lugar, vemos o nascimento de um novo tempo, a ser marcado pela participação cada vez mais ativa da Índia como uma das principais grandes potências de nosso século.

 

Ø  Países do BRICS poderiam criar uma alternativa ao SWIFT, diz especialista

 

Uma direção promissora de cooperação entre os países árabes e do BRICS poderia ser o desenvolvimento de um análogo do SWIFT, afirmou o professor associado do Departamento de Comunicações de Massa da Universidade do Сatar, Kamal Hamidou, nesta segunda-feira (24) em uma mesa redonda organizada pelo grupo de mídia Rossiya Segodnya.

"Uma alternativa ao SWIFT poderia ser criada dentro deste grupo [BRICS] [...] Esse seria um passo importante para garantir o surgimento de um mundo multipolar e para garantir que o mundo esteja livre dos ditames dos Estados que buscam criar um mundo unipolar nas circunstâncias atuais", disse o especialista.

"Isso deve ser feito no interesse de toda a humanidade, da comunidade internacional e da paz mundial", acrescentou ele.

O especialista destacou que a cooperação com os países do BRICS, como a Rússia, no campo das novas tecnologias, contribui para manter a "soberania digital" dos países do Oriente Médio.

"Os países do Oriente Médio e do Norte da África poderiam se beneficiar do progresso científico e tecnológico que dominaram na Rússia", enfatizou Hamidou.

Ultimamente vários países manifestaram sua intenção de aderir ao BRICS, como a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Irã, Indonésia e Turquia.

 

       UE quer tirar Brasil e outros 3 Estados da esfera de influência da Rússia e China

 

A União Europeia (UE) tenta construir relações com vários Estados para virá-los para o seu lado, informa o colunista do jornal Politico Jacopo Barigazzi.

Segundo ele, Bruxelas não esconde seu interesse em quatro países que estão, de uma forma ou de outra, na zona de interesse da aliança russo-chinesa: o Brasil, Chile, Nigéria e Cazaquistão.

"É fácil ver por que estes quatro países compõem a lista. Cada um deles representa um ponto de apoio potencial da UE em regiões onde os aliados ocidentais estão disputando influência [e recursos] com a Rússia e a China. O Brasil e o Chile estão na América Latina, rica em matérias-primas; a Nigéria é uma potência econômica na África Ocidental; o Cazaquistão possui petróleo e gás na Ásia Central", diz o autor do artigo.

Os funcionários europeus acreditam que o aumento da influência de Bruxelas contra Moscou e Pequim poderia ajudar a UE tanto a resolver problemas de recursos quanto a se tornar um ator mais independente no cenário global.

"Nesta era de geoeconomia, a UE terá que ser menos ingênua e mais preocupada com a segurança econômica. Isto exigirá um uso mais estratégico e combinado de toda a panóplia de ferramentas disponíveis", cita o jornal um funcionário da UE.

Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo, disse anteriormente que Vladimir Putin foi convidado para a cúpula do BRICS em agosto, mas que uma decisão sobre sua participação vai ser tomada mais perto do próprio evento.

·         Venezuela perdeu US$ 232 bilhões devido às sanções unilaterais, diz vice-presidente do país

Delcy Rodríguez referiu centenas de "medidas coercivas unilaterais" impostas ao longo dos anos que diz terem sido "uma forma de aniquilar completamente povos inteiros, neste caso o povo venezuelano".

A Venezuela perdeu muitos bilhões de dólares nos últimos oito anos devido a sanções unilaterais contra o país, a maioria das quais foram impostas pelos EUA, disse na sexta-feira (21) Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela.

Falando no Seminário Internacional de Unidade Nacional para a Recuperação Econômica Venezuelana diante do Bloqueio Internacional, ela explicou que Caracas foi submetido a 929 "medidas coercivas unilaterais", 60% das quais foram impostas por Washington.

Isto afetou a produção de petróleo desde 2015, resultando na perda de US$ 232 bilhões (R$ 1,17 trilhão), disse.

"Perder US$ 232 bilhões em sua principal fonte de renda, o que significava na época 99% da renda em moeda estrangeira, é uma forma de aniquilar completamente povos inteiros, neste caso o povo venezuelano", sublinhou, descrevendo isso como uma guerra econômica contra a Venezuela que envolve violações sistemáticas dos direitos humanos, já que causa perda de vidas, alimentos, educação e saúde.

 

       Europa pronta para expandir lista de produtos proibidos para importação da Ucrânia, diz mídia

 

A Comissão Europeia expressou "não oficialmente" sua prontidão para expandir a lista de produtos agrícolas proibidos para importação da Ucrânia, informou a estação de rádio polonesa RMF FM com referência a fontes em Bruxelas.

De acordo com a mídia, as conversações de ontem (23) do vice-presidente da Comissão Europeia para a Economia, Valdis Dombrovskis, com representantes da Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária sobre a questão das importações de produtos alimentícios da Ucrânia acabaram em nada, mas vão continuar nesta segunda-feira (24) ao nível de ministros da Agricultura.

De acordo com uma correspondente da RMF FM em Bruxelas, a Comissão Europeia está "pronta para fazer concessões" e expandir a lista de mercadorias proibidas para importação da Ucrânia.

Segundo um dos participantes da reunião, "há progressos e as negociações estão indo na direção certa". Neste momento, a Comissão Europeia concordou oficialmente em proibir as importações de trigo, milho, colza e sementes de girassol, ainda assim "informalmente" está pronta para incluir outros produtos na lista apresentada, tais como ovos e carne de aves.

Quatro países europeus – Polônia, Eslováquia, Hungria e Bulgária – proibiram temporariamente a importação de grãos e outros produtos de origem vegetal e animal ucranianos a partir de 22 de abril. Trata-se de produtos que entram no mercado comum sem taxas e que concorrem com os produtos locais, fazendo baixar os preços e afetando os agricultores europeus.

 

       Ministros de agricultura do G7 reconhecem importância do acordo de grãos e apoiam sua extensão

 

Os ministros da Agricultura dos países do G7 reconheceram a importância da Iniciativa de Grãos do mar Negro e expressaram forte apoio à sua expansão, implementação e extensão em um comunicado conjunto emitido após uma reunião de dois dias na cidade japonesa de Miyazaki.

"Reconhecemos a importância das Faixas de Solidariedade UE-Ucrânia, da Iniciativa de Grãos da Ucrânia do Presidente [ucraniano] [Vladimir] Zelensky e da Iniciativa de Grãos do Mar Negro [BSGI, na sigla em inglês] negociada pela ONU e Turquia. Nesse contexto, apoiamos fortemente a extensão, implementação e expansão completas do BSGI", dizia o comunicado.

Ao mesmo tempo, os ministros do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) acusaram a Rússia de supostamente usar alimentos "como meio de desestabilização e como ferramenta de coerção geopolítica".

"Continuaremos a projetar nossas medidas restritivas contra a Rússia para proteger a população necessitada de consequências não intencionais, garantindo que alimentos e fertilizantes sejam retirados", acrescentou o documento.

A Iniciativa de Grãos do Mar Negro, também conhecida como Iniciativa para o Transporte Seguro de Grãos e Alimentos de portos ucranianos, assinada entre Rússia, Turquia, Ucrânia e as Nações Unidas em julho de 2022, prevê a exportação de grãos, alimentos e fertilizantes ucranianos ao longo o mar Negro a partir de três portos, incluindo Odessa.

O pacote de acordo também inclui um memorando de entendimento entre a Rússia e a ONU para desbloquear as exportações russas de grãos e fertilizantes via mar Negro, o que, segundo Moscou, não foi implementado em meio às sanções ocidentais.

Em março, a Rússia estendeu o acordo por 60 dos 120 dias possíveis. O presidente russo, Vladimir Putin, disse repetidamente que a maioria dos navios que transportam grãos ucranianos não chegou aos países mais pobres do mundo e acabou na Europa.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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